Dias desses eu estava dando uma olhada num
dos grupos do Facebook e me deu de cara com mais um religioso que queria provar
que suas crenças – que costumam ser sempre a verdade absoluta – trouxe para o
grupo uma discussão interessante sobre a origem de tudo e o que fez tudo ter a
forma que tem hoje, a realidade não é o que pensamos. Sou uma pessoa que
acredito na espiritualidade, mas não descarto as várias teorias cientificas que
permeiam os sites e blogs especializados. Tanto as indagações do sujeito
religioso me assustaram, quantos muitos textos do blog Universo Racionalista
que coloca como “pseudofilosofia”, como se a filosofia tem que ser obrigada a
dar um ar cientifico em toda sua estrutura de raciocínio. Já me deixa
preocupado quando saem pensamentos como “pseudociência” ou “pseudofilosofia”
que dará ao jovem, o mesmo fanatismo que muitas religiões por aí. Mas tentarei
responder de uma maneira melhor a pergunta do religioso – porque acabei
respondendo de maneira apressada – que talvez responda o que penso desses dois
termos que viraram “modinha”.
Zé da Igreja – Qual a origem do primeiro
átomo do universo?
Poderíamos responder essa pergunta com um
simples: não sei. Mas como temos certos conhecimentos sobre os átomos, podemos
seguramente responder que foram os primeiros nêutrons junto com os prótons e
também, os elétrons. Mas daí o Zé da Igreja perguntaria: qual a origem dos
nêutrons, prótons e elétrons? Responderíamos simplesmente, com as primeiras
moléculas. O que os cientistas ainda não conseguiram ensinar – ainda mais com
nossa escola medíocre e com a nossa cultura embrurrecedora conservadora – é que
o importante não é o átomo, porque o átomo é derivado e não originador, mas as
moléculas que assim o fazem, são originadoras. Mas ainda assim, não poderíamos
tratar assim uma pergunta tão complexa como essa, porque todos os elementos que
conhecemos estavam todos juntos numa singularidade. Mas o que poderia ser uma
singularidade? Um ponto. Esse ponto era tão tenso que poderia pensar milhares
de toneladas – pensa num número muito grande – porque talvez, tudo tivesse ali.
Hoje se trabalha com a hipótese que viemos de um buraco negro e dentro desse
buraco negro, segundo teorias da física e astrofísica, há uma singularidade de
eventos que pode ter se expandido.
Claro que todos os religiosos vão dizer que
tudo vem de Deus e na sua vontade tudo teve um princípio – que segundo o blog
Universo Racionalista, isso seria chamado de “pseudofilosofia” só por causa de
um filosofo achar que a filosofia tem que ter uma base cientifica – como também
não descarto, mas existe critérios para se pensar que Deus pode ter criado
mecanismos que governam as leis cósmicas “muito bem, obrigado” por bilhões de
anos sem ter que mexer nada. Toda mudança que houve e se houve, foram
princípios dentro da evolução de qualquer sistema e em qualquer princípio seja
qual for, porque até mesmo dentro de um complexo software, há uma evolução na
linguagem que esses softwares são gerados. Mas isso, claro, é muito complexo
para mentes fechadas tanto de alguns religiosos fanáticos, quanto alguns ateus
militantes que ainda não entenderam esse princípio básico.
Zé
da Igreja - Se toda ação tem
consequentemente uma reação, como foi formado o primeiro átomo que deu origem
ao Big Bang?
Primeiro vamos por partes. O Big Bang não teve
um átomo gerador, mas uma singularidade que era muito tensa e por razões que
ainda desconhecemos, teve que se expandir. Talvez, a sua intensidade fez a
gravidade que estava dentro desse ponto, fazer ele expandir até se tornar o
universo que conhecemos. Mas alguns cientistas (físicos e astrofísicos), dizem
que não tece o “bang”, ou seja, não houve a explosão tão difundida. Se houve um
princípio, se houve de alguma maneira, uma ação de expansão do universo –
quando se rompe a singularidade – houve a reação dentro da realidade conhecida
que pode ser resumida na ação (karma) e reação (dharma) que tanto os orientais
já diziam a cinco mil anos antes de Cristo. Toda a realidade é a realidade que pensamos
estar, mas poderemos não estar e isso tudo apenas ser uma galáxia dentro de um
buraco negro enorme.
