Os
gregos antigos entendiam a educação como paideia
ou,
“criação de meninos”. Era a educação familiar e moral – a
moralidade nesse caso não se refere em certo ou errado, mas como se
comportar diante da sociedade e seus cidadãos – e os bons modos de
respeito e civilidade. Foi na mesma Grécia que o problema da
educação se fez presente com questionamentos dos maiores pensadores
como Socrates, Platão, Isócrates, os sofistas e finalmente,
Aristóteles. Dois termos nesse processo se fizeram importantes,
aretê que
era a virtude e a civilidade e a eudaimonia
que
é a felicidade. Mas essa eudaimonia
só
seria alcançada com o conhecimento e com a sabedoria, a bondade
plena em não fazer com o outro o que não gostariamos que nos
fizessem. Aristóteles irá dizer que a natureza humana era conhecer
e esse conhecimento só era alcançado com a prática, pois não
adianta levar o conhecimente e a virtude sem ao menos prática-lo.
Isso
foi um marco na
civilização ocidental porque até então, nenhuma civilização
mencionou essa preocupação com os meninos que herdariam as diversas
posições. Claro que nesta época, não havia educação para
meninas porque quem fazia todo escopo politico-cultural era o homem,
a mulher era provedora da casa e cuidava dos filhos. Por isso nada
sabemos de filosofas, matematicas e etc, porque era uma sociedade
partriarcal, mas mesmo assim, a mulher era educada em casa com os
pricipios da época porque era exigencia até mesmo do Estado. Talvez
o mais estranho é que a sociedade espartana com toda sua cultura
militarista e guerreira tenha respeitado muito mais suas mulheres e
mesmo elas não sendo soldados, elas eram treinadas para defender
suas casas e sua prole, sendo seu lema “as mulheres espartanas dão
a luz a homens de verdade” quando algum mensageiro indagava elas
estarem no meio. Os espartanos tinham seu agogé
onde
os meninos eram educados severamente – embora muito
superficialmente, o filme 300 mostra essa educação como um meio de
criar soldados fortes, patriotas e que buscam honra e glória –
onde tinham meninos que até morriam em seus treinamento. Lembramos
que olhamos sempre na época e no momento de cada civilização,
naquele momento não se poderia ter homens fracos ou soldados fracos,
doentes e deformados, assim, Esparta ficaria sem suas defesas.
Voltarei a esse tema em outro texto.
Talvez
os gregos tenham sido influenciados pelos egipcios onde tinham um
relaionamento comercial muito intenso. Mas sua força tambem por
muito tempo, dominou o mar mediterraneo e o pensamento ocidental e
toda sua filosofia e ética (Ethos), passaram no crivo da lógica e
da razão (logos) grega. Quem nunca estudou o Teorema de Pitagoras?
Quem nunca ouviu algo sobre Euclides? Nem vou dizer que o pensamento
cientifico e educacional é fruto de Socrates, Platão e Aristóteles.
Na verdade, a lógica começa com o slogismo de Aristóteles, muito
famoso por sinal, que dizia: “O homem é racional, Sócrates é
homem, então, Sócrates é racional”, parece simples, pois não é
e nem era na época tão simples. Ele colocava que se o homem é um
ser racional, Sócrates por ser um homem, ele pertencia a classe dos
seres racionais e até hoje temos essa separação como a pedra é um
mineral, o leão é um animal, um cacto é um vegetal e por ai vai.
Na lógica ou algo é verdadeiro ou algo é falso, não tem meio
falso ou meio verdadeiro e isso, Aristóteles inova além, claro, de
dizer que todo homem tem o “desejo” de saber. Esse desejo do
saber é a busca cada vez mais da eudaimonia
porque
com o saber, nós podemos enxergar muito além do que nos é mostrado
e esse deveria ser o papel da educação.
