segunda-feira, setembro 08, 2014

Planeta dos humanos – a origem da ilusão.





Imagem do filme, César e seu filho. 




Gostaria de continuar a discussão que comecei com meu texto “Macacos e Homens – ilusões culturais”, porque houve um acréscimo após eu assistir o filme “Planeta dos Macacos – o confronto” que me deu muito mais material para reflexão. No filme, podemos ver que existe um líder que foi modificado geneticamente – não me lembro bem – que idealizou um lugar só para os macacos que foram libertados e foram cobaias por muito tempo. O nome desse líder é César e não seria outro – não li o livro, mas está obvio a escolha do nome – do que o nome de Júlio Caio César o maior general romano que existiu e quando instaurou o império por causa da corrupção da republica, mesmo assassinado injustamente pelos seus inimigos políticos por fazer uma reforma geral em Roma, seu nome deu origem ao imperadores que usaram seu nome. Dai então, todos os imperadores eram chamados de “cesares” e virou um titulo até o fim do império (mesmo com a mudança do cristianismo como religião oficial). Não longe, César do filme, reina diante dos outros com pulso forte e não muito ditador, mas pensa no bem estar na sua comunidade e da sua família. Também tinha uma grande amizade com Koba, seu fiel comandante que foi extremamente judiado quando foi cobaia e talvez nos faça refletir sobre o sentimento animal – que no andar dos dois filmes, é muito questionado – e que o sentimento de ódio e querer se vingar, são partes humanas dentro da origem símia/hominoidea. Mas certamente, Koba se vinga dos humanos por uma questão humana e racional que ele também desenvolveu, porque a 3 macacos que poderiam ter consciência e esses 3 eram César, Koba e uma especie de professor que não me lembro o nome, mas Koba é o segundo nome a liderar.

Koba guarda dentro de si mesmo a questão não resolvida de ser uma cobaia, de ser judiado e de ser subjugado por questões de desenvolvimento de vacinas. No filme também é questionado se esse desenvolvimento de vacinas não criariam novas doenças – que no filme foi criado a gripe símia que dizimou muitos humanos em pouco tempo – e que a ciência pode criar seres que estarão nos mesmos níveis de consciência que nós e pode ser símios como nós somos. Como disse, Koba é um ressentido que guarda dentro de si uma vontade de vingança e com a certeza – mesmo César não dizendo coisas do tipo – que os macacos eram seres superiores e que monstra que tinham consciência. Os lideres e os sábios faziam a sociedade viver tranquilo até humanos quererem usar a hidroelétrica – por causa de uma cidade reconstruída – e começam os confrontos, só que Koba com seu ódio (medo escondido) não confia nos humanos e pega as armas dos humanos na cidade e tenta matar César por dar um voto de confiança aos humanos. Mas Koba usa a regra básica que César coloca na comunidade deles “macacos não matam macacos”, por causa do senso de comunidade que eles tem, e é uma regra a ser seguida. Ora, qual o limite de um ódio infundado de coisas que aconteceram a tanto tempo e qual a origem do ódio? Vamos lembrar – quem assistiu – que Koba começa a mentir e querer tomar o lugar de César e fazer sua vingança para mostrar sua superioridade dele e dos macacos (ele só deixa solto os que apoia ele e mata os que não lhe obedece). Ditadores são assim, são os oprimidos que querem oprimir e tudo é uma analise hegeliana, porque dentro da história do mundo que sempre foi assim. Tanto o filme, quanto o livro (que repito não li), tem uma severa critica social sobre a sociedade humana sua cultura. A critica da historia é um questionamento e uma reflexão se esses sentimentos humanos são realmente sentimentos inatos do nosso lado animal (e consequentemente, um lado dominador e violento), um lado que deveríamos neutralizar por racionalizarmos e enxergarmos nossa realidade (ambientes onde vivemos).

César é o lado humano que nos comenda na senda do que é melhor para nós e os nossos iguais, Koba é o lado animal que vem do nosso medo e consequentemente, com esse medo, vem o ódio de querer não só se libertar, mas dominar. César e Koba é o dois lados de um mesmo ser – racional e não racional – que se confrontam para dominar e para hora trazer a paz, hora trazer a guerra. Isso pode ser verificável em todas as culturas e os zilhões de impérios que existiram – na maioria das vezes eram oprimidos que oprimiram – que foram forjados a custa do medo, do querer não evoluir junto, mas dominar o outro como meio para conseguir dominar e acuar. Talvez, esse lado que temos de oprimir seja restos de um tempo que fomos caça e muitos animais, devoravam os seres humanos. De repente esse lado caçador, seja seguramente um lado nosso que teve que adaptar e dominar, tivemos que dominar e desenvolver rápido nossas habilidades para não sermos mortos. Os oprimidos acabam sendo opressores – essa opressão tem a ver com o desenvolvimento da cadeia evolutiva – que levaram o ser humano ao seu apogeu nessa cadeia evolutiva e tem a ver com nossa capacidade de viver e de ter consciência de tudo que nos rodeia.

