Aos 17 anos eu ganhei meu
primeiro livro de filosofia. Nesse momento minha critica ficou cada
vez voraz, não só em matéria da deficiência e das politicas
publicas para pessoas como eu, mas até mesmo tive uma visão
politica mais acentuada. Confesso que até pouco tempo não conseguia
escrever sobre politica, mesmo admirando filósofos que desafiava o
poder – de alguma maneira até mesmo Jesus, Buda e outros – mas
achava que eu não teria uma carga de fatores que eu poderia dar no
meio politico como opinião e como um conhecedor do assunto. O que
estou vendo é que perto de muita gente eu sou acadêmico e uma
pessoa acadêmica não pode, pelo menos eu sempre achei isso, ter
parcialidade e não é isso que eu vejo.
A filosofia é o “amor a
sabedoria”. Ela fala grego e tem sangue grego e tem a liberdade
grega. Heidegger dizia que a filosofia deveria ser dita “philosophia”
porque a “phlia” (amor) é um amor de amizade, um amor que temos
pelos nossos amigos e não uma indiferença ou empatia com o pensar
do outro, o pensar é livre e a liberdade (eletheia) era algo que
poucos tinham direito e então, esses poucos eram os “politikons”.
Mas qual a razão (logos) de uma liberdade (eletheia) a não ser, a
procura da felicidade (eudaimonia)? Muitos desses “amantes da
sabedoria”, os “philosophós”, eram analíticos e procuravam
essa origem de nosso ser e onde poderíamos nos ater na felicidade
(eudaimonia). Mas o que podemos chamar como felicidade (eudaimonia)?
Os gregos tinham outra visão da felicidade (eudaimonia) porque para
eles era uma procura onde entra onde viemos – que poderiam ser
explicados pelos mitos – e sermos bons e temos o “ethos” para
alcançar a sublime satisfação de viver da “polis”. Na verdade
o “ethos” era muito diferente o que hoje temos como ética, pois
depois de 2.500 amos, o mundo mudou muito como vimos a sociedade e
como essa mesma sociedade se comporta. Mas, a velha filosofia tem o
DNA grego, a “philosophia” como amor pela “sophia”
(sabedoria), levou o homem a acordar a sua irmã a “democratia”
que adormecida em um leito de seculos pelo sonífero “absolutismo”
e pela “idolatria”, foi acordada e a “res-publica” (coisa
publica) renasceu com a Revolução Burguesa, ou a revolução
francesa.
Aqui a democracia é muito
recente, não tivemos nenhum período que chamaríamos de princípios
democráticos, pelo simples fato de não sermos democráticos, não
somos um povo que respeita as “cidades-estados” como se
vivêssemos em sociedade. Ainda não paramos para pensar que estamos
no século xxi e não somos mais uma sociedade medievalista e nem uma
sociedade que pode se chamar de socialista, somos uma sociedade
perdida, porque ainda esperamos um “salvador da pátria”. Não
gostamos da democracia, porque nossa maneira de dizer e falar tem que
prevalecer e não não queremos tirar a “bunda” do sofá para
nada, porque somos trabalhadores ou porque somos a favor da
democracia social (vulgo populismo), onde o governo tem que dar algo
a alguém, sendo que, o governo nos dá “oportunidade”. Não
podemos negar a importância de Karl Marx numa conjuntura social. Mas
espera ai, antes mesmo que os “esquerdistas” (sim, há uma
diferença entre “esquerdista” e pessoas a favor da esquerda,
pois um esquerdista é um militante numa guerrilha verbal e
panfletaria, uma pessoa a favor da esquerda usa argumentação seria.
