terça-feira, abril 30, 2024

Oswaldo Porchat e o Curioso Caso do Erudito Burro

 




“As pessoas são burras, preguiçosas e banais. As emoções delas levam aos erros”

(.Zona de combate (filme))


Amauri Nolasco  Sanches Junior 





Eu estava vendo uma aula do INEF (Isto Não é Filosofia) é dado momento (porque o professor Vitor Lima estava falando sobre estruturalismo), mostrou uma crítica ao estruturalismo escrita pelo professor Oswaldo Porchat que foi cofundador do curso de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). A questão que o professor Porchat traz neste texto é: “pesquisa em Filosofia ou pesquisa em História da Filosofia?”. E os argumentos dele são bastante interessantes e remontam o ensino “uspiano” de filosofia que não só ele começou contestar quase no final da sua vida, mas muitos outros que começaram a fazer a pergunta que postei do texto. Porque sempre me perguntava o porque que professores de filosofia ensinavam História da Filosofia e não a filosofia e não encontrava respostas - antes de eu fazer o bacharelado e aprender a pesquisar - e no meio do caminho ficava lendo e escutando o velho Olavo de Carvalho (quando falava de filosofia mesmo com tantos erros) com suas críticas que a 70 anos a USP ficha livros e não forma filósofos. As mesmas críticas foram feitas pelo professor Paulo Ghiraldelli Jr (mestrado em Filosofia) sobre os uspianos.

Daí temos que nos perguntar: o que seria filosofia brasileira? Porque ainda - com esmero que é característico do nosso povo - se confunde um filósofo com um intelectual. O intelectual lê um livro e não faz uma reflexão desse livro, ele repete exatamente como o livro está escrito. Por exemplo, acho muito mais acertado chamar Olavo de Carvalho de um intelectual do que um filósofo, porque ele não refletia sobre o livro escrito e sim, repetia tudo ali escrito e nada tem a ver com o filósofo em si. Nem fazia uma crítica daquilo que acreditava (criticar o Papa não vale).

Já um filósofo reflete e questiona (fazendo uma crítica), sobre suas crenças e sobre aquilo que achava ter certeza. Ora, foi muito bom que professores franceses fizessem essa “ponte” entre o que se achava ser filosofia - como se o Brasil não tivesse tido filósofos - e o que é filosofia. Na verdade, poderemos até desconfiar que essa história de estruturalismo era mais como um caminho que professores brasileiros deveriam ir, do que eles devem ir. Esquecemos de nomes como Silvio Romero, Farias Brito etc? Por que esses filósofos não foram contabilizados pelos franceses como nossos filósofos? Antes de tudo, o primeiro filósofo brasileiro - sim, tivemos um primeiro filósofo - era Matias Aires (Ramos da Silva d’Eça, 1705–1770) e não foi considerado pelos franceses como filósofos. A pergunta é: Por que? Por que não estavam alinhados com o estruturalismo?

Todo filósofo é filho do seu tempo e sua cultura. O que aconteceu é fácil de presumir, houve uma eurocentralização da área de filosofia e os brasileiros aceitaram. A nossa velha síndrome de vira-lata. Ficamos revirando o lixo para comer o resto e achamos isso muito bom e satisfatório, mas não é. Teremos que repensar em formar filósofos em potenciais para filosofar nossos problemas, ou problemas trazidos por filmes, novelas, séries e até mesmo, vídeos do YouTube ou podcast. Acho muito chato - como um estudante da USP disse em um grupo de filosofia do Facebook - as pessoas ficarem me julgando por causa dos seus textos dizendo “esse texto não é filosofia”. Qual o critério? Não disse os maiores filósofos? Mas, com todo respeito que tenho por eles - menos para os uspianos que só papagueiam - o blog não é deles e nem estou com vontade de escrever sobre eles. Sou herdeiro de Nietzsche, ou seja, dou risada dos mestres (como está num poema do Gaia Ciência).

Aí entramos em um outro ponto importante. Se pegarmos figuras de Jorge Amado, por exemplo, como Gabriela Cravo e Canela ou Juca Pirama seria filosofar sobre ética brasileira? Se pegarmos novelas clássicas como Roque Santeiro e fazer uma crítica severa sobre, poderemos encontrar elementos como opera nossa cultura? Indo até bastante além, como a filosofia deve ir sempre, podemos constatar que a grande maioria dos brasileiros são preconceituosos porque aprenderam errado sobre aquilo que é público (sociedade) e aquilo que é privado (individual). Escutando um podcast do próprio INEF (chamado A Dois), onde o professor Vitor e a professora Evelyn tem uma conversa mais informal, onde o professor disse que o maior engodo da modernidade é achar que somos indivíduos sem uma sociedade. É verdade. Sem o padeiro não comemos pão. Sem o montador de carro, não temos transporte etc. Por outro lado, como filósofo que sou, pergunto: quem somos nós? Como chegamos àquilo que somos?

Como brasileiro, vivo em uma cultura mesclada com vários elementos, mas tenho valores judaicos-cristãos que fui criado, seja na minha casa, seja na escola onde eu iniciei. Assistia “Xou da Xuxa”, Bozo etc, na adolescência comecei ouvir rock e heavy metal e formei uma áurea crítica começando ler filosofia. E ainda gosto do mesmo tipo de filme que eu gostava, com alguns critérios mais acentuados, porém, não deixo de gostar só porque sou quase um bacharel em filosofia. Isso nem faz sentido. Aí chegamos no curioso caso do erudito burro, e esse burro, não é uma pessoa ignorante e sim aquele que empaca. Ser “inteligente” é ver o pior da humanidade. Ser “inteligente” é alertar todo mundo da dominação da IA. Ser “inteligente” é achar que o outro é infantil e ele o adulto da conversa.

quinta-feira, abril 25, 2024

A podridão da rede Kwai - entre a certeza e a verdade

 





O filósofo Mario Sergio Cortella - que muitos chamam de filósofo pop - tem um pensamento peculiar sobre as atitudes éticas. Porque, segundo ele, quando pensamos em ética estamos pensando em um conjuntos de valores próprios que poderíamos usar para decidir as tres questões da nossa vida cotidiana: “Quero?”, “Devo?”, “Posso?”. Pois, existem coisas que eu quero e não devo, tem coisa que eu devo e não posso e tem coisa que eu posso, porém, não quero. Poderemos fazer a critica aqui - e demonstra como algumas coisas do senso comum estão enraizadas até na academia brasileira - pois, Cortella confunde ética (que é a filosofia que analisa coisas morais) e a moral (os costumes e os hábitos). De resto, poderemos fazer a colocação que sim, ele tem razão e tem a ver com a filosofia do direito do dever e do direito. 

