Por Amauri Nolasco Sanches
Junior.
Nesses dias deu a calhar de
assisti o filme “Lucy” que é muito interessante, porque abre a
discussão da expansão da consciência e o limite que o ser humano
pode ter com essa expansão. Primeiro o filme faz referencia a que
chamaram de um achado arqueológico que deram o nome de Lucy, a
primeira mulher que teria gerado boa parte da humanidade e o nome é
referente a uma musica dos Beatles, “Lucy In The Sky With
Diamonds”. Aliás, fica claro que o filme é uma referencia a
musica também, porque a tradução diz: “Lucy no céu com
diamantes” que é as viagens que se fazia tomando ácidos ou uma
viagem entre a queda e a ascensão espiritual. Na verdade –
viajando bem na “maionese” que esse texto vai fazer e é uma
escolha do leitos ler ou não, por isso já aviso – o filme tem um
viés muito mais além do que cientifico, que as pessoas ainda não
sabem distinguir e nem poderiam distinguir com nossa cultura
positivista iluminista (extremo ceticismo) e conservadora (extremo
cristianismo) em não olhar possibilidades. Ninguém aqui está
dizendo ser verdade ou mentira, é uma reflexão e devemos criar
hipóteses viáveis ou não.
Em minhas pesquisas, li vários textos em português e um pouco em
inglês que me fizeram refletir numa coisa, os em inglês não
colocaram como verdades absolutas e os de português, já colocaram.
Por que acontece isso? Porque o brasileiro lê uma coisa e já coloca
como verdade incontestável e não pode, porque a ciência empírica
é feita de pesquisas e essas pesquisas não são conclusivas, pode
ser que usamos 100% do nosso cérebro, como pode ser que usamos 10%,
mas as pesquisas não concluíram nada ainda. Podemos começar com a
pergunta: se usamos 100% do nosso cérebro, por que não entendemos
ainda a natureza da matéria, por exemplo? Por que temos tanto medo?
Por que temos tantas incertezas ainda? Essas questões não são
respondidas e se são, são respondidas com bastante
superficialidade. E a ciência não se responde com essa
superficialidade toda, ela responde com hipóteses que podem validar
e pode não validar. Então, vamos a “philosophia” da questão.
Ora, qual a natureza da matéria? A matéria até aonde sabemos, se
formou com átomos feitos de partículas produzidas, talvez, da
grande explosão primordial (big bang). Mas o mais interessante é
que no filme, quando Lucy expande a consciência, ela diz que a única
medida confiável e o tempo. E se pensarmos direito, a matéria se
forma exatamente no instante que a explosão inicia nosso universo –
que pesquisas recentes dizem que podemos ser produto de uma estrela
na 4º dimensão – e graças ao tempo, como medida, os átomos se
formam e segundo a Teoria da Relatividade, até a gravidade se forma.
O tempo corre como um “rio” e o espaço é a expansão das águas,
então, a matéria como conhecemos é expandida graças ao tempo.
Então, podemos dizer que a medida pode ser o tempo? O medo é fácil
detectar sua natureza que vem na incerteza, vamos dizer que não
temos certeza de nada, nem que exista seres de outro planetas
inteligentes ou não, nem que exista espíritos, existe pesquisas não
concluídas. Se não sabemos da onde viemos e para onde vamos, não
existe um “porquê” da nossa existência. O cartesianismo nos
ensina que podemos duvidar da existência da realidade – como
objeto – mas não podemos duvidar que pensamos, não podemos
duvidar da nossa existência. O medo é a falta da nossa
autoafirmação da realidade objetiva, porque eu sou o que sempre fui
no tempo, e serei o que sempre foi minha natureza porque sou fruto
desse mesmo tempo. Se eu sou produto desse tempo, outros devem ser e
o universo é muito grande e existe varias possibilidades, que não
podemos descartar. Já nessa mesma analise há uma discrepância
enorme de maneiras de raciocínio, então diante disso podemos
concluir e até duvidar se realmente usamos 100% do nosso cérebro.
Como o escritor e filósofo Herculano Pires na obra “ O Ser e a
Serenidade” disse que os teólogos tem o mal de tornar os signos
(símbolos) em objetos e coloco no ser humano em geral. Ele coloca
esses signos como objetos e esses objetos nada são do que símbolos
por natureza, porque uma cadeira, por exemplo, só é uma cadeira
quando temos vontade de sentar se não, teremos um objeto qualquer
ali. Mas voltando, no mesmo livro o filósofo nos faz um belo
raciocínio em que Adão é a queda e Cristo é a ascensão. Não nos
é a toa o nome do texto e ai está o simbolismo, vamos a
“philosophia” da questão. Adão do hebraico “אדם"
tem relação tanto com adamá “solo vermelho” ou “barro
vermelho”, quanto adom “vermelho” e dam “sangue”. Mas há
outras versões e significados como “homem”, “feito de Deus”,
“aquele que foi criado” etc. Já Cristo – como titulo a Jesus
de Nazaré – vem do grego “khristos” que quer dizer “o
ungido” e é uma tradução do hebraico “mashiah” que quer
dizer “untar, ungir”. Entre muitos significados, o que cabe aqui
do ungir é purificar, a purificação da consciência. Se do ser
bruto que sai do estado de ascensão da consciência com o “fruto”
da arvore da vida. Mas que “fruto” é esse? Adão como “homem
de barro (vermelho)” faz referencia a queda. Aquele que saiu do
paraíso (consciência) e que teve que “...comer com o seu próprio
suor” (materialismo?). Cristo é o ungido é a purificação (cruz
vem do grego “xylom” que significa “arvore” ou “madeira”)
e essa purificação é da alma, porque o homem sai da sua
consciência elevada (queda) graças ao distanciamento, e ganha com a
purificação da consciência (ascensão). A
bíblia sagrada que é cristã e judia, nos deu a dica, mas não é a
única que nos dá, existem vários livros sagrados que nos tira da
zona de conforto existencial – que muitos chamam de alienação –
e nos darão outra realidade. Como disse acima, o problema maior, é
tornamos algo que são simples símbolos em algo que é objeto.
