domingo, setembro 21, 2014

“Transcender” digitalmente.






Por Amauri Nolasco Sanches Junior.


O filme “Transcendence: A Revolução” trás uma discussão sobre Inteligencia Artificial  e qual o fundamento da transcendência de uma autoconsciência humana.  O filme trata de um casal de programadores e pesquisadores que pesquisam a inteligencia artificial, mas o único problema é que a inteligencia artificial não teria uma autoconsciência como acontece com o ser humano ( em partes ). Nesse período tem os radicais anti- tecnologia – sempre tem radicais que querem mudar o mundo pela força – que envenenaram o pesquisador Will Caster (Jhonny Depp) com radiação em uma bala, sua esposa então descobre uma pesquisa do seu marido de dar uplaud em consciências de macacos e tenta ela mesma fazer isso com ele e dá certo. Bom, encurtando a historia, ele vira uma inteligencia artificial pesquisando tudo pela internet, curando pessoas, fazendo construções graças a nanotecnologia e claro, o governo não gosta daquilo e se junta com os radicais jogam um vírus que destrói tudo. Um fator foi o medo do desconhecido, outro fator foi se não é meu, não vai ser de mais ninguém e todo o mundo fica sem nenhuma tecnologia ficando um mundo pré-histórico. O governo americano ferra o mundo e deixa ele sem nada. 

Uma ideia que tive é que de repente de um misero ser humano, programador, pesquisador, casado, envolvido em uma pesquisa de inteligencia artificial (no intuito de descobrir onde essas pesquisas dariam), cercado de radicais que querem salvar o mundo daquilo que “acham” que escraviza a humanidade (como se eles não estariam escravizados pela suas próprias ideias) e é claro, o governo que quer controlar esse tipo de pesquisa por motivos óbvios; se torna um tipo de consciência transcendente dentro de um hardware e operando com o software aprende sem a limitação cognitiva corporal, o limite não existe em cálculos e em conhecimento. A historia também entra na discussão da etimologia (estudo do conhecimento) que parte do principio que o limite de qualquer conhecimento é acreditar ou não naquilo, são as emoções que nos fazem seres ainda limitados. Mas o ser humano é um animal que exige muito mais do que raciocínio, o real é medido graças ao medo ou ao que acreditamos e fazemos com os valores que nos regem. Então, não importa muito se o ser humano é ou não um ser que percebe, porque ele além de ter uma consciência daquilo que percebe, ele tem a capacidade de construir a realidade daquilo. Mas estamos falando de transcendência do conhecimento, uma autoconsciência que são perguntadas duas vezes dentro do filme. 

Transcendência vem da filosofia metafisica que a igreja utilizou dentro de sua teologia, que Deus seria um ser que estaria além do tempo e do espaço e transcendia toda a matéria. De alguma maneira, como toda obra literária e cinematográfica, o filme trás essa discussão como base da inteligencia de um homem conter em um computador, a consciência começa a se expandir. O conhecimento sempre leva outro e a consciência sempre se expande dentro da sua capacidade – até dá para discuti a restrição de nosso cérebro aguentar ou não a expansão dessa consciência – mas que ela procura a novas ligações, isso é fato. Será que nossa limitação é nosso próprio cérebro? Há varias teorias sobre isso, também há varias teorias sobre a transcendência – que muitos insistem em só analisar o ponto de vista religioso e não, possivelmente, num ponto de vista também subjetivo e mental – onde o ser vai além da sua capacidade mental, subjetiva e cognitiva da realidade onde estamos condicionados. 

