sexta-feira, dezembro 04, 2015

Somos todos fascistas?

                     




Virou moda chamar o outro de fascista não porque não concorda com a politica da esquerda – diga-se de passagem, burra – mas porque o outro xingou sem ao menos saber quem foi Mussolini. Eu ficaria com vergonha de tal gesto, mesmo o porque quem realmente sabe a vida e obra de Benito Mussolini pode concluir que ele era socialista, de não saber o que o termo quer dizer ou porque os fascistas usaram o tal termo. Fascismo vem de fascio que queria dizer algo do tipo “federação” ou “aliança” que designa algo como uma união ou aliança para todos os italianos. O problema é que para o Duce (comandante) conseguir essa “aliança” ou “federação” – mesmo o porque a Italia não era uma nação unificada e era só um monte de ducados – teve que haver muitas mortes e até mesmo, se não me engano, os mesmos planos nazistas eram o plano fascista. Viu como é bom dá uma remexida de onde vem o termo?
Acontece que a esquerda – a burra chamada de esquerdismo – adorou esse grande argumento para refutar a ideia e o ato de dar o impeachment na presidente Dilma Vana Rousseff (PT-MG), como se todos que quisessem esse impeachment fosse algo como ditador ou um bando de fascistas, sendo que, nem todo mundo o é. Se vimos o significado sem olhar o que o Mussolini fez – matar aqueles que se opunham a sua aliança – não é muito longe de querer uma Federação e nem querer honestidade na politica. Embora eu não acredite que se tenha tanta importância ter uma federacao e nem mesmo, a honestidade é um ponto forte dentro da nossa cultura, etimologicamente, o fascismo como uma aliança entre os cidadãos para querer uma moralização politica não está muito longe de ser uma vontade real. Claro, mesmo a democracia tendo uma certa falha, ele merece ser defendida como uma forma mais ou menos justa de governo, mas essa generalização que todos que querem uma moralização governamental ser chamado de fascista, acho eu, uma boa dose que nem sempre o titulo de professor é um titulo de uma pessoa que analisa aquilo que está dizendo ou escrevendo. O mais engraçado, que muitos dizem gostar de Nietzsche, chamam o outro de fascista dando um rotulo a aquele comportamento que acha ser um “golpismo” que só, como diz a constituição, é legitmo como um ato de cidadânia. Não acho que quem fará o serviço é um emaculado do espirito santo – logo Eduardo Cunha? – mas não acho que esse sentimento seja um ato puro de fascismo a moda mussoliriana (nossa, existe isso?). Isso reduz o debate ao mero bate boca.
Eu me dou no direito de não ser nem da direita, nem da esquerda e nem do PSDB (que é um caso a parte da politica hora democrática, hora liberal), porque não vejo quem apoia um pensamento além daquilo que é humano, daquilo que faz o ser humano um escravo, deva apoiar esse tipo de “ismo”. Estar acima dos valores humanos não é negar valores, mas criticar e saber o porque desses valores para poder entender a humanidade e toda a sua historia. Nunca Nietzsche colocou a Vontade da Potência como uma arma contra raças e credos, mas a vontade de potencializar aquilo que é verdadeiro dentro do humano como um valor além do homem, além daquilo que ele se tornou por apoiar valores menores. Nietzsche criou uma ponte entre o que é puro – arrisco até uma transcendencia dessa pureza – que o homem tem em seu espirito, e o verdadeiro e único valor que o homem tem na vida, que é a vontade de seguir ao encontro do fim e nesse seguir (caminho), tudo pode mudar como um rio que nunca é a mesma água. Na verdade, Nietzsche nunca deixou de ser um seguidor de Jesus e sempre valorizou esse grande pensamento jesuistico: “eu sou o caminho, a verdade e a vida”, entendendo que para trilhar esse caminho temos que entender essa verdade e entendendo essa verdade, passamos a ter a vida na sua liberdade. A religião cristã – que ai sim Nietzsche vai deixar – se apegou a valores menores porque se aparegou mais na quantidade de fieis do que a verdadeira mensagem de Jesus e ai sim, ele vai criticar Sócrates e Platão que também, na visão de Nietzsche, se apegam a esses valores menores de salvar almas e não dar a elas uma maneira de se salvarem. Aliás, isso de arrecadar fieis é um ponto muito definido do apóstolo Paulo (Saulo) e que também, vai sofrer duras criticas de Nietzsche. Então, quem gosta e ler com prazer Nietzsche deveria parar de chamar as pesssoas de fascistas, porque mesmo que você esteja defendendo a democracia ou sei lá o que se passa na sua cabeça, isso é um valor menor dentro de uma cultura ocidental que deu “cagada” (no sentido do ultra errado).
