Houve a polemica do vestido se
era dourado ou branco, ou branco ou preto. A maioria acertou e a
minoria acertou também porque chegamos a duas teorias quando nos
deparamos com essas polemicas, as pessoas veem aquilo que são
levadas a ver. Uma parte pela linguagem – porque tudo aquilo que
conhecemos temos um termo – e a teoria quântica que diz que o
observador e o objeto observado não são separados. Aliás, isso é o que
acontece quando vimos qualquer opinião, qualquer figura, qualquer
coisa que mexa com nosso conceito e a nossa mais intima maneira de
pensar.
Primeiro a linguagem, pois na
linguagem temos os termos que designamos algo como um objeto que pode
ou não, ser o objeto do nosso desejo. Algumas pessoas, por exemplo,
viram o vestido branco e azul por causa da reflexo da luz, que na
verdade, é o mais importante nessa experiencia. Por que? Vimos as
cores graças as vibrações dos fótons, porque quando a luz estava
fraca e há uma escuridão, as pessoas viram azul e branco, quando
estava mais claro, branco e dourado. Mas estávamos falando na
linguagem. No momento que chamo ou dou uma qualidade, estou dando um
termo para aquilo como se esse termo (ou nome) fosse referencia para
designar aquilo, afinal como disse Wittgenstein, o nosso mundo é
feito da nossa linguagem e dessa mesma linguagem e feito de fatos e
não de coisas. Mas voltaremos depois com isso na parte da física.
Por hora a linguagem faz parte em tudo que fazemos, tudo que somos,
tudo que desejamos e tudo que vimos e sentimos no mundo fisicamente e
sentimentalmente. Por isso o filósofo austríaco não estava errado,
de fato nosso mundo é feito de nossa linguagem e tudo que dissemos é
algo para demonstrar algo. Se pedimos maçãs vermelhas é uma
designação para algo especifico como qualidade (vermelho/cor),
quantidade (fruta/objeto). Se sei que aquilo é uma maçã é porque
muitas gerações aprenderam que aquela fruta se chama maçã – os
termos são paradigmas que fazemos sem olhar muito de onde vem ou
para quê servem – assim como a cor vermelha, mesmo, por exemplo,
que no inglês chamamos de “red”, ela continua vermelha. Na
verdade a diferença de linguagem pode dar uma noção bastante
interessante quanto a isso, porque a cor vermelha e a fruta maçã muda de nome (signo) no inglês e passa se chamar “apple red” que
seria a mesma coisa, mas em termos diferentes.
Quando passamos a dizer que o
vestido é branco e dourado, estamos dizendo que a característica do
vestido é branco e dourado, porque aprendemos o que é branco e
dourado e por aprender que só tem isso na foto, nada mais. Mas outra
pessoa está vendo preto e azul, que é o que está vendo naquele
momento, porque é o que está enxergando como algo verdadeiro e que
é um aspecto da mente. Mas como sabemos se é mesmo dourado ou azul?
Como sabemos que aquilo é mesmo preto ou branco? Porque aprendemos
que aquilo que reflete como cor tem um termo (ou signo) que dizemos
para designar um objeto ou um objetivo (qualidades são objetivas
para designar um estereótipo padrão), assim sendo, quando dissermos
que algo é dourado estamos dizendo que tudo que parece aquela cor é
dourado, então, aquela cor amarelo escuro, passa a ser dourado. O
ouro é dourado por ter essa cor, como existem também simbologias
que dizem que o dourado é a cor da sabedoria, assim como o branco
por ser uma cor suave (que são todas as cores juntas), é a cor
espiritual, a cor angelical que designa tudo que é da mesma cor,
como o leite, por exemplo. São associações que fazemos para
designar o estereótipo do branco, pois aquele vestido parece o leite
e o ouro, então é branco e dourado. Quando associamos algo azul e
preto, como a noite ou algo que vimos na escuridão da noite, então,
o preto é a escuridão que nos amedronta e o azul ali, é o que se
aproxima e não sabemos. Arrisco, talvez eu esteja errado, que são
estereótipos da nossa ancestralidade, pois uns viram uma coisa,
outros viram outra, remontando nosso campo de visão.
Não é difícil enxergar,
vendo que essas coisas tem significado para a historia e evolução
humana, que o ser humano enxerga tudo aquilo que é importante e a
importância é construída dentro dos seus valores. Aliás, voltando
ao jogo de linguagem, toda palavra expressa em sua natureza algo que
está embutido dentro do que carregamos como valores que aprendemos.
Então, se vimos o vestido branco e dourado é porque estamos vendo
já com o conceito de branco e dourado, se estamos vendo preto e
azul, é porque estamos vendo com o conceito de preto e azul. Mas na
verdade o que estamos vendo é a luz refletindo sobre o vestido e a
não luz refletir o vestido, que na essência, não existe porque nós
fazemos dele um objeto para um objetivo que é uma roupa feminina.
