terça-feira, abril 05, 2016

O ser em Superman vs Batman (com Spollers)











Para assistir um filme não basta apenas saber da origem nos HQ (História em Quadrinhos), existe toda uma desenvoltura dentro de cada personagem que deve ser analisado numa ótica filosófica (vulgo textão), numa ótica psicológica e uma ótica ontológica. Muitos podem me perguntar: “ué Amauri, ontologia não tem a ver com filosofia? ”. Daí eu respondo: sim, tem a ver. Na verdade, os filósofos existencialistas e os filósofos pós-modernos formaram na base, bases muito solidas ontológicas (o ser que é) para definir a preocupação dentro até do IA (Inteligência Artificial). Mas ainda sim a ontologia nesse caso especifico vai muito além da filosofia, pois o amor (philian), muitas vezes, pela sabedoria esquece o ser em sua maior essência porque enxerga o ser como pressuposto de uma máquina, a existência não tem nenhum significado e as religiões que antes eram metafisicas (tá metá tá phisis, ou seja, “os que está depois da física”), ficaram cada vez mais, materialistas. Daí se comete erros primários dentro até de uma análise de filmes como esse, erros grosseiros que tem a ver com o ser e a ética (ethiké/ethos), como os erros do Nando Moura.

Para começar vamos aos fatos dos dois personagens tem em comum: existem sérios conflitos e traumas que levam Clark Kent e Bruce Wyne procurarem alter egos (o outro eu) para superar essa falta de identidade. Outro aspecto interessante é que os dois firam criados por pais adotivos (Alfred foi um pai para Bruce) e os dois são estereótipos de dupla personalidade muito bem definida que não dará margem a interpretações sobre sua verdadeira personalidade. Personalidade vem de “persona” e eram mascaras que os romanos e gregos usavam nas encenações teatrais, ou seja, cada personalidade é um ser em questão e a essência de todo ser é os valores que se aprendeu. Os valores do Bruce Wyne eram valores completamente, coletivos, pois seu pai mesmo rico, sempre investia na cidade. Mas há traços muito claros da filosofia de Rousseau no Batman (seu alter ego) misturado com filosofias orientais, talvez, herdadas quando estudou com um mestre nas artes marciais. A essência do homem é boa, o sistema que o corrompe, por isso mesmo, ele nunca matou o Coringa ou outro vilão. Mas ele se esconde nas sombras para proteger quem ele ama, o protetor, aquele que tem que fazer justiça, mas tem que proteger os seus. O interessante é que sempre o herói que usa mascara tem sérios conflitos de personalidade, ou proteção excessiva com quem ama. Num outro filme o Batman diz: “(...)usamos máscara para proteger quem nós amamos(...)”, ou seja, ninguém pode saber quem ele namora, que ele tem tal empresa e isso também é uma característica do Superman (Clark Kent). Mas umas das coisas que nuca entendi era o porquê que a diferença de um óculos poderia ocultar a verdadeira identidade do Superman/Kent. Uma hipótese é que ele muda de comportamento, Kent é atrapalhado, bobão, e se faz de ingênuo. Numa outra hipótese e muito mais oculta é que ele pode ter o poder da hipnose, ou seja, ele hipnotiza as pessoas ou pela sua aparecia, ou por causa de algum poder mental.

Outro aspecto é a moral completamente, do imperativo categórico kantiano que consiste em agir com sua máxima tal que ela possa ser usada como lei universal. Não é isso que vimos em suas histórias? Embora Bruce Wyne seja muito mais maquiavélico (os fins justificam os meios) do que o Clark Kent com sua ética de seguir a lei da filosofia socrática, onde em sua essência, nada está acima da justiça verdadeira. Podemos “surfar na maionese” nesse aspecto da justiça verdadeira que só estará nas histórias do Superman. O que é a verdade e o que seria a justiça? A verdade é a realidade dos fatos que alguns, colocam essa mesma realidade como algo inquebrável, pois a verdade é um meio de mostrar uma realidade. Verdade vem do latim VERITAS que por sua vez, veio de VERUS que quer dizer “real ou verdadeiro”, então toda verdade é a realidade, toda a realidade é uma verdade. Eu estar escrevendo esse texto é uma verdade, pois o texto existe e todos que acessam esse blog vão ler e comprovar que ele (o texto) existe. Mas não podemos constatar que a existência do Saci Pererê, por exemplo, seja uma verdade, pois não se tem nenhuma comprovação que existam Sacis por aí a fora.  Mas e se comprovarem que Sacis existem e estão na Amazônia? A verdade muda e se ela muda, junto com ela, a realidade será outra. Nietzsche dizia que não existem fatos eternos e nem verdades absolutas, pois as verdades são mutáveis e já Heráclito, filósofo pré-socrático, já dizia quinhentos anos antes de Cristo, que não existe realidades que não mudam, pois “não pisamos na mesma agua duas vezes”. Einstein só comprovou com a lei da relatividade, que toda realidade é relativa e se é relativa, as verdades ficaram liquidas.