Isso também existe na direita), usem meu texto para justificar o
injustificável, Marx só fez uma analise conceitual da sociedade
quanto ao industrialismo, a pratica de sua filosofia seria insana com
uma sociedade consumista e hipócrita dos dias de hoje. Mesmo o
porque, você dando mil reais para um, não vai ser o mesmo de dar
mil reais para outro. Pessoas não são iguais, pessoas não são
robôs feitos em serie e nem acho, quando tivermos tecnologia para
isso, os robôs serão iguaizinhos. Não. Temos diferenças
corporais, neurológicas, espirituais. Então, por mais justa que uma
filosofia pareça ser, nunca irá ser o bastante para criar um
conceito de igualdade que só deverá ser alcançado com a mudança
de nós mesmos, mudanças intimas. Assim, a “philosophia” chama a
uma reflexão muito profunda para essas questões e algumas – que
são inúmeras – que veio muito mais antes que o marxismo
aparecesse e que o marxismo não resolveu. Quem estuda filosofia e é
catedrático em filosofia, sabe muito bem disso, mas muitos aqui
fazem ouvidos moucos. E deveria e muito, saber o fator histórico de
todos os regimes que se passaram dentro do século XX,
principalmente, o fascismo e o nazismo e o porque todos os países
tem classe media, alta e baixa. Sempre achei que “philosophós”
deveriam ser “neutros” para analisar as coisas “de cima das
montanhas” como o velho Zaratustra de Nietzsche.
Mas parece que aqui no Brasil
– como as maioria das coisas mundiais que vem para cá – os
“philosophós” são um pouco diferentes, são pessoas que tomam
lados e esquecem da conjuntura da analise critica que até Marx,
defendeu com tanta veemência. Até mesmo nosso marxismo tupiniquim é
diferente. Nossa esquerda é diferente. Nossa direita é diferente.
Nossos filósofos com “s” e não “ph” como defendia
Heidegger, fazem uma leitura superficial daquilo que nossa sociedade
realmente necessita, pois necessitamos de um pouco de neutralidade
para uma analise muito mais acima do que a maioria o fazem. Nós, os
“philosophós”, não podemos analisar algo de superficialidade
duvidosa ou que temos a “philia” a “sophia”, temos que amá-la
incondicionalmente e dizer as pessoas que há uma analise politica
muito além do que aquela que mostram os jornais ou que mostram a
mídia em geral. Não podemos ter lados, não podemos ser parciais,
porque sabemos um pouco de historia. Agora quando “filosofas” e
professoras universitária começam a gritar “bloqueando os
fascistas” ou que “odeia a classe media”, para mim, são mais
militantes do que “amantes” da “sabedoria” e isso eu confesso
ser socrático. Ter um posicionamento critico, não é ter um
posicionamento reacionário ou de extrema-esquerda ou
extrema-direita, é ter um posicionamento acima disso, ter um
posicionamento além para se chegar a “sabedoria” e essa
“sabedoria” não tem polos. Mas parece que não há uma analise,
não há uma imparcialidade nem ao menos entre nossos filósofos,
porque escolheram posições e muito poucos quiseram fazer analises
“imparciais”. Parece que a “imparcialidade” é uma coisa ruim
aqui, coisa de covarde, coisa de “criancinhas”, como disse um
certo rockeiro para uma certa rockeira por ela ser imparcial. Mas a
politica é uma só, a corrupção é dos dois lados, aliás, falando
em Brasil a corrupção é cultural, infelizmente. Então, por que
sermos “parciais”?
O debate fica um pouco
interessante, quando eu coloco essa pequena frase de uma musica do
Legião Urbana, Petróleo do Futuro, onde o Renato Russo diz:
“filósofos suicidas, agricultores famintos, desaparecendo de baixo
dos arquivos.”, numa alusão clara da ditadura militar. Podemos
ampliar muito mais, porque essa frase, logicamente, cabe em qualquer
tipo de ditadura, seja de governos socialistas (que se dizem de
esquerda), sejam de regime de direita (que são fascistas). O
socialismo não gosta de “philosophós”, porque questionam suas
metas para chegar a um fim, os fascistas por motivos óbvios sempre
mataram e torturaram os “philosophós”. Por que apoiar esse tipo
de regime? Por que apoiar ideias que não cabem mais? Por que
analisar algo acima do que realmente é precisamos de alguma
ideologia? É uma
idiocrasia do nosso povo, uma particularidade que não tem no resto
do mundo, porque todas as pessoas não sabem aqui serem neutras,
ainda
mais pessoas estudadas. O
ser humano desce na sua mediocridade.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
– escritor/filosofo