Zé da Igreja - Se Deus não existe, de onde
surgiram todos os elementos químicos que deram origem a tudo?
Se Deus existe ou não, isso não mudaria o fato
do universo ter vingado ou não, os componentes químicos terem gerado a
realidade que vivemos. O princípio cartesiano – que os iluministas numa forma
estupida, geraram uma desculpa para gerar um princípio muito contrário ao que
Descartes propôs, de negar a crença a partir do cogito, mas o cogito poderia
dar uma fé mais racional – que penso e com esse pensamento (cogitam) podemos
perceber nossa existência, nessa percepção poderíamos ver a realidade. Mas será
que a minha realidade poderia ser igual à do outro? Se todas as coisas fossem
criadas, poderíamos ainda sim, formar escolhas? A evolução ou o surgimento do
universo a partir de um ponto (singularidade), não prova a existência ou não de
Deus, mas prova que há uma origem e essa origem um dia, vamos conhecer.
Só para fazemos uma pseudofilosofia, Deus não
pode ser um ente porque não tem uma personalidade, ele é o que é e sua natureza
se fecha nele mesmo. No máximo podemos especular o que poderia ser Deus e sua
propriedade em ter tido à vontade por ele mesmo, de ter criado o princípio que
levou a milhares de singularidades ter originado milhares de universos no
cosmos. Então, ele ter uma consciência e perceber por ele mesmo a sua
existência, num modo bem especulativo, não quer dizer que o nosso universo
entre milhares de universo, seja o universo especial que essa mesma consciência
ter feito pessoalmente. Se existem milhares de deuses cuidando desses
universos? Se eles se criam a partir de princípios que nem sonhamos? Há muitas
possibilidades.
Zé da Igreja - Se Deus não existe, não há razão para
viver. Se Ele não existe, porque então existem princípios morais?
Era o tempo que a razão era algo racional e não
uma “muleta” para explicar a sua dependência moral em alguma crença, ideologia
ou qualquer “ismo” que exista. Se pessoas precisam de “uma razão de viver” a
partir de um ensinamento de qualquer pastor por aí, então, estamos rumando a
uma nova idade média e iremos certamente, para a escuridão da ignorância. A
existência de uma consciência criadora de todas as coisas deve ser muito mais a
razão de se viver sem medo e sem o coração maldoso, do que ao contrário que
vimos por aí com as religiões mais separando as pessoas do que juntando, ou
seja, o meu “deus” é o verdadeiro e o do outro, é o falso e ele é um “pecador”.
Os princípios morais nada têm a ver com Deus e
sim, princípios religiosos humanos. Me parece que há uma confusão entre Deus e
Jesus de Nazaré graças a Constantino e seu desejo de transformar a igreja na
última salvação do império romano, que no primeiro momento não parece nada, mas
no segundo pode ser muita coisa. Jesus foi transformado num deus-homem para
satisfazer algumas ambições, porque ele era apenas um espirito que evoluiu
muito mais rápido e tinha o poder de aprender as coisas facilmente. Se ele foi
para o Egito, se foi para a Índia ou nem tenha existido, não tira a mensagem
ética e moral que está dentro de sua mensagem que claro, a igreja se apropriou,
destorceu e ainda em algumas partes de uma maneira rasteira, adulterou para
responder aos seus interesses escusos.
Vamos a moral. Não confundamos moral com ética,
porque há uma grande confusão na nossa língua ainda. Moral vem do latim –
língua etrusca-romana – “mos” ou no plural “mores”, que quer dizer “costumes”.