Já justiça veio do latim JUSTITIA que quer dizer “lei, iniquidade, administração da lei” que por sua vez, veio de JUSTUS (correto, justo), que também veio de JUS (lei, correto, direito, legal).  Existe a lei natural e a lei positiva, que dará mais “tempero” ao nosso debate. A Lei Natural é aquela da moral inata dentro da sociedade, como por exemplo, “não mataras” é uma lei moral e, portanto, uma lei de Deus. Reparamos que em todas as histórias do Superman, porque além de conter um explicito imperativo categórico (dar o exemplo), estar bem ciente da sua força supra-humana, está a lei natural de fazer o bem sem quebrar a lei natural do Planeta Terra. Sendo um extraterrestre, seus pais biológicos através de gravações nos cristais que viajaram com ele, disseram que ele não deveria interferir nas leis da Terra, nem as leis naturais, nem as leis positivas (que ficou contraditório quando se soube que talvez, na verdade, ele veio destruir a Terra). No próprio filme (Batman vs Superman), Clark Kent (como Superman), mata o terrorista por causa da Lous Laine. Mas será que ele agiu para um bem particular ou um bem coletivo? A defesa é garantida na lei natural, por exemplo, um servo pode atacar um leão quando for atacado, se matar o leão escapara, se não, vira comida. Mas existe a lei positiva que é imposta pelo ESTADO que analisa os fatos para fazer um julgamento. Portanto, pela lei natural, Superman agiu certo, pela lei positiva do ESTADO, não agiu certo porque o outro era mais fraco e foi uma luta desleal.

Descobrimos que não existe verdade e existe uma justiça que depende muito das circunstâncias que essa justiça é dada. O Batman segue o positivismo da lei (o ESTADO), o Superman a lei natural (a lei moral). Dai dá para entender que o Batman desse filme pelo menos, não foi engando pelo Lex Luthor, o Lex Luthor enganou a lei positiva usando o seu poder monetário para colocar pessoas (a senadora), para enganar a todos e consequentemente, enganar o Batman. Então, não existe lógica para pensar que o Luthor tenha enganado o Batman e sim, enganou todo um sistema ao ponto que quererem lançar uma bomba atômica para matar o Superman. Esse ato utilitarista (doutrina que prega que é melhor matar poucos para um bem maior), do governo não é um ato de engodo diante de uma ameaça só ao ESTADO? O Superman pode impedir uma guerra, pode impedir um ataque ou pode exigir do ESTADO algo mais justo, vimos muito bem isso nos X-Men. Daí nosso debate se torna interessante ao ponto de enxergar que o problema não é Luthor – mesmo o porquê ele só é mais um escravo do sistema – mas o ESTADO que perde seu controle absoluto para o herói, ou seja, o herói demostra que o ESTADO não deu certo e precisa de um herói para salvar o ser humano. E, por outro lado, o ESTADO ficara completamente refém do herói, depende dele, tem medo que o herói destrua ele (o ESTADO), para fazer uma sociedade mais justa, assim como toda política suja, toda oportunidade de destruir o herói é muito bem-vinda. Por que o herói sempre é um “contra lei”? Motivos são óbvios.

Chegamos a “cereja do bolo” do filme e foi o motivo de várias críticas que na minha opinião, foram as mais vazias (coisa obvia se tratando do Nando Moura), quando o Batman está prestes a realmente acabar com o Superman, ele com o pé no pescoço do “homem de aço”, o Superman diz “Martha”. O Batman rapidamente, faz uma retrospectiva de tudo que aconteceu com a sua mãe, pois a mãe de Bruce se chamava Martha, e com uma voz de “Rei Leônidas” que agora virou Seth, diz: “Por que você disse esse nome? ” duas vezes e eis que de repente, aparece Lous Laine e diz: “É a mãe dele!”. É obvio e mais do que obvio que ele olha com rosto de Ben Affreck (ué, vocês não reclamaram na falta de comedia no filme?), e se coloca no lugar do Superman e o “morcegão” esquece seu lado legalista e passa a exercer a lei natural (moral) e vai salvar a mãe do Kent. Isso é o básico, isso é obvio e vai além de qualquer lei positiva que o ESTADO pode construir ou impor, a mãe das pessoas é algo sagrado e o Bruce Wyne sabe disso por perder a sua de modo muito estupido. Isso não é motivo para mudar de ideia e parar e se colocar no lugar dos outros? Nesse caso o Batman mando o ESTADO se fode e foi salvar a mãe do Superman, pois é uma vida e o herói “morcegão” salva vidas e nesse aspecto, na relação do Batman ter mudando de ideia, tem muito a ver com aspecto moral e no HQ não é diferente.

Se você não entra no aspecto do ser e da essência dos personagens sem muito fanatismo – assistir ao filme completamente nu das suas convicções morais e éticas dentro de qualquer coisa – fica aquilo que chamo de transe ideológico que nada tem a ver com os heróis. Sempre vi o herói acima da moral humana e tem a ver sim com a filosofia, tem a ver com o mito e o mito é algo como “se houvesse um ser acima de nós, ele seria como…”, ou seja, não é diferente do “além-do-homem” nietzschiano. Um ser que vê o mundo além da moral e usa a vontade da potência para fazer o que tem vontade de fazer, pois mesmo sendo legalistas, ou naturalistas, tanto Bruce Wyne, como Clark Kent, eles se sentem além do bem e do mal. Afinal, o que é o bem e que é o mal? Aliás, hoje em dia, várias histórias trazem esse conflito, pois o bem e o mal, são relativos e dependem da visão de quem o faz ou recebe.

Esteticamente, o filme é muito mais do Batman do que do Superman (pois Gottam tem uma noite perpetua, ou por ter sérios problemas de combustão de petróleo, ou por ser um mundo em um umbral), não tendo muita história e sim uma leve apresentação para a Liga da Justiça. Agora, a crítica da comedia acho que houve um leve engano, confundiram ironia com comedia e tem ironia sim, tanto que a parte que Luthor apresenta os dois e os dois sabem quem é quem, se você não achou graça, você não entendeu a sutil ironia da história e não leu o HQ. Se você quer rir vai assisti essa “modinha” ridícula de tudo é zumbi que isso sim é comedia, ou vai assisti comédia, pois comédia não pode ser confundida com ironia ou ação. Ou assista o Batman dos anos 60 que fazia corrida de surfe que você ri até “mijar”. Então é isso.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor. 





>>>>>>>>>>>>>>>>O_CAMINHO<<<<<<<<<<<<<