Amauri Nolasco Sanches Junior
Havia um post no Linkedin — uma
rede social que se diz profissional, mas está cheia de autoajuda
vagabunda — que mostrava uma matéria de um jornal (todos hipócrita
e canalhas) que dizia que o ex-presidente Lula processaria o Dono da
Havan por ter contratado um avião com uma faixa dizendo que ele era
“cachaceiro”. Respondi que eu achava o Lula um canalha, mas, quem
é o Véio da Havan nisso tudo? Vou explicar melhor. O Lula é um
canalha porque tem um discurso cínico parecendo que nunca foi
presidente, como se no seu governo não havia aumento de preços,
como se ele tivesse arrumado o nordeste e tivesse melhorado o país.
Não acho que o Lula é um comunista. Aliás, ele nem sabe o que
seria o comunismo. Acho que ele quer o poder pelo poder, um psicopata
que pensa que o país é o quintal do sindicato que sempre ficou lá.
Luciano Hang (vulgo Véio da Havan)
é um empresário fantasiado que tenta fazer marketing da sua loja.
Aliás, até hoje eu não sei o que a Havan vende, o porquê ela
existe e o porquê tem uma Estatua da Liberdade na entrada. Mas, ele
joga na polêmica e começa dizer coisas que não tem nem lógica,
como jornalistas não darem sua opinião, ou que piso tatil não
serve para nada. Por que jornalistas que dão opinião sobre o Lula
ou a corja do PT vale e os que criticam o governo não? O Bolsonaro
também erra e tem que apontar o erro, para talvez, ele repensar o
caminho que tomou. Mas, ao que parece temos um petismo dentro da
direita, um fanatismo chato que em vez de atrair as pessoas para uma
discussão mais racional, atrai sempre os idiotas para uma discussão
rasa e pobre o bastante para atrair os pseudos-filosofos. Ainda,
esses intelectuais que tem livros na livraria custando quase cem
reais e ficam pedindo ajuda, aproveitam para atrair seus holofotes
para si mesmos.
Ao longo da minha vida, sempre vi
aqui no Brasil uma ética seletiva que não pode envolver aquilo que
eu acredito, aquilo que eu penso, ou aqueles de que gosto (como
amigos e parentes). Também se gosta de rotular as coisas e
relativizar aquilo que se acha importante variar. Como já li que
Likedin é uma rede social profissional ou que o Facebook é coisa de
qualquer um. Redes sociais são ferramentas virtuais para fazerem o
que desejarem (com ética, claro), e quem faz ela é os usuários.
Claro, que quem usa mais o Linkedin são profissionais que na maioria
das vezes, postam autoajuda vagabunda para incentivar profissionais a
não desistirem. Como se um meme possa fazer milagres. Sobre a
relativização das coisas, nossa cultura é muito disso.
Conservadores viram liberais, pentecostais viram judeus (pior ainda,
judeus da idade media), rock vira samba, e todo tipo de porcaria se
dissolve atrás do que se acredita.
Vou dar dois exemplos bastante
emblemáticos. O primeiro exemplo foi um texto — pequeno por sinal
— respondendo uma pergunta de um grupo sobre deficiência, que
estava perguntando se havia cadeirante que viajava. Disse no meu
perfil, que não gostava de viajar de avião porque não gostava de
ficar sem comer ou ir ao banheiro, fico muito chato as raias de ser
insuportável. Continuando, disse que não ia na casa dos meus
parentes porque não eram casas adaptadas para entrar na minha
cadeira de rodas. Pronto. Se montou uma atmosfera entre filosofia
barata e relativismo explícito sobre inacessibilidade da cidade.
Até mesmo, teve a mistica do degrau que tinhamos que superar. Será
mesmo que há a mistica do degrau quando o dono da padaria não
acessibiliza a padaria? Chegaram a dizer que meus parentes me amavam.
Não duvido que eles me amam, mas, a questão é acessibilizar ou não
acessibilizar sua própria casa para receber um cadeirante. A ética
não pode ser seletiva, porque ou ela abrange tudo, ou aquilo não
precisa ser seguido. A ética sempre informa o quanto estamos ou não,
relaxados e relapsos a sociedade.
Outro exemplo foi um vídeo. Uma
mulher queria saber da sua mãe biológica e entrou em contato e foi
ver a mãe biologica, sendo que a mãe que pariu ela dizia no vídeo
que não queria nenhum contato, não queria nada da sua filha que deu
para a outra. Comentei que a mulher (a mãe que deu a filha) já
tinha dito que não queria nada no contato no telefone, por que a
filha foi lá? Terminei meu comentário dizendo que pai e mãe é
quem cuida, o resto é só ideias românticas baratas. Ora, todos que
estudam história sabem que esse amor filial romântico veio muito
recentemente, que antigamente as pessoas não se importavam muito com
a morte do seu filho (claro, que as vezes, tinham pessoas sensíveis
que sentiam sim). A questão sempre vai girar no relativismo da ética
de hoje, que escolhe a quem exigir. Por outro lado, a escravidão do
dever kantiano faz as pessoas pensarem que a mulher deve amar sua
filha e deveria aceitar ela de qualquer jeito (chega a ridículo de
rogar pragas e até ter a arrogância de achar que manda nas decisões
de Deus), mas, cada um ama aquilo que se tem empatia. Como disse um
escritor (não me lembro quem) tudo que amamos, amamos sozinhos.