Eu estou lendo vários
comentários sobre o massacre da revista Charlie Hebbo e vejo um
pouco de hipocrisia, tanto da parte liberal (que se coloca pra
direita), tanto quanto os socialistas (que se coloca pra esquerda).
Eu sempre tive o pensamento igual do filósofo francês Gllles
Deleuze, não existe nenhum governo de esquerda e isso é verdade,
porque ser de esquerda é mudança e nenhum governo pode mudar a
situação que obedece o interesse de muitos. Não é isso que
acontece quando partidos de esquerda tomam o poder, não se muda os
paradigmas, se coloca outra roupagem. Então não tente me convencer
que tal governo faz isso, tal governo faz aquilo que não faz e ainda
arranja os idiotas uteis para se matarem por ele. Quem em sua sã
consciência se mataria por um governo – tirando é claro o soldado
porque ele é obrigado a morrer pelo governo – que não quer saber
de você, um “zézinho ninguém” no meio do nado sendo coisa
nenhuma? Ou o sujeito é um safado que enxerga o que lhe interessa,
ou é ingenuo o bastante para enxergar algum beneficio na miséria
disfarçada em ganhos.
O que vimos é a pouca
vergonha de não se respeitar o outro, nem do lado da revista (que
pelas imagens é um “lixo”), nem por parte dos radicais que não
entenderam que podem fazer o terror, o ocidente continuará cristão
e dane-se suas metralhadoras. Mas será que Deus não é um só ou
não é isso que pregam? Pode ser uma energia sutil e não pode
interferir com a vida de ninguém, é apenas uma energia primordial,
ou existe uma grandiosidade tão infinita da existência dele que não
podemos medir com as medidas humanas. Porque somos falhos ainda em
questões de grandezas infinitas – apesar que percebo que tudo que
o ser humano não consegue medir ele coloca como infinito – porque
nossa consciência não alcança tal grandeza. Então, para mim não
interessa nem quem morre por religiões que nada explicam e nem quem
negam, porque a ciência não é detectora de toda a verdade do
universo. Nem mesmo sabe o que há em baixo do mar, muito menos, o
que existe além das fronteiras entre a vida e a morte. Não sabemos
nem em que solo está a nossa própria casa, se o Sol – após oito
minutos – vai explodir e levar todo o sistema de planetas junto com
ele, ou o núcleo da Terra esfriar e levar o planeta a deriva no
universo, ou que Marte pode escapar da sua gravidade e bater no nosso
planeta. Onde fica nossas verdades? Sinceramente, uma revista que não
respeita a cultura e crença alheira não pode existir e nem mesmo
aqueles que se acham “porta vozes” de Deus ou Alá, para dizer o
que temos ou que não temos que acreditar.
É totalmente infantil um
fazer “pirraça” para o outro como se isso fosse resolver todos
os males do mundo. Aliás, nem venha “estuprar minha consciência”
dizendo que se Deus existisse não haveria miséria, como se Deus
tivesse obrigação suprema de fazer você rico, de fazer o mundo
justo, mas ele mandou vários fazerem as mudanças. O que o ser
humano fez? Crucificou, envenenou, matou em facada, foi apedrejado,
foi morto a tiro e muito mais por causa da pobreza de espirito de
muitos e se deixou manipular por causa de poucos. O interessante é
que não há “coitado” nessa historia toda, pois os dois lados
não vão parar e o ser humano entra na crise ética, a crise ética
é a crise dos valores humanitários e a cultura superior.
A humanidade se distanciou do
“ethos” para alcançar algo que não está ao seu alcance, como o
voou de Ícaro, voou tão alto que derreteu suas asas de cera. As
“asas” são seus conceitos e sua ciência que lhe fez sair da
prisão, mas lhe fez também cair de lá de cima com suas guerras,
sua ideologias que mais são ideologias comparadas a uma ética
prostituída e pobre. Por que prostituída? Porque infelizmente, a
ética moderna e pós-moderna atende interesses diversos de
ideologias, de ideais, de crenças, de poder, de gloria e etc. Poder
de dominar? Gloria de ficar famoso? Se você tiver o poder perde a
liberdade, se você tem a gloria da fama você perde sua
individualidade e o que resta é um zumbi, um nada, um coisa nenhuma
e o que adiantou alar o que quis, entrou num buraco como os outros.
De repente, kant na sua superioridade filosófica estava certo em
dizer que a humanidade desejava a sua minoridade – não de idade e
sim, de conceitos – porque ainda não demarcamos onde começa a
minha liberdade e termina do outro e vice e versa, como uma sociedade
mais ou menos, ética. Ter opinião é uma coisa, ser idiota é outra
bem diferente.