“Como pode a experiência como consciência dar ou contatar um objeto?”
Alguns podem dizer que é muita ambição responder Edmund Husserl (1858-1938) por causa da sua grandeza filosófica, outros podem alegar que ainda não esteja preparado. A questão é: se não estamos preparados em responder uma questão proposta por Husserl, por exemplo, quando estaremos preparados? Mas, antes de responder o filósofo devo esclarecer em qual circunstância a fenomenologia entrou no meu repertório filosófico, graças a um colega de grupo que me indicou essa matéria. Estávamos discutindo a evolução e as morfologias que a evolução deixam em cada animal, é dado momento, coloquei que a barata é parente proxima do cupim e que esses evoluíram para seres sociais e a barata evoluiu para seres solitários (que poderemos indagar graças a os esgotos e os ninhos que elas possam ter). Em dado momento, meu amigo disse que deveria ler fenomenologia e dai tento ler. Estava lendo o livro (em PDF) Fenomenologia de David R. Cerbone e ali estava essa pergunta, que segundo ele, Husserl estava fazendo no Ideias Fenomenológicas.
Ter uma consciência é perceber o mundo e as coisas, se existem e podemos percebê-las, então, podemos até sentir que elas existem. Na verdade, até onde eu li - cheguei a ler Meditações Cartesianas e confesso não ter entendido muito bem - Husserl queria voltar o “cogito” cartesiano da percepção diante da consciência de si mesmo. Mas há uma coisa interessante: a fenomenologia, a princípio, não naturaliza nenhuma existência. Se estou vendo uma garrafa de água, ela existe seguindo o critério de minha própria percepção. Eu sei - porque aprendi - que a garrafa existe e dentro dela há água. E o interessante é que é um instrumento de carregar a água e ela se molda com a garrafa. Alguns podem alegar: “ah, mas a física sabe o composto da água e da garrafa de aluminio”. Sim, certamente. A questão é a consciência levada à existência de algo ou alguém, porque senão poderíamos dizer que um composto de aço e ferro (meu pai foi metalúrgico) carrega uma molécula de hidrogênio e duas de oxigênio.
Por que? A fenomenologia não tem como base o naturalismo científico. Talvez, meu amigo disse para eu ler fenomenologia por causa da não naturalização do fenômeno da existência. A barata existe porque hoje é uma barata, assim como o cupim pode existir em correlação com a realidade. O fato deles terem um animal em comum - talvez, um crustáceo - não impede de serem animais únicos e existirem por conta própria, que poderíamos colocar com a famosa frase de Sartre, parafraseando Heidegger, que a existência precede a essência, pois as coisas existem por elas mesmas e não podem existirem pelas as outras. Talvez, o “eu penso, logo sou” cartesiano, se deve disso: eu sou o ser que tem a consciência de perceber outro objeto e duvidar dele tendo certeza daquilo que sou, porque não posso existir pelo outro.
Quando eu era mais novo, formulei uma frase que quando coloquei nos grupos da época, gerou polêmica: a consciência é a priori do inconsciente. Por muito tempo, eu pensei sobre a consciência como uma percepção do mundo e as vivências que vamos construindo dentro da realidade concreta, como enxergar um objeto e projetar sentimentos dentro desse objeto. As ruins vão para o inconsciente, as boas vão para as lembranças. Por isso lembramos com saudade coisas que marcam nossas vidas e outras, como algo que traumatizam, são esquecidas. Talvez, o outro como objeto ou como ser, deve ser apenas o outro que interage com a realidade. E as imagens virtuais? Os bonecos que imitam as animações? Isso já era uma pauta trazida por Aristóteles.
O que deveríamos pensar em um boneco de um personagem é uma materialização desse personagem. Meu irmão teve um boneco do Rambo, o boneco era uma cópia do personagem porque havia um filme (com a personificação do personagem por Sylvester Stallone) e a animação (que não tinha muito a ver com o filme, coisa de anos 80). Hoje, ao invés de falar que um bloco de mármore pode virar uma estátua, poderia dizer que uma animação pode virar um boneco (ainda mais hoje com as impressoras 3D). Diríamos que a animação é uma virtualização do personagem que saiu da mente do autor (ou desenhista), que pode ou não, ser materializado dentro de algum material e assim, interagir com a realidade. Mas, e quando desligamos a TV ou a animação acaba?
O personagem não existe. O Tom - mesmo tendo referência de um gato consciente - não existe enquanto ser, não existe enquanto ser autônomo. Então, o objeto não existe por nos dar uma imagem imaginativa dentro de uma história de imagem (figura) e som (falas). Um objeto só é um objeto enquanto podemos descrevê-lo e dar (talvez) um nome daquilo que existe.