terça-feira, março 19, 2024

Webcomunistas não sabem o que ceticismo filosófico




Os grandes intelectuais são céticos.

Friedrich Nietzsch


Me parece que muitos webcomunistas não aprenderam que sem o ceticismo - que começou com Pirro de Élis - a filosofia não tem nenhum sentido. Desde da sua origem, já que Tales indagava a origem das coisas através dos elementos, houve um ceticismo diante da explicação homérica. Para Tales, não bastaria dizer que todas as coisas vieram do nada e que do nada veio o Caos (um abismo infinito), onde Titãs, deuses e tudo veio, houve um momento de ceticismo. Talvez, vendo insetos saírem das águas e vendo animais (como os anfíbios), concluiu que tudo veio das águas e que a água é originária de tudo. indagação sobre a origem das coisas e questionamento sobre a questão do discurso alheio. Ou seja, a filosofia como instrumento que questiona a realidade, como ficou bem claro, quando Platão escreveu sobre o teorema da Caverna. 

O ceticismo foi criado por Pirro de Élis depois da morte de Platão, mas poderia ver um tipo de ceticismo platônico já em alguns diálogos. A dúvida socrática põe em questão que nem todo mundo sabe, verdadeiramente, aquilo que diz saber. Eu não posso escrever sobre certas doenças porque não tenho conhecimento médico clínico, eu assumi minha condição de ignorância dessa matéria. Assim como é muito estranho que quem não estudou filosofia - se denominar como marxista é uma vergonha para a memória de Marx - tenha dito (como o Ian Neves que é um historiador e não um filósofo) que alunos de filosofia são chatos. Pedro Ivo do canal @ateuinforma foi um pouco mais que Ian, disse que a filosofia não indaga e que o ceticismo não faz parte da filosofia. Ora, se o ceticismo não é uma matéria da filosofia, o que poderíamos chamar o método de Descartes em tempos modernos? 

Caímos na nova modalidade que a internet criou: o achismo. O achismo (que é uma gíria) tem a ver com o modo subjetivo que as pessoas colocam um assunto importante sem embasamento, ou seja, poderíamos trocar o modo de achismo com opinião (que Platão  chamava de doxa). Ian Neves não sabe que alunos de filosofia (aliás, filósofos são chatos) são chatos porque devem ser chatos por causa da indagação e por causa da natureza cética da filosofia. Embora ache - coisa que nem o Henry Bugalho disse - que esse modo de ficar dizendo que isso não é filosofia por causa que não citei a página 18, parágrafo 5 da Crítica da Razão Pura de Kant, um exagero uspiano que sabemos que o modo de fazer filosofia é uspiano. A 80 anos a USP (Universidade de São Paulo), criou o departamento de filosofia e o francês que ajudou a realizar isso disse - como se não tivéssemos filósofos antes - que se deveria estudar os clássicos para assim, produzir filosofia. Resultado? Pedro Ivo dizendo que os filósofos de hoje são autoajuda, filósofos são sofistas e Ian Neves dizendo que aluno de filosofia é chato. Detalhe: Ian Neves (historiador) falar de Kant é filosofia, Karnal falar do mesmo assunto é autoajuda. Arrepiou os pelos do loló. ]




segunda-feira, março 18, 2024

Lugar de deficiente é na AACD?





<<Preconceito é opinião sem conhecimento>>

(Voltaire, Dicionário filosófico (1764))



Voltaire enfrentou vários desafios sobre o preconceito defendendo o caso Callas - e muitos outros - e sabia que na maioria das vezes, muitas acusações eram de cunho preconceituoso e de interesses escusos. Dentro da história humana, vimos muitas crenças e muitos relatos de acusações feitas por pessoas por preconceito de desconhecer aquele povo, aquela condição ou aquele lugar. Até o século dezenove, tínhamos os “circos dos horrores” que pessoas com síndromes, com anomalias genéticas e deficiências eram mostradas como se fossem monstros. Herança romana. Diz a tradição, que a mãe do imperador Claudius - que tinha paralisia cerebral - o chamava de monstro, mas, mesmo assim, foi um dos melhores generais e um imperador forte e destemido. Talvez, a ideia de sofrimento de pessoas com deficiência seja propagado pelo ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana), por causa da ideia da caridade demonstrada nos evangelhos. 

A questão teve seu cume  na Alemanha nazista onde houve um decreto que mataria milheres de pessoas com deficiência, porque Hitler dizia (dizem que assinou chorando) que “eram sofredores eternos”. Hoje a coisa não melhorou muito, porque há leis que convenceram mães pelo terror e um discurso medicalista (positivista-utilitário), que uma pessoas com certas síndromes seriam criaturas sofredoras e que não podem nascer. Na verdade, o Estado estaria se eximindo de sua responsabilidade de deixar cidades e o ambiente mais acessível. A eugenia pós-nazismo se transforma em bem-estar e um mundo mais perfeito e feliz, só que tudo não passa de retórica para conseguir convencer uma parcela das mulheres que são livres para fazerem o que quiserem. Será mesmo? Liberdade de não ter um filho que só conta com a probabilidade de nascer com alguma deficiência?

Prefiro pensar que o preconceito é uma opinião sem nenhum embasamento que tem muito de senso comum, não vem de cima para baixo como diz Foucault, e sim, de baixo para cima. A deficiência tem uma coisa pior: a questão da deficiência tem a ver com a utilidade, a produção enquanto ser humano útil. Dai dava para irmos ao assunto do texto, pois, tem a ideia de acomodação e uma “pitada” de pirraça por parte dos universitários. Porque desde que vi um professor fã da Joelma (oi?) dançando no meio de uma escola músicas sem sentido nenhum, pude ver que o conhecimento não é a porta de pessoas mais críticas. Crítica que estamos falando não é “falar mal”, mas, no sentido filosófico em fazer uma análise muito mais profunda do que estou gostando ou do que nos impõe como gosto. A maioria acaba se tornando mais um na multidão. 

Do mesmo modo, um professor acusar um menino com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de homofobia e que a escola - nem a prefeitura de Ibaté - não colocar professores auxiliares para ajudar o menino (e outros), nos dá margem a análise. Como o professor fã de Joelma, o professor acusador não tem um senso crítico de achar que um menino de 8 anos de idade, nem tem discernimento de saber o que é homofobia. Será ele um educador? Será que temos educadores que têm um senso crítico? Não. Mesmo com seu conhecimento, é mais um na multidão. 

E se você ouvisse um comentário do tipo em um vídeo: “deficiente deveria se inscrever na AACD”? Poderia pensar: “ora, é só mais uma piada de um jovem ignorante”, mas há por trás dessa piada uma forte tendência capacitista. Lugar de pessoas com deficiência não é em uma universidade, é em institutos e entidades beneficentes como a Associação a Assistência à Criança Deficiente (AACD). A meu ver, essa nova geração não sabe expandir a discussão porque é movido pela emoção - como todo jovem - e porque foram criados a ler as coisas ao pé-da-letra (educação evangélica). Uns falam em um “empobrecimento da linguagem”, outros dizem que com o avanço de certas tecnologias (visuais) as pessoas só querem ver a imagem e não estudam, não lêem e nem fazem o esforço de entenderem o vídeo que estão vendo.