"Metade
vítimas, metade cúmplices, como todo mundo" J-P. Sartre
Quem entendeu a frase de Sartre, talvez
entendeu o nome do meu texto. Sim. Somos metade vitima e metade
cúmplice como todo mundo, porque compactuamos com o que está ai.
Não é protestando – principalmente protestos hippies que nada
adiantam – e nem negando o que se faz para colaborar ou com o
progresso do nosso país, ou o atraso dele e isso é muito evidente.
Não é dando coisas, bolsas infinitas, que vamos sair da miséria e
isso não é meritocracia e sim, uma maneira sustentável para se
viver e o único “remédio” é perceber a manipulação do poder.
Não vou votar porque não acho necessário, porque sempre o poder
publico não faz o que tem que fazer, não cuida o que é para
cuidar, não me agrada os programas políticos (difícil ter algum
partido que tenha um programa tanto para deficientes, quanto para o
quem o elegeu), não concordo com as ideias da maioria do nosso povo.
Para quê votar se não te agrada nem mesmo, a cara da maioria desses
políticos que estão ai? O problema não é a politica em si, já
que somos animais políticos.
O termo politico vem do grego “politikos”
que era um termo para designar os cidadãos da polis (os que eram
livres). Da mesma família vem polidez que é, num grosso modo, uma
pessoa que tem boa educação, civilidade, delicadeza e urbanidade.
A ironia disso tudo é que na historia humana, nem sempre ser polido
significou ser ético ou provido de alguma moral, pois se pode ter
uma boa educação, ler os melhores livros, mas não ter noção de
se colocar no lugar do outro enquanto ser da mesma especie. Talvez,
nosso sangue latino que ao longo da historia, tenham formado vários
países e um desses países seja o Brasil – uma mistura de povos
nativos com povos vindo de vários lugares – não tenham entendido
isso. Como escrevi varias vezes, a etimologia de ética vem do termo
grego “etike” que por sua vez vem de “ethos” que significava
caráter e que ao longo do tempo, os povos gregos foram conquistados
pelos romanos (nossa matriz latina), e que traduziu “ethos” como
“mos” ou no plural “mores”, por “relativos aos costumes”
e dai por diante, o importante não era o caráter do ser humano que
fazia a diferença, mas como ele tratava os costumes e a cultura que
ele estava inerido. A grosso modo, não interessa que você trate seu
vizinho mal ou até mesmo, nem ligue para a comunidade que você está
inserido, mas que você siga as leis estabelecidas pelo império e
que ame só o imperador romano (os vários “cesares” que eram os
augustos). Na idade media, que Umberto Eco vai dizer que é muito
relativo esse período, vai ficar muito evidente isso, porque o
importante era seguir as leis dos feudos através da igreja romana.
Não interessa o que você acha, mas o que é realmente, a igreja
usava sim as crenças para estabelecer as leis. Voltando, então a
ética acabou ficando como o que fazemos e como agirmos e a moral
como seguimos nossas varias tradições. Ser um cidadão que segue as
leis é ético, seguir as tradições e um bom costume, é ser
moralizado.
Vamos voltar a polidez para entendermos
como educação instrutiva (aquela das inúmeras escolas e culturas
diversas) não garante que tenhamos uma civilidade verdadeira e nem
uma moral, como ser social, de respeitar as posições e opiniões
dos outros. Os nazistas eram em sua maioria polidos, lia ótimos
livros, escutavam ótimas musicas, tinham hábitos alimentares e
alguns, não bebiam álcool, não fumavam (principalmente, Hitler).
Porem, porque sempre tem um porem, mataram milhões de pessoas como
se fossem animais (nem com animais se pode fazer isso), como se matar
outro ser humano de outras etnia ou de outro pensamento, fosse
resolver os problemas humanos que não terminaram com a urbanização,
industrialização e a produção de massa de bens e produtos. E para
aqueles que ficam repetindo como papagaios aquele que nem é
professor e nem filósofo – não vou repetir o nome porque não vou
dar audiência para um velho xarope – e me chamarem de comunista,
vou dar outro exemplo de polidez. O comunismo soviético com suas
escolas doutrinadoras eram extremamente, polidos. Os maiores
revolucionários que derrubaram o czar da Rússia, eram professores e
alguns até professores universitários que tinham grande grau de
cultura, porem, mataram milhões de pessoas a todo o tempo e sobre
qualquer pretexto. Benito Mussolini (que se diga, era socialista) era
jornalista e vários outros, que tiveram uma boa educação e eram
civilizados, eram urbanizados e sensíveis (dizem fontes que ao
assinar a eutanásia para milhões de deficientes alemães, Hitler
tenha chorado por achar essas pessoas sofredoras eternas), não é
garantia de ética e muito menos, da verdadeira moral que leva o ser
humano ao costume verdadeiro (não ao moralismo que é outra coisa).
