Muitos
não entendem os filmes, as tramas cinematográficas quando contêm um pouco de
filosofia. Realmente o grande publico não tem o costume de pensar, ouvem uma
musica sem entender a letra, vem uma imagem sem entender seu significado, vão a
alguma religião sem nem ao menos entender o que tudo ali significa. A grande
maioria não entende nem ao menos o cristianismo em sua essência, não passiva de
aceitar tudo que lhe dizem ou fazem, mas
não se conformar com a vidinha medíocre que se leva. Será que isso que mostra
os dois filmes? Vamos primeiro definir o que é filosofia para entender que
situações filosóficas podemos tirar das duas obras cinematográficas.
Segundo
o professor Miguel Reale, filosofia na sua essência é a analise dos valores de
tudo, do valor não de “valorizar” como mercadoria, mas valorizar segundo as culturas e tudo que
temos de valor como conceito. Quando dizemos que Tales disse que tudo apareceu
da água, então podemos dizer que o valor que
a água tem aos seres vivos, não é o elemento em si, mas o símbolo em si
mesmo. A filosofia analisa em si mesmo o simbolismo de tudo que contem o mundo
e as culturas em si mesmo, não é a coisa que é importante, mas o simbolismo
daquilo que representa em nossas vidas e pensamentos. Quando dizemos que uma
obra é filosófica é o simbolismo que aquilo tem dentro da cultura que são
importantes dentro da analise, que o processo de auto avaliar aquilo como o
autor quis passar, é o processo critico daquilo de fato; não uma critica vulgar
de julgamento, mas uma critica de analise de um meio para se chegar em um fim.
Por isso é importante analisarmos tudo, não por trazer uma ficção para realidade, mas para tirar a realidade a um
artificialismo de ficção que estamos vivendo hoje; as tecnologias ao invés de
trazer o ser humano para um maior conhecimento, pela informações que trazem com
o advento da internet, esta “emburrecendo” o ser humano alienando, ou melhor, o
ser humano se auto alienou por medo a mudança. Quando vimos as culturas gregas
antigas, as culturas egípcias antigas, até mesmo as romanas, vamos ver
pensamentos muito mais profundos do que hoje, ficamos seres humanos bélicos
alienados; ao mesmo tempo que o ser humano pôs em pratica a tão sonhada
globalização, as nações que eram hegemônicas antes disso não querem perder,
ficam construindo inimigos que não existem, ficam construindo imagens muito
mais de ficção do que os próprios filmes e essa analise que temos que fazer até
conosco mesmo.
Os
dois filmes mostram uma coisa básica para qualquer estudioso de psicologia e
filosofia, o ser humano tem medo da mudança, minha analise é tão profunda que
eu penso que Anakin mesmo sendo Darth Vader foi o jedi mais corajoso de todos.
Por quê? Ele não teve medo de mudar e analisar a sua vida, se entregou ao medo
até extinguir e salvar seu filho Luke, não teve medo de deixar o jediismo. Na
verdade, os jedis eram conformistas, eram o que podemos chamar de religiosos
ortodoxos que se o poder dar o que querem como conforto e prestigio, eles dão o
que o poder quer que é a ignorância e a alienação. Por isso que as doutrinas
religiosas profundas, como as esotéricas, espiritualistas, espíritas e etc, são
tão combatidas e criticadas, porque o povo quer se enganar, eles não querem
analisar por si mesmos. Os jedis na verdade estão na Matrix da arrogância de
achar que o conhecimento da “Força” somente pertence a eles, eles são os
grandes guardiões desses conhecimentos e da Republica intergaláctica. Quem tem o conhecimento e não analisa esse
conhecimento, nem sempre fica livre da alienação, porque se auto aliena. Nós se
auto alienamos quando vimos que tudo que estávamos acostumados a viver e
acreditar, não existe mais, os valores de tempos atrás não valem para com
agora. As mães antigamente valorizavam os filhos homens por serem eles futuros
provedores da suas famílias e hoje, os direitos ficaram iguais, tanto as
mulheres quanto os homens trabalham e podem ser provedores; mas algumas mães
tratam seus filhos como “senhorzinhos” e ficam tão mimados que acham que podem
fazer o que quiser até mesmo delitos e coisas afins. Então esse tipo de valor,
não existe mais e com isso, surgem novos seres que não sabem o certo do errado,
não que exista, mas até quando minha liberdade permite sem agredir a liberdade
do outrem.
