sexta-feira, março 08, 2024

RESPONDENDO HUSSERL

 




“Como pode a experiência como consciência dar ou contatar um objeto?” 



Alguns podem dizer que é muita ambição responder Edmund Husserl (1858-1938) por causa da sua grandeza filosófica, outros podem alegar que ainda não esteja preparado. A questão é: se não estamos preparados em responder uma questão proposta por Husserl, por exemplo, quando estaremos preparados? Mas, antes de responder o filósofo devo esclarecer em qual circunstância a fenomenologia entrou no meu repertório filosófico, graças a um colega de grupo que me indicou essa matéria. Estávamos discutindo a evolução e as morfologias que a evolução deixam em cada animal, é dado momento, coloquei que a barata é parente proxima do cupim e que esses evoluíram para seres sociais e a barata evoluiu para seres solitários (que poderemos indagar graças a os esgotos e os ninhos que elas possam ter). Em dado momento, meu amigo disse que deveria ler fenomenologia e dai tento ler. Estava lendo o livro (em PDF) Fenomenologia de David R. Cerbone e ali estava essa pergunta, que segundo ele, Husserl estava fazendo no Ideias Fenomenológicas. 

Ter uma consciência é perceber o mundo e as coisas, se existem e podemos percebê-las, então, podemos até sentir que elas existem. Na verdade, até onde eu li - cheguei a ler Meditações Cartesianas e confesso não ter entendido muito bem - Husserl queria voltar o “cogito” cartesiano da percepção diante da consciência de si mesmo. Mas há uma coisa interessante: a fenomenologia, a princípio, não naturaliza nenhuma existência. Se estou vendo uma garrafa de água, ela existe seguindo o critério de minha própria percepção. Eu sei - porque aprendi - que a garrafa existe e dentro dela há água.  E o interessante é que é um instrumento de carregar a água e ela se molda com a garrafa. Alguns podem alegar: “ah, mas a física sabe o composto da água e da garrafa de aluminio”. Sim, certamente. A questão é a consciência levada à existência de algo ou alguém, porque senão poderíamos dizer que um composto de aço e ferro (meu pai foi metalúrgico) carrega uma molécula de hidrogênio e  duas de oxigênio. 

Por que?  A fenomenologia não tem como base o naturalismo científico. Talvez, meu amigo disse para eu ler fenomenologia por causa da não naturalização do fenômeno da existência. A barata existe porque hoje é uma barata, assim como o cupim pode existir em correlação com a realidade. O fato deles terem um animal em comum - talvez, um crustáceo - não impede de serem animais únicos e existirem por conta própria, que poderíamos colocar com a famosa frase de Sartre, parafraseando Heidegger, que a existência precede a essência, pois as coisas existem por elas mesmas e não podem existirem pelas as outras. Talvez, o “eu penso, logo sou” cartesiano, se deve disso: eu sou o ser que tem a consciência de perceber outro objeto e duvidar dele tendo certeza daquilo que sou, porque não posso existir pelo outro. 

Quando eu era mais novo, formulei uma frase que quando coloquei nos grupos da época, gerou polêmica: a consciência é a priori do inconsciente. Por muito tempo, eu pensei sobre a consciência como uma percepção do mundo e as vivências que vamos construindo dentro da realidade concreta, como enxergar um objeto e projetar sentimentos dentro desse objeto. As ruins vão para o inconsciente, as boas vão para as lembranças. Por isso lembramos com saudade coisas que marcam nossas vidas e outras, como algo que traumatizam, são esquecidas. Talvez, o outro como objeto ou como ser, deve ser apenas o outro que interage com a realidade. E as imagens virtuais? Os bonecos que imitam as animações? Isso já era uma pauta trazida por Aristóteles. 

O que deveríamos pensar em um boneco de um personagem é uma materialização desse personagem. Meu irmão teve um boneco do Rambo, o boneco era uma cópia do personagem porque havia um filme (com a personificação do personagem por Sylvester Stallone) e a animação (que não tinha muito a ver com o filme, coisa de anos 80). Hoje, ao invés de falar que um bloco de mármore pode virar uma estátua, poderia dizer que uma animação pode virar um boneco (ainda mais hoje com as impressoras 3D). Diríamos que a animação é uma virtualização do personagem que saiu da mente do autor (ou desenhista), que pode ou não, ser materializado dentro de algum material e assim, interagir com a realidade. Mas, e quando desligamos a TV ou a animação acaba?

O personagem não existe. O Tom - mesmo tendo referência de um gato consciente - não existe enquanto ser, não existe enquanto ser autônomo. Então, o objeto não existe por nos dar uma imagem imaginativa dentro de uma história de imagem (figura) e som (falas). Um objeto só é um objeto enquanto podemos descrevê-lo  e dar (talvez) um nome daquilo que existe. 


quarta-feira, março 06, 2024

O Direito ao Voto Nulo

 







Gosto de discutir política nos grupos - embora, a maioria dos posts são de provocação - e um dos posts que postei mostra uma foto do Lula e outra do Bolsonaro dizendo que os dois são um lixo. Embaixo está: “bolsonaristas e petistas são todos iguais”. Um dos participantes escreveu:


<<<lógico! Qual o seus políticos que vc acha que é o correto e vamos conversar. Ciro? Kkkk qual?

