quarta-feira, março 04, 2015

Cor sim, cor não – o vestido quântico.

Credito: tumblr




Houve a polemica do vestido se era dourado ou branco, ou branco ou preto. A maioria acertou e a minoria acertou também porque chegamos a duas teorias quando nos deparamos com essas polemicas, as pessoas veem aquilo que são levadas a ver. Uma parte pela linguagem – porque tudo aquilo que conhecemos temos um termo – e a teoria quântica que diz que o observador e o objeto observado não são separados. Aliás, isso é o que acontece quando vimos qualquer opinião, qualquer figura, qualquer coisa que mexa com nosso conceito e a nossa mais intima maneira de pensar.

Primeiro a linguagem, pois na linguagem temos os termos que designamos algo como um objeto que pode ou não, ser o objeto do nosso desejo. Algumas pessoas, por exemplo, viram o vestido branco e azul por causa da reflexo da luz, que na verdade, é o mais importante nessa experiencia. Por que? Vimos as cores graças as vibrações dos fótons, porque quando a luz estava fraca e há uma escuridão, as pessoas viram azul e branco, quando estava mais claro, branco e dourado. Mas estávamos falando na linguagem. No momento que chamo ou dou uma qualidade, estou dando um termo para aquilo como se esse termo (ou nome) fosse referencia para designar aquilo, afinal como disse Wittgenstein, o nosso mundo é feito da nossa linguagem e dessa mesma linguagem e feito de fatos e não de coisas. Mas voltaremos depois com isso na parte da física. Por hora a linguagem faz parte em tudo que fazemos, tudo que somos, tudo que desejamos e tudo que vimos e sentimos no mundo fisicamente e sentimentalmente. Por isso o filósofo austríaco não estava errado, de fato nosso mundo é feito de nossa linguagem e tudo que dissemos é algo para demonstrar algo. Se pedimos maçãs vermelhas é uma designação para algo especifico como qualidade (vermelho/cor), quantidade (fruta/objeto). Se sei que aquilo é uma maçã é porque muitas gerações aprenderam que aquela fruta se chama maçã – os termos são paradigmas que fazemos sem olhar muito de onde vem ou para quê servem – assim como a cor vermelha, mesmo, por exemplo, que no inglês chamamos de “red”, ela continua vermelha. Na verdade a diferença de linguagem pode dar uma noção bastante interessante quanto a isso, porque a cor vermelha e a fruta maçã muda de nome (signo) no inglês e passa se chamar “apple red” que seria a mesma coisa, mas em termos diferentes.

Quando passamos a dizer que o vestido é branco e dourado, estamos dizendo que a característica do vestido é branco e dourado, porque aprendemos o que é branco e dourado e por aprender que só tem isso na foto, nada mais. Mas outra pessoa está vendo preto e azul, que é o que está vendo naquele momento, porque é o que está enxergando como algo verdadeiro e que é um aspecto da mente. Mas como sabemos se é mesmo dourado ou azul? Como sabemos que aquilo é mesmo preto ou branco? Porque aprendemos que aquilo que reflete como cor tem um termo (ou signo) que dizemos para designar um objeto ou um objetivo (qualidades são objetivas para designar um estereótipo padrão), assim sendo, quando dissermos que algo é dourado estamos dizendo que tudo que parece aquela cor é dourado, então, aquela cor amarelo escuro, passa a ser dourado. O ouro é dourado por ter essa cor, como existem também simbologias que dizem que o dourado é a cor da sabedoria, assim como o branco por ser uma cor suave (que são todas as cores juntas), é a cor espiritual, a cor angelical que designa tudo que é da mesma cor, como o leite, por exemplo. São associações que fazemos para designar o estereótipo do branco, pois aquele vestido parece o leite e o ouro, então é branco e dourado. Quando associamos algo azul e preto, como a noite ou algo que vimos na escuridão da noite, então, o preto é a escuridão que nos amedronta e o azul ali, é o que se aproxima e não sabemos. Arrisco, talvez eu esteja errado, que são estereótipos da nossa ancestralidade, pois uns viram uma coisa, outros viram outra, remontando nosso campo de visão.

