Temos só papagaios que só repetem? |
Numa discussão em um grupo de filosofia no
Facebook, um sujeito metido a intelectual disse que o brasileiro gosta de
Nietzsche, pulou de Aristóteles para Nietzsche sem perceber toda a história da
filosofia. Só que ele é contra a filosofia – porque ainda acha e acredita na
lenda que a filosofia só contempla e é um pensamento herdado no iluminismo que
a filosofia não poderia ser só contemplativa por causa do platonismo da igreja –
acha que a ciência é o melhor modo de explicar o mundo e os fenômenos da
natureza. Será mesmo que a ciência é infalível para explicar fenômenos da
natureza que não sabemos? Será que até na física não precisamos da física
teórica para explicar os fenômenos que ainda não existe explicação? Por
exemplo, Stephen Hawking em seu livro Uma Breve História do Tempo fala de
Aristóteles e Arquimedes (que para mim era um filosofo também), nas suas
colocações sobre o desenvolver da física que não está longe da verdade. O fato
de acreditar que uma coisa não tem nada a ver com a outra já mostra a
ignorância que existe entre os brasileiros que ainda tem o pensamento que
existe diferença entre a ciência e a filosofia, reles engano, uma não existe
sem a outra.
Voltamos ao caso de Nietzsche – mesmo que eu
quisesse achar em ensinar as distinções, não iriam mesmo entender – que há
vários erros. Primeiro que não existe uma cultura na nossa sociedade brasileira
para ler filosofia, nossa primeira universidade só existiu por causa do rei de
Portugal Dom João VI, nossas escolas só foram construídas graças aos jesuítas
que ensinavam e catequizavam, mas foi no século XX que as escolas tiveram um ar
de “igualdade” aqui no Brasil. Porém nunca existiu uma igualdade verdadeira
aqui no Brasil que nós possamos nos orgulhar, nos fazer valer de uma educação
de verdade. Não é à toa que o recorde de vendas de livros fica para a youtubber
Kéfera, porque nossa educação sempre foi a do “mais fácil”, estamos numa
geração que acostumou ler frases do Twitter. Com essa cultura de frases,
aconteceu que a juventude começou só lendo frases soltas, mas isso não quer
dizer que você compreende o autor por frases soltas e sim, uma parte desse
pensamento. O ídolo na verdade do brasileiro não é Nietzsche, não se enganem, é
o Wesley Safadão e outros cantores que não precisam pensar para entender a
letra da música, o povo tem preguiça de pensar. Mas também é culpa da educação
falha que nosso povo tem de não estimular a leitura dês de cedo e isso, minha
mãe sempre fez comigo e com meus irmãos.
Simples assim. Jogar toda a culpa na escola
não resolve muita coisa, porque vamos criar uma sociedade que não entendem nem
mesmo as letras das músicas em questão. Quem entendeu, por exemplo, que Wesley
Safadão está chamando a maioria dos brasileiros de safados? Será que perceberam
que nosso povo gosta de ser traído por falar tanto de traição? Temos uma
cultura de sempre levar vantagem naquilo que não tem nem o porquê levar
vantagem, por isso não se gosta de nada sobre a ética, nada sobre pontos e
valores importantes para sermos no mínimo ser um povo civilizado e não querer
levar vantagem em cima do outro. Eu, para dar um exemplo, esqueci no banheiro
de um shopping uma sacola com shampoo e um remédio de caspa e voltei lá e não
estava. Quem iria querer um shampoo e um
remédio de caspa para levar embora? Mesmo o porquê, existe um mito que assim
você vai levar vantagem em cima do outro, mas apenas só vai alimentar a
corrupção que já é tão gritante dentro do país. Não há interesse também numa
leitura, por acharem que quem ler demais só fica em um mundo que não condiz a
realidade.
Mas o que realmente é a realidade? Como saber
a realidade se não se sabe nem o que uma música significa? A realidade não é
ser traído, mesmo o porquê quem trai não ama e muito menos ama a si mesmo, a
realidade não é só farra e bagunça, realidade não é uma liberdade que só você
acredita. Realidade é muito mais do que um amontoado de dinheiro – o grande mal
do mundo – a realidade é muito além do mundo que nos rodeia, a realidade é a
transcendência da realidade que nos querem colocar como real. Daí entra a
filosofia, mesmo num ponto político (que as pessoas acreditam ser realidade),
entra a parte ética e moral da filosofia que é um ponto que cada ser humano
deveria ou deve ler. Se você é religioso existe a filosofia dentro da religião
que é a teologia que estuda o que é Deus. Inclusive, o certo é o “que é”,
porque se colocarmos “quem é” acaba colocando uma personalidade como algo
pessoal, mas nós não colocamos personalidade em Deus porque ele á atemporal
(além do tempo e o espaço). E outra coisa, ninguém nem ao menos ler sobre o
fundador da sua própria religião para saber quem era e porque fundou e pode
crer, aprendi muito mais do cristianismo em revistas satânicas do que em
revistas propriamente cristãs. Por que isso? Proselitismo dentro de qualquer
religião. Na verdade, não existe uma só verdade, existem teorias e coisas que
podemos especular e não ter certeza que aquilo é a verdade incontestável.