Será que todo direito implica em um dever? Sera que sem nenhum dever implica em um direito? Será possível haver direitos sem deveres ou deveres sem direitos? Direitos são anteriores a deveres ou vice-versa? Isso implicaria em uma discussão muito mais ampla dentro do que poderíamos chamar de pensamento filosófico, onde os deveres e os direitos tendem a ser relacionados um ao outro. Se todas as crianças têm o direito de ter escolarizacao, por exemplo, então esse “TODAS” abrange até mesmo crianças com deficiência. Esse “direito de todos” se relativiza graças a um pensamento que poderia remontar o que a maioria tem certeza e o que é a verdade como realidade. Frases como “deficientes deveriam se inscrever na AACD”, é uma frase de certeza dentro de um passado muito remoto onde eramos trancafiados em instituições. Há uma caracterização da nossa cultura - bastante particular - que universaliza tudo que achamos ser belo e bom, por causa da nossa herança católica e, indiretamente, uma visão platônica das coisas reais. Mas, a certeza tende a ser relativa no sentido de certezas de valores particulares (individuais), como se mesclasse aquilo que “se acha” e aquilo que é. 

O que poderíamos colocar como “aquilo que é”? A verdade não é a certeza porque a certeza é aquilo que nos deixa seguros, aquilo que achamos certo e coerente dentro de nossas próprias crenças. Daí o senso comum segue acreditando muito mais nas certezas que os deveres com a sociedade não incluem os direitos garantidos para todo mundo, porque direitos são para todos. Dentro de comentários da rede de vídeos curtos Kwaii, há uma incongruência entre aquilo que se “acha” (que podemos chamar de doxa), com que realmente é um direito democratico. Uma pergunta é inevitável: há o direito de ofender ou discriminar deficiências ou minorias? Há o direito de enganar e vender uma realidade que não existe?

A primeira pergunta pode ser respondida com um não, mesmo porque, o direito de falar o que quiser é caracterizado como ofensa e pode ser motivo de processo. Comentários como “crianças autistas não devem ir a escola por serem agressivas”,  é uma crença dentro de casos específicos que podem ser contornados com mecanismos de inclusão dentro das escolas entre terem cuidadores e acessibilidade fisica. O problema é que há um discurso ideológico (bolsonarista) que isso é coisa de esquerda - a maioria dessas pautas é sim de esquerda - e se fizerem será instaurado o comunismo. 

Primeiro - não há nenhuma correlação dentro do discurso de incluir pessoas ou crianças com deficiência dentro de pautas da esquerda mais radical (socialismo/comunismo). Por outro lado, essa associação sempre foi feita por pessoas sem estudos e sem noção do que estão dizendo.  A questão de uma inclusão mais efetiva foi muito mais pautas liberais e sócio-democratas do que comunistas, mesmo porque, no tempo que Karl Marx escreveu sobre o socialismo científico, nenhuma dessas pautas eram nem mesmo cogitadas. 

Segundo - dentro do mundo e seus objetos da realidade (objetiva que chamamos de verdade), não há nenhum modelo de perfeição estética e nem uma padronização dos gêneros (há homossexualismo entre os animais) onde temos que rever algumas certezas (por isso elas sao relativas). Podemos colocar essas certezas em uma crítica kantiana que tudo pode ser analisado e centrado dentro de uma evolução linear, afinal, os primórdios humanos tínhamos pelos, rosto de símio, e não éramos como somos agora. 

Daí entramos na verdade em Kant. O filósofo Immanuel Kant (1724-1804), abordou a questão da verdade em sua obra (as críticas) de maneira bastante profunda e sistemática. Ele definiu a verdade como uma concordância do conhecimento com seu objeto, assim, um conhecimento é (de ser) verdadeiro quando está em acordo com o objeto no qual se refere. Ou seja, poderíamos perguntar se a “crença” de uma certeza pode ser verdade enquanto aquilo que existe de fato enquanto experiência entre todo mundo. Ai entre o dever moral em busca da verdade pois, para o filósofo, a busca da verdade é um dever moral. Para Kant, só seria possível agir de forma etica se se conhece a verdade e a busca pela verdade é um dever moral. Ora, Kant acreditava que a razão humana nos capacita a buscar a verdade e a compreender o mundo de forma racional. 

Na visão kantiana, a verdade não é apenas uma questão de conhecimento intelectual, mas também tem a ver com a nossa capacidade de agir de forma ética. Porque quando vamos em busca da verdade, estamos agindo de acordo com nossa natureza racional e moral. Além disso, a busca da verdade é essencial para a construção de uma sociedade justa e baseada em princípios universais. 

Mas existem princípios universais? A crítica desses “princípios universais” de Friedrich Nietzsche muito me agrada, porque na sua filosofia questionava toda a existência de valores absolutos e objetivos. Isso tem a ver com a frase: "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas." que tem a ver com uma reflexão da sua visão crítica sobre a existência de valores universais e objetivos. Ou seja, Nietzsche pensava que a verdade só era uma construção linguística é uma ilusão que pode ser reinterpretada e questionada. A proposta dele era uma “transvaloração dos valores”, assim, incentivando a criação ativa de significado e a reavaliação dos princípios morais e culturais. 

Muitos dizem “pula da janela e vamos ver o que acontece”, mas Nietzsche não questiona a verdade como realidade objetiva. Ele questiona as verdades morais, aquelas como “deficientes deveriam se inscrever na AACD”, ou “crianças autistas não podem estudar com outras crianças porque mordem e são agressivas” e até mesmo, “sou a favor do aborto ou eutanasia nesses casos” mostrando que a maioria (com suas certezas) sempre tem soluções faceis e preconceituosas. Que, na maioria das vezes, advém  de princípios ditos universais. 

Agora a segunda pergunta: “Há o direito de enganar e vender uma realidade que não existe?”, tem a ver com o “sonho” de muitas pessoas de serem “fazedoras de conteúdo” ou “influencer”. Mas, chegamos em uma análise mais proxima da indução e da fetichização da mercadoria onde uma induz o grande público a criar um fetiche por aquele objeto e que induz a ter o comportamento em ter esse objeto. Para que eu teria um Lamborghini se posso ter um carro luxuoso simples que daria para andar nas ruas do Brasil? Tem toda uma racionalização dentro de uma demanda de localidade, de poder e de respeitar as leis, nesse caso, de trânsito. Fora que há lombadas (aqui em São Paulo chamamos assim, mas em outros estados se chamam “quebra molas”), existem buracos, existem remendos mal feitos por companhias de água etc, que indisponibiliza eu ter um lamborghini.  