Daí fazemos a clássica pergunta filosófica: de onde viemos para termos essa capacidade de criarmos e nos adaptarmos diante de milhares ambientes em todo o planeta? Sim! Porque o César do filme foi geneticamente “produzido” e se transformou em um chipanzé consciente e entende todo o ambiente e as situações que os fatos trazem. Por que, de repente, não somos produto de uma raça alienígena que por algum motivo, acelerou a evolução ou nos deu parte deles? Ou por que não poderemos ser produto de uma raça evoluída que a muito desapareceu ou de repente, saiu de nosso planeta para outro ou até, são povos intraterrestres? Não podemos nunca descartar nada, porque são perguntas que mexem com o que nos temos como realidade, porque muitas delas são forjadas como realidades virtuais. Então entramos numa questão que a anos, e porque não, a seculos nos fazem refletir, o teorema da caverne de Platão que cabe muito bem em nossa discussão. Ele coloca na “boca” do seu mestre Sócrates um teorema assim: existia um povo que nascia dentro de uma caverna sempre acorrentado e vivendo olhando uma parede, essa parede se viam sombras graças a chamas atrás desse povo e somente eram homens carregando caixas, mas as sombras produziam outra realidade. Mas um desses seres humanos se soltou dessas correntes e vai em direção da entrada da caverna, então em um primeiro momento a luz do sol de ofusca a visão, mas num segundo momento essa luz lhe mostra uma outra realidade que não via, era uma realidade que não enxergava e era muito mais ampla. Lembrando que aquela realidade é forjada e essa realidade é natural – Platão talvez, colocou em questão o pensamento analítico e o pensamento sintético – a realidade forjada é fruto da sombra que vimos o que queremos ver e a realidade natural, é aquilo que é o que é. Mas ao retornar para dizer o que viu e libertar os demais eles começam a dar risada e “caçoar” dele, o homem insisti e é morto pelos demais (alguns historiadores e filósofos, dizem que Platão falava exatamente do seu mestre). O que podemos tirar dessa passagem que nos forçara a analisar um conjunto de consciências e indagação dos meios culturais e ideológicos dos nosso tempo?

Se viemos de outra raça avançada, seja extraterrestre ou intraterrestres, então somos produto de uma outra cultura e se somos produto de outra cultura, somos um meio dessa cultura. Ser um meio dessa cultura nos fazem ir atrás dessa cultura evoluindo cada vez mais em torno de procurar uma resposta – talvez a resposta não esteja apenas o que vimos – e sempre entramos em perguntas básicas e extremamente, em torno do espanto filosófico. Só que, diferente dos pensadores gregos e os inúmeros pensadores ao longo da historia humana, estou analisando as coisas muito amplamente. Quando pensamos em existência pensamos no ato da percepção de tudo que está a nossa volta e pesquisas dizem que tudo veio num amontoado de ácidos, poeira estrelar (descobriram que nosso sistema solar está numa bolha de poeira cósmica de uma supernova) e uma explosão que originou o tempo e o espaço. Então houve um ato e esse ato – o primeiro – foi romper algo para libertar algo dentro de uma potencialidade dentro do existir, depois de bilhões de anos, talvez até mais, houve uma nova explosão em uma supernova e mais uma vez se fez o ato de criar o sistema solar, depois houve uma colisão entre planetas e mais uma vez, se criou algo como a lua. Até mesmo o ato e potencialização aristotélica, se criou a vida a partir de ácidos – podem ter vindo de fora ou podem ter tido um processo aqui mesmo – que criou células e essas células deram forma de seres simples a seres complexos, desses seres com inúmeras extinções, se criou a criatura que deu origem ao símios e dos símios ao ser humano. Mas você pode estar perguntando: onde você quer chegar? Ora, se somos símios que de alguma maneira criamos consciência, de outra nos modificamos demais de nossos parentes evolucionário com tanto pouco tempo, então só nos resta indagar se não somos produto de algo além do que chamamos de real. Ainda mais longe: por que temos necessariamente acreditar que somos produto de sorte, como alguns insistem, e por que somos produto do meio da evolução? Porque somos muito diferentes e muito além do que podemos dizer “filhos da Terra”. Dai podemos chegar dentro do que Platão diz dentro do teorema da caverna, toda realidade que pensamos ser um fato, muitas vezes, não é um fato real e sim, um fato ilusório.

