sábado, maio 25, 2019

Capacitismo: quartéis das cadeiras de rodas e os charlatões do cloro






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Amauri Nolasco Sanches Junior

O Brasil não é um país para principiantes.

Tom Jobim

Estar no Brasil já não é para amadores, parafraseando Tom Jobim, ainda mais quando nós somos pessoas com deficiência. Quando você tem alguma deficiência as pessoas começam a te olhar como uma pessoa a parte da sociedade e isso é ilógico, pois, o silogismo de Aristóteles mostra que logicamente somos humanos. Somos consumidores e como consumidores pagamos impostos. Sim. Podemos ser isentos do imposto de renda – salário não seria renda, numa forma mais radical de pensamento econômico – mas, não somos isentos quando compramos roupas ou outros produtos.
Quando temos uma deficiência física – a auditiva também pode se enquadrar nesse patamar – temos que ter aparelhos para se locomover. As deficiências físicas mais severas são aquelas que precisam de cadeiras de rodas, como a paralisia cerebral (as severas e as que não conseguiram recuperar um pouco de equilíbrio), a paraplegia e a tetraplegia (depende aonde a lesão aconteceu), a paralisia infantil e o mielo (no mesmo caso da paraplegia, depende onde a lesão ocorre). As cadeiras de rodas de vários modelos, a mais fajuta que não dura meia hora custa em torno de R$ 200,00, já uma Ortobrás, Fredoom e etc, custa (a manual) em torno de R$ 1.200,00 ou mais, depende do modelo. Uma motorizada igual à minha – que me foi fornecida através do SUS – uma Compact 13 da Fredoom, custa em torno de R$ 8.345,90 que para a Prefeitura que compra bastante vária o preço (sabemos da história, né?).
Até ai, tudo bem. O problema é depois quando vamos trocar alguma peça que não é barata, um joistick custa em torno de mil reais (isso mesmo, a manutenção é cara). A roda dianteira de uma cadeira igual à minha motorizada custa em torno de R$ 140, 00 reais cada uma e a traseira R$ 250,00 cada uma. A questão é que os mesmos pneus que são das cadeiras motorizadas, são os mesmos de carrinhos industriais (para carregar os produtos do almoxarifado até a loja ou o local de produção), que custam em torno de R50,00 ou sessenta. Acontecem que eles fazem o parafuso único ou o rolamento único, para exatamente, você não comprar peças alternativas. As lojas alegam que os impostos são muito altos, porém, quando você olha os pneus dos carrinhos industriais pagam o mesmo imposto. Onde está a diferença? Misterioso empresas de cadeiras de rodas ficarem dizendo que pagam impostos altos, porém, empresas que usam e vendem a mesma peça vendem mais barato?
Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, custam muito caro e muitas vezes, não valem o que custam. Fora que o custo de uma cadeira motorizada, muitas vezes, sai bem mais caro do que um triciclo que custa bem menos (dependendo da marca e de onde você compra). O que percebo é que na maioria das vezes, as pessoas não sabem cobrar ou cobram qualquer valor, pois, é uma necessidade e as pessoas não podem ficar sem uma cadeira de rodas. Outra coisa tem a ver com o segmento que não sabe em que direito devem se apoiar, porque existem prioridades muito mais urgentes do que outras.
Podemos pensar na seguinte pergunta: o que é melhor, você acessibilizar uma calçada ou acessibilizar um aeroporto? O que é melhor, isentar o IPVA de um carro que você só vai andar na rua ou isentar impostos de aparelhos e da cadeira de rodas que só vamos andar se tivermos uma? Pois, se não tiver carro, temos transportes públicos diversos, mas, se não tivemos uma cadeira de rodas, não podemos nem ir ao banheiro. A questão do ESTADO através do SUS ficar disponibilizando esse tipo de aparelhagem, não isenta de lutarmos pelo barateamento das peças e da mesma aparelhagem. Mesmo o porquê. temos extrema necessidade de uso dessa aparelhagem e só poucos fazem aqui no Brasil (por que será, heim?). Mas, em questões de prioridades o segmento das pessoas com deficiência é muito estranho, pois, lutaram muito mais pelas cotas de pessoas com deficiência nas empresas do que lutaram para ter cotas em universidades.
