'É um gente muito feia, é um neocafona transbordante. Passeando pela rua, vendo aquela gente vestida de verde e amarelo, sem estilo, que não tem uma boa relação com o corpo. Diz respeito à formação das subjetividades dessas pessoas. É a gente que tem coragem de ir à Paulista a cavalo. É uma gente muito cafona, que tem um problema estético profundo, não só da aparência, e tem a ver com o conteúdo. Esse é o conteúdo dessas pessoas, terrível do ponto de vista da subjetividade. Falta sexo a eles, com certeza. Mas ali, com certeza, tem algo mais bizarro, que é muito ressentimento. Falta a eles um erotismo com a vida', disse Tiburi. (aqui)
Eu li “O Manifesto Comunista” de Marx e Engels e não me tornei comunista. Por que? Quando eu era adolescente, não tive tantas liberdades como eu gostaria, primeiro, porque eu estive em uma entidade que achava que pessoas com deficiência não podiam se virar sozinhos e eram eternas crianças. Segundo, fui lendo e estudando mais sobre e estou estudando filosofia num modo acadêmico. Não dá para olhar a revolução russa ou chinesa - até o tanque chines passando por cima do rapaz em 1989 - e dizer que as coisas vão melhorar com uma revolução, sendo que todas foram um grupo seleto de humanos que tomaram o poder. Tanto as revoluções burguesas quanto as revoluções proletárias (como muitas aspas), sempre acharam do direito de guiar as outras pessoas como “baluartes do conhecimento”. Como disse Jesus em um dos evangelhos: “cegos guiando outros cegos”.
Platão dizia isso dizendo que haveria os teóricos das sombras e que eles chegavam perto, mas não desvendaram a natureza das sombras porque estavam iludidos como os outros. Ou seja, comunistas e muito liberais acham que a liberdade social e política só acontece em um modo econômico. Nozick no seu livro “Anarquia, Estado e Utopia” escreveu no Prefácio que “Nossa principal conclusão sobre o Estado é que um Estado mínimo, limitado às funções restritas de proteção contra a força, o roubo, a fraude, de fiscalização do cumprimento de contratos e assim por diante justifica-se; que o Estado mais amplo violará os direitos das pessoas de não serem forçadas a fazer certas coisas, e que não se justifica; e que o Estado mínimo é tanto inspirador quanto certo. Duas implicações dignas de nota são que o Estado não pode usar sua máquina coercitiva para obrigar certos cidadãos a ajudarem a outros ou para proibir atividades a pessoas que desejam realizá-las para seu próprio bem ou proteção.”.
Assim como a entidade achava que era dona das pessoas com deficiência e suas vontades (como baluartes da deficiência e proteção), o Estado infantiliza as pessoas para alienar e dar a elas, uma proteção que muitas vezes, não cumpre porque um Estado muito amplo , é burocrático e ineficaz. Por isso, sou um anarquista libertário ao ponto de apoiar o Estado mínimo até as pessoas sejam educadas a ver o modo social como um modo voluntário e o Estado não ser mais necessário, por isso mesmo, eu sou contra tanto a esquerda comunista (e seus derivados) como a direita conservadora (e também seus derivados). Ser anarquista libertário sempre nos é um lembrete que o grande mal humano é o Estado e seus discursos de bem-estar que começam de um modo revolucionário (sempre morrendo o mais pobre) e termina de um modo conservador (para perpetuar o governo).
O comunismo adora repetir uma frase de Marx do 18 Brumários - sim, fiz a “lição de casa” de estudar - diz assim: “Até agora os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo de várias formas. O que importa é transformá-lo.”. Eu já analisei essa frase, mas Marx errou em dizer isso porque filósofo nenhum pode mudar nada e só pode entender o mundo diante da racionalidade, porque o mundo é bastante complexo para acharmos em meios simplistas, que o mundo é uma construção de conceitos e imagens. A filosofia nunca teve o compromisso de dar uma resposta pronta da realidade e sim, dará dúvidas para nos encontrar sozinhos. Marx só está analisando as sombras de forma superficial e não de uma forma mais profunda, onde há uma coisa muito além do que a economia que ele mesmo chamou de alienação. Isso não quer dizer que eu, como um filósofo, não tenha que respeitar Marx como tal. Descordar não é ignorar.
Pois, os filósofos brasileiros da escola francesa (USP) e outros da escola marxista e positivista, insistem nesse pensamento de Marx e esquecem das tentativas revolucionárias não deram certo. A “cortina de ferro” soviética não deu certo porque comunidades humanas não vivem sozinhas e isoladas, se não entra dinheiro não circula a economia. Isso é básico. Claro, como disse lá em cima, governos começam revolucionários e terminam conservadores e no modo mais profundo, somos uma sociedade muito reacionária por ser romântica. Não, não estou no modo de amor romântico, estou falando do pensamento romântico em si mesmo. Romantizamos mães, romantizamos idosos, romantizamos ideologias políticas, romantizamos deficiências etc., por causa das experiências subjetivas.
A filosofa (com muitas aspas) Marcia Tiburi é uma feminista que disse ser de uma esquerda comunista ou socialista. O feminismo foi um movimento de direitos das mulheres legítimo até o momento que o movimento identitário (que se diz foucaultiano) tomou para si e transformou em um radicalismo de representação, ou seja, só as mulheres devem discutir direitos de mulheres. Até aí nenhum problema, mas me parece que a professora Tiburi exagera nos seus conceitos. Hoje aceitamos, muito mais fácil, que Gilles Deleuze disse que um filósofo é um construtor de conceitos. Mas, eu acho que “gente feia” e “neocafonice” são conceitos genéricos. Do mesmo modo, podemos dizer do seu conceito de “fascismo-liberal” como se liberais fossem algo “demoníaco”, e no mais, a meu ver, o verdadeiro fascismo morreu com Mussolini. E quem estudou fascismo de verdade sabe que os regimes fascistas e nazistas tinham bases socialistas - claro, não marxistas - que eram contra os liberais, anarquistas (lógico) e todas outras ideologias a não ser as deles. Bem parecidos com os regimes socialistas de molde marxistas, não podemos negar.
Não existe nem liberal-conservador como os “cristãos” adoram dizer, mas, na essência, são tradicionalistas. Ou seja, nossa cultura (seja de esquerda ou direita) é calcada dentro de um reacionarismo onde o brasileiro gosta de se apegar a sua memória afetiva. No passado era bom. No passado esta a verdade. No passado está o conhecimento