As questões ideológicas e
religiosas sempre foram muito mais complexas do que o senso comum
sequer imagina. E quando a ideologia começa a se misturar com a
religião, num português bem claro, só dará merda sempre. O ataque
a sede do grupo de humor Porta dos Fundos mostra o quanto a juventude
está perdida e sem rumo nenhum, porque você se apresentar como um
fascista, mas discursar como um marxista raiz, é de uma imaturidade
gigante. A questão é: qual moral devemos seguir sem ao menos,
questionar a sua origem? Veja, não devemos confundir questionar com
falar mal ou ser contra aquilo, apenas questionar se aquilo é
realmente verdade ou mentira, se aquilo levara o ser humano ao
conhecer a si mesmo ou apenas, é mais um discurso para dominar a
massa. No limiar de tudo, todos esses deveres são marketing para
assegurar a predominância de um discurso qualquer.
No caso da representação do Jesus
gay do Porta dos Fundos, sempre constatamos que Jesus teve uma imagem
mistica muito bem construída nesses dois mil anos de história do
cristianismo. Talvez, essa construção da imagem dele enquanto ser
que é a incorporação de Deus no mundo — como se Deus devesse se
apropriar de um corpo para se fazer presente — seja um discurso
sagrado dos milagres que ele teria feito, que lógico, fez dele uma
figura mistica. Ora, o budismo (digo o budismo mesmo) não vê Buda
como um deus e nem o Islã vê Maomé como deus, porque Deus seria
algo muito maior e muito mais longe do que possamos definir em um ser
só. Ai entra o romanismo dentro do cristianismo, pois, se algo deve
ser adorado, esse algo deve ser transfigurado em uma imagem. Mesmo
que várias pessoas tenham múltiplas explicações para isso, o
cristianismo não difere dos cultos a deuses da antiguidade e talvez,
sincronizou no culto de um homem crucificado, acusado de se titular
rei de Israel e blasfemar contra o culto tanto de Roma, como dos
judeus. Ou seja, apontou a hipocrisia dos sinédrios da época, em
achar que o Templo de Salomão era algum tipo de comércio, que ao
passar do tempo, todos ficam como comércio. Isso não quer dizer que
eu ache que Jesus não existiu, as ordens morais que ele disse — se
disse mesmo — são importantes para uma vida equilibrada e com
sentido em ser. Afinal, quem não tem pecado que atire o primeiro
coquetel molotov?
Segundo o novo testamento, Jesus
participava de várias festas e comemorações, mostrando que ele era
uma pessoa alegre e festiva. Ora, vamos ser sinceros com a fé
cristã, mesmo que ele for Deus, ele iria se importar do que um bando
de comediante diz dele? Mesmo se ele fosse homossexual, será que sua
mensagem mudaria por isso? Claro que não. Racionalmente, podemos
dizer que homens no tempo de Jesus (segundo a lei judaica) homens co
30 anos de idade, teriam de ser casados e, pelo grau de cultura que
Jesus demonstra, talvez, ele teria que estudar no templo. Vários
estudiosos já trabalham com a ideia que Jesus e José era escribas
do templo, assim, poderiam circular no mesmo livremente. O que nos
remete que Jesus deve ter sido casado — como Buda, Maomé ou Moisés
e isso não invalidaria suas mensagens — isso reforça a hipótese,
que Maria de Magdala teria sido esposa e discípula de Jesus. Porém,
nos resta uma dúvida importante: por que o império romano como todo
aquele poder acabando, ter aceitado cultuar um culto de um homem
crucificado?
A cruz é um símbolo religioso
muito antes da crucificação de Jesus, mesmo em Roma. Aliás, há um
erro corriqueiro, que atribui festas incorporadas na religião cristã
como deus antigos vindos de fora, mas, o que vimos e o que dizem
vários pesquisadores, é que tudo ou a maioria que existe no
cristianismo veio dos romanos. Todo o cristianismo é romano. Isso
não resta dúvida, quando olhamos os anjos das igrejas e eles estão
vestidos como centuriões romanos. Há muitas características que
mostram todo o império romano na igreja romana cristã, além,
claro, das filosofias gregas influenciando alguns pontos teológicos
disso tudo. Muito pouco restou das falas e dos ensinamentos de Jesus,
portanto, a figura mistica sempre dominou o que realmente o
cristianismo deveria pregar como ensinamento do seu mestre. Portanto,
o cristianismo não é o mesmo de seguidor de Jesus.
Ora, afinal, será mesmo que foi
Jesus o ofendido ou o cristão se ofendeu? Será que a ofensa é a
imagem que se construiu dentro do fanatismo? Tudo isso que eu escrevi
não quer dizer que a mensagem de Jesus não seja importante, mas,
que tenhamos sempre um filtro daquilo que é, verdadeiramente, sua
mensagem e aquilo que não, não é sua mensagem.