Nossa visão filosófica ainda é uma visão religiosa
demais para sair do cunho metafisico e quando digo religiosa, digo até no
pensamento ateu ou agnóstico há religiosidade de acreditar que aquilo é
verdade. O que importa se existe ou não Deus e a espiritualidade para quem não acredita
que exista? O que importa provar ou não a existência de uma consciência criadora?
Claro que não podemos provar, mas podemos argumentar que sem uma consciência criadora
não poderia se harmonizar a matéria, não se poderia dar ao universo uma unidade
que nos faz enxergar a realidade onde vivemos. Lembramos a passagem bíblica –
sem ir muito no campo teológico – que no começo era a escuridão e Deus disse “Haja
luz”, ou seja, a tomada de consciência da realidade que nos cerca. Hoje se
trabalha com a hipótese que o universo começou num grande buraco negro em um
outro universo e que, por razões desconhecidas porque ainda os cientistas não sabem
a natureza dos buracos negros, existe uma conexão entre os universos pelos
buracos negros. Aqui em qualquer área cientifica, porque infelizmente não temos
cientistas e sim professores de ciência assim como não temos filósofos e sim
professores de filosofia, ainda estamos embolsando um pensamento sobre o big
bang e os que gostam dessa área, por termos um ensino médio muito ruim, não sabem
nem argumentar. Aliás, aquele “grande” pensamento que “nem religião e nem política
se discute” é um pensamento de quem não tem argumento para defender seu ponto
de vista. Quem consegue defender que Deus existe sem ir no escopo religioso? É muita
ingenuidade achar que defender um lado a verdade vai prevalecer, pois não há verdades
absolutas e nem fatos eternos, porque a vida se renova a cada instante.
Seja em qualquer área que possamos ter uma discussão,
não temos estudos o bastante para argumentar. Um biólogo brasileiro, por
exemplo, iria ser massacrado por um Richard Dawkins (mesmo eu não gostando dele
tenho que reconhecer seu trabalho na área de biologia), porque temos um ensino
muito fraco e pouco atualizado. Na área de filosofia, os jovens acabam rechaçando
a filosofia porque ficam ensinando a história da filosofia, o pensamento já produzido,
não se coloca o aluno para pensar por motivos políticos óbvios. E nem tem a ver
com direita ou esquerda, tem a ver com a cultura do coronelismo que ainda
impera aqui. O moralismo hipócrita, o esquerdismo hipócrita, nada vai fazer
melhorar do que separar uma coisa da outra, ou seja, ser um ser pensante nada
tem a ver com um ser que escolhe um lado. Então, não interessa se você é de
direita ou de esquerda, não interessa se você defende a existência ou não de
Deus, você continua um escravo e os escravos sempre servirão, como dizia o mago
Alester Crowley. Se somos escravos de ideologias ou religiões, não podemos
nunca ter pensadores porque sempre vão tender para um lado, se tender por um lado,
acaba sendo um ato de escravidão. Então, não temos filósofos verdadeiros porque
não temos um pensamento próprio, se devo ter uma leitura de qualquer filosofo,
eu tenho que ser catedrático sem sai fora o que a maioria nos interpreta. Isso não
é ser sistemático como os religiosos são? Fora que leem tanto Nietzsche e é
tanto dogmático que chama de fascista quem descorda do que diz, se diz filosofo
e é um astrólogo que ainda acha que o partido do governo quer dominar o mundo
(fora que acha que a corrupção só está dentro de um só partido), outro que quer
desbanalizar o banal e banaliza a filosofia do que acha que ela é (se discordar
vai ser bloqueado), fora que você acha aulas de filosofia que o professor
parece apresentador de programa infantil. Como vamos ter um pensamento filosófico
assim? Como vamos querer estudar os pensadores se nem ensinar o básico sabem? Nesse
cenário estamos e pode ter certeza, com o ensino que temos, por muito tempo
vamos ficar.
Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, escritor e
filosofo.