O que acontece é que o fetiche (que vem de Marx) tende a mostrar um status quo que, muitas vezes, o objeto não tem em si mesmo. Voltando ao exemplo do Lamborghini como produto fetichizado como luxuoso, mas não é necessário ter um carro desses como algo sublime. A fetichização da questão passa também como a indução de ser um poderoso influencers para ter um status, afinal, olhando as redes sociais e a questão da fama (que antigamente se restringiria somente na TV) sempre é um objeto importante.  Além da fetichização do objeto, existe a indução comportamental que é muito discutida na filosofia na  Teoria do Conhecimento (epistemologia), pois, parece ter uma diferença entre aquilo que se aprende como conhecimento e aquilo que somos induzidos como manipulação dos desejos. 

A indução de comportamento se refere a uma influência deliberada ou não deliberada que certos estímulos têm sobre as ações e escolhas das pessoas. Quando o Kwai diz para gravar 15 vídeos para engajar na rede - que a entrega desses vídeos estão baixos - eles estão induzindo a ter mais vídeos e o alcance (supostamente), pode ser real. E tem outras pessoas que dizem que o algoritmo é cego, coisa que não é verdade (quem sabe de programação). Na teoria, o algoritmo entrega aquilo que você gosta e curte assistir, porque ele leu sua metalinguagem e leu seu “gosto” por  aquilo. Hoje, se você procurar certo livro, por exemplo, vai chegar um monte de anuncio desse determinado livro. Por que? Os algoritmos leram sua procura como um interesse daquilo, do mesmo modo, a metalinguagem de leitura do objeto. 

Uma indução pode ser muito sutil - nesse caso, nem percebemos - mas é bastante poderosa. Porque um influencer pode moldar uma preferência do consumidor sempre incentivando a comprar determinado produto, adotar certos hábitos ou seguir determinadas tendências. Assim, quando uma rede começa a induzir você a fazer 14 a 40 vídeos para ser visto, ela está te colocando como uma tendência dentro de um comportamento induzindo a ideia de fama. 


domingo, abril 21, 2024

Bolsonaro não é Tiradentes

 






Se o penhor dessa igualdade

Conseguimos conquistar com braço forte,

Em teu seio, ó liberdade,

Desafia o nosso peito a própria morte!

(Hino Nacional Brasileiro)



Em todos os hinos brasileiros - até das Forças Armadas - têm liberdade nas suas letras. Mas alguém pode dizer que sabe o que é liberdade? Quando dizemos “o que é”, queremos indicar o objeto que está em tal local, e além disso, o local é uma letra de uma canção que representa alguma coisa e essa coisa é a nação brasileira. Poderíamos dizer todo tipo de coisa - como não amar os símbolos brasileiros porque a nação não cuida do básico - mas esta é acima da simbologia da liberdade (queiramos ou não) foram construídas as nações americanas. Aí se começa a ideologia republicana positivista - nomes como Joaquim Nabuco e Benjamin Constant - que tem que construir heróis nacionais. Um deles foi Tiradentes. 

O dentista Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes) , que era mineiro (Ouro Preto), não era um símbolo nacional até a república positivista. Como um dos expoentes da Inconfidência Mineira - movimento inspirado nas revoluções francesa e norte-americana - não deu certo porque aqui tudo tinha seu preço. Ora um dizem que ele foi enforcado e esquartejado (por ser pobre, claro), ora dizem que ele foi levado até a África e um mendigo foi enforcado no seu lugar. A questão é que ele virou um símbolo de libertar o Brasil de ser colônia de Portugal. Mesmo que algumas coisas não sejam verdade (como os brasileiros adoram dizer, mas mentem para si mesmos), a simbologia daquilo se transforma em um símbolo daquela etnia. Queiramos ou não - pouco me importa - Tiradentes e outras figuras, se tornaram símbolo do Brasil e de todos sobre queremos ser libertos de todo “lixo” que nos tentam colonizar. 

Desde quando inventaram a imagem do Bolsonaro (como um baluarte da esperança de mudança) eu alertei que ele e o Lula não são diferentes, não visam liberdade nenhuma e não honram nossos símbolos nacionais. Pensar em liberdade é você pensar como quiser sem ser atrelado em nenhum dos lados, sem se apegar em ideias ideológicas - e sim, estou pegando a ideia de Marx de distorção da realidade - onde muitos por serem contra X acham que tem que apoiar Y e isso é problemático no sentido de dar ao Brasil a verdadeira máxima que está escrito na bandeira: <<ordem e progresso>>. A frase de Comte onde o lema foi tirado é: <<O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim>>, que, a meu ver, é o lema mais bonito da filosofia moderna e que poucos entendem. O amor une todos em uma causa, a base de tudo que existe e as muitas culturas é a ordem e no fim, diante dessa ordem que o amor deu, está o progresso. O espiritismo kardecista é positivista por excelência. O problema é o cientificismo que atrapalha exatamente esse progresso não deixando as ideias evoluírem. 

Mas voltemos à liberdade. E sim, ser liberto é ser livre das amarras ideológicas e que nada ajudam o Brasil e todos que tendem a não ter liberdade, pois, liberdade vai muito além daquilo as pessoas achar ser. Tem a ver em ser pessoas que pensam por si mesmos dentro de uma ótima crítica ao sistema. 


quinta-feira, abril 11, 2024

Musk é a Desobediência Civil







O ministro do STF, Alexandre de Moraes, disse que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão” em resposta às provocações do bilionário e dono do X (antigo Twitter),  Elon Musk. Comecei a ler uma das biografias dele (ele falando de negócios e tomando sorvete e escorrendo no queixo) e lembrei de um texto de Henry Thoreau, A Desobediência Civil, que para o autor, era importante e primordial. O modo americano nesta época, foi marcado com a construção do oeste americano e a ideia que muitas famílias europeias trouxeram, que a América representava a liberdade. 

Murray Rotthbard - economista e escritor libertário norte-americano - em seu livro Esquerda e Direita, vai dizer que quem libertou os EUA dos britânicos foram os libertários. Seus planos eram fazer uma nação diferente sem exércitos e sem um poder central e se tivesse que ter, deveria ser um poder moderador. Mas, vieram os conservadores e tomaram o poder, hoje os EUA é um império no mundo se metendo na política externa, fazendo guerras para ganharem dinheiro e o governo se meter na educação, em assuntos que não deveriam se meter.   Da terra da liberdade se tornou a terra da escravidao financeira. Elon Musk que nasceu na África do Sul - no idos tempos do apartheid - gostou de ser americano e se adaptou bastante com a nacionalidade que lhe deram. E a cada provocação de Musk, lembro que as américas foram muito influenciadas pelas revoluções e modo de rebelião franceses. Só ler Os Miseráveis de Victor Hugo. 

