por Amauri
Nolasco Sanches Junior
eu vi o filme Malévola
e devo admitir que estou lendo muitas analises ruins e até ideias
que nem estão num filme de “criança”, uma outra visão da “Bela Adormecida”. Um desses textos me fez procurar esse filme online e
assisti com minha sobrinha, o nome é “A Misandria de Malévola”
de André Forastieri do portal R7. Para quem não sabe, misandria são
mulheres que tem ódio pelo sexo masculino, ou seja, o cara nem se
deu o trabalho de enxergar a trama da historia e o porque a Malévola
tinha tanto rancor do rei Stefan. Será que todo efeito não existe
uma causa? Ou ele ficou ferido com a masculinidade da Bela Aurora ser
acordada por um beijo na testa?
Todos nós crescemos
com a história da Bela Adormecida e todos sabemos das consequências que essa historia trouxe para nossa sociedade ocidental que a mulher
tem que ficar a espera no príncipe para lhe dar um beijo de amor e
despertar ela do sono da infância. O termo adolescente é algo muito
recente, então, quando a historia foi escrita, essa era a ideia.
Ora, o homem desperta a mulher em ser mulher com um amor verdadeiro
e esse amor começa sua trajetória como mulher. Imagina que na
versão original o príncipe estupra a princesa (que pica seu dedo em
um espinho e dorme) ela tem gêmeos e um desses gêmeos chupa o dedo e
tira os espinhos e o rei mata a rainha para ficar com a Aurora. Perto
dessa versão “macho alfa” da Bela adormecida, Malévola é
“fichinha”.
Todo conto de fadas é
algo arquetípico da psique humana e sem muito medo de errar, em
Malévola, isso está muito evidente. Por que? Malévola mora em um
reino encantado e é uma fada com asas, fadas são seres arquetípicos da inocência infantil, a fantasia que não pode deixar de existir nos
primeiros anos (coexistem nos idealistas). As asas são o pensamento
que voa conforme a imaginação nos leva, como um sonho que nos diz o
que está escondido em nós. O reino dos Moors é esse mundo que não
pode ser explorado, os humanos são todos os conceitos que a
sociedade nos coloca, não podem entrar no reino dos Moors porque não
podem ser explorado pela razão. Quando o ser humano tomou para si a
razão, aprisionou o homem e a mulher em trabalhar para manter o
mundo real, o amor não pode estar acima do dinheiro e poder.
Malévola é a inocencia humana naquilo que é verdadeiro (a alma
verdadeira e sua essência diante do real que pensamos ser
verdadeiro), naquilo que todo ser humano é por natureza, mas Stefan
é a ganância dos homens que não podem ser sonhadores, tem que ser
homens bem sucedidos e fazerem tudo que a sociedade quer. Na verdade,
isso é uma analise já feita por Campbell (que deu aquele entrevista clássica que se chama O Poder do Mito), que o feminino é o lado
delicado que foi construído graças ao mito de gerações no passado,
o masculino é aquele forte que tem todo o direito de trabalhar e
fazer o que bem entender. Malévola era sonhadora e alegre e sempre
brincava com os seres do reino de Moors, até chegar Stefan que lhe
rouba o amor, quando se ama, não há limites. Mas numa noite, Stefan
rouba as asas da fada para ser rei, lhe rouba o sonho para poder
reinar e querer mandar até no reino de Moors. A razão rouba o poder
da imaginação para reinar em um reino que não se pode entrar, não
se pode ter de repente, certos domínios. O feminino é algo ainda,
mesmo no machismo dominante, uma imagem indefesa e arquetípica dentro
de uma sociedade vista num âmbito mais ou menos, acima de algo
explicativo e concreto.
Depois nasce a Aurora e
Malévola joga a maldição que quando a menina completa-se 16 anos,
ela iria furar o dedo em uma roca de costura (um tipo de maquina de
costura medieval) onde iria dormir para sempre e só acordaria se
alguém lhe beija-se com o amor verdadeiro. Lembrem que ela não
disse que era homem ou mulher, mas alguém, alguém que tenha um amor
verdadeiro por Aurora. Na verdade, Aurora é filha do rei, o rei é
Stefan que é a razão, o poder e a ganancia dá seus frutos e nisso
nasce a princesa, mas Aurora é a outra parte esquecida de Malévola,
a alma que resgata o lado negativo de tudo que vivemos, tudo que
encontramos como dificuldades. Aurora é a alma de Malévola que
nasce da ganancia e do poder, é o lado ingenuo e alegre de todo ser
humano. Malévola é o ser humano desiludido, fechado em seus
próprios pensamentos, dentro de si faz seus sonhos e esperanças
serem seus súditos, é a alma sem asas, é a escuridão e o ódio e
isso muda quando ela vê Aurora. Ela acorda a sua alma com um beijo,
o amor de si mesmo faz ela sentir ela como ela é de fato, não algo
produzido dentro de uma sociedade, mas algo dentro de uma imagem dentro de si mesmo. O mito de Narciso mostra ele “afogado” amando
a si mesmo por causa de um reflexo, mas Malévola precisou enxergar a
si mesmo para perdoar e no fim razão transtornada, morre brigando,
pois Malévola mata o rei, mata aquele que quer destruí-la porque ela
não obedeceu e ficou longe do seu domínio. O sonho mata a razão
para consagrar a virtude e a união dos dois reinos.
No filme também, há
outras desconstruções importantes como desconstruir uma imagem que o
mal é gerado graças aspectos da vontade e temos que construir um
histórico da onde vem esse mal. Eu não acredito no bem e no mal –
por ser nietzscheriano e por eu acreditar que é sim uma medida
cultural humana, um meio para dominação e os mitos tem uma
conotação do heroico, o modelo que todo ser humano deve ser e esse
“deve” constrói o que os dominantes querem na humanidade –
porque tivemos prova que isso é muito relativo graças ao aspecto
emocional, que tem a ver com o lado subjetivo, onde fazem uma
construção quem é culturalmente aceito e quem não. Não devemos
ter raiva, não devemos pensar em dar limites as pessoas, não
devemos construir uma identidade relativa no aspecto do “bem”
como o poder constrói esse discurso. O filme nos mostra a quebra de
vários paradigmas e imagens dentro do esteriótipo das mulheres e as
imagens criadas dentro desse estereótipo, como se as mulheres não
pudessem reinar ou serem independentes sem um principe. Aliás, no
filme isso é bem nítido, bem feito e bem trabalhado.