sexta-feira, janeiro 19, 2024

A filosofia e os bêbados






Há uma discussão sobre a origem da filosofia, mas, a meu ver, a filosofia é grega. Poderemos até mesmo discutir a influência de outras culturas dentro da filosofia - como as orientais e as africanas com a egípcia - mas, a filosofia em racionalidade é grega. A extrema-direita quando quer mudar a história chama-se revisionista, mas a esquerda quando quer mudar a história é reparação histórica? Não que a extrema-direita esteja certa - muitos deles ficam no passado que nunca existiu e são chamados de reacionários - mas, mudar a história e aquilo que foi (certo ou errado dentro de uma visão mais humanitária) de fato, não vai apagar as questões consideradas erradas. O fato de a África ser explorada desde muito tempo - desde Roma? - não faz sentido mudar tudo para os africanos se sentirem confortáveis e não vão, vão separar a humanidade e se esquecem que somos uma espécie só. A questão é que só muda o fenótipo de cada região por causa de características climáticas e de ambiente que trazem características únicas

Já no termo “philiasophós” se entende como uma amizade íntima com a sabedoria, pois “philia” queria dizer (ou ainda é) amizade no sentido de um amigo íntimo. E se o termo é grego no sentido de dar um conceito dentro da parte de uma matéria (como conhecimento), então, no sentido restrito, “philiasophós” é aquele que conversa com a sabedoria. Nesse ínterim, não podemos negar que muitas outras regiões do mundo têm suas sabedorias milenares dentro de sua cultura e valores espirituais e culturais se formam. Por isso mesmo, no século dezenove, Nietzsche vai dizer que “Deus está morto” por a humanidade destruir seus valores intrínsecos em nome de um sistema que escraviza e faz muito poucos terem poder e luxo. O aristocrata de Nietzsche não tem a ver do aristocrata das posses, mas, da alma em não ser mais um da multidão (espírito de rebanho).

O pensamento ocidental foi “forjado” com a forja da bigorna da realidade enquanto origem das coisas (pré-socráticas) e a marreta que bate o pensamento é a maiêutica socrática. Se por um lado a ciência discute os pré-socráticos, por outro lado, a filosofia (na parte ética) discute Sócrates, Platão e Aristóteles. E não tem muito o que discutir, porque quem não entendeu a filosofia clássica, dificilmente vai entender a filosofia moderna e pós-moderna. Porque tem a ver com nossas origens e a fermentação, tanto do vinho (feito de uvas) quanto da cerveja (cevada) tem também a ver com nossas origens mais primitivas. Tanto, que não se sabe nem onde ou quem que fez o primeiro vinho ou a primeira cerveja. Mas, não é o mesmo que hoje temos. E sempre a humanidade procurou fugir da realidade objetiva que estamos (como corpos dentro de um período de tempo) para transcender essa realidade e ir para outra com substâncias que alteram os sentidos. Ou como ritual, ou como uma fuga dos problemas que o assolam.

Nesse sentido, faz sentido dizer que a racionalidade existe quando se está em estado alterado? Será que as pessoas ficam mais inteligentes? Talvez, sem medo de erro, estar em estado alterado não pode mostrar a verdade e sim só uma outra percepção da realidade. Daí uma pergunta inevitável: o que é a realidade? É aquilo que percebemos como linguagem (todas as coisas tem um nome) ou a realidade esta além dessa percepção? Talvez - isso está muito inserido na epistemologia e na fenomenologia - a questão entra na cerne do problema da filosofia, porque desde a sua origem (Tales e seu húmido) tem a ver com achar a verdade. Verdade em grego seria “aletheia” que queria dizer não-oculto e aquilo que se desvela dentro daquilo que está escondido, como o ser humano que quebra as correntes e sai da caverna e vê a outra realidade. não com subterfúgios alucinógenos, mas o conhecimento. Portanto, bêbados ou drogados são escravos do mesmo modo de um sistema que explora.

O meme que esta um superman bizarro (como estudante de filosofia), o superman (como mestre em filosofia) e em baixo, ultra-superman (como o amigo bêbado) mostra que um bêbado tivesse mais sabedoria que uma pessoa que estudou e está consciente. Há uma discussão de muitos anos sobre o que seria a consciência e o que faz nós - seres humanos - sermos conscientes da nossa realidade. Ou indutivamente, ou por causa da nossa capacidade racionalizada de perceber as coisas. O “cogito ergo sun” cartesiano é a percepção que a única certeza que temos é nossa consciência, e assim, se não tivermos percepção da nossa consciência de pensar e de percepção. O conhecimento (em um modo de estudo) tem a sutileza de mostrar a elevação de uma percepção muito além daquilo que se quer mostrar. Por isso que digo: se é para pensar ou agir como todo mundo, porque eu faria todo esse percurso de aprendizado.

O conhecimento nos torna muito mais seletivos, sem se importar se está ou não como os outros. O outro só é uma entidade que interage com nossa realidade. E, por outro lado, nossa mãe sempre ensinou: “você não é igual todo mundo”. Por que? No mundo de hoje, ser como “todo mundo” quer dizer ser mais um na multidão, não se esforça em crescer, não se esforça em evoluir, não se esforça em ser o diferencial de um mundo cada vez mais padronizado com pensamentos homogêneos. Ser um bêbado é ser mais um da multidão.