Não adianta Moraes se espernear, seus decretos são monocráticos e nada tem a ver com a democracia em si. Na sua fala que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão” não é uma frase coerente, é uma falácia e um modo de frase retórica. O poder moderador seria levar a cada um o processo que lhe cabe, não precisa estudar direito para saber, só estudar o básico. Se houve tentativa de um golpe de estado, que identifiquem quem quebrou as coisas e prendam. Até onde sabemos, a Constituição não tem nenhum artigo que indique “crime de opinião”, mesmo que essas opiniões sejam contrárias às suas. E, como dizem, se prender por causa de dizer que as urnas eletrônicas foram fraudadas, a “carapuça” sempre vai servir e a carapuça serviu. Mas, eu não penso que as urnas foram fraudadas, mesmo porque, quem defende estuprador, mija na rua, maltrata animais, não respeita vagas de estacionamentos e nem filas preferenciais, pode votar num partido como o PT e até no PL. 

Ora, regimes democráticos modernos foram  construídos em cima de ideais liberais (pelo menos, no liberalismo clássico) de fraternidade, igualdade e liberdade. Musk só defendeu seu escritório aqui no Brasil como um bom empresário, porque a empresa é dele e ele defenderá os interesses dessa empresa. Não acredito que “os ideais são mais importantes do que o dinheiro” - nisso sou bastante cético - e nem acredito que ele possa se importar com a nação brasileira. O importante é uma questão: a abertura do caminho de uma contestação, o que está acontecendo e o porque as redes sociais estão bloqueando algumas falas políticas sem nem ao menos, dar uma satisfação. 

Em regimes democráticos a desobediência civil tende a ser legítima como forma de protesto, como uma lembrança de uma etimologia de “democracia” que é o governo das comunidades, das grandes multidões. 




terça-feira, abril 09, 2024

Elon Musk e a liberdade

 



“Muitas vezes o próprio poder é uma facção.”

(HUGO, Victor, Os Miseráveis)




Nessa briga entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, não tem nenhum herói. Costumo ver esse tipo de briga política como uma briga para medir o poder do outro, e além disso, sempre quando eu vejo brigas políticas sou cético. Meu ceticismo político é tão grande, que não tenho lado político. Uns podem me dizer: “Ah, mas você não é libertário?”, respondo que sou, por outro lado, meu libertarianismo é apenas uma arma ultra-liberal para desafiar o status quo e como  tratam a grande maioria. Eu sei que é uma grande utopia nesse momento. e eu sei que as grandes ideologias libertárias, estão muito longe de acontecer. 

Musk pode estar fazendo um teste para ver até onde pode chegar, ou pode ser que tenha (e deve ter) provas que o judiciário brasileiro tenha ameaçado redes sociais a fazerem o que quiser. Seria, usando uma metáfora bem forte, um pai está batendo na família e não quer que a vizinhança saiba. A questão é (fazendo uma análise bastante rigorosa) que ninguém gosta de ser contrariado. Musk já puniu vários jornalistas que não disseram o que ele gosta, assim como o governo brasileiro perseguiu e ainda persegue aqueles que dizem a verdade. A humanidade nunca gostou muito da verdade, pois, como disse meu pai, você dizer a verdade acaba perdendo até o diálogo com a família. O que seria a verdade? Uns dizem que a verdade é relativa, que depende de valores para existirem. Outros dizem que a verdade é a realidade e pode ser considerada universal. 

Tendo a concordar com Nietzsche quando ele diz que não existem fatos eternos e nem verdades absolutas, porque verdades são ordens morais que lutamos como verdades. Essas verdades não são absolutas porque são regras humanas, nada tem a ver com realidades puras e simples independente da nossa consciência. E os fatos mudam a todo momento no mundo, porque a Terra começou com um tipo de geologia e tem outro, havia um ecossistema, hoje tem outro. A vida começou com células unicelulares e hoje é tão complexa que não sabemos nem como funciona. Então, as mudanças sempre acontecem independente se você gosta ou não. Ou seja, as redes sociais são a mudança da comunicação que a humanidade colocou como libertação de as pessoas aprenderem a dialogar, mesmo que essas mesmas pessoas digam besteiras. 

Musk é um libertário como eu e como várias pessoas influentes são - e arrisco dizer  que a grande maioria do Vale do Silício é - e esta “cagando” para qualquer governo e para qualquer medida que tolhe a liberdade de dizer o que quiser. Afinal, todo mundo tem o direito de pensar e acreditar o que quiser e expressar isso, porque se expressar não é o ato em si mesmo e o crime é o ato de fazer aquilo que disse. A intenção que é expressada só pode ser detectada se for expressada, caso contrário, como poderemos saber? Como a justiça poderia descobrir? 


sexta-feira, abril 05, 2024

Victor Hugo e a miséria humana

 



“Muitas vezes o próprio poder é uma facção.”

(HUGO, Victor, Os Miseráveis)





A arte da escrita é uma arte para poucos, mas, diferente do que o senso comum pensa, não seria uma arte desnecessária. Cristo percebeu isso quando ao invés de ensinar as coisas como elas são, ensinava através de parábolas para a grande maioria. O próprio dizia que não se deveria jogar pérolas aos porcos, pois, os porcos iriam destruí-las. Os Miseráveis de Victor Hugo mostra a miséria de uma França pós-revolução, mas, mais do que isso, mostra que o ser humano perde alguns princípios morais quando está com fome. O que vale é a sobrevivência  de quem consegue um mísero pedaço de pão, ou algo com que possa sobreviver. Foi isso que levou Jean Valjean a roubar um pão para alimentar seus sobrinhos e ser preso nas galés, logo ao ser solto, parou em uma casa do arcebispo e rouba talheres, mas, o arcebispo livrar ele da cadeia. 

A questão foi que existem a classe dos conquistadores e a classe dos conquistados. A miséria sempre é a desigualdade entre aqueles que são reféns da falta de um ensino de verdade, de boas condutas que o levam a ter pensamentos mesquinhos e que não desenvolvem sentimentos nobres. Talvez, Hugo tenha escrito esse livro em que Valjean se arrepende mostrando um lado humanista e mostrando que nem sempre o meio contamina os nossos valores. Pois, no começo da história, ele, realmente, não queria fazer aquilo e foi forçado por causa das crianças. Há uma redenção diante do erro ou, como diz a grande maioria, o pecado. O pecado é um erro com o divino, a divindade que tem dentro de nós mesmos, que nos liga ao Eterno. 

