quinta-feira, outubro 23, 2014

Consciência – queda e ascensão.








Por Amauri Nolasco Sanches Junior.


Nesses dias deu a calhar de assisti o filme “Lucy” que é muito interessante, porque abre a discussão da expansão da consciência e o limite que o ser humano pode ter com essa expansão. Primeiro o filme faz referencia a que chamaram de um achado arqueológico que deram o nome de Lucy, a primeira mulher que teria gerado boa parte da humanidade e o nome é referente a uma musica dos Beatles, “Lucy In The Sky With Diamonds”. Aliás, fica claro que o filme é uma referencia a musica também, porque a tradução diz: “Lucy no céu com diamantes” que é as viagens que se fazia tomando ácidos ou uma viagem entre a queda e a ascensão espiritual. Na verdade – viajando bem na “maionese” que esse texto vai fazer e é uma escolha do leitos ler ou não, por isso já aviso – o filme tem um viés muito mais além do que cientifico, que as pessoas ainda não sabem distinguir e nem poderiam distinguir com nossa cultura positivista iluminista (extremo ceticismo) e conservadora (extremo cristianismo) em não olhar possibilidades. Ninguém aqui está dizendo ser verdade ou mentira, é uma reflexão e devemos criar hipóteses viáveis ou não.

Em minhas pesquisas, li vários textos em português e um pouco em inglês que me fizeram refletir numa coisa, os em inglês não colocaram como verdades absolutas e os de português, já colocaram. Por que acontece isso? Porque o brasileiro lê uma coisa e já coloca como verdade incontestável e não pode, porque a ciência empírica é feita de pesquisas e essas pesquisas não são conclusivas, pode ser que usamos 100% do nosso cérebro, como pode ser que usamos 10%, mas as pesquisas não concluíram nada ainda. Podemos começar com a pergunta: se usamos 100% do nosso cérebro, por que não entendemos ainda a natureza da matéria, por exemplo? Por que temos tanto medo? Por que temos tantas incertezas ainda? Essas questões não são respondidas e se são, são respondidas com bastante superficialidade. E a ciência não se responde com essa superficialidade toda, ela responde com hipóteses que podem validar e pode não validar. Então, vamos a “philosophia” da questão.

Ora, qual a natureza da matéria? A matéria até aonde sabemos, se formou com átomos feitos de partículas produzidas, talvez, da grande explosão primordial (big bang). Mas o mais interessante é que no filme, quando Lucy expande a consciência, ela diz que a única medida confiável e o tempo. E se pensarmos direito, a matéria se forma exatamente no instante que a explosão inicia nosso universo – que pesquisas recentes dizem que podemos ser produto de uma estrela na 4º dimensão – e graças ao tempo, como medida, os átomos se formam e segundo a Teoria da Relatividade, até a gravidade se forma. O tempo corre como um “rio” e o espaço é a expansão das águas, então, a matéria como conhecemos é expandida graças ao tempo. Então, podemos dizer que a medida pode ser o tempo? O medo é fácil detectar sua natureza que vem na incerteza, vamos dizer que não temos certeza de nada, nem que exista seres de outro planetas inteligentes ou não, nem que exista espíritos, existe pesquisas não concluídas. Se não sabemos da onde viemos e para onde vamos, não existe um “porquê” da nossa existência. O cartesianismo nos ensina que podemos duvidar da existência da realidade – como objeto – mas não podemos duvidar que pensamos, não podemos duvidar da nossa existência. O medo é a falta da nossa autoafirmação da realidade objetiva, porque eu sou o que sempre fui no tempo, e serei o que sempre foi minha natureza porque sou fruto desse mesmo tempo. Se eu sou produto desse tempo, outros devem ser e o universo é muito grande e existe varias possibilidades, que não podemos descartar. Já nessa mesma analise há uma discrepância enorme de maneiras de raciocínio, então diante disso podemos concluir e até duvidar se realmente usamos 100% do nosso cérebro.

Como o escritor e filósofo Herculano Pires na obra “ O Ser e a Serenidade” disse que os teólogos tem o mal de tornar os signos (símbolos) em objetos e coloco no ser humano em geral. Ele coloca esses signos como objetos e esses objetos nada são do que símbolos por natureza, porque uma cadeira, por exemplo, só é uma cadeira quando temos vontade de sentar se não, teremos um objeto qualquer ali. Mas voltando, no mesmo livro o filósofo nos faz um belo raciocínio em que Adão é a queda e Cristo é a ascensão. Não nos é a toa o nome do texto e ai está o simbolismo, vamos a “philosophia” da questão. Adão do hebraico “אדם" tem relação tanto com adamá “solo vermelho” ou “barro vermelho”, quanto adom “vermelho” e dam “sangue”. Mas há outras versões e significados como “homem”, “feito de Deus”, “aquele que foi criado” etc. Já Cristo – como titulo a Jesus de Nazaré – vem do grego “khristos” que quer dizer “o ungido” e é uma tradução do hebraico “mashiah” que quer dizer “untar, ungir”. Entre muitos significados, o que cabe aqui do ungir é purificar, a purificação da consciência. Se do ser bruto que sai do estado de ascensão da consciência com o “fruto” da arvore da vida. Mas que “fruto” é esse? Adão como “homem de barro (vermelho)” faz referencia a queda. Aquele que saiu do paraíso (consciência) e que teve que “...comer com o seu próprio suor” (materialismo?). Cristo é o ungido é a purificação (cruz vem do grego “xylom” que significa “arvore” ou “madeira”) e essa purificação é da alma, porque o homem sai da sua consciência elevada (queda) graças ao distanciamento, e ganha com a purificação da consciência (ascensão). A bíblia sagrada que é cristã e judia, nos deu a dica, mas não é a única que nos dá, existem vários livros sagrados que nos tira da zona de conforto existencial – que muitos chamam de alienação – e nos darão outra realidade. Como disse acima, o problema maior, é tornamos algo que são simples símbolos em algo que é objeto.