Educação,
na verdade do termo, vem do latim educare
que
seria para os romanos uma maneira de mostrar para a criança a
realidade. Como os gregos – dizem alguns historiadores que os
romanos são gregos de Troia fugidos e há alguns indicios e teorias
que eles tinham uma espada que provavam isso e seria do rei Priamo,
mas é assunto para outro post futuro – os romanos gostavam de
ensinar como um cidadão romano deveria se comportar como cidadão. O
que os romanos tinham como realidadade era o vasto império que todo
cidadão livre, deveria de saber para ser um homem informado e saber
do destino do império. Sempre lembrando que até a revolução
francesa os pobres não tinham acesso a educação. Então, essa
“realidade” eram previlégios dos patricios que eram uma especie
de classe média romana, porque deles dependiam o apoio ou a queda de
um imperador e para um apoio, esses cidadãos deveriam ser
instruidos. Era um ato civil que nada tem a ver com um ato de
alienação, mas um ato de escolha em ser um cidadão do império
instruido e ser um cidadão do império que será escravo de atos
politicos que não concorda. Além do mais, um romano tinha orgulho
de ser romano e não era “sacrificio” estudar o que era a matéria
da época – muitas vezes as mesmas que os gregos impunham em sua
paideia. Enquanto
os populares se apegavam a religião e aos deuses estrangeiros –
lembrando sempre que nesse tempo a maioria era inculta e só se
interessavam aos cultos aos deuses e na maioria dos casos, aos shows
de gradiadores que se chamava de “pane in circus” porque nesses
eventos se distribuia pães – os cultos se interessavam a filosofia
e essa flosofia era o estoicismo, que era a ascese civica (era mais
ou menos, um culto ao civinismo romano e a ordem civica) e a politica
como algo importante, o epicurismo, era a busca da ataraxia
(tranquilidade
da alma) e da aponia
(ausencia da dor). O epicurismo é a busca da tranquilidade pela
ausencia da dor – essa “dor” para Epicuro era o sofrimento e
para o sofrimento não acontecer era importante a busca do prazer,
mas o prazer moderado porque se comer demais, por exemplo, você
sofrera a mesma coisa – pela tranquilidade da alma que hoje
chamamos de calma, tanto é, que a arte retórica era levada como um
argumento tranquilo para passar convencimento e convencer seu
opositor ao convencimento. A arché
(origem)
de todo discurso é o convencimento – o filósofo latino Sêneca
era muito bom nisso – em ter o termo certo no momento certo diante
de um discurso e isso que a tranquilidade da alma vai trazer para o
cidadão culto romano. Isso vai até a Idade Média onde toda a
cultura é destruida e até mesmo os nobres são presos pela crença
doentia de uma igreja dominadora de todo o conhecimento até a
chegada dos mouros que introduzem as obras gregas antigas e se
estabelecem novamente a cultura grega. Fenômeno esse chamado de
renascença.
Segundo
Jeager em seu livro “Paidéia – A Formação de um Homem Grego”
(edição da Martin Fontes), paideia
era
um conceito muito mais espiritual que mostrava o espirito grego na
época. Se nesse tempo temos na China o confucionismo, na India o
Dharma, na Grécia tinhamos a paideia
como
algo além do termo nos mostra como “formação de meninos”.
Porque nessa formação era a formação de um espirito grego que
surgia como ponto cuminante nos Balcãs como cultura dominante, uma
cultura que evoluiu graças a entrada da escrita fenicia, onde se
forma toda a gama de termos até hoje usada como na medicina e por
muito tempo, usada para até difundir culturas e impérios. Mas com
toda aquela dominação da igreja cristã e toda aquele “sufocamento”
das verdades contidas no afã das novas descobertas, se criou uma
separação entre o homem enquanto ser biológico (res estensa) com o
ser que acredita que há algo além dos nossos sentidos, o espirito
da descoberta de um mundo que pode ser pesquisado. Ora, o que tem a
ver o mundo ser descoberto pelos avanços cientificos e ter um ponto
espiritual como teve os gregos e romanos e muito além, teve todas as
sociedades humanas? A Renascença erra em colocar o homem como um ser
mecanico e o Iluminismo dá o aval disso, um ser que não sente, que
apenas aprende sua cultura mecanicamente. Isso começa com a
diturpação do principio cartesiano (de René Descartes cuja o nome
em latim é Renatus Cartesius) onde ele resgata o principio platônico
e coloca a duvida como um método único para a certeza. Seu único
erro – o mais grave por sinal – foi fazer do ser humano um ser
mecanico sem a menor condição de sentir. Ora, se somos seres que
temos um corpo biológico (res extensa) e temos a racionalidade e a
percepção das coisas (res cogitans), tambem temos sentimentos e
desejos que os antigos já sabiam. O lado espiritual – não de
forma religiosa como vimos nesse momento como algo irreal – humano,
contem todos nossos desejos e sentimentos que podemos expressar ao
longo de nossas vidas. Não é só perceber e dividar, é perceber e
perguntar o “porque” daquilo, é entender como aquilo é ou como
aquele processo funciona. Talvez foi isso que Descartes demonstrou
para os ceticos e os póprios céticos se apossaram de sua filosofia
– como acontece com Nicolau Maquiavel na ordem politica e outros
que tiveram suas filosofias detubardas para atender interesses –
porque quando ele diz: “eu penso, eu logo existo”, ele quis dizer
que a única certeza que tenho é o meu pensamento, é o meu existir.