Bolsonaro incomparável ao um corruptos condenado como Lula. Vc é pior que um petista acéfalo.

Sabe nem o que diz.

A política brasileira só existe dois lados, esquerda comunista corrupto ou direita..

Maioria que não se intitula direita ou esquerda, mas se uniram a esquerda pelas vantagens que o pt lava as mãos de quem fica ao seus lados.

O STF governando o Brasil com tirania e os que não são esquerda ou direita totalmente calado ..

Hipocrisia.>>>


O que é política? O termo veio de politikon (cidadão), onde eram os preocupados com a polis, aqueles que discutiam os problemas. Há uma correlação bastante pertinente: demos não são “o povo” e sim, bairros que eram separados dessas polis e esses bairros que ditavam as solução desses problemas. Por isso mesmo o filósofo Aristóteles disse que somos animais políticos (to zoo politikon) pois, o “político” que ele está dizendo na frase tem a ver com o modo social que o cidadão tem que sugerir e encontrar soluções sobre a coletividade. O ato político transcende o ato partidário, porque tem a ver como lhe damos na sociedade e no qual lado estamos. Por isso eu não participo de manifestações sobre políticas em prol pessoas com deficiência, porque acabam sendo um ato partidário político e não uma cobrança de direito dos PCDs. Ou seja, a maioria dos deficientes acabam se tornando massa de manobra de partidos de esquerda, assim alguns, travestidos de nova direita, também acabam como massa de manobra de políticos que se dizem da direita e se dizem liberais. 

A análise do caro colega acaba sendo rasa por muitas razões. Só para começar: quem disse que o Bolsonaro é honesto? Será que poderemos colocar pessoas estranhas no patamar de pessoas que podemos atestar honestidade? Se formos bastante rigorosos, podemos dizer que um político de 28 anos de casa, não é um político novo ou sem corrupção.  E realmente, o grande problema dessa discussão toda é o bolsonarismo e o petismo como forma de discussão rasa política que não avança em nada, como se só existisse a direita bolsonarista assim como, existe só a esquerda petista. Como demonstrei acima, a política é muito além.


terça-feira, março 05, 2024

Epicuro tem razão

 

 

"Eu nunca quis agradar as multidões, pois aquilo que eu sei elas não aprovam. E aquilo que elas aprovam eu não sei!"

Epicuro

Concordo com Epicuro, eu nunca quis agradar ninguém por ter um espírito rebelde e não gostar de agradar as pessoas. Acho gostoso dizer um “não”. Acho que quando dizemos “não” para a grande maioria, colocamos um limite na questão social da individualização. Admiro quem tem essa coragem e nem escolhe lados, pois o lado transforma em uma luta legítima em mero discurso ideológico.  Um “não” bem dado é uma revolução da “velha ordem”, quando todas as forças são canalizadas dentro de um propósito: mudança. Revolta, é uma irracionalidade canalizada só para a destruição sem construir nada de volta que possa ajudar o crescimento da humanidade. 

A Revolução tem a ver com uma transformação muito mais abrangente, que visa promover mudanças estruturais em um sistema social, político ou econômico. E tem uma questão bem mais ampla: pode envolver um grande número de pessoas e geralmente se estende por um certo tempo que significa essa mudança. O objetivo dessa revolução sempre foi a criação de uma ordem social, substituindo a antiga.  Ou melhor, a “velha ordem”, onde os que se interessam por ela e ganham com isso, sempre vão dizer que outras ideias não são filosofia, que outras ideologias são utópicas e as pessoas são iludidas por causa de discursos que o iludem. Talvez, essa infantilização tenha causado uma alienação muito mais porque ela tem a ver em olhar uma realidade que, talvez, nem exista. 

Já a revolta é uma transformação bem mais específica, pois se concentra em uma questão ou problema específico e busca uma mudança mais limitada. Também seria um movimento momentâneo que tem curta duração, geralmente de característica por explosões de violência popular. E tem um objetivo muito mais focado,pois, é um movimento que busca corrigir problemas muito mais específicos dentro de um sistema existente, sem necessariamente derrubá-lo completamente. Ou seja, se revoltar é se indignar com algo que, moralmente, não tem como se aceitar, como enganar alguém, matar alguém por coisa fútil etc. 

A questão se sobrepõem assim: o que é mais danoso para uma sociedade? Uma revolução pode colocar a sociedade em uma situação que pode levar a pior forma de conduta etica, no mais, pode causar profundas desigualdades dentro de uma sociedade. Por outro lado, quem garante que as pessoas irão ser prejudicadas? Porém, como vimos dentro da história humana, as revoluções colocaram seres humanos em um limiar das mudanças. O período moderno (e pós-moderno) colocou revolução como mudança como se períodos da história - em todo período humano - não houvesse essas mudanças. Mudar é adaptar-se a um período histórico. As mudanças assustam por vir de crises (estagnação social) e crises tem a ver com uma importância de refletir problemas importantes, momentos de reflexão. 

Um “não” pode ser muito mais revolucionário do que partir de uma pessoa revoltada, porque uma pessoa revoltada não pode olhar para esse “não” de forma abrangente. Porque ir contra a multidão, muitas vezes, é preciso.