quarta-feira, março 27, 2024

ÉTICA BRASILEIRA: POLÍTICA, FUTEBOL E POVO

 






Não se sabe o porquê, os povos têm fascínio pela mentira. 

Léo da Silva Alves




O Brasil foi fundado por pessoas que queriam enriquecer e depois ir embora para onde vieram e, isso, está em qualquer livro de história. A parte da colonização ibérica - diferente da colonização inglesa e francesa - sempre teve um ar de não pertencimento no lugar onde estavam. Sempre foi um período “provisório” e a qualquer momento, poderiam voltar com mais posses. O grande problema é que nem sempre isso acontecia, pois, ou os homens ficavam por causa de nativas locais (como também aconteceu com colonizações das outras nações) ou morriam picados por algum animal peçonhento. Sobre as nativas locais, poderíamos dizer que isso incomodou e muito a metrópole e os governadores locais (os donos das capitanias) e famílias e mulheres portuguesas eram trazidas. 

O Brasil foi criado sempre com mitos e uma forma de ver a realidade através de formas subjetivas, nunca gostou de pessoas que fossem contra suas ideias. Mataram, torturaram e condenaram - ao longo de toda nossa história - porque pensavam diferente ou que tinham religiões diferentes. Parece que não tinha nenhuma lógica uma pessoa não ser cristã, deveria (para ser civilizada) aceitar Jesus como seu salvador. Um parênteses muito importante, porque Jesus não obrigou ninguém a se converter e seguir ele, não faz nenhum sentido. Mas, o cristianismno catolico (apostolico romano), foi calcado nas entranhas no império romano e herdou sua gênese dominadora. Portugal, além de ser uma nação ainda medieval e feudal quando encontrou o Brasil, era católico ao ponto de expulsar os judeus do seu território (Espinosa que o diga). Era uma nação que não queria comprar mais as especiarias asiáticas (leia-se indianas) nos mercadores da Itália. 

Não só a Espanha, mas Portugal também não queria mais ser explorada e desenvolveu a “vantagem”. O pensamento vantajoso seria se destacar sobre as outras nações e ter mais colônias onde se poderia ter recursos sem ao menos pagar por isso. O Brasil - como outras colônias portuguesas - não era uma colônia de ser uma extensão do território portugues, mas um território que a nação lusitana poderia buscar recursos para seus gastos. Dentro dessa história toda, poderíamos dizer que o Brasil sempre foi uma nação disputada pelo estrangeiro e Portugal sempre teve que defender sua “galinha dos ovos de ouro”. 

O que interessa aqui é a questão: e a construção da ética e da moral dentro do Brasil? O “jeitinho brasileiro” nasce como uma solução por causa da distância entre as colônias e a capital (ou metrópole) que não poderia fiscalizar tudo. Nasce o “santo do pau oco” porque se escondia ouro dentro de estátuas de santos que não eram fiscalizadas, ou que existiam a lei muito mais amena para quem tinha mais posses. Sempre foi uma cultura patrimonialista. Aliás, por meio de meus estudos, cheguei a conclusão que a construção ética dentro do Brasil não existe porque não se teve uma educação e por causa do patrimonialismo. Por que os que eram menos do que você teriam que ter estudo? Por que os donos de engenho deveriam estudar já que tudo aqui era mato? Além disso, no tempo dos jesuítas, filhos dos engenhos estudavam com os jesuítas e se tornaram padres. 

Quando houve a reforma do Marquês de Pombal - que alas conservadoras não gostam - onde os jesuítas foram expulsos das colônias - porque o marquês era iluminista - os senhores de engenho foram convencidos e mandarem os filhos para a Europa (nesse tempo os EUA não era uma nação rica e poderosa). A moda era ou o filho ser médico, ou advogado. O “doutô” foi a base de muito tempo como se devesse chamar um filho do engenho - que, a meu ver, seria facilmente identificado como feudo - onde se esqueceu que uma sociedade sem nenhuma escolaridade, é uma sociedade perigosa. Um exemplo claro foi a revolução francesa onde o povo foi manipulado, onde países do terceiro mundo são usados e abusados. A sociedade não adquire um senso crítico e começa a apoiar líderes populistas como vimos sempre. 