Quando o ser humano saiu da caverna, ele se deparou com outra realidade e descobriu que aquela realidade não era a verdadeira, mas também, aquela de fora da caverna é uma extensão da realidade como um todo. Então, podemos concluir que o “cogito” cartesiano só é uma analise do sair da caverna platônico – alguns não vão concordar – porque o ser humano se descobriu e começou a enxergar por si mesmo. Quando o ser humano saiu da caverna ele se espantou com outra realidade e essa outra realidade lhe espantou – como todo mundo que se depara com outra realidade – porque era uma extensão daquela realidade com outro viés dessa realidade. O espanto foi da incerteza que pairou na mente dele que tudo não pode ser determinado, pois essa determinação de um fato concreto era apenas uma ilusão que se cria a partir de símbolos de status social. E para sair das “sombras” de uma realidade construída a partir de ilusões históricas e morais, o primeiro sintoma é o espanto, e não é a toa que Immanuel Kant vai dizer que o primeiro passo do “amor ao saber” é o espanto de não ter uma realidade. É o que trata esse simples teorema, uma simples historia para um simples pensamento, não há certeza da nossa realidade e de tudo que vivemos, mas há a certeza do “eu sou, eu existo” porque se eu estou pensando naquela realidade, então estou percebendo primeiro a minha existência. Santo Agostinho – antes de Descartes que provavelmente pegou carona nesse pensamento – vai dizer que mesmo errando, nós somos, como se não existisse algo perfeito e não existe determinismo de nada que chamamos real, mas eu ainda continuo sendo o que sou. Descartes vai mais longe para provar que o cético – nome dos antigos ateus e que não acreditavam em algum fenômeno mistico – também eram levados a algumas crenças disse a famosa frase “eu penso, logo eu existo” num contexto que se eu penso e sei da minha existência, nenhuma realidade é definida e podemos duvidar de todas as realidades e fatos (mesmo os científicos empíricos) que não são o que são. Se somos a imagem e semelhança de um Ser Divino que pensa, ele é sem ligar para as realidades transitórias e ele sabe que ele mesmo existe. Ou seja, não importa se discutamos se esse Ser existe ou não, por ele mesmo já é um fato ele existir e ele vai existir você acreditando ou não, ele já é um conceito. Se temos que duvidar, temos que duvidar de tudo e o pensamento cartesiano (o nome de Renê Descartes em latim era Renatus Cartesius) nos mostra que não é possível, porque não podemos duvidar de nós mesmos.

Voltando ao filme, podemos ver que César é consciente do que ele é e que não poderia ser, porque ele sabe que sendo macaco tinha suas próprias limitações. Sendo um líder consciente, ele sabia que numa guerra não se teria chance de ganho e só poderia saindo perdendo, pois numa guerra só os “mesmos” saem ilesos e os outros, são mortos e esses mortos só serão números. Koba, cego pelo seu ódio, cria a ideologia que os macacos são superiores e que por serem “pacíficos” - nesse momento fica claro a critica e a contradição – são muito melhores que os humanos e que os humanos devem ser eliminados. Fica claro a critica (não julgadora, mas analítica porque vai afundo na questão) social que vai desembocar dentro das ideologias que “cegam” e os seus adeptos, seguem sem discuti ou perguntar o porque daquilo. As ideologias são apenas a “sombra” platônica, Koba está envolvido em uma realidade dentro da “sombra” que ele vê e não enxerga por causa da sua ilusão ideológica. Vimos isso inúmeras vezes dentro da historia humana e vamos ver muito mais, se o ser humano não enxergar essa ilusão que somos superiores, não somos, somos consciências que estamos aprendendo a nos encontrar e só quando nos encontraremos, encontraremos a razão de tudo. César é o ser consciente, o ser que mostra a verdadeira liderança, o rei filosofo que se vê diante da ideologia e ilusão.

O filme nos mostra nosso lado humano e ao mesmo tempo, nosso lado símio que ainda é latente naqueles que não sabem que podem pensar, e que ainda, estão acorrentados sem enxergar outras realidades. Aqueles que não pensam só existe uma realidade entre muitas...



Amauri Nolasco Sanches Junior