De uma forma bem pratica e direta eu posso dizer que existem muitas pessoas com deficiência dentro do segmento que está envolvido com essas indústrias, são representantes delas e sabem seduzir aqueles que não podem ter cadeira de rodas de 3 mil reais ou mais. Parecer que temos a liberdade de escolher os aparelhos que queremos, os preços que desejamos ou trabalharmos onde queremos. Isso não é verdade. Porque, para começar, as empresas dos “almofadinhas” que se dizem conservadores – que na verdade não deixam de ir a zona e o Brasil é o único país do mundo que dono de puteiro é conservador – nem gostam de contratar cadeirantes e qualquer cadeirante contratado, posso garantir, que não tem curso universitário. Ou, também, tem gente lá indicando o cara.
Esses “paladinos da inclusão” que dizem que nas empresas não existem preconceito e sim, preconceito de incompetência se esquecem que devemos sempre alimentar a simpatia e a empatia por todos que ainda não conseguiram emprego. Afinal, existem vários paraplégicos e tetraplégicos que querem nos ensinar como ser deficiente, sendo que, a deficiência é uma condição para nós os congênitos, muito mais resolvida. Mas, o que esperar deses “paladinos da inclusão” que além de cagarem regras, ainda acham que prioridade é pegar avião e ir para a praia? Nem vou falar em acessibilizar casas de prostituição, pois, acho que quem paga para transar é um mal resolvido com seu “bilau”.
Mas eu não acabei – lembra que o Brasil não é para amadores? —além disso tudo e mais outras coisas, a saúde e a reabilitação no Brasil é péssima. Além das órteses e próteses serem extremamente caras, o SUS disponibiliza dinheiro para esses aparelhos que não são fornecidos e demoram demais para se fornecer. Centro de Reabilitações não sabem construir rampas – como onde eu faço fisioterapia – não sabem que a mulher com deficiência é mulher como as outras e tem que ter ginecologista (como no caso do “depende de nós”). Isso mesmo, se a visão da sociedade era capacitista de nos olharem como coitados ou seres inferiores – existem deficiência que podem ter sido criadas para mutações dentro da evolução humana – ainda vem o Teleton e piora ainda mais a visão capacitista e desumana que impera num país atrasado e incapaz.
Dentro dessa visão existem os charlatões que ficam inventando formulas mágicas e remédios para curarem coisas que não vai ter cura. Eu, dentro do meu ceticismo, não acredito nem em célula-tronco, não quero cadeiras motorizadas que me colocam em pé e não acredito no MMS na cura do autismo.
O MMS – que em português fica algo como “Solução Mineral Milagrosa” - é uma solução aquosa composta de 28% de hipoclorito de sódio, que seria um tóxico químico muito conhecido por causar efeitos fatais de insuficiência renal e é usado para destilar águas. Também, esse produto altamente tóxico, é usado frequentemente em desinfetantes e alvejantes (é o que deixa sua roupa limpa). Está bem claro nas instruções do produto que ele deve ser misturado a uma solução de ácido cítrico, o que vai produzir o dióxido de cloro, seria um potente agente oxidante que é utilizado no tratamento da água.
Várias mães vem utilizando o produto para curar o autismo mesmo com esses alertas, mais ainda, com a jornalista Andréa Werner que fez esse alerta. Ela é mãe do pequeno Teo de 10 anos que tem autismo. Ele disse que várias mães começão a dar esse produto graças a um livro de uma norte-americana, que foi retirado de circulação, que incentivava o produto. Além de muitos deficientes passarem no vexatório de ficarem aguentando muitos pastores querendo curar a sua deficiência, ainda, existem charlatões e indústrias inteiras que querem vender uma cura que não existe. As deficiências – pelo menos a maior parte delas – não existe cura. Aceita que dói menos e vamos cada vez mais, lutar para temos uma vida digna sem curas milagrosas. Assim, vamos ter que matar um leão por dia, mas, a pele desse leão, podemos fazer um casaco bastante gostoso.