Imagem do filme, César e seu filho. |
Gostaria
de continuar a discussão que comecei com meu texto “Macacos e Homens – ilusões culturais”, porque houve um acréscimo após eu
assistir o filme “Planeta dos Macacos – o confronto” que me deu
muito mais material para reflexão. No filme, podemos ver que existe
um líder que foi modificado geneticamente – não me lembro bem –
que idealizou um lugar só para os macacos que foram libertados e
foram cobaias por muito tempo. O nome desse líder é César e não
seria outro – não li o livro, mas está obvio a escolha do nome –
do que o nome de Júlio Caio César o maior general romano que
existiu e quando instaurou o império por causa da corrupção da
republica, mesmo assassinado injustamente pelos seus inimigos
políticos por fazer uma reforma geral em Roma, seu nome deu origem
ao imperadores que usaram seu nome. Dai então, todos os imperadores
eram chamados de “cesares” e virou um titulo até o fim do
império (mesmo com a mudança do cristianismo como religião
oficial). Não longe, César do filme, reina diante dos outros com
pulso forte e não muito ditador, mas pensa no bem estar na sua
comunidade e da sua família. Também tinha uma grande amizade com
Koba, seu fiel comandante que foi extremamente judiado quando foi
cobaia e talvez nos faça refletir sobre o sentimento animal – que
no andar dos dois filmes, é muito questionado – e que o
sentimento de ódio e querer se vingar, são partes humanas dentro da
origem símia/hominoidea. Mas certamente, Koba se vinga dos humanos
por uma questão humana e racional que ele também desenvolveu,
porque a 3 macacos que poderiam ter consciência e esses 3 eram
César, Koba e uma especie de professor que não me lembro o nome,
mas Koba é o segundo nome a liderar.
Koba
guarda dentro de si mesmo a questão não resolvida de ser uma
cobaia, de ser judiado e de ser subjugado por questões de
desenvolvimento de vacinas. No filme também é questionado se esse
desenvolvimento de vacinas não criariam novas doenças – que no
filme foi criado a gripe símia que dizimou muitos humanos em pouco
tempo – e que a ciência pode criar seres que estarão nos mesmos
níveis de consciência que nós e pode ser símios como nós somos.
Como disse, Koba é um ressentido que guarda dentro de si uma vontade
de vingança e com a certeza – mesmo César não dizendo coisas do
tipo – que os macacos eram seres superiores e que monstra que
tinham consciência. Os lideres e os sábios faziam a sociedade viver
tranquilo até humanos quererem usar a hidroelétrica – por causa
de uma cidade reconstruída – e começam os confrontos, só que
Koba com seu ódio (medo escondido) não confia nos humanos e pega as
armas dos humanos na cidade e tenta matar César por dar um voto de
confiança aos humanos. Mas Koba usa a regra básica que César
coloca na comunidade deles “macacos não matam macacos”, por
causa do senso de comunidade que eles tem, e é uma regra a ser
seguida. Ora, qual o limite de um ódio infundado de coisas que
aconteceram a tanto tempo e qual a origem do ódio? Vamos lembrar –
quem assistiu – que Koba começa a mentir e querer tomar o lugar de
César e fazer sua vingança para mostrar sua superioridade dele e
dos macacos (ele só deixa solto os que apoia ele e mata os que não
lhe obedece). Ditadores são assim, são os oprimidos que querem
oprimir e tudo é uma analise hegeliana, porque dentro da história
do mundo que sempre foi assim. Tanto o filme, quanto o livro (que
repito não li), tem uma severa critica social sobre a sociedade
humana sua cultura. A critica da historia é um questionamento e uma
reflexão se esses sentimentos humanos são realmente sentimentos
inatos do nosso lado animal (e consequentemente, um lado dominador e
violento), um lado que deveríamos neutralizar por racionalizarmos e
enxergarmos nossa realidade (ambientes onde vivemos).
César
é o lado humano que nos comenda na senda do que é melhor para nós
e os nossos iguais, Koba é o lado animal que vem do nosso medo e
consequentemente, com esse medo, vem o ódio de querer não só se
libertar, mas dominar. César e Koba é o dois lados de um mesmo ser
– racional e não racional – que se confrontam para dominar e
para hora trazer a paz, hora trazer a guerra. Isso pode ser
verificável em todas as culturas e os zilhões de impérios que
existiram – na maioria das vezes eram oprimidos que oprimiram –
que foram forjados a custa do medo, do querer não evoluir junto, mas
dominar o outro como meio para conseguir dominar e acuar. Talvez,
esse lado que temos de oprimir seja restos de um tempo que fomos caça
e muitos animais, devoravam os seres humanos. De repente esse lado
caçador, seja seguramente um lado nosso que teve que adaptar e
dominar, tivemos que dominar e desenvolver rápido nossas habilidades
para não sermos mortos. Os oprimidos acabam sendo opressores –
essa opressão tem a ver com o desenvolvimento da cadeia evolutiva –
que levaram o ser humano ao seu apogeu nessa cadeia evolutiva e tem a
ver com nossa capacidade de viver e de ter consciência de tudo que
nos rodeia.