Não é difícil enxergar, vendo que essas coisas tem significado para a historia e evolução humana, que o ser humano enxerga tudo aquilo que é importante e a importância é construída dentro dos seus valores. Aliás, voltando ao jogo de linguagem, toda palavra expressa em sua natureza algo que está embutido dentro do que carregamos como valores que aprendemos. Então, se vimos o vestido branco e dourado é porque estamos vendo já com o conceito de branco e dourado, se estamos vendo preto e azul, é porque estamos vendo com o conceito de preto e azul. Mas na verdade o que estamos vendo é a luz refletindo sobre o vestido e a não luz refletir o vestido, que na essência, não existe porque nós fazemos dele um objeto para um objetivo que é uma roupa feminina. Eu, pessoalmente, vi apenas um vestido porque não coloquei nenhum valor na imagem, na verdade, nem me interessei em saber a cor do vestido. Por que? Porque os meus valores estão muito mais no que esta além desse vestido, pois ele para mim nesse momento não existe, não importa, não é algo que a vida minha precisa dele. Eu não quero saber mais do que o outro, não quero saber a cor dele, não quero me envolver aquilo que as pessoas estão condicionadas em sempre competir. Dai vi que na verdade o vestido tinha listas douradas, azuis e o contorno preto enquanto o resto é branco, porque não estou na competição para saber mais ou menos, estou só vendo uma imagem, nesse momento no agora, sou o vestido que a minha mente faz a leitura das cores e a imagem se funde com minha realidade. Então, o observador (eu) e o observado (objeto) são um só naquele instante. Todos os valores, todos os conceitos, todas as crenças, se fundem numa imagem só. Por isso que toda denuncia de injuria ou de preconceito, temos sempre que enxergar tanto os valores quem observa, quanto aquele que escreve ou diz.

Se uma pessoa diz que toda pessoa tem dentes, todo mundo vai concordar porque é uma realidade para todo mundo, mas se a mesma pessoa diz que certa etnia não tem o dente molar e assim, são seres humanos inferiores, todos irão dizer que aquele pessoa tem um preconceito quanto aquela etnia. Na verdade, a pessoa pode ter o direito legitimo de poder dizer aquilo e aguentar depois as pessoas darem a sua opinião da opinião dela (a pessoa em questão), mas que isso foi forjado dentro dos valores que essa pessoa aprendeu e muitas vezes, não disse isso para ofender, mas fez isso de forma natural. Ela está alienada (ignora a realidade), daquilo que realmente é e ainda está naquilo que era ou que pode ser, mas aquilo só é, existe naquele momento porque aquilo é o que é e não o que pode ou não pode ser. A não aceitação de uma realidade ou uma condição – não confundamos conformismo ou passividade – não aceitaremos opiniões ou a realidade como ela é sem julgar aquilo desnecessariamente ou fazer daquela realidade algo que ela não é. É o que ocorre com qualquer fanático, seja ideológico ou religioso, só vê aquilo que acredita ser a verdade (a sua própria realidade). Mas como disse Jesus e outros avatares, “conheceis a verdade e ela vos libertarás!”, ou seja, a verdade é o agora dentro da realidade única do universo, porque a verdade somos nós e toda nossa alma e conceito. Se vimos branco e dourado, aquilo não é a verdade, porque são imagens já fabricadas dentro de um conceito estereotipado que nossa sociedade fabrica.

A “verdade” é tudo que acreditamos e o que vimos, porque a verdade quer dizer “aquilo que é real” e aquilo que é real ou realidade, é construída dentro dos valores que nos ensinaram. Se você é cristão, na sexta feira santa não se come carne – por causa do sofrimento de Jesus no calvário – quem não é religioso e nem acredita no cristianismo, só é mais um feriado qualquer. Criamos nossa realidade naquilo que acreditamos ser a verdade, mas verdades se dissolvem a partir de algum conceito que muda, os paradigmas mudam, as coisas que foram discutidas já não estão mais em voga. Então, por que ainda acreditar em verdades que não ajudarão em nada nossas vidas? O agora é a verdade e ela nos liberta porque não esperamos nada além daquilo que possamos prever como realidade, aliás, muitas dessas verdades são apenas o medo do desconhecido, medo da incerteza e medo de uma crença que não existe. O vestido só existe porque há um termo para a vestimenta, como há um termo para as cores e naquele momento aquela imagem nos torna a real, a realidade da foto que estamos observando se funde com o observador e tudo que ele enxerga é a sua própria realidade. O branco de dourado é a cores coletivas, a verdade coletiva que muitas vezes não existe, não é a realidade de fato. Então, a verdade só há lá fora, quando não vimos como os outros, não nos interessamos como os outros, não temos as regras e nem os “porquês” dos outros. Transcendemos o vestido e vamos muito além dele, muito além daquilo que está na imagem, do sol que bate e pode refletir cores que não vimos, pode mostrar a nós que a realidade pode ser outra. A pessoa pode não ser o que pensamos ou a pessoa pode nem ter reparado que tiraram uma foto, mas a essência disso tudo é que não existe uma realidade, mas muitas realidades em uma só e essa é a única parte que não devemos nos apegar, a uma só realidade.


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 (Publicitário, Técnico de Informática e estudante de Filosofia)