A imagem de Prometheus e o fogo da sabedoria |
por Amauri Nolasco Sanches
Junior.
O que esses dois personagens
da mitologia grega, tem a ver um com o outro e o que eles tem a ver
com os acontecimentos que se seguiram nesta semana? Sabedoria e
humanidade. Ora, o titã – pré deus olimpiano antes da guerra que
deu supremacia a Zeus – Prometheu, era um grande defensor da
humanidade e deu ao ser humano, o fogo da sabedoria e não a toa, foi
castigado pelos deuses por tal feito em uma água comeria seu figado
eternamente. Estranhamente, nós ocidentais criados dentro das
escrituras do Velho Testamento, nos deparamos com o fruto do
conhecimento do bem e o mal e os “elohim” dizendo que ficaríamos
iguais a eles. Sera que esse conhecimento – diga-se esclarecimento
do bem e do mal – deu ao homem o poder de decidir seu destinos e os
“deuses” não poderiam ser contrariados? Certamente, nós reles
mortais, não poderíamos ser iguais aos “deuses” porque os
mesmos não poderiam perder o trono do conhecimento e sabedoria e
então, puniram aqueles que defendiam uma maior sabedoria e
conhecimento para a humanidade. Não esquecemos que a serpente também
vem do mito da sabedoria – a religião institucionalizada cristã
esconde esse significado – que dá ao ser humano o discernimento
entre o bem e o mal, e está claro, que não é Deus que condena e
sim os “elohim” que é os “deuses”. Ora, quem são esses
“deuses” que não queriam que o ser humano tomasse posse de sua
sabedoria e do conhecimento? Sera que o poder e outras gamas de
coisas são esses “deuses”?
Certamente a sabedoria é o
fogo que apagamos ao longo de nossa historia. Na mitologia grega
tardia, havia o mito das górgonas que eram Medusa “a impetuosa”,
Esteno “a que oprime” e Euriale “o que está ao largo”. Se
olhássemos para o rosto da Medusa (a impetuosa) seremos
transformados em pedra, petrificados pela aparecia da impetuosidade
da humanidade consigo mesma diante do que não concorda e a opressão
diante daquilo que não age como. Então, existia mais duas que era
Esteno “o que oprime” e Euriale “a que está no largo, ou
aquela que que dá a volta ao mundo”. As grandes górgonas estão
nas sociedades humanas sempre quando a sabedoria e o conhecimento nos
liberta da superstição que sempre rodou o ser humano. Mas cuidado,
há diferenças enormes entre superstição e mistica, que pode
confundir numa analise mais detalhada dentro das razões que
construíram a cultura humana ao longo desses milhões de anos. O que
vimos é que sempre quando a ordem mundial está fragilizada com a
dicotomia entre bem e o mal, como se estivéssemos sempre em um
eterno filme ou historias mitológicas que o mocinho sempre luta com
o monstrinho do mal. Mas algumas vezes, muitas vezes aliás, nem
sempre o que restou das tradições são importantes hoje e sim, na
época que esse tipo de cultura foi criada ou posta em pratica.
O que estamos vendo é o fim
de um mundo que se evolui e se torna algo muito além do que as
culturas da crença – não confundamos mistica – onde se acredita
no que o líder disse, não o que há dentro da tradição filosófica
daquela religião ou daquele segmento doutrinário filosófico. Mas o
que podemos acreditar como verdade? O que podemos acreditar numa
cultura que gosta de impor o que acredita e não sabe, por meio de
discurso, levar a convencer de suas ideias? Prova está em todo
segmento religioso ou ideológico, onde a verdade se transforma em um
pilar para construir dentro da cultura ocidental, uma crença que vem
dês de quando sairmos das cavernas e colocamos as vidas das antigas
famílias nômades (clãs) nas mãos de um só líder.
O que vimos na França é o
reflexo de crenças medievalistas que levam o ser humano ao extremo
em matar por causa de uma crença, mas há por trás do islamismo uma
mistica muito além do que armas, há uma ligação muito forte
dentro de muitas misticas. O islã está conquistando muitos
ocidentais – também brasileiro – pelo que é em sua essência,
uma causa a ser seguida que o ocidente simplesmente, matou e não
matou só as crenças, matou Deus e tudo que ele significava antes lá
trás. A ciência levou ao ser humano inventar varias novas técnicas
– como eu estou me locomovendo na minha cadeira de rodas e
escrevendo no meu notebook – mas as ciências também são para
responder as perguntas que tanto permearam dentro da filosofia. De
onde viemos? Qual o destino do universo? São perguntas que as
respostas dependem de pesquisas serias que muitas vezes, não são
respondidas. Por que? A ciência se dogmatizou e criou dentro de si
uma indumentaria que de repente, não pode ultrapassar dali. Então,
se matou um dogma da crença cega – que não é e nunca foi o
intuito da religião – para colocar em outro dogma cego que acabou
matando um ideal e criando milhares de preconceitos. Como desenhar
charges pornográficas usando imagens sagradas das pessoas ou de
repente, chamar as pessoas negras de macaco e tudo mais. Lógico, que
não justifica mortes por causa disso, mas se você se expressou,
haverá sempre reações adversas aquilo que você disse ou desenhou,
é humano isso. Mas esse desdem ao que é sagrado é completamente,
acadêmico e Nietzsche em meados do século dezenove, alertou sobre
isso.