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Sócrates não disse ‘só sei que nada sei’




 Em um trecho de Apologia de Sócrates, Platão escreve: “Mais sábio do que esse homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um nadinha mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei.” (PLATÃO, 1980, p.6).


(Texto: Só sei que nada sei)


Grupos de filosofia de Facebook são pura perda de tempo e de estudo, se quer aprender filosofia faça um bom curso. Se tratando em curso no Brasil - de filosofia piorou - são todos vagabundos e cheios de erros do mais simples ou do mais grosseiro, ainda sim, o caminho universitário é um começo e aprendemos muito em pesquisar. Aprendi a sistematizar meus estudos e pesquisar muito melhor - com ênfase naquilo que quero escrever - e sigo aquele ditado <quem faz a escola é o aluno>, Esse negócio de que filosofia <aprende com a vida>, para mim é coisa de pessoas folgadas. Adoro meu bacharelado e aprendi muitas coisas.

E nesse aprendizado - com o canal INEF (Isto Não é Filosofia) - descobri uma coisa: Sócrates não disse <só sei que nada sei> e pelo que eu pesquisei mais a fundo, realmente não disse. Segundo minhas pesquisas - foram muitas - foram os filósofos romanos que sintetizam o pensamento socrático em uma frase e depois, o cristianismo adotou. A frase <só sei que nada sei> é uma síntese do parágrafo que postei no começo do texto. Por outro lado, algumas pessoas teimam e disseram que ele disse, que é plausível, já que essa crença perdura por muitos anos. E existe um outro problema que quem escreveu a Apologia: Platão estava doente e não estava presente. As únicas fontes de discípulos são Xenofonte e Platão (se teve outros, foram queimados na biblioteca de Alexandria). E escreveram sobre Sócrates.

Há uma grande discussão se Platão estava fugindo (por isso fundou a Academia anos depois como um depósito de todo conhecimento filosófico por terem matado seu mestre), ou se ele estava doente. Acho interessante pesquisar e encontrar textos muito mais “alargados”, porque isso faz com que possamos questionar algumas crenças. Encontrei uma transcrição de um livro do I. F. Stone (1988), O Julgamento de Sócrates - não achei em PDF - onde ele conta que Xenofontes escreveu muito mais sobre Sócrates, realmente, do que Platão. Xenofontes não era da aristocracia ateniense, Platão era. Segundo Stone, Xenofonte teria tido muito mais liberdade de falar e transcrever (fielmente?) do que Platão. Só nisso refuta os “ratos de grupo” que desacreditam que Sócrates só seria um mero personagem, pois, não tem só Platão para se basearem. Mas, será que a Apologia é fiel?

Para defesa de Platão, Xenófanes também não estava no julgamento e morte do mestre e que, mesmo assim, ele foi para Esparta e Platão ficou em Atenas. Alguns biógrafos de Platão - um excelente é Giovanni Reale - defendem que Platão viajou muito depois da morte de Sócrates e que volta e funda sua Academia para, como o mestre, não destruírem o legado como fizeram com o mestre. Como muitos sabem, a filosofia não era bem vista na história da humanidade, em Atenas não era diferente. Nem todos gostavam de filosofia, porque a filosofia tem um ar de racionalidade das crenças vigentes e as ideologias políticas, esta inclusas.

Mas, transcendendo o senso comum, a filosofia não afirma nada e sim, indagar as coisas desde o começo. Mesmo porque, as pessoas são muito mais práticas do que racionais, como o preconceito contra os filósofos que a tradição tem milhares de histórias. Como uma escrava teria rido de Tales de Mileto por ele ter caído em um buraco por tanto pensar ou olhar os céus - estranhamente, tanto a religião quanto a filosofia, sempre foi voltada ao céu em um modo de se ter uma outra realidade - e esse riso (Foucault diria ser uma normalização de conduta que acontece desde esse tempo) teria sido por achar estranho essa conduta de raciocinar e ver que as coisas como conhecemos pode ser uma questão de linguagem e discurso. Há uma discussão muito antiga dentro da filosofia sobre o papel da escolaridade (educação é uma outra coisa mais familiar) dentro de formar e mostrar a realidade para os mais jovens. O que seria a realidade a não ser coisas condicionadas dentro de um discurso?

Mesmo se Sócrates não disse o “só sei que nada sei” - que foi a síntese do parágrafo do começo do texto - temos que pensar que o filósofo não exaltou a humildade no sentido de exaltar a ignorância e sim, não querer saber aquilo que não sabe. Por exemplo, eu não posso dar dicas de coisas medicinais (médicas), pois não sou médico e não posso opinar sem colocar vidas em risco. No mesmo modo, aquilo que você acha que sabe não sabe, mas aquilo que não sabe é a sua ignorância. Por isso mesmo tanto Sócrates quanto Platão, diziam que não existia bem enquanto entidade e sim, conhecimento e o mal, como ignorância.