Talvez
a idéia da “Matrix” é – como o nome mesmo diz – a matriz de toda ideologia, que
os reprimidos se tornam opressores. Os dois filmes tratam isso, tanto os
rebeldes Sisth em Guerra nas Estrelas, tanto no “Matrix”. Se assistirmos o
Animatrix, vamos ver que as maquinas foram oprimidas pelos seres humanos pelo
medo de não saberem o que elas eram capazes, as maquinas rejeitadas, se tornam
uma nação e até quiseram ter paz com os humanos; mas esses por medo não
quiseram, então começam uma guerra contra essa nação e cortaram sua fonte de
energia que era a solar. Resumindo a historia, com o poderio muito maior das
maquinas, a nação delas ganham a guerra e com isso é construída uma Matriz para
sugar dos seres humanos energia para manter todo um império maquinário no
mundo. Esse filme é reprisado, pois inúmeros teóricos expuseram isso, os
oprimidos sempre se tornam se ganham, opressores. O comunismo da Rússia que
dizia ser um governo do protariado mataram muito mais do que o nazismo e a
santa inquisição juntos, mas também o capitalismo no seu modo selvagem, mata
também de formas veladas e pouco éticas. No fim chegamos a conclusão que tudo é
uma coisa só que cada ser humano pode e deve fazer as coisas por si mesmo, toda
ideologia política são todas iguais. Visa somente um objetivo, o poder e para
isso tem que iludir a grande maioria, tanto é assim, que ideologicamente os
dois filmes tratam de rebeldes maquinas que não tem escolhas a não ser seguir
seus lideres.
Podemos
também analisar no ponto das religiões, pois hoje em dia não podemos afirmar
que realmente elas religam o que é humano e o que é divino. Em toda a história
humana, sempre a maioria esperou um “messias” para salvar um povo ou uma nação,
seria um escolhido para a grande rebelião que pode mudar tudo todos os
pensamentos. Tivemos lideres, vamos chamar assim, que mostraram a humanidade
como agir de forma ética e não agredir, pois se agredimos seremos agredidos.
Outro aspecto que vimos muito nesses filmes e de outros é que o vilão tem a
aparência do herói, ou seja, essa analogia
mostra que todo os seres humanos tem os dois lados; no Guerras nas
Estrelas, todos pensam que o outro lado de Anakin é os jedis ou Luke, não é
não, é Padmé Amidala que tem a forma racional masculina (Anakin) e a forma
sentimental feminina (Padme). No filme Matrix, o outro lado de Neo é o próprio
sistema, ou seja, o “engenheiro” que projetou a Matrix deu a dica, pois Neo era
o quinto de sucessão para re-configurar
a Matrix. Os “messias” são apenas uma reconfiguração de um sistema de
cinco mil anos, lembramos que no filme o “engenheiro” diz o quinto e a historia
da civilização remontam vulgarmente, cinco mil anos dês das cidades
mesopotâmicas, babilônicas e egípcias.
