Umas das coisas que me assustam bastante é a facilidade do povo brasileiro fazer julgamentos desnecessários, um posicionamento que atende aos interesses da sua própria crença, ter opiniões distorcidas e sem fundamento nenhum. No caso do menino que quebrou tudo na escola (na sala dos professores), por exemplo, não se sabe se o menino tem um certo autismo, não se sabe se o menino tem um deficit de atenção, não se sabe o que o menino passou ou até, o que a escola fez para o menino ter aquela reação. Vimos muitas manifestações que os pais deveriam dar cintadas, que no caso se for um deficit de atenção, não vai adiantar. Também vimos os ataques racistas na pagina da atriz global, as declarações machistas sobre uma menina de 12 anos, até o tema da redação do ENEM que era a violência contra a mulher, uma questão importante, que disseram que era uma doutrinação comunista, como se o comunismo se preocupasse com tais questões. Mas o que seria o grande desencadeador disso tudo?
Todas essas situações, de pura má educação, são situações de
um conservadorismo que não cabe mais no mundo de hoje. Por que não
cabe? Porque o mundo já é e como sempre o Brasil fica para trás,
pós-moderno e já está entrando em outros períodos. Já escrevi
que não ouve um projeto dentro até da cultura brasileira, uma
ruptura desse ruralismo que ainda se encontra dentro da maioria da
cultura, seja no âmbito de ser um povo ignorante, ser um povo de
extrema religiosidade, ser um povo que se apegou o que interessa na
sua cultura. Claro que o homem vai querer não perder a “majestade”,
claro que ainda haverá pessoas que não gosta de negros, que haverá
sempre aqueles que “torcem o nariz” quando vê uma pessoa
deficiente, haverá homens que assediarão meninas de 12 anos. Porque
somos um povo que muda aquilo que nos interessa apenas, não se gosta
aqui no Brasil, que se mude aquilo que não cabe dentro do que a
maioria vai achar cômodo. Mas também penso que não há
de modo nenhum problema ser conservador, como li uma vez na internet
e concordo, o problema é quando isso vira seita extremista. Sim. O
comunismo como os liberais conservadores são uma religião que
religa você até a base do pensamento dessas ideologias, como o
comunismo religa ao pensamento de Marx e outras vertentes
posteriores, assim os liberais conservadores vão ser ligados a uma
moral que religa a uma ordem social de escolhas e meritocracia.
O conservador sempre é o sujeito que se acha acima do bem e do mal,
suas crenças devem ser respeitadas (sempre nunca respeitam as dos
“outros”), os assuntos íntimos devem ser discutidos dentro de
cada casa com cada indivíduo (como se a violência não vai sair
dali), que tudo que sai daquilo que acredita e respeita, vira pecado
(muitas vezes, tudo aquilo que acredita só é uma carapaça para ser
o que não é). E o que mais me assusta, é que muitos que deveriam
defender a liberdade, como os libertários, são em grande maioria
pessoas que gostam do conservadorismo como se fosse uma regra moral
estabelecida antes de acabar com o ESTADO, ou seja, temos um paradoxo
dentro do movimento libertário. Se se defende a liberdade e se
acredita que o ESTADO é o grande mal dentro das inúmeras sociedades
humanas, como se comprova em vários fatos históricos, é pelo
conservadorismo que o mesmo ESTADO se nutre e tem a liberdade de
alienar a grande maioria das pessoas. Quanto mais uma sociedade se
torna conservadora – sustenta uma cultura que não pode ser mudada
– mais facilmente ela vai ser dominada pela falsa liberdade, pela
falsa sensação de que está fazendo suas escolhas, pela falsa
sensação que somos protegidos por ela. Sempre houve homens e
mulheres que traíram. Sempre houve musicas contestadoras e que mudou
comportamentos dos jovens. Sempre houve a quebra de religiosidades
que não servem mais a um mundo em processo de evolução constante.
Mudar trás a insegurança e a insegurança trás o conflito e a
incerteza. Qual a certeza que temos no mundo? Qual a certeza dentro
de uma cultura constante?
Sou um anarco-libertário progressista (acredito que o homem só vai
ser liberto das suas amarras pela educação e pela pedagogia
libertaria), não acredito que a mudança de pensamento seja uma
coisa ruim ou vai trazer o caos, mas é um direito de cada um ser
instruído para fazer da sua vida sua fiel escolha. Isso nada tem a
ver com existe ou não Deus ou alguma divindade – essa para mim é
uma questão além de escolha é uma questão também de instrução
– mas sermos coerentes de cada escolha que será feita dentro
daquilo que nossa moral (relativo aos costumes) e a ética (caráter)
fazem na nossa consciência. Por que alguma divindade iria interferir
nas nossas escolhas? Por que algum “demônio” conseguiria achar
meios para nos desviar do nosso proposito? Isso que são alguns
propósitos nossos, fazemos melhores escolhas para nos dar um rumo
naquilo que convenhamos seguir. A maioria das vezes, o ESTADO
interfere nessas escolhas para melhor caberem nos inúmeros
interesses que os donos dos milhares de capitais do mundo (muitas
vezes esses donos de capitais estão no governo), querem. Se há
muitas empresas de informática, haverá mais cursos de informática
com a promessa de ganhar dinheiro, como acontece e muitos outros. Por
que isso? Por que ainda há
um pensamento que tudo que é liberdade e que se pode discutir
abertamente é “comunismo” (hoje), é coisa do “demônio”
(período medieval), é contra os costumes (no período clássico)?
Porque é coisa que o ESTADO sempre explorou, sempre explorou o que a
população tem mais medo.
Sinceramente, se grito e porrada educasse alguém, o povo brasileiro
era um dos povos mais educados do mundo. Se o comunismo trouxesse a
liberdade que tanto falam, não haveria tanta bizarrice na Rússia.
São discussões que deveriam ir muito além do senso comum e são
discussões que não deveriam estar no meio do modo ideológico –
como se isso devesse ser uma constante dentro dessa discussão –
mas deveria ser uma discussão no âmbito educacional, afinal,
estamos falando de uma evolução dentro da cultura e e porque não,
biológica. Ainda, nossa cultura, é contaminada com uma moral
constante que é quase uma moral medieval, uma moral que atende
alguns interesses e não levará nossa nação a um progresso
necessário dentro de um âmbito necessário para a liberdade.
Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, publicitário, TI e filósofo