sexta-feira, março 15, 2024

ANCAP medievalista e iluminista conservador

 





“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam.”

(Platão)



Platão tem toda razão. Quem estudou a história da filosofia sabe que Platão era de uma família aristocrática de Atenas (remontando a monarquia ateniense) e, como dizem hoje, teria “lugar de fala” nesta discussão. Confesso que não gosto muito de escrever sobre política, me dá um “bode” (ou como os jovens, um “bad”) porque as pessoas sempre ficam discutindo política partidária. Eu gosto de ir muito além dessa conjuntura pobre de direita e esquerda, pois, Aristóteles nos classificou como animais politicos (zoo politikon) por causa da nossa socialização e da nossa capacidade de fazer (imaginar) fronteiras que não existem. Simbolizar essas fronteiras. Classificar períodos históricos . E ainda, temos capacidade de inventar lutas por causa dessas abstrações. 

Vendo o debate entre Adrilles George e Paulo Kogos - dois bufões alá Olavo de Carvalho - centralizam coisas que sempre eu disse: brasileiro adora um “louco dançando”. Essa história que somos a favor da família, pátria etc., é “arrotar” falsas virtudes que ninguém tem. Olavo era conservador, teve duas mulheres e mudou de religião diversas vezes.  Bolsonaro se diz conservador, esta na terceira esposa. Fora os evangélicos, que se dizem conservadores, não sabem que as liberdades começaram exatamente, por causa da reforma protestante (que tirou o poder da igreja católica). Liberdade…guardem esse nome. 

Paulo Kogos é um incógnita dentro do movimento anarcocapitalismo, porque defende pautas reacionárias e a manutenção do poder. Fora - como a grande maioria esmagadora - confunde ANCAP com libertarianismo que transforma o movimento em caricatura. Como dizem, um ANCAP pode ser um libertários, mas, um libertários não pode ser um ANCAP, pelo simples fato do ANCAP ir muito mais na economia do que na ética, porque a ética tem mais a ver com a definição libertária do PNA (Pacto de Não Agressão). Posso me defender de ataques, mas nunca atacar. O autismo de Kogos - sim, ele tem o Espectro autista e a igreja católica é o hiperfoco dele - não deixa ele sair do campo religioso e pensar que poderíamos muito bem criticar a ICAR e não deixar de ser dela. Eu, por exemplo, mesmo acreditando no espiritismo, tenho várias críticas dentro da doutrina e não faço proselitismo. 

Voltando ao PNA, a questão do Kogos defender pautas armadas dentro do exército - como golpes de estado entre outras coisas - mostra como ele não entendeu o PNA, ou até mesmo, ele seja só ANCAP. A questão é: será que só é uma questão de visibilidade para suas redes sociais? Porque quando ele fala sério - sem essas palhaçadas - Kogos até sabe bastante dentro do que se propôs saber. Mas, como um bufão de rede social, sempre se coloca na intelectualidade rasa. Sendo um seguidor ANCAP deveria saber que nenhum governo é digno de confiança e o estado como detector das forças armadas, forças governamentais e pode forçar você a fazer, sem nenhum problema, coibir as críticas. Sabemos que o Lula quer dizer que quer mais pessoas críticas do que bajuladoras, mentira. Do mesmo modo vi isso no Bolsonaro, daí abrimos um parênteses. 

Me parece que nossa cultura gosta de bajuladores muito mais do que outras, porque se viciou a questão de se bajular para conseguir qualquer coisa (a cultura da vantagem). A vantagem surge como uma filosofia do capitalismo dos anos 1920, que por sermos atrasados, se começa nos anos da ditadura militar e o lema “ame-o ou deixe-o” não sai da cabeça do brasileiro como um eterno mundo retrô. Tem a ver com tendências, de repente, nazifascistas? A meu ver, o nazismo foi uma “anomalia” dentro da questão política (dentro da filosofia, por abrigar somente pessoas “ressentidos” e que criaram algo maléfico e que não levou a Alemanha a nada (destruição, dominação e atraso).  Posto isso, é meio exagerada a esquerda - a brasileira, principalmente - ter associado tudo que não sintoniza com um engajamento ideológico (principalmente deles) com “nazismo”. O fascismo é uma tirania moderna dos imperadores romanos - que era realmente a ideia de Mussolini - que queriam dominar o que seria o império. Só que não faz sentido nenhum dizer liberalismo-fascista ou dizer que ANCAPs são fascistas. De muito refletir sobre, cheguei a conclusão que é falta de engajamento e de posicionamento. Lembrando, claro, que os bolsheviks mataram os anarquistas russos e deixaram os anarquistas espanhóis na mão. 

 Já o Adrilles achar que é um iluminista (e conservador, de alguma maneira) nos faz pensar naquela ideia que “o brasileiro não sabe discutir politica”. E não sabe mesmo, porque no fundo da matéria que gosto que é filosofia, conservadores abominavam o iluminismo. O nosso bufão poeta não sabe que, pessoas como Bolsonaro e seus generais são positivistas (Comte) ao ponto de acreditar que em todas as áreas existe um técnico e que toda a esquerda é socialista. Como os petistas, os bolsonaristas acreditam que quem não se alinha a seus discursos (cada um de doido) são comunistas. Mas, não acho que o bolsonarismo seja uma nova vertente do fascismo pós-guerra fria, mesmo que haja evidentes marcas de reacionarismo (somente do que se trata de idealizar um passado que nunca existiu). O fascismo, em estudos sérios, tendem a unir grande parte de uma nação em um fecho (daí fascista), mostrando certo culto à personalidade e desprezo daqueles que querem explorar a nação. não acontece com o bolsonarismo, pois, veneram e apoiam os EUA. 