Fica claro que nossa realidade não passa de mera subjetividade, quando nos deparamos com um infinito de situações e possibilidades que vamos ter dentro do nosso mundo. Lembramos que o próprio Jesus disse não trazer a paz e sim a espada, pois a paz (conformidade) não mudara sua visão diante do mundo e a espada (a ascensão) é o modo que podemos chegar até ao criador. Mas somos criaturas de algo maior ou apenas produto de uma ilusão muito maior que vai além do que chamamos de simulação? Não sabemos, sabemos que a nossa realidade pode não ser o que pensamos que ela seja. Algum tempo atrás tudo podia ser medido e previsto, hoje sabemos que não poderemos prever nada, porque tudo depende da causa que movimentou aquilo ou causou aquele fenômeno. A leitura da nossa consciência como tal, é uma leitura da realidade e se limita aos signos (símbolos) que conhecemos. Então, podemos sim usar todo nosso cérebro, mas não usamos toda a nossa consciência que esta depositada no inconsciente. Muito provável – não tenho um porcentual verdadeiro – aproximadamente temos 10% do consciente (aquilo que percebemos) e temos outros 90% do inconsciente (aquilo que não percebemos, mas fazem de nós o que somos) que ai sim, damos o porcentual de 100%. Então, podemos concluir que os livros de “auto-ajuda” não estão errados, o que acontece é a confusão entre a mente e a consciência. Dai voltamos ao que o filósofo Herculano Pires disse dos teólogos, que transformam símbolos em objetos, porque nem sempre tratamos mente como cérebro, mas uma parte da consciência.

Isso é o que aconteceu, nós estamos expandindo nossas consciências para além do que nossos ancestrais precisavam, sendo ainda mal entendida, entre a mente e a consciência há uma diferença muito grande. A mente é o que o cérebro leia a alma, ou seja, para a alma operar com o corpo, vários sistemas e processos químicos tem que acontecer. A consciência é a alma operando com a intuição, ou seja, a consciência vai além da mente porque a mente só percebe o que “aprendemos” como real, a consciência vai muito além do que “aprendemos”. As vezes, ou sempre, o que aprendemos é o que nos aliena – que Karl Marx vai dizer que o capitalismo faz para melhor dominar seus empregados e Sartre vai dizer que todo alienado é condicionado pela má-fé – porque não é nós e não conhecemos nossos limites e quem realmente somos e sim, o que o outro quer que sejamos. A mente é a mascara social que o sistema nos aprisiona, nos amordaça para nunca termos a consciência. O ser humano perde sua essência quando o meio social te domina, o fruto do pecado é o poder, a alienação que a serpente (o poder e o medo) diz para Eva (vivente) a comer e dar a Adão (o homem do barro vermelho) a comer também. Esqueceram da consciência, que na verdade, ficou na inconsciência. Então, o problema não esta na mente e sim na consciência.

O filme mostra que Lucy transcendeu todo o limite do tempo, ela viaja no tempo porque ela rompeu o bloqueio da mente, ela flui na consciência. Quando flui, ela começa a compreender tudo que está a volta, começa a manipular toda a matéria e quando isso ocorre, ela se torna o TODO. Ela voltou ao paraíso além do tempo e do espaço, porque se tornou parte de algo transcendente e que compreendeu a existência – entrou em estado de consciência onisciente – que os budistas chamam de nirvana e os cristãos chamam de estado de graça. Dai os críticos não entendem porque só enxergam o lado cientifico materialista, porque não vão além, porque o autor funde a ciência com o transcendente. Porque ela compreendeu que aquilo não existe, a matéria não existe, são ondas que podemos compreender e manipular e uma coisa muito interessante acontece, ela vai até a Lucy, onde a humanidade descende. O passado e o futuro se fundem em um só objetivo.


O filme é uma viagem interessante que pode ser o inicio de uma discussão mais ampla e com menos “certezas absolutas”. 


The Beatles Lucy in the Sky with Diamonds (Legendado)