Daí eu refleti algo que eu estava conversando com minha noiva, porque estávamos conversando como as pessoas podem ser maldosas com frases como “lugar de louco é no CAPs” (um comentário sobre escolaridade de autistas), ou “os deficientes deveriam se inscrever é na AACD” (comentário sobre as bolsas de universidades para PCDs). Eu expliquei que tinha uma explicação filosófica e uma explicação espiritualista, porque a filosofia dizia que a sociedade nos molda com os valores que nos dão ao longo da vida. Por outro lado, há uma explicação espiritualista, que nascemos com um propósito e esse propósito é ouvido com a intuição. A Alma fala com você sempre e cai te indicando o caminho. A escolha é sua. Talvez, Victor Hugo colocou essas escolhas a Valjean para mostrar que as pessoas podem ter tendência a fazer mal ou não, mesmo que esse mal não exista fisicamente. 

O erro da filosofia contemporânea é deixar de fora discussões metafísicas, muito porém, todos que negaram a metafísica tiveram a sua. Porque a filosofia começa com uma indagação metafísica da origem da realidade e não esquecemos, que a água em Tales ou os elementos nos filósofos físicos posteriores, podem ser símbolos. Tudo é húmido e precisamos de ar e calor para viver. Assim como existem as condutas morais que nos tornam humanos, como não cobiçar algo de alguém, como ter uma sexualidade saudável sem luxúria, como não matar o outro etc. Mas, a meu ver, há algo dentro de nós que nos mostra o caminho que devemos trilhar diante de tantas coisas na vida e ser pessoas honestas sem serem conformadas, sem nenhuma capacidade de serem pessoas ignorantes que são escravas da mesquinharia e solidão. 

Talvez, isso supera nossa condição humana de sempre querer uma jaula. Como disse uma vez, o ser humano é o único animal do mundo gosta de prisões. 

no mais, bom livro 


terça-feira, abril 02, 2024

PCDs só servem para consumir



 Terceira edição da pesquisa Oldiversity mostra que marcas investem em acessibilidade para clientes com deficiência, mas discriminam profissionais com deficiência na contratação de funcionários.(Blog: Vencer Limites)



Particularmente, não gosto do termo inclusão por várias razões que poderíamos escrever um livro sobre. Mas, essa matéria do blog Vencer Limites - que gosto bastante - fala de uma coisa que eu não canso de escrever em varios textos ao longo de anos. Só digitar: Amauri Nolasco Sanches Jr e cotas de empresas longo aparece algum texto e não é por menos, desde 2004 até 2018, fiquei mandando currículo direto para empresas e nada de nenhum emprego, só alguns trabalhos de jornalismo pela web. Então, quando li essa reportagem, nada me surpreendeu. No outro artigo chamado: “Lugar de deficiente é na AACD?”, mostro que sempre quando falamos de deficiência - num modo bastante sério - ninguém dará a mínima atenção. Por que? Como a deficiência mostra a fragilidade humana e que não somos seres especiais - a questão de sermos a “imagem e semelhança de Deus” é um modo de explicar nosso espírito - e sim, animais como todos que habitam nosso planeta. 

Voltando a ideia de inclusão, a questão de incluir algo ou alguém tem a ver com o fato desse alguém (no caso, as pessoas com deficiência) estar ou não dentro de uma sociedade. Não nascemos fora de uma sociedade. O que lutamos e isso tem muito mais a ver com equidade, é a igualdade de oportunidades que muitas pessoas como eu não tem. Não adianta acessibilizar um aeroporto, se o mínimo de pessoas vão usar e a maioria não tem nem calçadas para sair. Não adianta tirar os impostos das cadeiras de rodas e outros aparelhos, se não há fiscalização das fábricas que continuam vendendo cadeiras caras. Não adianta tirar o IPVA ou outros impostos do carro, se não temos dinheiro nem para comprar uma cadeira de rodas boa. E não adianta temos cotas para trabalhar, se temos que lutar hora porque temos que fazer entrevista e dinâmica com pessoas que não tem deficiência, hora temos que pagar universidades porque não há facilidade de entrar numa universidade pública (e nem um transporte de verdade). Fora que o nosso próprio segmento - desorganizado e com tantas estrelas e pouca constelação -  não tem nem organização e muito menos prioridades. Como querem chamar atenção social e política?

Eu concordo com Aristóteles, somos animais políticos porque somos animais sociais e o termo grego “politikon”, era exatamente o termo de pessoas interessadas pela sua polis (cidade-estado). Sera que pessoas com deficiência podem ser políticas, já que somos humanos como qualquer um? E isso nos remete a uma outra questão: a deficiência não poderia nos definir porque a deficiência é uma condição que, porventura, fazemos tratamento, podemos superar ou não ela (não estou me referindo ao “exemplo de superação”). E ai que esta, quem vai dizer se podemos ou não superar nossas deficiência? Mas, por outro lado, o que esperar de pessoas que dizem coisas do tipo: “deficientes tem que se inscrever na AACD” ou “lugar de louco é no CAPs”? Não sejamos inocentes e nem bobos, na essência, quase todo mundo tem os mesmos preconceitos que levaram o nazismo. Crianças com tendência de terem Síndrome de Down são abortadas no estrangeiro, ou em alguns Estados dos EUA, a família tem o direito de fazer operações do útero de mulheres com deficiência. 

Essa pesquisa mostra que donos de empresas podem ter estudado - a grande parcela não tem qualificação em administração -  mas não aprenderam, que é além do estudo. Eu tenho a plena certeza que muitos querem consumir. Afinal, todas as empresas que mandei currículo (principalmente, o Santander) me mandavam suas propagandas sem vergonha e nenhuma proposta de emprego, um patrocínio para meus vídeos, nenhuma proposta de parceria. Somos, ainda, a escória social que muitos deficientes aceitam para se mostrar. Toda propaganda de cadeira de rodas está lá um comentário: “qual o preço” como se o indivíduo pudesse comprar, sendo que muitas vezes, nem sabe onde é a loja. Eu, estou pensando seriamente em parar de consumir certos produtos, pois, se não me dão emprego, não tenho dinheiro para comprar a sua quinquilharia.


quarta-feira, março 27, 2024

ÉTICA BRASILEIRA: POLÍTICA, FUTEBOL E POVO

 






Não se sabe o porquê, os povos têm fascínio pela mentira. 