Explicando: não sou anti-EUA, sou contra a exploração da nossa nação no que se refere a política de deixar o Brasil ser um feudo onde só se deve fornecer comida (as riquezas naturais e minerais são roubadas a todo momento). O Brasil (infelizmente) sempre vai ser uma nação explorada graças a filosofia da vantagem, do desprezo do ser humano enquanto humanidade e por não vontade política. Nossa nação está afundando  e quebrada e as pessoas brigando brigas ideológicas, brigas políticas genéricas que não vão levar a nada. Como esse debate, não vamos voltar à monarquia, vamos ser nações muito mais liberais e capitalistas (no sentido de melhorar cada vez mais a técnica), colocando o ser humano em um outro paradigma. O iluminismo vence na questão da liberdade, da fraternidade e na igualdade no sentido de equidade (adaptação daqueles que não podem ir onde os outros vão). E fica claro cada vez mais que, essa crise é uma resistência à mudança, uma resistência que já era esperada no sentido de tirar a humanidade da acomodação. 

Aqui a acomodação pode ser resumida com a frase: “é verdade”.  O que seria essa “verdade”? Essa frase acaba sendo genérica e pobre, porque duas colocações: uma de concordância e não querer contrariar o outro e polemizar, a outra é, que “verdade” nesta colocação serve como uma concordância subjetiva com aquilo que a pessoa acredita. Temos uma cultura que universaliza as coisas porque é mais cômodo, muito mais fácil  colocar numa caixa só.


quarta-feira, março 13, 2024

Cachorrinhos podem viver, pessoas com deficiência não

 



"Quantos ataques ao meu filho vou aguentar calada?"


Gritos de desespero de uma mãe como esse, mostra que ter um filho marginalizado pela sociedade - por causa de uma deficiência - deve sentir a exclusão e o esquecimento dos outros perante seu filho. Minha mãe me criou nos anos 80, junto em uma sociedade onde não tinha nada para pessoas com deficiência. Muitos eram “largados” em hospitais ou entidades como a AACD (Associação a Assistência das Crianças Deficientes, que era defeituosa nesse tempo), porque os pais não tinham dinheiro para bancar essa luta. Minha mãe tinha que pegar muitos ônibus, muitos não davam o lugar e mesmo com meus irmãos, as pessoas não eram simpáticas com aquilo. A história dos deficientes no Brasil - existe um livro, mas como tudo que envolve deficiência não é divulgado - tendem a ser como foi na era cristã: piedade e internação, fora os mendicantes. 

As coisas não mudaram muito com medidas que só beneficiam nichos dentro do segmento das pessoas com deficiência. O que um deficiente que nem pode estudar vai trabalhar onde? Isenção de IPVA beneficia pessoas que não podem comprar uma cadeira de rodas? Quem se beneficia nessas medidas populistas que as pessoas acham grande coisa? Eu sempre defendi que se deveria ter prioridades e não ficar achando que isso aqui é um lugar superacessível ou que está tudo bem e vou pensar no meu, pois não vai ter seu, se não houver acessibilidade no Brasil inteiro. E para piorar, somos um povo reacionário por natureza cultural. Somos filhos de uma colonização medieval, uma modernização positivista-marxista, ignorantes de educação e o pior, somos uma nação pobre em cultura e em escolarização. 

Um menino de apenas 8 anos, autista  ser acusado de homofobia pelo professor podemos ver o nível da nossa escolarização universitária do nosso país, pois, se um universitário não tem uma postura de universitário, detém o conhecimento e tem comportamento como todo mundo, não merecia ser professor. Olhar um menino e não conversar com ele e dizer que aquilo que disse não pode, não poderia ser uma atitude de um docente preparado e estudado. A questão não é “mimar” o menino, eu trato  todo mundo igual e não acho que tem que diferenciar, mas, há formas de se falar com crianças autistas que devem ser respeitadas. Ainda, segundo o blog Vencer Limite (do jornalista Luiz Alexandre Souza Ventura), há ainda determinações da justiça que a prefeitura de Ibaté (interior de São Paulo)  disponibiliza professores auxiliares para alunos com deficiência e aprendizado diferenciado. 

A mãe - como outras mães - Samara Vizzotto (37), uma mulher negra que trabalha como funcionária da faxina não tem nem acesso ao boletim de ocorrência do professor (um absurdo) ainda tem medo de perder o emprego por causa da luta pelo direito do seu filho. Quantas mães que conheço tiveram de “puxar o saco” por causa do simples direito do seu filho? Não devemos bajular, porque com a bajulação criamos uma cultura da bajulação e agora nossa cultura foi impregnada com isso. E o pensamento é simples: para que vou me prestar a contrariar os “poderosos” que podem tirar o pouco que meu filho tem. 

Por isso, há algum tempo atrás, escrevi um dos últimos artigos no Prensa, onde disse que cachorrinhos tem muito mais direitos e podem passear no shopping do que seres humanos com deficiência. Quando vou com minha noiva no shopping, somos atropelados, as pessoas não tem noção de banheiro para cadeirante, as pessoas passar de repente na frente da cadeira motorizada e quando minha noiva esta saindo do banheiro, as pessoas passam e nem querem saber. Não respeitam ninguém e nem nada. Mas, no exterior, formas eugênicas são impostas para abordar crianças com deficiência. 

Ainda é um longo caminho.