sábado, março 07, 2020

A Birrinha opositora




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Um pensamento que acabo de ler do Instagram do Leandro Karnal, é que o rebanho odeia aquele que pensa diferente, não por causa da sua opinião, mas, a audácia de querer pensar por si mesmo, coisa que eles não sabem fazer. Exato. Foi assim com Sócrates, Jesus e outros, que ousaram pensar diferente da massa, morreram. Mas, esse ódio não é qualquer ódio, o ódio da grande massa por ousar pensar diferente, sempre é, um ódio da liberdade que aquele goza por não depender de uma aceitação social. A questão é: eu quero ser eu mesmo ou uso uma mascara social para agradar a sociedade? Sócrates foi ele mesmo, teve uma boa morte sem fugir do seu destino. Assim como Jesus, acreditou fortemente, que tudo que dizia era verdade, aceitou o que estava reservado para ele. Tanto Jesus, como Sócrates, talvez, não sabiam de suas mortes, mas, aceitaram seu destino (aqui quero dizer no sentido como as coisas se transcorreram) porque acreditaram em si mesmo e não queriam aceitação de ninguém. Eles negaram toda a opinião da maioria para pensarem por si mesmo.

A questão não é querer o melhor para o Brasil, a questão é quem tem razão nessa história toda. Não interessa se são os lulopetistas, ou os liberais, ou os bolsonaristas-olavettes, os integralistas (que podemos colocar como vaporwaves), a questão sempre parte do princípio, mas ter razão que está certo. A razão começa com os gregos na filosofia (com os naturalistas) com o termo “logos” – que erradamente, se traduziu como palavra graças ao evangelho de João (tem forte influência gnóstica), mas, palavra em grego é lexós – porque a razão dentro da filosofia, tem a ver com um pensamento logico (por isso o termo logos). Ou seja, a questão logica de um pensamento esta acima do sentimentalismo, que só é importante, na questão do relacionamento do outro, já que somos animais gregários. Então, a razão seria um raciocínio que fizesse sentido para quem está explicando e para quem está ouvindo ou lendo. Um algoritmo tem que ter linhas lógicas para que o computador poder ler e executar a tarefa, assim como, as pessoas devem sempre fazer as coisas de ordem lógica para não errarem. Se expressar ou pensar, tem a mesma lógica. No caso do computador, existem a questão dos números binários (0,1) e suas combinações são uma tarefa especifica. A questão é: será a nossa lógica tem a ver com o binarismo da razão? Porque, numa escolha, um computador tem duas opções, mas, nossa consciência tem um número infinito de possibilidades.

Acho, que de alguma forma, os existencialistas (principalmente Sartre), tenha razão de dizer que somos livres para construir aquilo que somos como quisermos e por isso, somos condenados a ser livres. Somos livres para acreditar ou não, nas bravatas dos políticos. Somos livres para escolher nossa religião ou a cor do carro (no meu caso, da minha cadeira de rodas). Mas, antes mesmo de acreditar nessas coisas, temos que filtrar com a duvida outras, negando aquilo que todos acreditam cegamente. Por outro lado, temos que ter cuidado em não confundir ser cético e ser negacionista. O cético duvida numa maneira lógica (ou usando a razão [lógos]), já o negacionista só nega a favor de sua própria crença. A essência do ceticismo é a máxima cartesiana que é “penso, logo existo”, ou seja, posso duvidar a existência de qualquer objeto ou pessoa, mas, eu não posso duvidar da minha própria existência. Não é que temos que duvidar de tudo – mesmo o porquê, se você se jogar em um viaduto vai se estatelar lá em baixo no asfalto. A questão cética não é negar a religião, por exemplo, mas, o porque eu devo acreditar em tal religião. Ai, vários “porquês” aparecem ao longo do processo ate chegar na essência do fato e aí que está a questão existencialista, pois, a construção do ser acontece graças a esses vários “porquês”. A liberdade só acontece a partir da consciência do observado e o objeto observado, sendo total entendido o objetivo do objeto dentro da realidade da consciência que observa. Por isso mesmo, não importa o que fazem com você, mas, o que você mesmo faz o que fazem com você.