Léo da Silva Alves




O Brasil foi fundado por pessoas que queriam enriquecer e depois ir embora para onde vieram e, isso, está em qualquer livro de história. A parte da colonização ibérica - diferente da colonização inglesa e francesa - sempre teve um ar de não pertencimento no lugar onde estavam. Sempre foi um período “provisório” e a qualquer momento, poderiam voltar com mais posses. O grande problema é que nem sempre isso acontecia, pois, ou os homens ficavam por causa de nativas locais (como também aconteceu com colonizações das outras nações) ou morriam picados por algum animal peçonhento. Sobre as nativas locais, poderíamos dizer que isso incomodou e muito a metrópole e os governadores locais (os donos das capitanias) e famílias e mulheres portuguesas eram trazidas. 

O Brasil foi criado sempre com mitos e uma forma de ver a realidade através de formas subjetivas, nunca gostou de pessoas que fossem contra suas ideias. Mataram, torturaram e condenaram - ao longo de toda nossa história - porque pensavam diferente ou que tinham religiões diferentes. Parece que não tinha nenhuma lógica uma pessoa não ser cristã, deveria (para ser civilizada) aceitar Jesus como seu salvador. Um parênteses muito importante, porque Jesus não obrigou ninguém a se converter e seguir ele, não faz nenhum sentido. Mas, o cristianismno catolico (apostolico romano), foi calcado nas entranhas no império romano e herdou sua gênese dominadora. Portugal, além de ser uma nação ainda medieval e feudal quando encontrou o Brasil, era católico ao ponto de expulsar os judeus do seu território (Espinosa que o diga). Era uma nação que não queria comprar mais as especiarias asiáticas (leia-se indianas) nos mercadores da Itália. 

Não só a Espanha, mas Portugal também não queria mais ser explorada e desenvolveu a “vantagem”. O pensamento vantajoso seria se destacar sobre as outras nações e ter mais colônias onde se poderia ter recursos sem ao menos pagar por isso. O Brasil - como outras colônias portuguesas - não era uma colônia de ser uma extensão do território portugues, mas um território que a nação lusitana poderia buscar recursos para seus gastos. Dentro dessa história toda, poderíamos dizer que o Brasil sempre foi uma nação disputada pelo estrangeiro e Portugal sempre teve que defender sua “galinha dos ovos de ouro”. 

O que interessa aqui é a questão: e a construção da ética e da moral dentro do Brasil? O “jeitinho brasileiro” nasce como uma solução por causa da distância entre as colônias e a capital (ou metrópole) que não poderia fiscalizar tudo. Nasce o “santo do pau oco” porque se escondia ouro dentro de estátuas de santos que não eram fiscalizadas, ou que existiam a lei muito mais amena para quem tinha mais posses. Sempre foi uma cultura patrimonialista. Aliás, por meio de meus estudos, cheguei a conclusão que a construção ética dentro do Brasil não existe porque não se teve uma educação e por causa do patrimonialismo. Por que os que eram menos do que você teriam que ter estudo? Por que os donos de engenho deveriam estudar já que tudo aqui era mato? Além disso, no tempo dos jesuítas, filhos dos engenhos estudavam com os jesuítas e se tornaram padres. 

Quando houve a reforma do Marquês de Pombal - que alas conservadoras não gostam - onde os jesuítas foram expulsos das colônias - porque o marquês era iluminista - os senhores de engenho foram convencidos e mandarem os filhos para a Europa (nesse tempo os EUA não era uma nação rica e poderosa). A moda era ou o filho ser médico, ou advogado. O “doutô” foi a base de muito tempo como se devesse chamar um filho do engenho - que, a meu ver, seria facilmente identificado como feudo - onde se esqueceu que uma sociedade sem nenhuma escolaridade, é uma sociedade perigosa. Um exemplo claro foi a revolução francesa onde o povo foi manipulado, onde países do terceiro mundo são usados e abusados. A sociedade não adquire um senso crítico e começa a apoiar líderes populistas como vimos sempre. 

Por incrível que pareça, a primeira universidade na América do Sul foi em Lima no século quinze, sendo que, em todas as colônias da Nova Inglaterra (EUA) foram construídas escolas e universidades. Sendo que, um dos pilares da era moderna foi democratizar o ensino e a alfabetização, como modo de dar ao povo, o esclarecimento. Ai eu concordo com Sócrates e Platão, o conhecimento te liberta das amarras narrativas e das amarras ideológicas. Aqui querem que o povo esteja amarrado nas narrativas ideológicas, pois, na essência, o brasileiro gosta de bajulação, principalmente, quando ganha um status mais elevado. Quando os produtores rurais perderam o glamour de serem a elite principal, começaram a financiar boicotes e guerras para não terem que perder os bajuladores. Hoje tem uma bancada ridícula no congresso. A nossa elite sempre foi considerada rastaquera (parece culta, mas são ignorantes). 

Daí precisando definir o que seria ética. Ética é um termo derivado do grego ETHOS que podemos traduzir como caráter - em sua origem indo-europeia, ETHOS era a moradia de um homem, ou seja, casa - e como caráter temos uma coisa íntima que não nos deixa fazer coisas que a sociedade não aceita. Mas, como sempre digo, entre os gregos e nós modernos está Roma. Eles traduziram ETHOS como MORES que derivou o termo moral, porque havia uma certa admiração dos romanos com os gregos, mas o termo foi definido como costume somente. Se para o grego ser um helaide era uma questão de cultura, ser um romano é propagar a cultura deles e impor Roma ao mundo conhecido. Entre paideia (ensinando meninos) dos gregos - que era o ensino da cultura helênica - está o educare (ensino da realidade) que era ensinar o que os romanos tinham construído como cultura. 

Na filosofia - que é minha área - a ética se torna uma ferramenta para estudar a moral. Ética e moral parecem iguais - e alguns dicionários cometem esse erro - porém, sabemos as diferenças que podemos atribuir a cada termo.  Moral são os costumes de cada sociedade dentro de uma construção dentro de uma doutrina, que poderá ser entre religiões ou pactos de culturas diversas. Assim como a ética pode determinar através do caráter de cada indivíduo, se essa moral não viola sua individualidade. Ou melhor, por falta de um estudo mais crítico, o Brasil tende a impor uma moral que já foi superada em muitos lugares. Aí poderemos chegar até a vantagem e o jeitinho, onde foi construído um ideário onde teríamos uma moral. A dúvida seria: teríamos uma ética? Teríamos uma moral ou depende do patrimônio do julgado?

Com a ideia da vantagem, se ficou um povo malandro que quer progredir em cima dos outros. E aí a ética se perpetua como um meio para a individualidade, mas, a individualidade não pode ser confundida com o problema vantajoso de sobressair acima do outro. Quando achamos que só porque é um jogador (que violentou uma mulher que tem o direito de dizer não) ou uma pessoa famosa (que fãs defendem com bastante vigor). Mas, temos que responder a questão: o que é ética? O que poderíamos dizer do que seria uma ética brasileira?