Por incrível que pareça, a primeira universidade na América do Sul foi em Lima no século quinze, sendo que, em todas as colônias da Nova Inglaterra (EUA) foram construídas escolas e universidades. Sendo que, um dos pilares da era moderna foi democratizar o ensino e a alfabetização, como modo de dar ao povo, o esclarecimento. Ai eu concordo com Sócrates e Platão, o conhecimento te liberta das amarras narrativas e das amarras ideológicas. Aqui querem que o povo esteja amarrado nas narrativas ideológicas, pois, na essência, o brasileiro gosta de bajulação, principalmente, quando ganha um status mais elevado. Quando os produtores rurais perderam o glamour de serem a elite principal, começaram a financiar boicotes e guerras para não terem que perder os bajuladores. Hoje tem uma bancada ridícula no congresso. A nossa elite sempre foi considerada rastaquera (parece culta, mas são ignorantes). 

Daí precisando definir o que seria ética. Ética é um termo derivado do grego ETHOS que podemos traduzir como caráter - em sua origem indo-europeia, ETHOS era a moradia de um homem, ou seja, casa - e como caráter temos uma coisa íntima que não nos deixa fazer coisas que a sociedade não aceita. Mas, como sempre digo, entre os gregos e nós modernos está Roma. Eles traduziram ETHOS como MORES que derivou o termo moral, porque havia uma certa admiração dos romanos com os gregos, mas o termo foi definido como costume somente. Se para o grego ser um helaide era uma questão de cultura, ser um romano é propagar a cultura deles e impor Roma ao mundo conhecido. Entre paideia (ensinando meninos) dos gregos - que era o ensino da cultura helênica - está o educare (ensino da realidade) que era ensinar o que os romanos tinham construído como cultura. 

Na filosofia - que é minha área - a ética se torna uma ferramenta para estudar a moral. Ética e moral parecem iguais - e alguns dicionários cometem esse erro - porém, sabemos as diferenças que podemos atribuir a cada termo.  Moral são os costumes de cada sociedade dentro de uma construção dentro de uma doutrina, que poderá ser entre religiões ou pactos de culturas diversas. Assim como a ética pode determinar através do caráter de cada indivíduo, se essa moral não viola sua individualidade. Ou melhor, por falta de um estudo mais crítico, o Brasil tende a impor uma moral que já foi superada em muitos lugares. Aí poderemos chegar até a vantagem e o jeitinho, onde foi construído um ideário onde teríamos uma moral. A dúvida seria: teríamos uma ética? Teríamos uma moral ou depende do patrimônio do julgado?

Com a ideia da vantagem, se ficou um povo malandro que quer progredir em cima dos outros. E aí a ética se perpetua como um meio para a individualidade, mas, a individualidade não pode ser confundida com o problema vantajoso de sobressair acima do outro. Quando achamos que só porque é um jogador (que violentou uma mulher que tem o direito de dizer não) ou uma pessoa famosa (que fãs defendem com bastante vigor). Mas, temos que responder a questão: o que é ética? O que poderíamos dizer do que seria uma ética brasileira?

A ética brasileira tem dois aspectos: primeiro, tem a frase “para meus amigos tudo, para meus inimigos a lei” mostrando que o brasileiro não gosta de opiniões contrárias. Concordando ou não, pessoas tem empatias com quem pensa igual porque querem agrupar o máximo possível aqueles que podem medir forças para argumentar a favor daquilo. A questão foi desenvolvida por causa da noção da ideia moderna da democracia: a maioria ganha. A rigor, se pensarmos mais a fundo, nem sempre o que a maioria pensa é certo ou deveríamos aceitar, porque não está contido a equidade. Ai que esta, inclusão é, antes de tudo, não uma igualdade - mesmo o porque, cada pessoa tem uma necessidade específica - mas uma equidade que desbrava em uma questão: somos uma espécie só. Segundo, com a individualidade do enriquecimento rápido e a fuga para a Europa (que nunca acontecia), o brasileiro construiu uma sociedade mesquinha que só torce pela sua vitória. Isso ficou muito claro quando muitos ex-liberais aderiram ao anarcocapitalismo  (que ao meu ver, continua liberais anti impostos), porque aquilo é “meu” e eu faço o que quiser e sabemos que, sem uma sociedade, não se tem um lucro. 

O caso de milhares de políticos, jogadores e a sociedade, mostra o reflexo desse pequeno estudo sobre uma sociedade doente e, perigosamente, ignorante de senso crítico.


segunda-feira, março 25, 2024

1883 - sangue e América




 Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada.

