Amauri Nolasco Sanches Junior
O Brasil não é um país para principiantes.
Tom Jobim
Estar no Brasil já não é para
amadores, parafraseando Tom Jobim, ainda mais quando nós somos
pessoas com deficiência. Quando você tem alguma deficiência as
pessoas começam a te olhar como uma pessoa a parte da sociedade e
isso é ilógico, pois, o silogismo de Aristóteles mostra que
logicamente somos humanos. Somos consumidores e como consumidores
pagamos impostos. Sim. Podemos ser isentos do imposto de renda –
salário não seria renda, numa forma mais radical de pensamento
econômico – mas, não somos isentos quando compramos roupas ou
outros produtos.
Quando temos uma deficiência física
– a auditiva também pode se enquadrar nesse patamar – temos que
ter aparelhos para se locomover. As deficiências físicas mais
severas são aquelas que precisam de cadeiras de rodas, como a
paralisia cerebral (as severas e as que não conseguiram recuperar um
pouco de equilíbrio), a paraplegia e a tetraplegia (depende aonde a
lesão aconteceu), a paralisia infantil e o mielo (no mesmo caso da
paraplegia, depende onde a lesão ocorre). As cadeiras de rodas de
vários modelos, a mais fajuta que não dura meia hora custa em torno
de R$ 200,00, já uma Ortobrás, Fredoom e etc, custa (a manual) em
torno de R$ 1.200,00 ou mais, depende do modelo. Uma motorizada igual
à minha – que me foi fornecida através do SUS – uma Compact 13
da Fredoom, custa em torno de R$ 8.345,90 que para a Prefeitura que
compra bastante vária o preço (sabemos da história, né?).
Até ai, tudo bem. O problema é
depois quando vamos trocar alguma peça que não é barata, um
joistick custa em torno de mil reais (isso mesmo, a manutenção é
cara). A roda dianteira de uma cadeira igual à minha motorizada
custa em torno de R$ 140, 00 reais cada uma e a traseira R$ 250,00
cada uma. A questão é que os mesmos pneus que são das cadeiras
motorizadas, são os mesmos de carrinhos industriais (para carregar
os produtos do almoxarifado até a loja ou o local de produção),
que custam em torno de R50,00 ou sessenta. Acontecem que eles fazem o
parafuso único ou o rolamento único, para exatamente, você não
comprar peças alternativas. As lojas alegam que os impostos são
muito altos, porém, quando você olha os pneus dos carrinhos
industriais pagam o mesmo imposto. Onde está a diferença?
Misterioso empresas de cadeiras de rodas ficarem dizendo que pagam
impostos altos, porém, empresas que usam e vendem a mesma peça
vendem mais barato?
Cadeiras de rodas manuais e
motorizadas, custam muito caro e muitas vezes, não valem o que
custam. Fora que o custo de uma cadeira motorizada, muitas vezes,
sai bem mais caro do que um triciclo que custa bem menos (dependendo
da marca e de onde você compra). O que percebo é que na maioria das
vezes, as pessoas não sabem cobrar ou cobram qualquer valor, pois,
é uma necessidade e as pessoas não podem ficar sem uma cadeira de
rodas. Outra coisa tem a ver com o segmento que não sabe em que
direito devem se apoiar, porque existem prioridades muito mais
urgentes do que outras.
Podemos pensar na seguinte pergunta:
o que é melhor, você acessibilizar uma calçada ou acessibilizar um
aeroporto? O que é melhor, isentar o IPVA de um carro que você só
vai andar na rua ou isentar impostos de aparelhos e da cadeira de
rodas que só vamos andar se tivermos uma? Pois, se não tiver carro,
temos transportes públicos diversos, mas, se não tivemos uma
cadeira de rodas, não podemos nem ir ao banheiro. A questão do
ESTADO através do SUS ficar disponibilizando esse tipo de
aparelhagem, não isenta de lutarmos pelo barateamento das peças e
da mesma aparelhagem. Mesmo o porquê. temos extrema necessidade de
uso dessa aparelhagem e só poucos fazem aqui no Brasil (por que
será, heim?). Mas, em questões de prioridades o segmento das
pessoas com deficiência é muito estranho, pois, lutaram muito mais
pelas cotas de pessoas com deficiência nas empresas do que lutaram
para ter cotas em universidades.
