sexta-feira, abril 05, 2024

Victor Hugo e a miséria humana

 



“Muitas vezes o próprio poder é uma facção.”

(HUGO, Victor, Os Miseráveis)





A arte da escrita é uma arte para poucos, mas, diferente do que o senso comum pensa, não seria uma arte desnecessária. Cristo percebeu isso quando ao invés de ensinar as coisas como elas são, ensinava através de parábolas para a grande maioria. O próprio dizia que não se deveria jogar pérolas aos porcos, pois, os porcos iriam destruí-las. Os Miseráveis de Victor Hugo mostra a miséria de uma França pós-revolução, mas, mais do que isso, mostra que o ser humano perde alguns princípios morais quando está com fome. O que vale é a sobrevivência  de quem consegue um mísero pedaço de pão, ou algo com que possa sobreviver. Foi isso que levou Jean Valjean a roubar um pão para alimentar seus sobrinhos e ser preso nas galés, logo ao ser solto, parou em uma casa do arcebispo e rouba talheres, mas, o arcebispo livrar ele da cadeia. 

A questão foi que existem a classe dos conquistadores e a classe dos conquistados. A miséria sempre é a desigualdade entre aqueles que são reféns da falta de um ensino de verdade, de boas condutas que o levam a ter pensamentos mesquinhos e que não desenvolvem sentimentos nobres. Talvez, Hugo tenha escrito esse livro em que Valjean se arrepende mostrando um lado humanista e mostrando que nem sempre o meio contamina os nossos valores. Pois, no começo da história, ele, realmente, não queria fazer aquilo e foi forçado por causa das crianças. Há uma redenção diante do erro ou, como diz a grande maioria, o pecado. O pecado é um erro com o divino, a divindade que tem dentro de nós mesmos, que nos liga ao Eterno. 

Daí eu refleti algo que eu estava conversando com minha noiva, porque estávamos conversando como as pessoas podem ser maldosas com frases como “lugar de louco é no CAPs” (um comentário sobre escolaridade de autistas), ou “os deficientes deveriam se inscrever é na AACD” (comentário sobre as bolsas de universidades para PCDs). Eu expliquei que tinha uma explicação filosófica e uma explicação espiritualista, porque a filosofia dizia que a sociedade nos molda com os valores que nos dão ao longo da vida. Por outro lado, há uma explicação espiritualista, que nascemos com um propósito e esse propósito é ouvido com a intuição. A Alma fala com você sempre e cai te indicando o caminho. A escolha é sua. Talvez, Victor Hugo colocou essas escolhas a Valjean para mostrar que as pessoas podem ter tendência a fazer mal ou não, mesmo que esse mal não exista fisicamente. 

O erro da filosofia contemporânea é deixar de fora discussões metafísicas, muito porém, todos que negaram a metafísica tiveram a sua. Porque a filosofia começa com uma indagação metafísica da origem da realidade e não esquecemos, que a água em Tales ou os elementos nos filósofos físicos posteriores, podem ser símbolos. Tudo é húmido e precisamos de ar e calor para viver. Assim como existem as condutas morais que nos tornam humanos, como não cobiçar algo de alguém, como ter uma sexualidade saudável sem luxúria, como não matar o outro etc. Mas, a meu ver, há algo dentro de nós que nos mostra o caminho que devemos trilhar diante de tantas coisas na vida e ser pessoas honestas sem serem conformadas, sem nenhuma capacidade de serem pessoas ignorantes que são escravas da mesquinharia e solidão. 