Já pensou o que o “bigodudo” iria falar para uma pessoa dessas? Iria rir e dizer: “Você leu mesmo o prefacio do Anticristo?”. Ainda tem mais, sempre tem, Nietzsche não valoriza a cultura clássica grega como a amante de corpos, mas ele exalta a certeza do grego clássico, como um ser que valoriza a sua humanidade e a cultura de mostrar que eram acima do bem e do mal. Para o grego clássico, aliás, não existia bem ou mal como conhecemos, isso é uma invenção socrática platônica. O grego helênico acreditava que a natureza humana já era condicionada ao bem e ao mal – por Zeus fazer o ser humano das cinzas dos Titãs (olha o pó de novo) – não precisava saber porque sua natureza era assim. Os deuses não eram além do ser humano, pois eram criação de algo muito maior do que eles, então, eram criação daquilo que forjou do caos a harmonia. Para Nietzsche todo “ismo”, ciência, religião e toda cultura do ressentimento ocidental – pois através de Schopenhauer conheceu o budismo e achou o budismo nobre por não esperar nenhuma redenção no futuro que o homem deve ficar no presente – era que trouxe males que nas eras classicas não existiam e nunca deveriam ser criadas. A moral cristã é a moral do ressentimento daqueles que não sabem olhar para si mesmo, uma moral que até mesmo os ateus o a seguem. Quer provas disso? O “acreditar” dele que algo não existe é o mesmo de quem acredita que existe, e essa polaridade, se apega a valores menores.
Não é à toa que Nietzsche vai dizer “o evangelho morreu na cruz”, porque a essência dos ensinamentos de Jesus, verdadeiramente, morreu com ele na cruz e quem vai ensinar, são pessoas que não entenderam ou nem ao menos, conviveram com ele que no caso, se referia a Paulo. A grosso modo, é uma doutrina de ressentidos que as duas pilastras mestras – Paulo e Pedro e ainda, Platão – tiveram sua doutrina com a raiva (assim o ódio por aquilo que é humano), de ver seu mestre (Sócrates e Jesus) morrerem injustamente e doutrinaram o que é pior na humanidade, aceitar aquele que te domina. Não é assim todo discurso do poder? Existe o bem (tudo aquilo é aceito) e o mal (tudo aquilo que não é aceito) que não passa de dois lados da mesma força mestra, girando a alienação e a dominação. Os valores menores, valores que desceram no amago do mundano, do que é fraco, do que é rastajante. Nietzsche achava que tudo que os valores humanos são fracos, são no minimo um ser que rasteja e que não enobrece o espirito, então, quando quem ler ele diz que quem discorda do governo de esquerda (o PT não é mais esquerda), de fascista, deveria rasgar seus livros de Nietzsche e ler Ziraldo que é a figura central do ressentimento.
Não vejo a esquerda somente socialista (o PV e o PSDB é centro esquerda alá americanismo) e nem vejo o fanatismo ideológico diferente do fanatismo religioso, ambos se alimentam do mesmo alimento, são alimentados pelo medo e pela insegurança. Dai o segredo de se ler e entender Nietzsche, pois o medo faz o homem acreditar que forças de fora (externas) lhe protegem e darão tudo que precisamos, mas não é bem assim, e sim, a vontade potencializada no ato quando neutralizamos o medo e a insegurança e criamos o homem além do homem, ou seja, o homem com a nobreza de um guerreiro que sabe que caminho trilhar. Não importa quem está no governo, não importa quem estará “fodendo” você de impostos e tal, mas a minha decisão de aceitar ou não isso. Não porque o “Palmito” (uma parodia do Bolsomito) disse ou o “astrologo” determinou, mas o que realmente tenho como opinião ao questionar tudo isso. Isso sim é o além homem de Nietzsche, isso sim é aquilo que não me mata me fortalece, isso sim é a morte de “deus”. A verdadeira dividade (Deus) é encontrada dentro de você, a verdade de Jesus é isso, pois o caminho transcendente é muito além disso que chamamos de politica ou religião. Isso para mim é um grande “pinico” que está mais do que cheio e precisa ser limpo, mas quem dará a grande desgarga nisso tudo? Até mesmo o Facebook virou um “pinico” onde há vários dejetos e que cansa, cansa tanto que prefiro ler um livro, pois lá só há o que um grande “pinico” tem. Os leitores de Nietzsche são mais do que isso, vão além desses pobres e ressentidos valores. O resto? O resto é apenas a humanidade.

 Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, escritor/filosofo além de publicitário e TI
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