Indo adiante, podemos ver que existe o objeto observado que podemos interagir com ele e não podemos interagir com ele. Uma criança não podendo interagir com o objeto da sua vontade (ou porque o pai não compra ou porque a mãe não cede essa vontade), ela começa a chorar e se espernear como se fosse “morrer” se não tiver o objeto do seu desejo. A teimosia de querer tanto esse objeto ao ponto de chorar desse jeito chamamos de “birra”, que como costumava acontecer, deixamos de ter quando ficamos adultos. Acontece, que a nossa sociedade aqui no Brasil, por falta de uma maturidade educacional, ainda fica com “birra”. Se você não concorda com seu politico favorito (que chamamos de minions), ou sua ideologia política, ou sua religião, ele começa a querer ter razão. Para a criança, o objeto de desejo é a vida e querer algo é construir a sua realidade, ela pensa que a realidade dela, é igual dos desenhos ou dos ídolos que ela tenha. Exato. Todo o problema do fanatismo é criar ídolos e nos apegamos a esses ídolos, para criar políticas utópicas, religiões utópicas, ideologias utópicas e se fica nessas utopias. Mas, a realidade é muito além de um ídolo, porque o ídolo é uma construção de outra pessoa com a própria visão dentro dos seus próprios valores.

Quem me lê e quem me conhece sabe, que nesse ponto eu sou nietzschiano e destruir todos os ídolos para, exatamente, aparecer os porquês. Ai você pode questionar: o porque devo seguir tal religião?  O porque deve concordar com tal ideologia? O porque deve seguir tal pensamento? Ser cético é duvidar, ate mesmo, daquilo que achamos ser verdade e não existe verdades absolutas e sim, verdades relativas dentro dos próprios valores. Essas variações podem pautar escolhas e as escolhas não podem ser pautadas dentro do sentimentalismo, ou o pensamento idolatra social.


Amauri Nolasco Sanches Junior

domingo, março 01, 2020

Ser você mesmo num país da 'manadas'



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E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?
E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.

Mateus 16:13-17

Há muito tempo que venho observado que o nosso povo gosta de agradar os outros e sempre se rendem a religiões vigentes ou não, ou ideologias que nada tem a ver com o que gosta ou que faz. Ora, existe a mentira e a verdade, o que você é como ente que pensa e percebe a realidade e aquele que não é, se transveste de um ser social que não é. Na realidade, nem podemos saber o que é verdade ou que não seja verdade, porque não sabemos qual a natureza da nossa própria natureza do nosso eu (ego). Há um erro muito grave em dizer que o ego que o budismo – em parte os ensinamentos de jesus também – é o eu que emana da natureza da nossa consciência. Não é. O ego que o budismo quer que dissolvemos é o ego falso, o ego que é fabricado com as regras sociais que ao invés de colocar o ser humano no caminho da verdadeira evolução, coloca no caminho onde o poder quer que ele fique. Afinal, será que vale a pena seguir multidões por causa de uma religião ou uma simples ideologia e deixar nossa natureza e a nossa opinião?

Nietzsche – filósofo alemão do século dezenove – dizia que a verdade era uma questão de linguagem, que era apenas um discurso para todos não ficarem brigando um com os outros. Igual a filosofia de Hobbes quando ele dizia que há um contrato, leis e o ESTADO para controlar a natureza humana como seres que estão sempre em conflito. Mas, há um erro grave, se a verdade é só uma questão de linguagem para o poder dominar, então, tudo seria uma subjetividade? Uma maçã, por exemplo, que podemos estar vendo, nada mais é, do que um objeto que estamos vendo e sabemos que se chama maçã. O verdadeiro, aquilo que achamos ser a realidade, nada mais é do que o conceito do objeto (que daremos um nome) e o objetivo (que daremos uma colocação dessa realidade). Portanto, a realidade (como verdade) são os valores que damos ao objeto dando a ele, o objetivo necessário para ele ser real. Quem estuda e gosta de exatas (como lógicos e matemáticos), vão dizer que a verdade é 2+2, mas, se fomos muito além da operação de soma, 4 pode ser varias coisas. 1, 50 + 1,50 dará na mesma forma, 4. A verdade ali se fragmentou em uma outra verdade, porque tanto 2+2, quanto 1,50+1,50, são 4 e a verdade que era única, ficou como duas verdades.