Quando analisamos ou nos perguntamos o que seria a realidade, sempre ficamos a merce de opiniões do tipo que a realidade é tudo que vimos e tocamos. Mas já paramos para analisar que nossa realidade é apenas átomos que dão forma a objetos ou formas de vida? Se batemos em uma mesa, o som que vai vibrar em nossos ouvidos são apenas vibrações dos átomos da minha mão que se chocam nos átomos da mesa. São vibrações que dão a energia o bastante para se vibrarem a ponto de surtir um som e se for muito forte, pode romper a tal ligação, quebrando a mesa. Então, na melhor da hipótese, a realidade é um amontoado de moléculas que vibram e escondem algo muito mais essencial, algo que a fez vibrar e formar tudo que existe ao nosso redor. Ao enxergar isso, em certo sentido, fazemos uma analise transcendendo a realidade que todos acreditam ser real e colocamos a realidade que vai muito além do senso comum. A realidade não passa de energia que dá aos átomos vibrações o  bastante para sermos o que somos – isto quebra um pouco o existencialismo sartreano que diz que a existência procede a essência, porque mesmo numa forma física, somos feito de energia e dentro dessa energia pode conter nossa essência, além da consciência -   e ser o que somos é o proposito da transcendência, quando nos perguntamos o porque dela. Dai “desembocamos das águas cartesianas” ao dizer que se sabemos da essência é porque estamos pensando e sei ou presumo saber, que a consciência humana é sua essência por fazê-lo perceber a sua existência, ou seja, se sei que existo é por causa da minha consciência da minha existência e essa consciência é a prova irrefutável da minha existência enquanto ser consciente. Tanto é: que tenho plena consciência do que estou escrevendo e que esse texto contem, tenho plena consciência do passarinho que esta cantando no meu abacateiro, porque percebo a realidade que esta em minha volta. Mas toda essa percepção tem um limite cognitivo, porque não dá para saber o que acontece fora do perímetro onde estou. Não dá para perceber a televisão na casa do vizinho, posso até perceber por causa do som alto ou imaginar e saber, que ele tem uma televisão, mas não dá para perceber o que ele está assistindo. Há até uma ou algumas teorias que no futuro nós, seres humanos, possamos evoluir o bastante para ter telepatias e até ter um aumento na audição – coisa bem dentro da logica da própria evolução humana dentro dos avanços tecnológicos – mas tudo não passa de especulação (embora acredita até certo ponte ter uma base dentro da biologia e na física) ou, ainda temos a limitação cognitiva e não sabemos que nosso vizinho está assistindo. 

Podemos pegar uma hipótese e colocar uma consciência dentro de um computador com a capacidade para tal – seja qual for a consciência – e ligar ele dentro da rede, será que essa consciência iria se expandir ao ponto de construir outras consciência dentro da virtualidade? Sera que o universo é uma virtualização ( potência ) ou uma pratica ( ato )? São perguntas que vão ao encontro, de repente, dentro das teorias dentro da física que permeiam o meio cientifico e as vezes, existem filmes que nos chamam para essas questões. Porque se o universo é pratica, ou seja, ato de existir, ele é uma realidade por ele mesmo e não pode ser refutado e pode-se até perguntar onde e o porque desse ato. Se o universo seja uma virtualização, ou seja, um potencial objeto a existir, então ele é um pensamento e nós junto com tudo que existe é apenas um pensamento de uma inteligencia maior. Se for um potencial, estamos presos em uma dimensão que tem atos prontos a nos comandar, mas se for ato, somos livres para escolher o que fazer e descobrir o que é o universo.  Só que há a incerteza dentro da física que diz que a realidade e o átomo – essa incerteza está dentro da relatividade geral e dentro da física quântica – e tudo que existe não tem uma certeza de suas leis e como existem, depende do seu observador. Mas tanto uma virtualização ( potência ), quanto a pratica ( ato ), o universo é incerto dentro do ato em si no surgimento – que se fez no big bang – e sua finalidade e como não sabemos sua finalidade ( talvez conter vida inteligente ), não poderemos medir seu fim. De repente também esse começo e fim nos limite em algumas ideias que ainda insistimos como “certezas absolutas”, como se o universo tivesse uma certa obrigação de ter uma finalidade, e talvez, não contem nenhuma que nossa lógica ou nossa percepção limitada possa pensar. A “finalidade ultima” é uma questão teológica e não lógica na essência, prefiro a “fronteira final” que seria uma nova etapa dentro da evolução humana e talvez, um nascimento de uma psicologia transcendente. 

