quarta-feira, janeiro 27, 2016

Filosofia ou repetição?



Temos só papagaios que só repetem?


Numa discussão em um grupo de filosofia no Facebook, um sujeito metido a intelectual disse que o brasileiro gosta de Nietzsche, pulou de Aristóteles para Nietzsche sem perceber toda a história da filosofia. Só que ele é contra a filosofia – porque ainda acha e acredita na lenda que a filosofia só contempla e é um pensamento herdado no iluminismo que a filosofia não poderia ser só contemplativa por causa do platonismo da igreja – acha que a ciência é o melhor modo de explicar o mundo e os fenômenos da natureza. Será mesmo que a ciência é infalível para explicar fenômenos da natureza que não sabemos? Será que até na física não precisamos da física teórica para explicar os fenômenos que ainda não existe explicação? Por exemplo, Stephen Hawking em seu livro Uma Breve História do Tempo fala de Aristóteles e Arquimedes (que para mim era um filosofo também), nas suas colocações sobre o desenvolver da física que não está longe da verdade. O fato de acreditar que uma coisa não tem nada a ver com a outra já mostra a ignorância que existe entre os brasileiros que ainda tem o pensamento que existe diferença entre a ciência e a filosofia, reles engano, uma não existe sem a outra.

Voltamos ao caso de Nietzsche – mesmo que eu quisesse achar em ensinar as distinções, não iriam mesmo entender – que há vários erros. Primeiro que não existe uma cultura na nossa sociedade brasileira para ler filosofia, nossa primeira universidade só existiu por causa do rei de Portugal Dom João VI, nossas escolas só foram construídas graças aos jesuítas que ensinavam e catequizavam, mas foi no século XX que as escolas tiveram um ar de “igualdade” aqui no Brasil. Porém nunca existiu uma igualdade verdadeira aqui no Brasil que nós possamos nos orgulhar, nos fazer valer de uma educação de verdade. Não é à toa que o recorde de vendas de livros fica para a youtubber Kéfera, porque nossa educação sempre foi a do “mais fácil”, estamos numa geração que acostumou ler frases do Twitter. Com essa cultura de frases, aconteceu que a juventude começou só lendo frases soltas, mas isso não quer dizer que você compreende o autor por frases soltas e sim, uma parte desse pensamento. O ídolo na verdade do brasileiro não é Nietzsche, não se enganem, é o Wesley Safadão e outros cantores que não precisam pensar para entender a letra da música, o povo tem preguiça de pensar. Mas também é culpa da educação falha que nosso povo tem de não estimular a leitura dês de cedo e isso, minha mãe sempre fez comigo e com meus irmãos.

Simples assim. Jogar toda a culpa na escola não resolve muita coisa, porque vamos criar uma sociedade que não entendem nem mesmo as letras das músicas em questão. Quem entendeu, por exemplo, que Wesley Safadão está chamando a maioria dos brasileiros de safados? Será que perceberam que nosso povo gosta de ser traído por falar tanto de traição? Temos uma cultura de sempre levar vantagem naquilo que não tem nem o porquê levar vantagem, por isso não se gosta de nada sobre a ética, nada sobre pontos e valores importantes para sermos no mínimo ser um povo civilizado e não querer levar vantagem em cima do outro. Eu, para dar um exemplo, esqueci no banheiro de um shopping uma sacola com shampoo e um remédio de caspa e voltei lá e não estava.  Quem iria querer um shampoo e um remédio de caspa para levar embora? Mesmo o porquê, existe um mito que assim você vai levar vantagem em cima do outro, mas apenas só vai alimentar a corrupção que já é tão gritante dentro do país. Não há interesse também numa leitura, por acharem que quem ler demais só fica em um mundo que não condiz a realidade.

Mas o que realmente é a realidade? Como saber a realidade se não se sabe nem o que uma música significa? A realidade não é ser traído, mesmo o porquê quem trai não ama e muito menos ama a si mesmo, a realidade não é só farra e bagunça, realidade não é uma liberdade que só você acredita. Realidade é muito mais do que um amontoado de dinheiro – o grande mal do mundo – a realidade é muito além do mundo que nos rodeia, a realidade é a transcendência da realidade que nos querem colocar como real. Daí entra a filosofia, mesmo num ponto político (que as pessoas acreditam ser realidade), entra a parte ética e moral da filosofia que é um ponto que cada ser humano deveria ou deve ler. Se você é religioso existe a filosofia dentro da religião que é a teologia que estuda o que é Deus. Inclusive, o certo é o “que é”, porque se colocarmos “quem é” acaba colocando uma personalidade como algo pessoal, mas nós não colocamos personalidade em Deus porque ele á atemporal (além do tempo e o espaço). E outra coisa, ninguém nem ao menos ler sobre o fundador da sua própria religião para saber quem era e porque fundou e pode crer, aprendi muito mais do cristianismo em revistas satânicas do que em revistas propriamente cristãs. Por que isso? Proselitismo dentro de qualquer religião. Na verdade, não existe uma só verdade, existem teorias e coisas que podemos especular e não ter certeza que aquilo é a verdade incontestável.