Se, realmente, a verdade seja como Nietzsche colocou como algo que depende de um discurso, a maçã sé um nome vago de um objeto que definimos como maçã. Assim como, 4 seja apenas um algarismo que são valores que demos a varias coisas. Por que não, numa outra galáxia, pode ter seres inteligentes que tem outras mecânicas de contagem? Então, o 4 é um caractere para designar um certo numero de objetos e, afinal, é um meio de linguagem para explicar aquilo. Assim, Nietzsche teria razão que é uma questão de dominação linguística, pois, alguém de um passado remoto imaginou um caractere que designava 4 e esse caractere dominou todo o entendimento do numero quatro. Por outro lado, podemos escrever “neve” ou “snow” e acabara designando o elemento neve como uma realidade. Porque a linguagem acaba sendo algo subjetivo dentro de uma certa ordem cultural, porém, a neve é neve acima do termo designado. Nietzsche, talvez, pensou em termos e uma linguagem mais cotidiana e menos formal ou ate mesmo, uma linguagem religiosa e racional (no sentido de racionalismo), que nos limita a obedecer a certas sentenças que são moralizantes e moralistas.

Ser você mesmo é buscar o nosso ego transcendental de ser você mesmo dentro dos fenômenos da realidade objetiva, sem ser dominado, por uma linguagem dominante. Ou seja, existem certas marcas de dominação social dentro da própria linguagem. Por exemplo, minha mãe nunca ensinou a nós – eu e meus irmãos – pedir “benção” para ela e meu pai (mesmo o porquê, nunca fez questão de nenhuma religião e levar seus filhos para uma), mas, por outro lado, pedia para meus avós. O “pedir benção” é um meio para se educar um filho para a dominação social, porque ele vai aprender a ser domesticado e a seguir a religião dominante. Assim, o “pedir benção” é a expressão clara da opressão social, pois, eu posso não querer “pedir” e vou ser julgado como um desrespeitoso. Mas, o “pedir benção” não é garantia nenhuma de respeito. Ter ou não respeito não tem o mesmo significado de amor, você ama e dentro desse amor já há respeito e consideração e se você precisa de provas desse amor, você está dominando. Não é porque não pedia “benção” para minha mãe, que não respeitava ela (como respeito como espirito). Na verdade, talvez, o “pedir benção” para ela, era apenas palavras que não demonstravam nada e ela não precisava disso para saber do amor e do respeito dos seus filhos. Talvez, Suzana von Richthofen poderia sempre “pedir benção” para seus pais, que não impediu que matasse eles. Portanto, até aqui, Nietzsche tem uma certa razão de desconfiar que certas colocações linguísticas são dominadoras.

Mas, o que seria o mentiroso? Ora, o mentiroso é aquele que usa os termos para definir uma realidade é, sendo que, ela não é. Por exemplo, ele pode dizer que “gosta” de alguém e na verdade, não gostar dessa pessoa, pois, se coloca como uma pessoa que cria uma personalidade que não é dele. Mesmo o porquê, como Nietzsche, também acho que o problema não está na ilusão para o sujeito comum, mas os efeitos negativos que ela pode deixar dentro de uma linguagem. Como no exemplo do mentiroso, ele dizer que “gosta” de certa pessoa e na verdade, ele não “gosta”, não é o problema, porque isso só vai acarretar uma desconfiança nele. O problema é a massificação desse tipo de vicio na linguagem, como se todo mundo “tem que” dizer que gosta, porque começa a ser uma tradição cultural. A massificação da mentira. Essa massificação da mentira é apenas o que Kant colocou em seu imperativo categórico, ou seja, faça de suas atitudes coisas que possam ser universais. Então, quando colocamos que existem questões linguísticas dentro da ética e da moral (embora dicionários e enciclopédias dizem ser a mesma coisa, não são não), dizemos que há um interesse dominador dentro de carapaças moralizadoras. Mas, cuidado, existem certas linguagens que tentam quebrar as amarras de linguagens dominantes, que de certa forma, são também atitudes e uma linguagem dominante do mesmo modo.