Talvez, isso supera nossa condição humana de sempre querer uma jaula. Como disse uma vez, o ser humano é o único animal do mundo gosta de prisões. 

no mais, bom livro 


terça-feira, abril 02, 2024

PCDs só servem para consumir



 Terceira edição da pesquisa Oldiversity mostra que marcas investem em acessibilidade para clientes com deficiência, mas discriminam profissionais com deficiência na contratação de funcionários.(Blog: Vencer Limites)



Particularmente, não gosto do termo inclusão por várias razões que poderíamos escrever um livro sobre. Mas, essa matéria do blog Vencer Limites - que gosto bastante - fala de uma coisa que eu não canso de escrever em varios textos ao longo de anos. Só digitar: Amauri Nolasco Sanches Jr e cotas de empresas longo aparece algum texto e não é por menos, desde 2004 até 2018, fiquei mandando currículo direto para empresas e nada de nenhum emprego, só alguns trabalhos de jornalismo pela web. Então, quando li essa reportagem, nada me surpreendeu. No outro artigo chamado: “Lugar de deficiente é na AACD?”, mostro que sempre quando falamos de deficiência - num modo bastante sério - ninguém dará a mínima atenção. Por que? Como a deficiência mostra a fragilidade humana e que não somos seres especiais - a questão de sermos a “imagem e semelhança de Deus” é um modo de explicar nosso espírito - e sim, animais como todos que habitam nosso planeta. 

Voltando a ideia de inclusão, a questão de incluir algo ou alguém tem a ver com o fato desse alguém (no caso, as pessoas com deficiência) estar ou não dentro de uma sociedade. Não nascemos fora de uma sociedade. O que lutamos e isso tem muito mais a ver com equidade, é a igualdade de oportunidades que muitas pessoas como eu não tem. Não adianta acessibilizar um aeroporto, se o mínimo de pessoas vão usar e a maioria não tem nem calçadas para sair. Não adianta tirar os impostos das cadeiras de rodas e outros aparelhos, se não há fiscalização das fábricas que continuam vendendo cadeiras caras. Não adianta tirar o IPVA ou outros impostos do carro, se não temos dinheiro nem para comprar uma cadeira de rodas boa. E não adianta temos cotas para trabalhar, se temos que lutar hora porque temos que fazer entrevista e dinâmica com pessoas que não tem deficiência, hora temos que pagar universidades porque não há facilidade de entrar numa universidade pública (e nem um transporte de verdade). Fora que o nosso próprio segmento - desorganizado e com tantas estrelas e pouca constelação -  não tem nem organização e muito menos prioridades. Como querem chamar atenção social e política?

Eu concordo com Aristóteles, somos animais políticos porque somos animais sociais e o termo grego “politikon”, era exatamente o termo de pessoas interessadas pela sua polis (cidade-estado). Sera que pessoas com deficiência podem ser políticas, já que somos humanos como qualquer um? E isso nos remete a uma outra questão: a deficiência não poderia nos definir porque a deficiência é uma condição que, porventura, fazemos tratamento, podemos superar ou não ela (não estou me referindo ao “exemplo de superação”). E ai que esta, quem vai dizer se podemos ou não superar nossas deficiência? Mas, por outro lado, o que esperar de pessoas que dizem coisas do tipo: “deficientes tem que se inscrever na AACD” ou “lugar de louco é no CAPs”? Não sejamos inocentes e nem bobos, na essência, quase todo mundo tem os mesmos preconceitos que levaram o nazismo. Crianças com tendência de terem Síndrome de Down são abortadas no estrangeiro, ou em alguns Estados dos EUA, a família tem o direito de fazer operações do útero de mulheres com deficiência. 

Essa pesquisa mostra que donos de empresas podem ter estudado - a grande parcela não tem qualificação em administração -  mas não aprenderam, que é além do estudo. Eu tenho a plena certeza que muitos querem consumir. Afinal, todas as empresas que mandei currículo (principalmente, o Santander) me mandavam suas propagandas sem vergonha e nenhuma proposta de emprego, um patrocínio para meus vídeos, nenhuma proposta de parceria. Somos, ainda, a escória social que muitos deficientes aceitam para se mostrar. Toda propaganda de cadeira de rodas está lá um comentário: “qual o preço” como se o indivíduo pudesse comprar, sendo que muitas vezes, nem sabe onde é a loja. Eu, estou pensando seriamente em parar de consumir certos produtos, pois, se não me dão emprego, não tenho dinheiro para comprar a sua quinquilharia.