terça-feira, março 17, 2015

“...filósofos suicidas, agricultores famintos...”.





Aos 17 anos eu ganhei meu primeiro livro de filosofia. Nesse momento minha critica ficou cada vez voraz, não só em matéria da deficiência e das politicas publicas para pessoas como eu, mas até mesmo tive uma visão politica mais acentuada. Confesso que até pouco tempo não conseguia escrever sobre politica, mesmo admirando filósofos que desafiava o poder – de alguma maneira até mesmo Jesus, Buda e outros – mas achava que eu não teria uma carga de fatores que eu poderia dar no meio politico como opinião e como um conhecedor do assunto. O que estou vendo é que perto de muita gente eu sou acadêmico e uma pessoa acadêmica não pode, pelo menos eu sempre achei isso, ter parcialidade e não é isso que eu vejo.

A filosofia é o “amor a sabedoria”. Ela fala grego e tem sangue grego e tem a liberdade grega. Heidegger dizia que a filosofia deveria ser dita “philosophia” porque a “phlia” (amor) é um amor de amizade, um amor que temos pelos nossos amigos e não uma indiferença ou empatia com o pensar do outro, o pensar é livre e a liberdade (eletheia) era algo que poucos tinham direito e então, esses poucos eram os “politikons”. Mas qual a razão (logos) de uma liberdade (eletheia) a não ser, a procura da felicidade (eudaimonia)? Muitos desses “amantes da sabedoria”, os “philosophós”, eram analíticos e procuravam essa origem de nosso ser e onde poderíamos nos ater na felicidade (eudaimonia). Mas o que podemos chamar como felicidade (eudaimonia)? Os gregos tinham outra visão da felicidade (eudaimonia) porque para eles era uma procura onde entra onde viemos – que poderiam ser explicados pelos mitos – e sermos bons e temos o “ethos” para alcançar a sublime satisfação de viver da “polis”. Na verdade o “ethos” era muito diferente o que hoje temos como ética, pois depois de 2.500 amos, o mundo mudou muito como vimos a sociedade e como essa mesma sociedade se comporta. Mas, a velha filosofia tem o DNA grego, a “philosophia” como amor pela “sophia” (sabedoria), levou o homem a acordar a sua irmã a “democratia” que adormecida em um leito de seculos pelo sonífero “absolutismo” e pela “idolatria”, foi acordada e a “res-publica” (coisa publica) renasceu com a Revolução Burguesa, ou a revolução francesa.

Aqui a democracia é muito recente, não tivemos nenhum período que chamaríamos de princípios democráticos, pelo simples fato de não sermos democráticos, não somos um povo que respeita as “cidades-estados” como se vivêssemos em sociedade. Ainda não paramos para pensar que estamos no século xxi e não somos mais uma sociedade medievalista e nem uma sociedade que pode se chamar de socialista, somos uma sociedade perdida, porque ainda esperamos um “salvador da pátria”. Não gostamos da democracia, porque nossa maneira de dizer e falar tem que prevalecer e não não queremos tirar a “bunda” do sofá para nada, porque somos trabalhadores ou porque somos a favor da democracia social (vulgo populismo), onde o governo tem que dar algo a alguém, sendo que, o governo nos dá “oportunidade”. Não podemos negar a importância de Karl Marx numa conjuntura social. Mas espera ai, antes mesmo que os “esquerdistas” (sim, há uma diferença entre “esquerdista” e pessoas a favor da esquerda, pois um esquerdista é um militante numa guerrilha verbal e panfletaria, uma pessoa a favor da esquerda usa argumentação seria. Isso também existe na direita), usem meu texto para justificar o injustificável, Marx só fez uma analise conceitual da sociedade quanto ao industrialismo, a pratica de sua filosofia seria insana com uma sociedade consumista e hipócrita dos dias de hoje. Mesmo o porque, você dando mil reais para um, não vai ser o mesmo de dar mil reais para outro. Pessoas não são iguais, pessoas não são robôs feitos em serie e nem acho, quando tivermos tecnologia para isso, os robôs serão iguaizinhos. Não. Temos diferenças corporais, neurológicas, espirituais. Então, por mais justa que uma filosofia pareça ser, nunca irá ser o bastante para criar um conceito de igualdade que só deverá ser alcançado com a mudança de nós mesmos, mudanças intimas. Assim, a “philosophia” chama a uma reflexão muito profunda para essas questões e algumas – que são inúmeras – que veio muito mais antes que o marxismo aparecesse e que o marxismo não resolveu. Quem estuda filosofia e é catedrático em filosofia, sabe muito bem disso, mas muitos aqui fazem ouvidos moucos. E deveria e muito, saber o fator histórico de todos os regimes que se passaram dentro do século XX, principalmente, o fascismo e o nazismo e o porque todos os países tem classe media, alta e baixa. Sempre achei que “philosophós” deveriam ser “neutros” para analisar as coisas “de cima das montanhas” como o velho Zaratustra de Nietzsche.