A ética brasileira tem dois aspectos: primeiro, tem a frase “para meus amigos tudo, para meus inimigos a lei” mostrando que o brasileiro não gosta de opiniões contrárias. Concordando ou não, pessoas tem empatias com quem pensa igual porque querem agrupar o máximo possível aqueles que podem medir forças para argumentar a favor daquilo. A questão foi desenvolvida por causa da noção da ideia moderna da democracia: a maioria ganha. A rigor, se pensarmos mais a fundo, nem sempre o que a maioria pensa é certo ou deveríamos aceitar, porque não está contido a equidade. Ai que esta, inclusão é, antes de tudo, não uma igualdade - mesmo o porque, cada pessoa tem uma necessidade específica - mas uma equidade que desbrava em uma questão: somos uma espécie só. Segundo, com a individualidade do enriquecimento rápido e a fuga para a Europa (que nunca acontecia), o brasileiro construiu uma sociedade mesquinha que só torce pela sua vitória. Isso ficou muito claro quando muitos ex-liberais aderiram ao anarcocapitalismo  (que ao meu ver, continua liberais anti impostos), porque aquilo é “meu” e eu faço o que quiser e sabemos que, sem uma sociedade, não se tem um lucro. 

O caso de milhares de políticos, jogadores e a sociedade, mostra o reflexo desse pequeno estudo sobre uma sociedade doente e, perigosamente, ignorante de senso crítico.


segunda-feira, março 25, 2024

1883 - sangue e América




 Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada.

Jean-Jacques Rousseau

Com toda certeza, os povos europeus que vieram para a América - seja qualquer ponto do continente americano - procurando liberdade das guerras e batalhas que tinham em todo momento. Diferente do Brasil - que foi uma nação de extração e não uma colônia - os Estados Unidos foram colonizados por famílias irlandesas, escocesas que fugiram de seus países e da dominação inglesa. É depois disso que acontece o seriado 1883 na plataforma de streams Paramont Pictures. Alias, o seriado aconteceu logo após a guerra civil americana - por causa da abolição da escravatura - onde veteranos de guerra tinham que levar uma diligência de carruagem  para Oregon de alemães. O seriado é sobre a existência de seres humanos de lado opostos, mas que existem no mundo como seres que sofrem, pensam e podem sentir sua existência. 

Filósofos não afirmam nada e logo perguntam <e se?>, para sobrepor aquilo que estão mostrando. Ao que parece, a cerne do problema da narrativa se passa no convívio do diferente, além claro, da questão de um mundo plural e moral. Os bandidos eram mortos por causa dos colonos, porém, muitos se rebelaram e foram mortos por causa que iam em direções diferentes. Ou seja, o ser humano na ignorância é infantilizado porque não podem fazer escolhas, os alemães não sabiam fazer escolhas porque tinham aqueles para dizer que aquilo não pode ou pode. Isso é mais do que lógico. povos com mais liberdade tendem a tomar as decisões muito mais tranquilamente. Elza - filha de um ex-capitão e de uma dona de casa - sempre teve essa liberdade e sempre mostrou respeito pelos pais e mais velhos. 

A questão não é a série em si - que veio de uma outra chamada  YellowStone - mas, o que seria a liberdade? Somos libertos realmente?  Com a promessa da “terra da liberdade” muitas pessoas desbravaram as américas, digamos assim, para encontrar ouro e riquezas e essas riquezas eram a própria liberdade. Aqui no Brasil, foi colonizado por membros da nobreza que não eram sucedidos em seus territórios. A urbanização que vimos no século dezenove, era uma urbanização graças a revolução industrial que aconteceu no século dezoito. Antes disso, a Europa - na sua essência - era ainda feudal em muitos lugares e com a guerra, a pobreza era extrema. Poderemos ver isso em Victor Hugo com o livro Os Miseráveis (que vou fazer um texto sobre). Haviam favelas em Dublin, e se recuarmos muito tempo atrás, tinham favelas até mesmo na Atena clássica. Parece que as classes - que foi Adam Smith que começou a falar - existiam muito antes do capitalismo e continua existindo. 

Nem sempre as pessoas podem refletir sobre a liberdade, trabalham toda a semana e nos finais de semana tendem a cair no divertimento.  A meu ver - diante do que eu vi na vida - as pessoas tem medo de ficar consigo mesmo e descobrir algo dentro de si que não vai aguentar, e tem uma outra coisa, as pessoas não conseguem ficar sozinhas. O grande mal do nosso tempo é, sem dúvida nenhuma, a solidão. Por que as pessoas se sentem sozinhas? Há no pensamento socrático - depois adotado por outros filósofos - que deveríamos, ates de tudo, conhecer a nós mesmos. É, inclusive (para quem estuda um pensamento mais metafísico místico), um pensamento de conhecer nossa origem divina. Conhecer os deuses e o universo tem a ver com nossa origem divina (alma/espírito) e nossa origem biológica (primata/mamífera). Ora, mesmo que biologicamente, poderíamos dizer que somos animais gregários (aceitamos clãs), não tem nenhuma base lógica, temos que seguir um Estado ao ponto de saber que eles podem nos ferrar, mas, temos que aceitar que eles ditem o que deveríamos fazer. 

Rothbard - grande defensor das ideias libertárias - disse que quem libertou os Estados Unidos da Gran Bretanha foram os libertários, de onde vem a ideia que a liberdade era a essência da América, mas, os conservadores tomaram para si o governo. Exércitos foram criados. Instituições de regulações. Todas as coisas que os norte-americanos (favoráveis a liberdade) queriam abolir.  Resultado? Em vários filmes e seriados sobre o Oeste americano, poderemos ver e refletir sobre a ideia o que aconteceu. Ou melhor, a liberdade tende a fazer as pessoas obedecerem certos conceitos morais porque elas acreditam que aquilo é certo, não achar que devemos doutrinar as pessoas a seguir aquilo que elas não querem seguir. Do mesmo modo poderemos ver no próprio seriado - que eu já expus antes - onde a liberdade não teve nada a ver em desrespeitar os mais velhos.


terça-feira, março 19, 2024

Webcomunistas não sabem o que ceticismo filosófico




Os grandes intelectuais são céticos.

Friedrich Nietzsch


Me parece que muitos webcomunistas não aprenderam que sem o ceticismo - que começou com Pirro de Élis - a filosofia não tem nenhum sentido. Desde da sua origem, já que Tales indagava a origem das coisas através dos elementos, houve um ceticismo diante da explicação homérica. Para Tales, não bastaria dizer que todas as coisas vieram do nada e que do nada veio o Caos (um abismo infinito), onde Titãs, deuses e tudo veio, houve um momento de ceticismo. Talvez, vendo insetos saírem das águas e vendo animais (como os anfíbios), concluiu que tudo veio das águas e que a água é originária de tudo. indagação sobre a origem das coisas e questionamento sobre a questão do discurso alheio. Ou seja, a filosofia como instrumento que questiona a realidade, como ficou bem claro, quando Platão escreveu sobre o teorema da Caverna. 