Quando Descartes formulou seu
pensamento em meados do século quinze para o dezesseis, não era
para o ser humano deixar em acreditar, era para o ser humano duvidar
de tudo. O método cartesiano, não é um método onde qual as
pessoas deveriam duvidar das coisas, mas ter a certeza que eu existo
porque a partir do meu pensamento eu vejo que sou um ente no mundo.
Ou seja, a única coisa que eu tenho certeza é o que eu penso, o eu
sou é a única certeza que tenho. Mas isso foi pelo fato de
Descartes ser teísta – ele era católico devoto – disse isso aos
céticos, se eu tenho que duvidar do que eu não vejo (metafisica) –
por não conter base cientifica e nem empírica – então devo
duvidar de tudo que existe (física) porque não temos certeza de
nada. Ou seja, se temos que duvidar de um ritual de milagre de uma
igreja evangélica, temos que duvidar da ida do homem até a lua,
porque estão na mesma proporção de crença, porque não estamos
lá. E outra, quem garante que aquele abacateiro do meu quintal
existe mesmo? O existir e não existir se tornam algo subjetivo e
quando se torna coletivo numa causa nobre, é claro, se torna algo
objetivo porque vai além do que uma mera crença e vira um ideal.
Isso também funciona nas ideologias politicas e nas ideologias
filosóficas e até mesmo, na ciência seria.
O escarnio daqueles que buscam
a liberdade, não passa de fascismo disfarçado de ideal libertário,
mas esses são só escravos do preconceito e das amarras de conceitos
que ainda pensam ser de livre expressão, mas não são e ainda,
cometem suicídio ideológico provocando a “besta”. Podemos até
arriscar o que Thomas Hobbes disse, o homem é o lobo do próprio
homem? Sera da natureza humana ter dentro de si, que não respeita e
quer competir com a cultura do outro pela supremacia da sua própria?
A democracia não fez do ser humano melhor nem na Grécia antiga e
muito menos agora – mesmo eu tendo a certeza de ser um regime ótimo
– pois não deu ao ser humano o real conhecimento, o outro é
importante e não a si e de onde viemos. Se distanciamos da nossa
origem por causa de uma liberdade de mentira, forjamos uma liberdade
que nos prende (paradoxal, não?) que se você sai disse é um
imaturo, um prisioneiro das crenças que não mostram a verdade. Mas
cadê a verdade? Cadê a realidade que nos liberta das amarras do que
nos prendem? As prisões foram construídas ao extremo ao outro
extremo, pois os dois são militantes e estão em eterno conflito
porque o ser humano não criou dentro de si um equilíbrio entre a
duvida e a certeza. A duvida é o intuito da pureza, porque é inútil
ter alguma certeza, como se fossemos superiores por não acreditar
naquilo.
Como disse, não confundamos
mistica com crença, porque a mistica vem de você mesmo, pois um
mistico vai perceber as coisas sagradas muito além do que mera
crença. Crença é só acreditar sem entender, o mistico entende
aquilo como algo a ser alcançado sendo único. Mas como chegar em
uma total unidade com o TODO se o mundo nos engana com suas ilusões?
Ter ideias e convicções se deve sim expressar, mas sempre com
maturidade e respeito, sempre acreditando que o mais importante
sempre é o ser humano. Quem sou eu para tirar a fé das pessoas?
Quem sou eu para mudar sempre o pensamento do outro? Ideias sempre
são compartilhadas, com respeito e honestidade intelectual sempre.
Afinal, as pessoas devem repensar as amarras intelectuais para não
ferir o outro, não ferir aqueles que não querem ser esclarecidos e
tem esse direito. Mesmo que você pense ser um absurdo aquilo, é de
direito as pessoas acreditarem como é de direito as pessoas
respeitarem a vida, porque quando uma crença não respeita a vida
das pessoas, perde o valor.
A mistica do fogo é sempre
sermos sábios.
A mais conhecida das górgonas é a Medusa (a impetuosidade) que sua cabeça foi arrancada por Perseu e seu corpo deu vida ao Cavalo alado Pegasus. |