Para
entender o que o “engenheiro” disse, primeiro temos que entender como funciona
um hardware de computador e logo depois, em segundo lugar, temos que entender o
que é o sistema hierárquico que comanda a humanidade por tanto tempo. O micro
computador funciona como código fonte, ou seja, todo funcionamento depende
desses códigos que faz o programa se materializarem; por incrível que pareça os
códigos são apenas dois, o 0 e o 1, então cada programa fica “01001...”. Cada um desses arquétipos numéricos fazem
símbolos que nos ajudam a diferenciar, é um processo cognitivo. O computador
constrói uma sequencia para criar cada figura, pois essa sequencia que irá
fazer os movimentos ou mudar e colocar alguma coisa. Enfim, dentro dos inúmeros
caracteres que contem um hardware, somente dois números valem como código. O
sistema hierárquico humano não é muito
diferente, existe dois códigos que movem a “vontade” de se manter entre os
“maiores”: um é o poder e o outro é o outro é o bem material.
Vamos
começar com o “Poder” que move milhões de seres humanos a fome e a lutar em
guerras por ideais que não são deles. O poder levou ao ser humano a criar
varias situações para controlar a grande “massa”, sendo pelo medo ou pelo
hipnotismo de colocar esperanças e uma vida “melhor”. Não é isso que vimos no
filme? O poder se realiza com a hierarquização, porque se criou meios de
conhecimentos e ficamos a mercê de sistemas que foram construidos graças a esse
conhecimentos. Não condenamos o conhecimento que nada mais é do que a
informação - que o universo é constituido - mas os meios que se usou essa
informação. O problema não é os Sisths tomarem a República, mas a liberdade que
isso evolve, guerras ideológicas que só visam o poder. Toda a saga gira em
torno do poder, tanto no Guerra nas Estrelas, quanto o Matrix. Mas será que
algum dia teremos a liberdade? Liberdade é muito mais complexo do que pensamos,
tem a ver com as escolhas que fazemos e não o que nos impõem, até mesmo, o
conceito de liberdade. A libertação não é uma doutrina, não pode ser ensinada
ou buscada por meios externos. Mas a liberdade é algo subjetivo, algo que se
constrói a partir do conhecer a si mesmo, sem mestres, sem algo para se
"apoiar". No filmes - os dois - havia ainda um apoio a um mestre, não
houve um aprendizado puro, onde não havia algum mestre. Onde afinal, está a
liberdade?
Houve
uma ruptura, tanto o Neo (Matrix), tanto o Anakin (Stars Wars), quando suas
"animas" saem de cena. Há uma uma analogia muito forte com a evolução
do ser no limiar da vida, porque o que nos prende é os valores que nos fazem
nos apegar. No Guerra nas Estrelas, Anakin se apega a mãe e se culpa por deixar
- la e os bandidos pega-la, depois se apegou a Pamdme que o faz ir para o lado
negro para protegê - la. No Matrix, Neo se apega a idéia que não é o
"escolhido", depois se apegou a Trinity (seria as três doutrina
mundanas) e seu amor por ela, quando ela morreu, enfrentou o vírus da Matrix e
também morreu. A Trinity só é seu
alter-ego, seu apego ao mundo, seu ego em sentimento do apego e fez disso, um
empecilho para enfrentar seu medo. Tanto ele (Neo), quanto Anakin, ficam cegos
porque a visão de um mundo que nos faz sofrer é bloqueado, ficam na escuridão.
Vale lembrar que os Oráculo antigos eram cegos, porque se acreditavam que
poderiam enxergar com a alma, pois os olhos físicos olhavam a ilusão. A consciência é apenas o valor que damos a
alguma coisa ou alguma situação, na verdade, é apenas sua leitura a aquela
situação. A consciência se dará a partir do que acreditamos ser verdade, não é
um meio para se alcançar, mas é um meio para se medir valores. O valor de uma
pessoa amada é o que acreditamos ser
importante nessa pessoa amada, o que ela faz com esse amor e o que faz ama-la.