De uma forma bem pratica e direta eu
posso dizer que existem muitas pessoas com deficiência dentro do
segmento que está envolvido com essas indústrias, são
representantes delas e sabem seduzir aqueles que não podem ter
cadeira de rodas de 3 mil reais ou mais. Parecer que temos a
liberdade de escolher os aparelhos que queremos, os preços que
desejamos ou trabalharmos onde queremos. Isso não é verdade.
Porque, para começar, as empresas dos “almofadinhas” que se
dizem conservadores – que na verdade não deixam de ir a zona e o
Brasil é o único país do mundo que dono de puteiro é conservador
– nem gostam de contratar cadeirantes e qualquer cadeirante
contratado, posso garantir, que não tem curso universitário. Ou,
também, tem gente lá indicando o cara.
Esses “paladinos da inclusão”
que dizem que nas empresas não existem preconceito e sim,
preconceito de incompetência se esquecem que devemos sempre
alimentar a simpatia e a empatia por todos que ainda não conseguiram
emprego. Afinal, existem vários paraplégicos e tetraplégicos que
querem nos ensinar como ser deficiente, sendo que, a deficiência é
uma condição para nós os congênitos, muito mais resolvida. Mas,
o que esperar deses “paladinos da inclusão” que além de cagarem
regras, ainda acham que prioridade é pegar avião e ir para a praia?
Nem vou falar em acessibilizar casas de prostituição, pois, acho
que quem paga para transar é um mal resolvido com seu “bilau”.
Mas eu não acabei – lembra que o
Brasil não é para amadores? —além disso tudo e mais outras
coisas, a saúde e a reabilitação no Brasil é péssima. Além das
órteses e próteses serem extremamente caras, o SUS disponibiliza
dinheiro para esses aparelhos que não são fornecidos e demoram
demais para se fornecer. Centro de Reabilitações não sabem
construir rampas – como onde eu faço fisioterapia – não sabem
que a mulher com deficiência é mulher como as outras e tem que ter
ginecologista (como no caso do “depende de nós”). Isso mesmo, se
a visão da sociedade era capacitista de nos olharem como coitados ou
seres inferiores – existem deficiência que podem ter sido criadas
para mutações dentro da evolução humana – ainda vem o Teleton e
piora ainda mais a visão capacitista e desumana que impera num país
atrasado e incapaz.
Dentro dessa visão existem os
charlatões que ficam inventando formulas mágicas e remédios para
curarem coisas que não vai ter cura. Eu, dentro do meu ceticismo,
não acredito nem em célula-tronco, não quero cadeiras motorizadas
que me colocam em pé e não acredito no MMS na cura do autismo.
O MMS – que em português fica
algo como “Solução Mineral Milagrosa” - é uma solução aquosa
composta de 28% de hipoclorito de sódio, que seria um tóxico
químico muito conhecido por causar efeitos fatais de insuficiência
renal e é usado para destilar águas. Também, esse produto
altamente tóxico, é usado frequentemente em desinfetantes e
alvejantes (é o que deixa sua roupa limpa). Está bem claro nas
instruções do produto que ele deve ser misturado a uma solução de
ácido cítrico, o que vai produzir o dióxido de cloro, seria um
potente agente oxidante que é utilizado no tratamento da água.
Várias mães vem utilizando o
produto para curar o autismo mesmo com esses alertas, mais ainda, com
a jornalista Andréa Werner que fez esse alerta. Ela é mãe do
pequeno Teo de 10 anos que tem autismo. Ele disse que várias mães
começão a dar esse produto graças a um livro de uma
norte-americana, que foi retirado de circulação, que incentivava o
produto. Além de muitos deficientes passarem no vexatório de
ficarem aguentando muitos pastores querendo curar a sua deficiência,
ainda, existem charlatões e indústrias inteiras que querem vender
uma cura que não existe. As deficiências
– pelo menos a maior parte delas – não existe cura.
Aceita que dói menos e vamos cada vez mais, lutar para temos uma
vida digna sem curas milagrosas. Assim, vamos ter que matar um leão
por dia, mas, a pele desse leão, podemos fazer um casaco bastante
gostoso.