Daí
fazemos a clássica pergunta filosófica: de onde viemos para termos
essa capacidade de criarmos e nos adaptarmos diante de milhares
ambientes em todo o planeta? Sim! Porque o César do filme foi
geneticamente “produzido” e se transformou em um chipanzé
consciente e entende todo o ambiente e as situações que os fatos
trazem. Por que, de repente, não somos produto de uma raça
alienígena que por algum motivo, acelerou a evolução ou nos deu
parte deles? Ou por que não poderemos ser produto de uma raça
evoluída que a muito desapareceu ou de repente, saiu de nosso
planeta para outro ou até, são povos intraterrestres? Não podemos
nunca descartar nada, porque são perguntas que mexem com o que nos
temos como realidade, porque muitas delas são forjadas como
realidades virtuais. Então entramos numa questão que a anos, e
porque não, a seculos nos fazem refletir, o teorema da caverne de
Platão que cabe muito bem em nossa discussão. Ele coloca na “boca”
do seu mestre Sócrates um teorema assim: existia um povo que nascia
dentro de uma caverna sempre acorrentado e vivendo olhando uma
parede, essa parede se viam sombras graças a chamas atrás desse
povo e somente eram homens carregando caixas, mas as sombras
produziam outra realidade. Mas um desses seres humanos se soltou
dessas correntes e vai em direção da entrada da caverna, então em
um primeiro momento a luz do sol de ofusca a visão, mas num segundo
momento essa luz lhe mostra uma outra realidade que não via, era uma
realidade que não enxergava e era muito mais ampla. Lembrando que
aquela realidade é forjada e essa realidade é natural – Platão
talvez, colocou em questão o pensamento analítico e o pensamento
sintético – a realidade forjada é fruto da sombra que vimos o que
queremos ver e a realidade natural, é aquilo que é o que é. Mas ao
retornar para dizer o que viu e libertar os demais eles começam a
dar risada e “caçoar” dele, o homem insisti e é morto pelos
demais (alguns historiadores e filósofos, dizem que Platão falava
exatamente do seu mestre). O que podemos tirar dessa passagem que nos
forçara a analisar um conjunto de consciências e indagação dos
meios culturais e ideológicos dos nosso tempo?
Se
viemos de outra raça avançada, seja extraterrestre ou
intraterrestres, então somos produto de uma outra cultura e se somos
produto de outra cultura, somos um meio dessa cultura. Ser um meio
dessa cultura nos fazem ir atrás dessa cultura evoluindo cada vez
mais em torno de procurar uma resposta – talvez a resposta não
esteja apenas o que vimos – e sempre entramos em perguntas básicas
e extremamente, em torno do espanto filosófico. Só que, diferente
dos pensadores gregos e os inúmeros pensadores ao longo da historia
humana, estou analisando as coisas muito amplamente. Quando pensamos
em existência pensamos no ato da percepção de tudo que está a
nossa volta e pesquisas dizem que tudo veio num amontoado de ácidos,
poeira estrelar (descobriram que nosso sistema solar está numa bolha
de poeira cósmica de uma supernova) e uma explosão que originou o
tempo e o espaço. Então houve um ato e esse ato – o primeiro –
foi romper algo para libertar algo dentro de uma potencialidade
dentro do existir, depois de bilhões de anos, talvez até mais,
houve uma nova explosão em uma supernova e mais uma vez se fez o ato
de criar o sistema solar, depois houve uma colisão entre planetas e
mais uma vez, se criou algo como a lua. Até mesmo o ato e
potencialização aristotélica, se criou a vida a partir de ácidos
– podem ter vindo de fora ou podem ter tido um processo aqui mesmo
– que criou células e essas células deram forma de seres simples
a seres complexos, desses seres com inúmeras extinções, se criou a
criatura que deu origem ao símios e dos símios ao ser humano. Mas
você pode estar perguntando: onde você quer chegar? Ora, se somos
símios que de alguma maneira criamos consciência, de outra nos
modificamos demais de nossos parentes evolucionário com tanto pouco
tempo, então só nos resta indagar se não somos produto de algo
além do que chamamos de real. Ainda mais longe: por que temos
necessariamente acreditar que somos produto de sorte, como alguns
insistem, e por que somos produto do meio da evolução? Porque somos
muito diferentes e muito além do que podemos dizer “filhos da
Terra”. Dai podemos chegar dentro do que Platão diz dentro do
teorema da caverna, toda realidade que pensamos ser um fato, muitas
vezes, não é um fato real e sim, um fato ilusório.
