Após viralização da música "Evangelho de fariseus", nomes como Virginia Fonseca, Juliette e Rafa Kalimann usam as redes para abordar assunto
(O Globo)
Dias desses eu comecei a ver o seriado brasileiro no Prime (streaming do Amazon) e dá para ter uma ideia bastante ampla sobre o que o povo nordeste. A história se passa em uma cidade do interior do nordeste e que mostra que o rapaz, Ubaldo, um bancário que não estava feliz em São Paulo e descobre que tem uma herança e duas irmãs. Mas, uma das cenas mais significativas do seriado vem em um dos episódios que Delvania (irmã de Ubaldo) tem um ataque de fúria e quis matar o prefeito (filho do coronel senador da região) quando ele abraçou a filha de um dos seus colaboradores. Lá ela não conseguiu, mas depois ela quase levou o prefeito a óbito por causa de um tiro certeiro no pneu. O noivo dela levou um tiro na fuga e morreu. Depois descobrimos que ela e a irmã foram violentadas por esse homem. Quantas meninas estão vivendo essa realidade?
Me parece que a realidade que tanto o brasileiro se baseia é a realidade baseada em sua subjetividade e essa subjetividade se torna universal, se eu gosto de forró, logo todo mundo gosta. Ou seja, o exemplo que eu dei seria como uma frase de uma música “quem não gosta de samba ou é ruim da cabeça ou doente do pé”, assim todo mundo que não gosta de samba ou é “ruim da cabeça” ou é “doente do pé”. Que, aliás, uma música capacitista. A universalização parte para a ofensa, porque ela tem que ser confirmada, todo mundo “tem que” concordar. Como disse em outros textos, isso faz das redes sociais um inferno.
A realidade vai muito além daquilo que vivemos ou que vimos, aqui existem famílias que são de uma pobreza extrema graças à corrupção e o pensamento patrimonialista escravagista que temos. E não é mentira, pois, quando estava em um movimento prol PCDs, muitas pessoas traziam notícias que pessoas com deficiência eram acorrentadas por causa da “vergonha” que os pais tinham de ter tido um filho assim. Ignorância, fome, morte e violência já passam nosso povo todo dia e a todo momento para nos meter em guerras dos outros, mesmo que essas guerras possam afetar de algum modo nossa economia. A questão é: o problema no nordeste é só de dinheiro para a família? Não. O problema é estrutural e de corrupção extremas.
Há denuncias que a Ilha de Marajó (CE), vem tendo por muitos anos, a tão denunciada prostituição infantil. Onde crianças muito novinhas vem fazendo atos sexuais em troca de dinheiro, e isso eu ouço a muito tempo e ainda, antigamente, a prostituição sexual (por mulheres) era institucionalizada e até tinha propaganda oficial da EMBRAER. Fora as propagandas de cerveja, as propagandas (em sua maioria) mostrando a mulher brasileira sexualizada e usada como amostra de prazer. Desde quando eu era muito jovem, eu fui cravejado de bundas na televisão. E aí vem a pergunta: a quem interessa transformar um país em bagunça?
O problema é que estamos em uma briga ideológica que não ajuda em nada o Brasil, com uma esquerda do século dezenove e uma direita tacanha que nada faz porque nada sabe. Ter vontade política para mudar isso é ter coragem de passar por cima de um sistema que perdura por séculos sem ninguém ligar.