A confusão se dá porque os romanos tentaram traduzir a palavra grega “ethos”
que queria dizer “caráter” em “mos”, só que para o romano o costume era muito
mais importante do que o caráter (talvez herdamos muito esse pensamento). Daí
se derivou duas palavras, a moral que é o costume de uma comunidade ou de uma
determinada parcela social – como um segmento religioso, por exemplo. Ética
quer dizer o caráter de certas características de uma pessoa, um exemplo muito
enraizado em nossa sociedade judaico-cristã, é os dez mandamentos. Não cobiçar
a mulher do próximo, por exemplo, acaba sendo muito mais ético do que moral,
porque tem a ver com o caráter de cada um cobiçar ou não. Mas claro que exigi
de bom senso e nesse valor – porque sempre um caráter é feito de valores
recebidos – está a moral de termos o costume de não cobiçar essa mulher e
assim, a harmonia social prevalecer dentro das regras de uma sociedade
inteligente. Mas isso não quer dizer que a moral foi imposta ou passada por
Deus, mas é humana e contém muitas falhas que podem – muitas vezes o são – ser
burladas com facilidade. Todas as religiões ensinam a viver como irmãos, mas
existem as guerras. Todas as religiões pregam que devemos ter compaixão, mas
existe a fome, existem pessoas que não tem aonde dormir e nem morar. Todas as
religiões pregam que devemos ser justos e não mentir, mas todos os segmentos
governamentais mentem ou enganem, roubam o que não é deles, religiões fazem de
tudo para pregar o que lhes interessam. Isso é de Deus ou é uma ação humana de
seres em evolução? Daí voltamos a ação e reação onde o mundo (nossa realidade)
ainda não tem fortes alicerces morais para acabar com esses valores, espíritos
voltam para viver as condições dos outros que enganaram, que roubaram e também,
aqueles que escravizaram. Mas isso não quer dizer que não tenhamos o dever de
querer uma justiça social, porque isso do espirito voltar para viver o que o
outro passou, um dia haverá de ter um fim e esse fim é a evolução moral e
ética.
Nessa evolução ética e moral, muitas vezes
erramos e nesses erros que saem alguns termos interessantes. Na verdade,
saltamos numa evolução tecnológica sem precedentes, mas não avançamos no ponto
nem moral e muito menos, ético. Vamos aos termos. O que seria um ponto inicial
para saber o que é realmente ciência e o que é filosofia? O termo “pseudo” que
dizer algo que é falso, que não tem fundamento como tal e alguns etimologistas
dizem que o termo veio do grego “pseudein”
e que quer dizer “enganar pelas mentiras”. Mas para se dizer que a
ciência é uma pseudociência temos que entender o que o termo quer dizer para
construir, por assim dizer, critérios que possamos nos apoiar (isso também
acontece dentro da filosofia). Ciência vem do latim “scientia” que quer dizer
conhecimento, por sua vez, vem do verbo “scire” que quer dizer “saber” e aí que
o negócio fica estreito. Se “pseudo” é “falso” e ciência é conhecimento, qual o
critério para dizer que algum pensamento é pseudociência? Chá verde por ser
apenas um chá, que por séculos foi um grande remédio para o frio e outros
males, não pode ter componentes desconhecidos que fazem emagrecer? Não podemos
dizer que um conhecimento seja falso até que esse conhecimento seja demostrado
como sendo charlatão, caso contrário, passa a ser um conhecimento ideologizado
e de outros interesses. O problema não é o pensamento em si, mas esse
pensamento virar uma regra.
O mais preocupante não é os militantes da
ciência colocar as curas caseiras como pseudociência (falso conhecimento?), mas
cunharem algo do tipo pseudofilosofia. Como poderíamos ter uma falsa amizade ou
amor, a sabedoria? Qual o critério para se formar uma pseudofilosofia ou
pseudociência? Uma ideia não é o problema, o problema é quando essas ideias
viram seitas fanáticas.
Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, escritor