Nos amores não correspondidos, há um bloqueio da nossa real visão, ficamos
iludidos por um ideal, um ideal que não nos faz feliz. Geralmente, esses não
fazem amores verdadeiros e só iludem. Anakin fez do seus dois maiores amores em
algo que dependece sua felicidade, mas a sua felicidade era descobrir a FORÇA
nele, no seu próprio ser que faria dele um jedi. Na verdade - como disse acima
- a saga inteira trata de poder, porque sempre queremos ter razão. Mas nem
sempre, a razão é realmente o "logos" que procuramos.
O logos é grego antigo e quer dizer razão,
mas o grego antigo tinha outra perspectiva e tinha outra visão até mesmo do ethos. A visão era uma razão instintiva,
sem racionalidades imperfeitas e sim, um logos
superior. Na minha visão, a filosofia apenas colocou o logos em seu devido lugar já que a racionalidade estava em
contramão com o que era superior, era divino e importante. A força é a energia vital que as religiões cristãs
dizem ser o Espírito Santo, que muitas religiões dizem ser igni que em latim quer dizer fogo, em sânscrito é a divindade agni que quer dizer fogo. O fogo é a
energia que se consolida, a energia da criação veio do fogo e da energia
primordial da vontade. Discípulo João diz que o logos fica a direita ao lado de Deus, ele é a razão que se fez
carne e através dele nós aprendemos o caminho do divino, mas logos é a vontade de criar. Milhares de
manifestações biológicas de trilhões de formas devem ter se consolidado no
universo, o ser humano apenas é mais uma, uma que ainda está primitivamente
descobrindo essa energia que é o poder mais poderoso do universo. Talvez –
porque não estamos na mente de George Lucas – os Siths são a forma do lado
escuro porque se prendem ao material, ao que se dar pelo lado da matéria (tanto
é que todos os discípulos de Lorde Sinous eram partes robóticas, até mesmo
Darth Vader, o mais poderoso). Ou a parte reptiliana humana que tem a ver com
nosso lado animal, nosso ódio. Os jedis, como disse acima, são a FORÇA do lado
da luz, do esclarecimento, do lado espiritual verdadeiro. Mas começaram a serem
arrogantes e perderam a republica, porque não haveria outra solução a não ser entregar o conhecimento, ter o que se espera
ter da FORÇA. Anakin era o mais poderoso, o mais capaz, o escolhido que teve que
ir para equilibrar a FORÇA e restaurar a paz do universo e a republica intergaláctica.
Mas ele não o fez? Ele era o escolhido e mesmo sendo do lado negro – depois que
jogou o Lord Sideos ele morre – ele restaurou o equilíbrio matando o imperador.
Mas antes de morrer diz ao jovem Luke que não tinha escolha e Luke restaurou a
ordem Jedi, talvez, com outra visão. A morte é o despertar do mundo para um
novo começo, tanto é assim, que sempre os escolhidos morrem após deixarem suas
mensagens como nos dois filmes, os dois morreram após equilibrar toda a
realidade. Toda a plenitude da verdadeira face do fenômeno, pois antes não temos
a consciência daquilo que é o objeto do nosso objetivo. A morte de Jesus, por
exemplo, simboliza a real natureza dessa força
e que somente foi um despertar para outro estado da realidade.
Mas
o que é a realidade? Tudo aquilo que entendemos e lemos como objeto é uma das
realidades, mas existem outras que ainda não entendemos, existem até mesmo
outros seres com outra perspectiva dessa realidade. Mas ainda colocamos as
coisas em uma realidade que enxergamos em nosso próprio bojo de crenças e não vimos
que a realidade somos nós e essa realidade independe nas coisas externas. Os escolhidos
sabiam que teriam que escolher e teriam que sacrificar – num modo muito
profundo – não num modo de salvar, mas num modo de mostrar o caminho sábio e não
o caminho mais fácil, o caminho que os grandes nos fazem trilhar. Anakin fez o
que tinha quem fazer, o resto não nos interessa, porque para sermos uma
brilhante estrela, tenho que passar por uma odiosa escuridão.
Amauri
Nolasco Sanches Junior – Filósofo