Podemos usar o funk carioca como exemplo. Suas musicas tentam quebrar a linguagem dominante da moralidade, mas, cai exatamente, na massificação da mentira. Mesmo o porquê, a essência do funk é sempre questionar a moralidade vigente e a cultura burguesa. A questão é: quando você diz que vai “passar o rodo na novinha” – estou dando um exemplo bem mais leve – você não está incentivando anda mais a questão machista de ser o “macho” da espécie? Não seria invasão do corpo da “novinha”? Aí vamos voltar ao caso do mentiroso, porque a música diz que questiona uma certa opressão, mas, acaba, ao mesmo tempo, oprimindo a “novinha” à ceder ao “machinho” copular e invadir o seu corpo (que é uma propriedade dela). Como a questão religiosa dominante do “pedir benção”, a questão da liberdade é uma questão de questionar os questionamentos de uma massificação linguística de certos nichos que tem uma visão ilusória que estão questionando uma opressão. A liberdade tem o mesmo problema da verdade. Vamos colocar dessa forma: a “novinha” (aquilo que se deseja) esteja apenas ali para dançar e não para outras coisas (sexo?), mas, existe o objeto e o objetivo, o objeto é a “novinha” e o objetivo é “passar o rodo”. Qual a liberdade existe nesse caso? Pode a “novinha” não ter nenhuma escolha a não ser ceder?

Podemos definir como liberdade uma condição de ação e reação dos atos humanos, porque só o ser humano tem a consciência da sua realidade. Sartre – filósofo francês contemporâneo – dizia que o homem nasceu livre, ou seja, existe uma condição de escolha e dessa escolha vai definir o que é ou não. Então, temos duas definições: uma de Nietzsche de linguagem e outra de Sartre ontológica. Mas, todas as duas, desemboca da verdade e na liberdade. Liberdade dois aspectos: primeiro é o aspecto de conhecer quem você mesmo é e isso torna a consciência, de dentro para fora. O eu cogito (que podemos colocar como eu transcendental), se vê primeiro do que a realidade em volta de si e ai sim, se volta ao objeto externo. Ou seja, o ser se encontra como ser, pensante para perceber o outro como objeto e o objetivo desse objeto. Segundo perceber que se eu existo como base de minha própria consciência de uma realidade única e minha (porque até mesmo a consciência é algo individual) e assim, perceber nossa própria existência. Ai começa minha própria filosofia do NÃO (ou como passei a chamar, A Tese do Individualismo Consciente). Pois, quando você nega coisas que você não tem vontade ou nega fazer as vontades alheiras sem ter vontade, você faz escolhas e essas escolhas vão filtrando até chegar a tua verdade construindo a sua realidade. Chegamos ao subjetivismo? Não. Ainda o subjetivismo vai aceitar algumas amarras sociais e vai despertar algumas ilusões daquilo que aceitou como verdade posta, sem ver, que há verdades espontâneas.

Como na passagem que coloquei no começo do texto, Jesus quis saber o que as pessoas diziam dele e Pedro disse o que ele era realmente e Jesus disse que Pedro tinha visto não só a aparência física e sim, o seu verdadeiro eu (ego). Quando somos nós mesmos, não precisamos de religião para religar nós ao divino, nem governos que só alienam e nada nos ajudam, mas, se autogovernamos e percebemos que a liberdade que nos “vendem” é uma liberdade ilusória. Não diferente do filme Matrix.

Amauri Nolasco Sanches Junior