Eu, pessoalmente, vi apenas um vestido porque não coloquei nenhum
valor na imagem, na verdade, nem me interessei em saber a cor do
vestido. Por que? Porque os meus valores estão muito mais no que
esta além desse vestido, pois ele para mim nesse momento não
existe, não importa, não é algo que a vida minha precisa dele. Eu
não quero saber mais do que o outro, não quero saber a cor dele,
não quero me envolver aquilo que as pessoas estão condicionadas em
sempre competir. Dai vi que na verdade o vestido tinha listas
douradas, azuis e o contorno preto enquanto o resto é branco, porque
não estou na competição para saber mais ou menos, estou só vendo
uma imagem, nesse momento no agora, sou o vestido que a minha mente
faz a leitura das cores e a imagem se funde com minha realidade.
Então, o observador (eu) e o observado (objeto) são um só naquele
instante. Todos os valores, todos os conceitos, todas as crenças, se
fundem numa imagem só. Por isso que toda denuncia de injuria ou de
preconceito, temos sempre que enxergar tanto os valores quem observa,
quanto aquele que escreve ou diz.
Se uma pessoa diz que toda
pessoa tem dentes, todo mundo vai concordar porque é uma realidade
para todo mundo, mas se a mesma pessoa diz que certa etnia não tem o
dente molar e assim, são seres humanos inferiores, todos irão dizer que aquele pessoa tem um preconceito quanto aquela etnia. Na verdade,
a pessoa pode ter o direito legitimo de poder dizer aquilo e aguentar
depois as pessoas darem a sua opinião da opinião dela (a pessoa em
questão), mas que isso foi forjado dentro dos valores que essa
pessoa aprendeu e muitas vezes, não disse isso para ofender, mas fez
isso de forma natural. Ela está alienada (ignora a realidade),
daquilo que realmente é e ainda está naquilo que era ou que pode
ser, mas aquilo só é, existe naquele momento porque aquilo é o que
é e não o que pode ou não pode ser. A não aceitação de uma
realidade ou uma condição – não confundamos conformismo ou
passividade – não aceitaremos opiniões ou a realidade como ela é
sem julgar aquilo desnecessariamente ou fazer daquela realidade algo
que ela não é. É o que ocorre com qualquer fanático, seja
ideológico ou religioso, só vê aquilo que acredita ser a verdade
(a sua própria realidade). Mas como disse Jesus e outros avatares,
“conheceis a verdade e ela vos libertarás!”, ou seja, a verdade
é o agora dentro da realidade única do universo, porque a verdade
somos nós e toda nossa alma e conceito. Se vimos branco e dourado,
aquilo não é a verdade, porque são imagens já fabricadas dentro
de um conceito estereotipado que nossa sociedade fabrica.
A “verdade” é tudo que acreditamos e o que vimos, porque a
verdade quer dizer “aquilo que é real” e aquilo que é real ou
realidade, é construída dentro dos valores que nos ensinaram. Se
você é cristão, na sexta feira santa não se come carne – por
causa do sofrimento de Jesus no calvário – quem não é religioso
e nem acredita no cristianismo, só é mais um feriado qualquer.
Criamos nossa realidade naquilo que acreditamos ser a verdade, mas
verdades se dissolvem a partir de algum conceito que muda, os
paradigmas mudam, as coisas que foram discutidas já não estão mais
em voga. Então, por que ainda acreditar em verdades que não
ajudarão em nada nossas vidas? O agora é a verdade e ela nos
liberta porque não esperamos nada além daquilo que possamos prever
como realidade, aliás, muitas dessas verdades são apenas o medo do
desconhecido, medo da incerteza e medo de uma crença que não
existe. O vestido só existe porque há um termo para a vestimenta,
como há um termo para as cores e naquele momento aquela imagem nos
torna a real, a realidade da foto que estamos observando se funde com
o observador e tudo que ele enxerga é a sua própria realidade. O
branco de dourado é a cores coletivas, a verdade coletiva que muitas
vezes não existe, não é a realidade de fato. Então, a verdade só
há lá fora, quando não vimos como os outros, não nos interessamos
como os outros, não temos as regras e nem os “porquês” dos
outros. Transcendemos o vestido e vamos muito além dele, muito além
daquilo que está na imagem, do sol que bate e pode refletir cores
que não vimos, pode mostrar a nós que a realidade pode ser outra. A
pessoa pode não ser o que pensamos ou a pessoa pode nem ter reparado
que tiraram uma foto, mas a essência disso tudo é que não existe
uma realidade, mas muitas realidades em uma só e essa é a única
parte que não devemos nos apegar, a uma só realidade.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
(Publicitário, Técnico de Informática e estudante de Filosofia)