Fica claro que nossa realidade
não passa de mera subjetividade, quando nos deparamos com um
infinito de situações e possibilidades que vamos ter dentro do
nosso mundo. Lembramos que o próprio Jesus disse não trazer a paz e
sim a espada, pois a paz (conformidade) não mudara sua visão diante
do mundo e a espada (a ascensão) é o modo que podemos chegar até
ao criador. Mas somos criaturas de algo maior ou apenas produto de
uma ilusão muito maior que vai além do que chamamos de simulação?
Não sabemos, sabemos que a nossa realidade pode não ser o que
pensamos que ela seja. Algum tempo atrás tudo podia ser medido e
previsto, hoje sabemos que não poderemos prever nada, porque tudo
depende da causa que movimentou aquilo ou causou aquele fenômeno. A
leitura da nossa consciência como tal, é uma leitura da realidade e
se limita aos signos (símbolos) que conhecemos. Então, podemos sim
usar todo nosso cérebro, mas não usamos toda a nossa consciência
que esta depositada no inconsciente. Muito provável – não tenho
um porcentual verdadeiro – aproximadamente temos 10% do consciente
(aquilo que percebemos) e temos outros 90% do inconsciente (aquilo
que não percebemos, mas fazem de nós o que somos) que ai sim, damos
o porcentual de 100%. Então, podemos concluir que os livros de
“auto-ajuda” não estão errados, o que acontece é a confusão
entre a mente e a consciência. Dai voltamos ao que o filósofo
Herculano Pires disse dos teólogos, que transformam símbolos em
objetos, porque nem sempre tratamos mente como cérebro, mas uma
parte da consciência.
Isso é o que aconteceu, nós estamos expandindo nossas consciências
para além do que nossos ancestrais precisavam, sendo ainda mal
entendida, entre a mente e a consciência há uma diferença muito
grande. A mente é o que o cérebro leia a alma, ou seja, para a alma
operar com o corpo, vários sistemas e processos químicos tem que
acontecer. A consciência é a alma operando com a intuição, ou
seja, a consciência vai além da mente porque a mente só percebe o
que “aprendemos” como real, a consciência vai muito além do que
“aprendemos”. As vezes, ou sempre, o que aprendemos é o que nos
aliena – que Karl Marx vai dizer que o capitalismo faz para melhor
dominar seus empregados e Sartre vai dizer que todo alienado é
condicionado pela má-fé – porque não é nós e não conhecemos
nossos limites e quem realmente somos e sim, o que o outro quer que
sejamos. A mente é a mascara social que o sistema nos aprisiona, nos
amordaça para nunca termos a consciência. O ser humano perde sua
essência quando o meio social te domina, o fruto do pecado é o
poder, a alienação que a serpente (o poder e o medo) diz para Eva
(vivente) a comer e dar a Adão (o homem do barro vermelho) a comer
também. Esqueceram da consciência, que na verdade, ficou na
inconsciência. Então, o problema não esta na mente e sim na
consciência.
O filme mostra que Lucy transcendeu todo o limite do tempo, ela viaja
no tempo porque ela rompeu o bloqueio da mente, ela flui na
consciência. Quando flui, ela começa a compreender tudo que está a
volta, começa a manipular toda a matéria e quando isso ocorre, ela
se torna o TODO. Ela voltou ao paraíso além do tempo e do espaço,
porque se tornou parte de algo transcendente e que compreendeu a
existência – entrou em estado de consciência onisciente – que
os budistas chamam de nirvana e os cristãos chamam de estado de
graça. Dai os críticos não entendem porque só enxergam o lado
cientifico materialista, porque não vão além, porque o autor funde
a ciência com o transcendente. Porque ela compreendeu que aquilo não
existe, a matéria não existe, são ondas que podemos compreender e
manipular e uma coisa muito interessante acontece, ela vai até a
Lucy, onde a humanidade descende. O passado e o futuro se fundem em
um só objetivo.
O filme é uma viagem
interessante que pode ser o inicio de uma discussão mais ampla e com
menos “certezas absolutas”.