Jean-Jacques Rousseau

Com toda certeza, os povos europeus que vieram para a América - seja qualquer ponto do continente americano - procurando liberdade das guerras e batalhas que tinham em todo momento. Diferente do Brasil - que foi uma nação de extração e não uma colônia - os Estados Unidos foram colonizados por famílias irlandesas, escocesas que fugiram de seus países e da dominação inglesa. É depois disso que acontece o seriado 1883 na plataforma de streams Paramont Pictures. Alias, o seriado aconteceu logo após a guerra civil americana - por causa da abolição da escravatura - onde veteranos de guerra tinham que levar uma diligência de carruagem  para Oregon de alemães. O seriado é sobre a existência de seres humanos de lado opostos, mas que existem no mundo como seres que sofrem, pensam e podem sentir sua existência. 

Filósofos não afirmam nada e logo perguntam <e se?>, para sobrepor aquilo que estão mostrando. Ao que parece, a cerne do problema da narrativa se passa no convívio do diferente, além claro, da questão de um mundo plural e moral. Os bandidos eram mortos por causa dos colonos, porém, muitos se rebelaram e foram mortos por causa que iam em direções diferentes. Ou seja, o ser humano na ignorância é infantilizado porque não podem fazer escolhas, os alemães não sabiam fazer escolhas porque tinham aqueles para dizer que aquilo não pode ou pode. Isso é mais do que lógico. povos com mais liberdade tendem a tomar as decisões muito mais tranquilamente. Elza - filha de um ex-capitão e de uma dona de casa - sempre teve essa liberdade e sempre mostrou respeito pelos pais e mais velhos. 

A questão não é a série em si - que veio de uma outra chamada  YellowStone - mas, o que seria a liberdade? Somos libertos realmente?  Com a promessa da “terra da liberdade” muitas pessoas desbravaram as américas, digamos assim, para encontrar ouro e riquezas e essas riquezas eram a própria liberdade. Aqui no Brasil, foi colonizado por membros da nobreza que não eram sucedidos em seus territórios. A urbanização que vimos no século dezenove, era uma urbanização graças a revolução industrial que aconteceu no século dezoito. Antes disso, a Europa - na sua essência - era ainda feudal em muitos lugares e com a guerra, a pobreza era extrema. Poderemos ver isso em Victor Hugo com o livro Os Miseráveis (que vou fazer um texto sobre). Haviam favelas em Dublin, e se recuarmos muito tempo atrás, tinham favelas até mesmo na Atena clássica. Parece que as classes - que foi Adam Smith que começou a falar - existiam muito antes do capitalismo e continua existindo. 

Nem sempre as pessoas podem refletir sobre a liberdade, trabalham toda a semana e nos finais de semana tendem a cair no divertimento.  A meu ver - diante do que eu vi na vida - as pessoas tem medo de ficar consigo mesmo e descobrir algo dentro de si que não vai aguentar, e tem uma outra coisa, as pessoas não conseguem ficar sozinhas. O grande mal do nosso tempo é, sem dúvida nenhuma, a solidão. Por que as pessoas se sentem sozinhas? Há no pensamento socrático - depois adotado por outros filósofos - que deveríamos, ates de tudo, conhecer a nós mesmos. É, inclusive (para quem estuda um pensamento mais metafísico místico), um pensamento de conhecer nossa origem divina. Conhecer os deuses e o universo tem a ver com nossa origem divina (alma/espírito) e nossa origem biológica (primata/mamífera). Ora, mesmo que biologicamente, poderíamos dizer que somos animais gregários (aceitamos clãs), não tem nenhuma base lógica, temos que seguir um Estado ao ponto de saber que eles podem nos ferrar, mas, temos que aceitar que eles ditem o que deveríamos fazer. 

Rothbard - grande defensor das ideias libertárias - disse que quem libertou os Estados Unidos da Gran Bretanha foram os libertários, de onde vem a ideia que a liberdade era a essência da América, mas, os conservadores tomaram para si o governo. Exércitos foram criados. Instituições de regulações. Todas as coisas que os norte-americanos (favoráveis a liberdade) queriam abolir.  Resultado? Em vários filmes e seriados sobre o Oeste americano, poderemos ver e refletir sobre a ideia o que aconteceu. Ou melhor, a liberdade tende a fazer as pessoas obedecerem certos conceitos morais porque elas acreditam que aquilo é certo, não achar que devemos doutrinar as pessoas a seguir aquilo que elas não querem seguir. Do mesmo modo poderemos ver no próprio seriado - que eu já expus antes - onde a liberdade não teve nada a ver em desrespeitar os mais velhos.