Nossa visão filosófica ainda é uma visão religiosa demais para sair do cunho metafisico e quando digo religiosa, digo até no pensamento ateu ou agnóstico há religiosidade de acreditar que aquilo é verdade. O que importa se existe ou não Deus e a espiritualidade para quem não acredita que exista? O que importa provar ou não a existência de uma consciência criadora? Claro que não podemos provar, mas podemos argumentar que sem uma consciência criadora não poderia se harmonizar a matéria, não se poderia dar ao universo uma unidade que nos faz enxergar a realidade onde vivemos. Lembramos a passagem bíblica – sem ir muito no campo teológico – que no começo era a escuridão e Deus disse “Haja luz”, ou seja, a tomada de consciência da realidade que nos cerca. Hoje se trabalha com a hipótese que o universo começou num grande buraco negro em um outro universo e que, por razões desconhecidas porque ainda os cientistas não sabem a natureza dos buracos negros, existe uma conexão entre os universos pelos buracos negros. Aqui em qualquer área cientifica, porque infelizmente não temos cientistas e sim professores de ciência assim como não temos filósofos e sim professores de filosofia, ainda estamos embolsando um pensamento sobre o big bang e os que gostam dessa área, por termos um ensino médio muito ruim, não sabem nem argumentar. Aliás, aquele “grande” pensamento que “nem religião e nem política se discute” é um pensamento de quem não tem argumento para defender seu ponto de vista. Quem consegue defender que Deus existe sem ir no escopo religioso? É muita ingenuidade achar que defender um lado a verdade vai prevalecer, pois não há verdades absolutas e nem fatos eternos, porque a vida se renova a cada instante.

Seja em qualquer área que possamos ter uma discussão, não temos estudos o bastante para argumentar. Um biólogo brasileiro, por exemplo, iria ser massacrado por um Richard Dawkins (mesmo eu não gostando dele tenho que reconhecer seu trabalho na área de biologia), porque temos um ensino muito fraco e pouco atualizado. Na área de filosofia, os jovens acabam rechaçando a filosofia porque ficam ensinando a história da filosofia, o pensamento já produzido, não se coloca o aluno para pensar por motivos políticos óbvios. E nem tem a ver com direita ou esquerda, tem a ver com a cultura do coronelismo que ainda impera aqui. O moralismo hipócrita, o esquerdismo hipócrita, nada vai fazer melhorar do que separar uma coisa da outra, ou seja, ser um ser pensante nada tem a ver com um ser que escolhe um lado. Então, não interessa se você é de direita ou de esquerda, não interessa se você defende a existência ou não de Deus, você continua um escravo e os escravos sempre servirão, como dizia o mago Alester Crowley. Se somos escravos de ideologias ou religiões, não podemos nunca ter pensadores porque sempre vão tender para um lado, se tender por um lado, acaba sendo um ato de escravidão. Então, não temos filósofos verdadeiros porque não temos um pensamento próprio, se devo ter uma leitura de qualquer filosofo, eu tenho que ser catedrático sem sai fora o que a maioria nos interpreta. Isso não é ser sistemático como os religiosos são? Fora que leem tanto Nietzsche e é tanto dogmático que chama de fascista quem descorda do que diz, se diz filosofo e é um astrólogo que ainda acha que o partido do governo quer dominar o mundo (fora que acha que a corrupção só está dentro de um só partido), outro que quer desbanalizar o banal e banaliza a filosofia do que acha que ela é (se discordar vai ser bloqueado), fora que você acha aulas de filosofia que o professor parece apresentador de programa infantil. Como vamos ter um pensamento filosófico assim? Como vamos querer estudar os pensadores se nem ensinar o básico sabem? Nesse cenário estamos e pode ter certeza, com o ensino que temos, por muito tempo vamos ficar.


Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, escritor e filosofo.