O ceticismo foi criado por Pirro de Élis depois da morte de Platão, mas poderia ver um tipo de ceticismo platônico já em alguns diálogos. A dúvida socrática põe em questão que nem todo mundo sabe, verdadeiramente, aquilo que diz saber. Eu não posso escrever sobre certas doenças porque não tenho conhecimento médico clínico, eu assumi minha condição de ignorância dessa matéria. Assim como é muito estranho que quem não estudou filosofia - se denominar como marxista é uma vergonha para a memória de Marx - tenha dito (como o Ian Neves que é um historiador e não um filósofo) que alunos de filosofia são chatos. Pedro Ivo do canal @ateuinforma foi um pouco mais que Ian, disse que a filosofia não indaga e que o ceticismo não faz parte da filosofia. Ora, se o ceticismo não é uma matéria da filosofia, o que poderíamos chamar o método de Descartes em tempos modernos? 

Caímos na nova modalidade que a internet criou: o achismo. O achismo (que é uma gíria) tem a ver com o modo subjetivo que as pessoas colocam um assunto importante sem embasamento, ou seja, poderíamos trocar o modo de achismo com opinião (que Platão  chamava de doxa). Ian Neves não sabe que alunos de filosofia (aliás, filósofos são chatos) são chatos porque devem ser chatos por causa da indagação e por causa da natureza cética da filosofia. Embora ache - coisa que nem o Henry Bugalho disse - que esse modo de ficar dizendo que isso não é filosofia por causa que não citei a página 18, parágrafo 5 da Crítica da Razão Pura de Kant, um exagero uspiano que sabemos que o modo de fazer filosofia é uspiano. A 80 anos a USP (Universidade de São Paulo), criou o departamento de filosofia e o francês que ajudou a realizar isso disse - como se não tivéssemos filósofos antes - que se deveria estudar os clássicos para assim, produzir filosofia. Resultado? Pedro Ivo dizendo que os filósofos de hoje são autoajuda, filósofos são sofistas e Ian Neves dizendo que aluno de filosofia é chato. Detalhe: Ian Neves (historiador) falar de Kant é filosofia, Karnal falar do mesmo assunto é autoajuda. Arrepiou os pelos do loló. ]




segunda-feira, março 18, 2024

Lugar de deficiente é na AACD?





<<Preconceito é opinião sem conhecimento>>

(Voltaire, Dicionário filosófico (1764))



Voltaire enfrentou vários desafios sobre o preconceito defendendo o caso Callas - e muitos outros - e sabia que na maioria das vezes, muitas acusações eram de cunho preconceituoso e de interesses escusos. Dentro da história humana, vimos muitas crenças e muitos relatos de acusações feitas por pessoas por preconceito de desconhecer aquele povo, aquela condição ou aquele lugar. Até o século dezenove, tínhamos os “circos dos horrores” que pessoas com síndromes, com anomalias genéticas e deficiências eram mostradas como se fossem monstros. Herança romana. Diz a tradição, que a mãe do imperador Claudius - que tinha paralisia cerebral - o chamava de monstro, mas, mesmo assim, foi um dos melhores generais e um imperador forte e destemido. Talvez, a ideia de sofrimento de pessoas com deficiência seja propagado pelo ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana), por causa da ideia da caridade demonstrada nos evangelhos. 

A questão teve seu cume  na Alemanha nazista onde houve um decreto que mataria milheres de pessoas com deficiência, porque Hitler dizia (dizem que assinou chorando) que “eram sofredores eternos”. Hoje a coisa não melhorou muito, porque há leis que convenceram mães pelo terror e um discurso medicalista (positivista-utilitário), que uma pessoas com certas síndromes seriam criaturas sofredoras e que não podem nascer. Na verdade, o Estado estaria se eximindo de sua responsabilidade de deixar cidades e o ambiente mais acessível. A eugenia pós-nazismo se transforma em bem-estar e um mundo mais perfeito e feliz, só que tudo não passa de retórica para conseguir convencer uma parcela das mulheres que são livres para fazerem o que quiserem. Será mesmo? Liberdade de não ter um filho que só conta com a probabilidade de nascer com alguma deficiência?

Prefiro pensar que o preconceito é uma opinião sem nenhum embasamento que tem muito de senso comum, não vem de cima para baixo como diz Foucault, e sim, de baixo para cima. A deficiência tem uma coisa pior: a questão da deficiência tem a ver com a utilidade, a produção enquanto ser humano útil. Dai dava para irmos ao assunto do texto, pois, tem a ideia de acomodação e uma “pitada” de pirraça por parte dos universitários. Porque desde que vi um professor fã da Joelma (oi?) dançando no meio de uma escola músicas sem sentido nenhum, pude ver que o conhecimento não é a porta de pessoas mais críticas. Crítica que estamos falando não é “falar mal”, mas, no sentido filosófico em fazer uma análise muito mais profunda do que estou gostando ou do que nos impõe como gosto. A maioria acaba se tornando mais um na multidão. 

Do mesmo modo, um professor acusar um menino com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de homofobia e que a escola - nem a prefeitura de Ibaté - não colocar professores auxiliares para ajudar o menino (e outros), nos dá margem a análise. Como o professor fã de Joelma, o professor acusador não tem um senso crítico de achar que um menino de 8 anos de idade, nem tem discernimento de saber o que é homofobia. Será ele um educador? Será que temos educadores que têm um senso crítico? Não. Mesmo com seu conhecimento, é mais um na multidão. 

E se você ouvisse um comentário do tipo em um vídeo: “deficiente deveria se inscrever na AACD”? Poderia pensar: “ora, é só mais uma piada de um jovem ignorante”, mas há por trás dessa piada uma forte tendência capacitista. Lugar de pessoas com deficiência não é em uma universidade, é em institutos e entidades beneficentes como a Associação a Assistência à Criança Deficiente (AACD). A meu ver, essa nova geração não sabe expandir a discussão porque é movido pela emoção - como todo jovem - e porque foram criados a ler as coisas ao pé-da-letra (educação evangélica). Uns falam em um “empobrecimento da linguagem”, outros dizem que com o avanço de certas tecnologias (visuais) as pessoas só querem ver a imagem e não estudam, não lêem e nem fazem o esforço de entenderem o vídeo que estão vendo.