Quando
o ser humano saiu da caverna, ele se deparou com outra realidade e
descobriu que aquela realidade não era a verdadeira, mas também,
aquela de fora da caverna é uma extensão da realidade como um todo.
Então, podemos concluir que o “cogito” cartesiano só é uma
analise do sair da caverna platônico – alguns não vão concordar
– porque o ser humano se descobriu e começou a enxergar por si
mesmo. Quando
o ser humano saiu da caverna ele se espantou com outra
realidade e essa outra realidade lhe espantou – como todo mundo que
se depara com outra realidade – porque era uma extensão daquela
realidade com outro viés dessa realidade. O espanto foi da incerteza
que pairou na mente dele que tudo não pode ser determinado, pois
essa determinação de um fato concreto era apenas uma ilusão que se
cria a partir de símbolos de status social. E para sair das
“sombras” de uma realidade construída a partir de ilusões
históricas e morais, o primeiro sintoma é o espanto, e não é a
toa que Immanuel Kant vai dizer que o primeiro passo do “amor ao
saber” é o espanto de não ter uma realidade. É
o que trata esse simples teorema, uma simples historia para um
simples pensamento, não há certeza da nossa realidade e de tudo que
vivemos, mas há a certeza do “eu sou, eu existo” porque se eu
estou pensando naquela realidade, então estou percebendo primeiro a
minha existência. Santo Agostinho – antes de Descartes que
provavelmente pegou carona nesse pensamento – vai dizer que mesmo
errando, nós somos, como se não existisse algo perfeito e não
existe determinismo de nada que chamamos real, mas eu ainda continuo
sendo o que sou. Descartes
vai mais longe para provar que o cético – nome dos antigos ateus e
que não acreditavam em algum fenômeno mistico – também eram
levados a algumas crenças disse a famosa frase “eu penso, logo eu
existo” num contexto que se eu penso e sei da minha existência,
nenhuma realidade é definida e podemos duvidar de todas as
realidades e fatos (mesmo os científicos empíricos) que não são o
que são. Se somos a imagem e semelhança de um Ser Divino que pensa,
ele é sem ligar para as realidades transitórias e ele sabe que ele
mesmo existe. Ou seja, não importa se discutamos se esse Ser existe
ou não, por ele mesmo já é um fato ele existir e ele vai existir
você acreditando ou não, ele já é um conceito. Se temos que
duvidar, temos que duvidar de tudo e o pensamento cartesiano (o nome
de Renê Descartes em latim era Renatus Cartesius) nos mostra que não
é possível, porque não podemos duvidar de nós mesmos.
Voltando
ao filme, podemos ver que César é consciente do que ele é e que
não poderia ser, porque
ele sabe que sendo macaco tinha suas próprias limitações. Sendo
um líder consciente, ele sabia que numa guerra não se teria chance
de ganho e só poderia saindo perdendo, pois numa guerra só os
“mesmos” saem ilesos e os outros, são mortos e esses mortos só
serão números. Koba, cego pelo seu ódio, cria a ideologia que os
macacos são superiores e que por serem “pacíficos” - nesse
momento fica
claro a critica e a contradição – são muito melhores que os
humanos e que os humanos devem ser eliminados. Fica claro a critica
(não julgadora, mas analítica porque vai afundo na questão) social
que vai desembocar dentro das
ideologias que “cegam” e os seus adeptos, seguem sem discuti ou
perguntar o porque daquilo. As ideologias são apenas a “sombra”
platônica, Koba está envolvido em uma realidade dentro da “sombra”
que ele vê e não enxerga por causa da sua ilusão ideológica.
Vimos isso inúmeras vezes dentro da historia humana e vamos ver
muito mais, se o ser humano não
enxergar essa ilusão que somos superiores, não somos, somos
consciências que estamos aprendendo a nos encontrar e só quando nos
encontraremos, encontraremos a razão de tudo. César
é o ser consciente, o ser que mostra a verdadeira liderança, o rei
filosofo que se vê diante da ideologia e ilusão.
O
filme nos mostra nosso lado humano e ao mesmo tempo, nosso lado símio
que ainda é latente naqueles que não sabem que podem pensar, e que
ainda, estão acorrentados sem enxergar outras realidades. Aqueles
que não pensam só existe uma realidade entre muitas...