Voltando a questão da consciência dentro de um computador: poderemos até entrar, isso é importante, na questão ética. Sera que essa consciência, com a expansão do conhecimento, teria a mesma ética que o ser humano tem? Porque ele teria todas as vias para chegar a alguma pessoa que não obedecesse ou que quisesse descobrir algo, dai de repente, o modo ético deve ser pensado. Mas há até a questão de se ter ou não o direito de fazer o “upload” dessa consciência, porque não se sabe a reação da consciência dentro dessa maquina. E porque não, de repente, voltarmos a velha discussão sobre a alma humana e se esse “upload” da consciência, não daria certo por causa da alma humana. Há um erro lamentável em querer analisar a alma na filosofia e a alma na religião, que de repente, colocar essa analise muito semelhante e não nos dará o foco que precisamos nesse caso. Mas podemos tentar desmistificar a alma, mas não negando a sua total essência ( não concordo em analisar nada pelo viés de lógica, principalmente, quando se trata de analises metafisicas  ). Se irmos pelo caminho platônico, que naturalmente chegaremos ao seu mestre Sócrates no qual nunca negou, que a alma tem uma substância simples ( não compota ) que não contem matéria ( imaterial ) e que não tem fim, ou seja, imortal. Outros, muitos deles contemporâneos, colocam a alma como um conjunto de sentimentos e sensações que nos fazem humanos. Claro que somos a única espece primata que tem esse tipo de consciência – o porque é motivo de discussão a séculos – então podemos dizer, sem medo de errar, que nossa alma seja sentimentos e sensações que construímos dentro de nossas leituras subjetivas e morais. Não é diferente da religiosa, onde “deus” coloca no primeiro homem ( no caso ocidental, Adão, que vem do hebraico adam que quer dizer “homem” que alguns estudiosos dizem que tem origem em sânscrito “adi-aham” que “adi” significa “primeiro” e “aham” significa “ego”, ou seja, “o primeiro ego” a primeira personalidade) seu sopro ( pneuma ) e ele se tornou humano graças a alma divina. Daí dizemos que somos a imagem e semelhança de Deus – no ponto de sermos uma centelha divina – porque carregamos parte da energia da criação em nós, e isso é dito em muitas religiões e filosofias, porque temos a escolha e a vontade de construir nossa realidade e as potenciais realidades possíveis. Só nos prendemos na nossa incapacidade corporal de entender certos princípios dessa realidade ( possível ou não ), mas pesquisas já nos trazem realidades que não sabíamos que existimos. De repente, com toda essa reflexão, tivermos mesmo chegado na fronteira da ética moral da consciência, pois com ela e através dela, que poderíamos construir inúmeras realidades e se é ético colocá-la ali dentro do computador. 

Se tivemos razão e a alma é como a teoria socrática- platônica que a alma é algo imortal e imaterial, até mesmo nossos sentimentos e sensações, sera que essa consciência não iria rejeitar ficar nesse computador? Sera que somos fortes o bastante para deixar a realidade onde nos encontramos? Na verdade, como se existisse alguma “verdade”,  não sabemos que a realidade é a realidade e nem que alguma realidade exista. Podemos viver em uma simulação, como o “jogo da vida” fabricado a alguns anos, ou podemos ser uma realidade do nosso próprio cérebro e circunstancias que levam a essa realidade. Ou, muito pior, estamos fadados a uma dimensão que leva a essa realidade e leva a sermos o que somos. De repente, como nos dizem as teorias recentes, pode ter em outras dimensões um Amauri que não tem nenhuma deficiência, ou que não esta escrevendo esse texto, ou está em outro ambiente, ou nem exista e está em outra consciência. O fato de sentimos o que estamos sentindo, não explica a existência, porque o que estou sentindo ou pensando é construído dentro dos valores subjetivos que estão em meu ambiente e está em minha memória. E se talvez, num modo ou de outro, nossas fantasias são na verdade, memorias de uma outra Terra que pode ter tido tais criaturas? E se na verdade, somos uma consciência só vivendo em diversas dimensões, que ao dormir sonha estar em outra? Nossas reflexões chegam até o surreal – estou achando esse texto surreal – mas a essência da filosofia não é contestar os mitos? Mitos são só mitologias ou também são imagens fantasiosas da realidade? Poderemos ser um produto de um sonho de uma outra inteligencia, sendo assim, existimos potencialmente e não em um ato. Interessante é que muitas religiões e filosofias orientais chegam a tal contestação e é um pensamento razoável para não se prender em nada – por causa da negação dessa realidade – então não poderíamos se preocupar com a realidade e com as coisas irrelevante. 

Mas o que é relevante ou irrelevante? O que é certo ou errado? As emoções nos comanda ou nossa racionalidade? A consciência é feita de sentimentos ou racionalismo? E uma pergunta que nos intriga a séculos a fio: o que é o ser humano? Se não sabemos o que somos e o principio de nossa realidade, que a evolução não acontece por causa da estagnação humana, como poderemos fazer um “uplaud” da consciência em um computador? Nem mesmo sabemos o que é a consciência e qual o papel para o ser humano dessa consciência, a essência e para que serve ela para   a evolução humana. Poderemos só ter lembranças vazias de algo que são apenas ondas cerebrais – como se guardássemos um filme em um CD – mas não haveriam emoções que colocassem nessas lembranças, valores. Mas por que colocamos valores? Quais os objetivos desses valores? Uns dizem que são culturais, outros que são inatos. Se são culturais, por que modificam? Se são inatos, por que não evoluem esses valores? Serão perguntas que talvez serão respondidas ou não, mas ainda estaremos muito longe dessa “fronteira final” ao encontro de uma consciência única.