Nessa perspectiva a tese de Karl Marx cai
por terra, porque não é o conhecimento em si que tira o ser humano
da alienação (mesmo o porque o conhecimento é o que fazemos da
informação), mas a instrução certa no momento certo que vai tirar
o homem da escravização. Nem todo o conhecimento tirará o homem da
sua alienação, mas sim, o conhecimento que nem sempre é o
conhecimento da massa. Por que? Porque somos animais morais (por
sermos sociais), mas não somos animais éticos, pois a ética
(caráter) é construída por fatores culturais e familiares e que é
a viga mestra para criar pessoas que respeitam os outros. Por que o
ESTADO (não sou a favor do ESTADO, mas é o que temos agora no
momento), decreta leis que as crianças devem ir na escola a partir
dos cinco anos de idade? Porque parte do principio que a formação
ética já está formada como primeiro pilar da formação de um ser
humano, depois ele se formará com os conhecimentos que a cultura
humana, produziu ao longo de séculos adentro. Como vários
pensadores disseram, existem vários problemas antes do capitalismo
que o capitalismo apenas herdou – como o moralismo cristão e as
varias crenças e ideologias que se criaram a partir da nova ordem
monetária e econômica – e talvez, usou como refugio para melhor
alienar o ser humano, mas não advêm do capitalismo deixar o homem
ignorante, deixar o homem escravo e sim, o ESTADO. Aliás, o marxismo
errou o alvo em determinar que o grande detonador da guerra de
classes seja o capitalismo, pois o grande detonador é o ESTADO e sem
o ESTADO o capitalismo não pode continuar existindo. Por isso mesmo
que digo que não existe anarcocapitalismo, porque não existe um
capitalismo voluntario (nem existe meios para isso existir), não
existe meios de grandes acúmulos de capital no anarquismo e em sua
essência, o anarquismo é contra a competição, porque graças a
competição o homem não se solidariza com o outro homem (como ser
humano).
Não interessa a ideologia, os “ismos”
só são um refugio daquilo que realmente é necessário para o
ESTADO dominar (seja uma ideologia politica ou ideologia religiosa).
Quem vai fazer convencer que “deus cuida quem cedo madruga”? Quem
vai inventar uma “guerra santa”, uma guerra contra isso ou guerra
contra aquilo? Quem comanda os meios de comunicação para te
alienar? Sem o ESTADO não teríamos religiões (existe uma distancia
enorme entre religião e espiritualidade), sem o ESTADO não haveriam
trabalhadores (seja no socialismo, no comunismo, no fascismo, no
nazismo, no capitalismo), sem o ESTADO não haveria desejos
supérfluo, competições desnecessitaras, cultura de massa. Mas quem
apoia o ESTADO? Quem mergulha o próprio braço para os sanguessugas
sugarem seu sangue? Somos nós com a incrível mania de acreditar e
ainda querer brincar de “meu chefe mandou”. Se é assim, por que
tenho que votar se sei que o ESTADO é governado sempre pelos
“mesmos” e pelos mesmos interesses? Só comparar as mortes
banalizadas mundo a fora e o motivo é sempre o que o ESTADO coloca
como “verdade”, como o bem da comunidade ou nação, sempre é
aquilo que precisamos para garantir a nossa felicidade. Mas o que é
felicidade? O que o tanto esse desespero de sermos felizes e depender
do poder para ser feliz?
Felicidade não é uma coisa, não depende de “desejos”
supérfluos ou um objeto que você compra no supermercado, você é
feliz ou não é, tem que ser um estado e não uma coisa artificial.
Para quê desejamos ser feliz? Para quê desejamos tantas coisas para
ela se demonstrar na sua vida? Dai que cheguei onde queria. Qual a
diferença do rompimento das barragens de Mariana-MG e os atentados
de Paris numa ótica humanista? Qual a diferença de uma democracia
que proíbe e te convence com um tipo de discurso do poder – que é
evidente que esse tipo de coisa há
muitos interesses – e uma ditadura militarizada? Nenhuma. O próprio
ESTADO faz com que você pense que um é malzinho e o outro é
bonzinho (que muitas vezes o próprio ESTADO coloca e tira), simples
assim. Não temos nem direita e nem esquerda, não temos nada de
partido de libertação e partido de interesses trabalhadores,
ninguém fará nada e ninguém dirá nada a nós para nos libertar e
sim, sempre pregara uma liberdade que só vai interessar aos
interesses deles. Talvez, Sartre no seu iluminar das ideias (já que
não sei o contesto dessa frase), vem com o aspecto que ele mesmo
concluiu, não somos tão vitimas assim. Isso mesmo. Escolhemos os
mesmos governos que que não levaram a manutenção a barragem de
Mariana-MG, escolhemos os mesmos governos que apoiam guerras, deixam
criminosos e traficantes dominarem a sociedade mais pobre e dão, num
modo paliativo e sem nexo, uma bolsa família para servir de
analgésico para essa gente. Escolhemos os mesmos que vendem armas ao
EL (ESTADO ISLAMICO), e ao mesmo tempo, se faz de desentendido e até
se solidariza com os atentados e quem morre, não são eles, é o
povo. Escolhemos governos que não prontificam de realizar nossos
direitos e sempre não vão investir na saúde, não vão investir na
escola, não vão investir em construção de casas, não vão
investir em infraestrutura e não se engane, em todos os países do
mundo são assim, só que nos outros os políticos não são
descarados. Quantas pessoas esperam uma consulta? Quantas pessoas
esperam por uma operação em hospitais públicos? Quantas pessoas
necessitam de aparelhos, órteses e próteses, cadeira de rodas,
entre outras coisas, porque não tem meios de trabalhar (porque não
se cumpre uma simples lei de cotas para deficiente) e não é
cumprido? Os mesmos que votamos são os mesmos que não cumprem nada
que deveriam cumprir. Quem colocou lá? Não adianta intervenção,
não adianta democracia, não adianta nada se não construirmos uma
sociedade com um caráter solido, com um caráter que não é fazer o
que quer, mas fazer o certo.
O mal caráter não é aquele que menti, mas aquele que não diz a
verdade. Parece sinônimo, mas não é. A mentira é o encobrimento
de uma verdade, contar a não verdade é dizer uma verdade que só
você acredita por vários motivos. A mídia mente ou diz a não
verdade? As vezes acho, porque não tenho certeza, que a
desobediência civil é a solução mais que verdadeira para o mundo
de hoje.
Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, publicitário, TI e
escritor/filosofo