Mas parece que aqui no Brasil – como as maioria das coisas mundiais que vem para cá – os “philosophós” são um pouco diferentes, são pessoas que tomam lados e esquecem da conjuntura da analise critica que até Marx, defendeu com tanta veemência. Até mesmo nosso marxismo tupiniquim é diferente. Nossa esquerda é diferente. Nossa direita é diferente. Nossos filósofos com “s” e não “ph” como defendia Heidegger, fazem uma leitura superficial daquilo que nossa sociedade realmente necessita, pois necessitamos de um pouco de neutralidade para uma analise muito mais acima do que a maioria o fazem. Nós, os “philosophós”, não podemos analisar algo de superficialidade duvidosa ou que temos a “philia” a “sophia”, temos que amá-la incondicionalmente e dizer as pessoas que há uma analise politica muito além do que aquela que mostram os jornais ou que mostram a mídia em geral. Não podemos ter lados, não podemos ser parciais, porque sabemos um pouco de historia. Agora quando “filosofas” e professoras universitária começam a gritar “bloqueando os fascistas” ou que “odeia a classe media”, para mim, são mais militantes do que “amantes” da “sabedoria” e isso eu confesso ser socrático. Ter um posicionamento critico, não é ter um posicionamento reacionário ou de extrema-esquerda ou extrema-direita, é ter um posicionamento acima disso, ter um posicionamento além para se chegar a “sabedoria” e essa “sabedoria” não tem polos. Mas parece que não há uma analise, não há uma imparcialidade nem ao menos entre nossos filósofos, porque escolheram posições e muito poucos quiseram fazer analises “imparciais”. Parece que a “imparcialidade” é uma coisa ruim aqui, coisa de covarde, coisa de “criancinhas”, como disse um certo rockeiro para uma certa rockeira por ela ser imparcial. Mas a politica é uma só, a corrupção é dos dois lados, aliás, falando em Brasil a corrupção é cultural, infelizmente. Então, por que sermos “parciais”?

O debate fica um pouco interessante, quando eu coloco essa pequena frase de uma musica do Legião Urbana, Petróleo do Futuro, onde o Renato Russo diz: “filósofos suicidas, agricultores famintos, desaparecendo de baixo dos arquivos.”, numa alusão clara da ditadura militar. Podemos ampliar muito mais, porque essa frase, logicamente, cabe em qualquer tipo de ditadura, seja de governos socialistas (que se dizem de esquerda), sejam de regime de direita (que são fascistas). O socialismo não gosta de “philosophós”, porque questionam suas metas para chegar a um fim, os fascistas por motivos óbvios sempre mataram e torturaram os “philosophós”. Por que apoiar esse tipo de regime? Por que apoiar ideias que não cabem mais? Por que analisar algo acima do que realmente é precisamos de alguma ideologia? É uma idiocrasia do nosso povo, uma particularidade que não tem no resto do mundo, porque todas as pessoas não sabem aqui serem neutras, ainda mais pessoas estudadas. O ser humano desce na sua mediocridade.



Amauri Nolasco Sanches Júnior – escritor/filosofo