Posso ver uma nuvem e duvidar que me disseram ou me ensinaram que as
nuvens são feitas de algodão, com isso, muitas pesquisas foram
feitas e se concluiu que as nuvens são vapores d´água. Eu aprendi
porque duvidei e pesquisei, também me foi ensinado assim. Mas,
segundo o método cartesiano, eu tambem posso duvidar que a nuvem é
um vapor d´água e não ser aquilo que me ensinaram na escola, pode
ser que a nuvem seja de um material sutil, pode ser particulas da
água tão sutis que não podemos detectar.
Acontece que Platão uns mil e
quihentos anos antes – no tempo de Descartes era mais ou menos o
tempo dos escritos do filosofo anteniense – tinha escrito que
nossos sentidos podem não mostrar a realidade, porque podemos estar
vendo “sombras” e que somente com o conhecimento – daí vem o
termo Iluminismo que seu maior filosofo é Immanuel Kant –
poderemos sair dessas correntes. As “sombras” são a realidade
que nos ensinam que muitas vezes não é a realidade e as “correntes”
são os conceitos e crenças ensinadas para nos prender em uma
realidade dominadora, isso vimos muito quando pessoas ficam “cegas”
por crenças infundadas e conceitos que só interessam aos partidos
poiticos que querem essa dominação. É provavel, que esse “Mito
da Caverna” muito famoso de Platão que está no sétimo livro da
obra A Republica, seja um protesto e um alerta pela morte do seu
mestre Sócrates que foi, e isso é evidente, uma vingança por ele
desmascarar os sábios que não eram sábios e por ele ter pertencido
a assembleia dos 13 tiranos. Então, além de alertar que não somos
libertos, ainda nos coloca em duvida da realidade que nos é ensinada
e que nada tem a ver com “bondade” ou “maldade” e sim tem a
ver com “dominação” pelos sentidos e pelas ideias. Descartes
vendo o Renascimento buscar toda a cultura greco-romana e resgatar
obras de arte (estética), obras literárias (poética) e filosófica
(sophia), viu que estavam duvidando somente das verdades cristãs que
a igreja impunha e disse se temos que duvidar, que duvidemos de
verdade, duvidemos de tudo. Também Descartes estava travando uma
batalha com os céticos, então disse que sob o crivo da duvida
poderia provar a existencia da Consciencia Universal. Eu penso e
percebo a minha existencia e é a única coisa que tenho certeza,
pois o resto pode não existir e pode existir não da forma que nos
foi ensinada, pode existir oculta aos nossos sentidos e não
percebemos. A duvida é o método mais eficaz para se aprender
pesquisando, o aprender investigando e não com formas mecânicas
como depois com a diturpação da filosofia cartesiana e a filosofia
de outros, nos impuseram. Poderiamos ser diferentes com o duvidar
cartesiano (verdadeiro) e o ousar kantiano em forma de educar como os
romanos e antes deles os gregos, poderiam mostrar a realidade e não
a realidade ilusoria que somos fadados a engolir. A realidade que
somos seres que sentimos, desejamos, queremos e buscamos como peça
principal de uma nação e de uma sociedade.
Dai
temos que voltar em Aristóteles onde nós somos animais politicos
(zoon politikon) por sermos seres com a necesidade de sermos
sociáveis(koinonia) por causa de nossas carências, assim, ele dará
o exemplo da união do homem e da mulher que há necessidade da
reprodução – ainda sim analisemos o tempo onde Aristóteles viveu
para entender o seu pensamento – e assim, satisfazer essa carência.
Mas que carencias são essas? O homem é um animal social que procura
no outro o que te falta – não interessa se isso moralmente é
errado, é a única certeza biologica que temos da especie homo
sapiens –
e essas carecias são os desejos que vimos no mundo e dentro do
mundo. A realidade é a satisfação desses desejos que há um certo
equilibrio – esse equilibrio grego é muito importante como uma
harmonia que era o intuito principal do cidadão da polis
–
porque a filosofia aristotelica visava a vida prática (bios
pratiktikós),
a vida produtiva (bios
politikos)
e a vida teórica (bios
theoretikós)
e isso que se fez – até novos métodos de repente – construir
todo o alicerce da cultura do pensamento ocidental. Assim, se o homem
por natureza (definição onde o homem tem a necessidade de saber, do
conhecimento, em Aristóteles isso é quase algo inato dentro do ser
humano) então teriamos que retomar a verdadeira condção do saber
pela necessidade desse saber e pela procura por ele. Saber não é
“forçar” a aprender, ninguém aprende “forçando” o aluno a
ter aquele conhecimento e sim, resgatar esse saber estmulando a
necesdade inata do ser humano e isso é quase uma verdade
irrevogavel. Quem leu livros porque “tem que” ler aqueles livros
sabem disso, agora se você sugere e estimula o aluno a ler esses
livros por curiosidade e tempo – o Sertão de Euclides da Cunha é
dificil, quase ilegivel, imagina força uma pessoa a ler aquilo é
tomar água de arroz e ainda dá uma semana, é quase enviar o
indivíduo a forca – porque o tempo faz a pessoa aos poucos se
interessar e estimular essa curiosidade, talvez, contando um pouco a
história da guerra de Canudos numa linguagem acessivel e atual.
O
método atual ficou muito defasado, ficou muito aquela “história”
de treinamento para o jovem enfrentar o mercado de trabalho e isso é
fruto da romantica revolução burguesa chamada de Revolução
Francesa – onde se consolida com o impérios dos Bonaparte – onde
a burguesia tinha que tirar a ignorancia deles (porque a maioria dos
burgueses não sabiam nem escrever seus nomes) e tirar a massa da
condição de seres neoliticos (literalmente). E após isso o
automaticismo de Henry Ford, ganhou força a suplemacia dos ganhos
sem se importar com e como e o que está por trás desses ganhos,
então, se cria uma educação automatizada para o povo não pensar.
Nem pensar e muito menos – isso Freud denuncia como um “mal” da
humanidade – sentir como desejos inatos dentro do corpo e a vontade
que vem lá dentro da alma. Criamos algo automatizado que ficasse a
merce do material e esquecemos do espiritual – como sentimentos e
vontades que nos regem espiritualmente – que nos faça sempre
procurar a felicidade (eudaimonia)
e
a vontade de ir além do que se limitamos a estar. Quando Aristóteles
disse que o homem por natureza procura o saber, ele procura esse
saber para se embrenhar a felicidade – ao contrario que muitos
pensam que quando temos o conhecimento e sofremos com as supostas
“verdades” do mundo (civilização), o saber (sophia)
faz que enchergamos a verdade e como diz Yashua “conheceis a
verdade e ela vos libertarás” - porque ao saber temos a “porta
aberta” para o conhecimento e o desenvolvimento intelectual e
espiritual. Esquecemos o real significado da paideia,
que era muito além do que criar meninos, e damos ao jovens uma
criação de “automátos” que não pensam e não sentem. Enquanto
no mundo grego espiritualizamos o ethos,
no
mundo pós moderno, fazemos de nossa ética algo automático, algo
que precisamos como “tutores” sociais intimos. A essência do
ethos-
seu significado é o costume e a base social por tradição – é o
que nossos atepassados descobriram com erros e acertaram com essas
tradições que remontam milhares de anos de esperiencia.
Quando
fazemos um trabalho acadêmico – na verdade acadêmico vem da
Academia platônica, que tenho certeza, Platão choraria em ver o
que fizeram com sua filosofia – temos que ter um rigor cientifico
como norma dos órgãos responsaveis (ou irresponsaveis), não
deixando o aluno deixar algo do que pensa, é a cultura do “ctrl-c”
e “ctrl-v” que criam engenheiros não criativos, médicos que não
sabem perceber as doenças, profissionais que só sabem seguir as
normas (não mais a intuição). Prédios caem, pessoas morrem por
remedios errados e toda a gama de coisas acontecem porque ainda
estamos atrelados em “normas” e ensinamos nas escolas e nas
universidades, pessoas automáizadas que não sabem usar a intuição
e não fazem o que realmente gostam. Querem status e querem dinheiro,
só. Lógico que não há nada de errado em ter bens que Aristóteles
chamará de ousia –
esse termo Aristóteles não vê problema em ter bens, só tem que
haver moderação – que é ter bens através de seus conhecimentos,
porque o conheimento pode nos mostrar um oficio, um trabalho. Não
esses “trabalhos” que eles pedem nos cursos, que pensam estarem
ensinando, mas o trabalho que nós temos como oficio aprendido. Tanto
é, que o filósofo de Estagira, disse que era muito melhor treinar
as pessoas com deficiência do que sustenta-las a vida toda – é
uma coisa que os governos deveriam seguir um pouco – porque todos
deveriam procurar o conhecimento que lhe é natural.
Esquecemos
mesmo na essencia da paideia,
esquecemos
do verdadeiro sentido de se educar e de ser educado, não como se
fossemos maquinas, mas como se fossemos seres humanos.