terça-feira, dezembro 02, 2014

Religião e Religiosidade.




Jesus pregando aos seus seguidores e os escribas atrás conspirando contra ele. Jesus aponta para o céu numa demonstração que ele foi enviado para mostrar o verdadeiro caminho. 

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Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

(
João 8:31-32)


Como Jesus mesmo disse, se conhecemos a verdade (os ensinamentos) a verdade vai nos libertar da ignorância da religião cega e sim da espiritualidade verdadeira. A bíblia tem um esquema de leitura assim, antes mesmo de abrir a cada versículo se deve ter Jesus no coração, essa deviria ser uma regra básica. Mas o que deve ser essa “verdade” que é importante para a espiritualidade? Quando eu digo espiritualidade, não me refiro a uma doutrina, mas a substância que define a essência humana e que essa essência que define o que somos. Mas também essa espiritualidade é a “anima” que faz a vida acontecer e que é o “sopro” divino que a bíblia, nos Gêneses, explica que o Divino nos colocou para reter a vida. Lógico que é uma metáfora e não pode ser levado ao pé da letra, quer dizer que somos a essência divina que saiu dessa energia que nos faz ter a vida.

Como a bíblia foram livros escritos em grego e que temos que analisar as três conotações que trazem a esse versículo. No grego a verdade tem o termo “alethéia” que quer dizer “o não oculto”, algo que vai ser revelado como uma realidade e então, já que ele vai ser revelado, ele já é. Então na conotação grega, esse versículo fala para conhecer algo que é revelado como realidade e ela vai trazer a liberdade. Liberdade em grego quer dizer poder, também liberdade de movimento, que se você conhecer a realidade revelada ela te dará o poder de ir e fazer o que quiser e ter liberdade de seguir a doutrina de Jesus. Só que o significado e a tradução que temos, na sua maioria é ensinada, e da Vulgata latina que tem o termo “veritas” que é algo com rigor, com exatidão e essa exatidão e esse rigor é uma realidade exata. Mas Jesus com certeza não disse uma realidade exata, a verdade que ele disse é uma revelação que sai do véu e entra em uma realidade que ainda não conhecemos, pois a verdade sera revelada. Em hebraico quer dizer “emunah” que era uma promessa que deveria se cumprir, então, podemos supor que conhecer (iluminar, esclarecer) seja esclarecer aonde está a promessa a se cumprir. Então, esse libertar é conhecer essa promessa em uma espiritualidade muito mais verdadeira, muito mais voltada ao divino em sua real pureza. Tanto que Jesus diz que se seguir a sua “palavra” verdadeiramente, seriam seus discípulos. Palavra em grego é logos que era o Verbo, com o passar do tempo e com Heráclito de Efeso, logos teve uma conotação muito mais ampla e também quer dizer razão. Teologicamente, no evangelho de João, coloca Jesus como o logos, o Verbo encarnado que já existia antes da criação. Então, se seguir a palavra é seguir o Verbo e seguir o Verbo, seguirá a real promessa a se cumprir.

O evangelho de joão é o mais mistico e transforma a imagem de Jesus e seus ensinamentos, como uma promessa muito mais voltada a espiritualidade e não ao que ele aqui na Terra. Vários estudos espiritualistas seguem um estudo – se é ou não verdade não me é direito julgar – que realmente Jesus é um espirito vindo de outra orbe, que ele aprendeu e evoluiu o mesmo que nós estamos evoluindo dentro da nossa realidade. E ajudou mesmo a formar tudo que existe dentro do amor, de um espirito evoluído, a nos trazer para aprender na mesma proporção que estamos inseridos a aprender. Talvez João esteve muito mais ligado a Jesus em inspiração se deixando levar ao sentimento realmente espiritual e não só preocupado em fundar uma seita, ou edificar uma igreja física. De repente também, foi o único que entendeu o real significado da vinda de Jesus a esse mundo, porque ele veio retificar a real espiritualidade e terminar o comercio dos ensinamentos rabínicos da época – hoje está o mesmo o cristianismo – que vendiam esse ensinamento em forma de favores ou barracas de “lembranças”. Tanto que existe uma passagem que diz que Jesus chuta tudo e diz que “a casa do meu pai não é comercio”, ou seja, a espiritualidade não é uma coisa que se compra ou que se troca, mas é um caminho verdadeiro para a espiritualidade ao Divino. 

Quando Jesus diz “pai” é uma conotação universal, porque assim dizem vários estudiosos, que no velho testamento se apresentou como Yaveh que era em hebraico, mas no novo testamento, se reservou como pai “abbá” para cada um dizer em sua própria língua e dar um ar de parentesco. No ensinamento de Jesus isso fica mais do que claro e isso é realmente um retrato universalista que seus ensinamentos deveriam ser passados. Mas nessa passagem reforça que o ensinamento deve ser levado como uma promessa revelada, uma quebra do paradigma que o judaísmo trouxe como algo materialista e sem uma conotação espiritual verdadeira, pois trouxeram uma explicação terrena para explicar os sacrifícios e os pecados do mundo. Porque para o judaísmo o pecado é uma negação ao Torá e essa negação seria inaceitável – como disse que para o judaísmo a verdade (emunah) era uma promessa a ser cumprida – o pecado era a quebra da fé dessa promessa e que isso era inadmissível dentro das conotações religiosas judias. Talvez isso tenha levado, isso é bem claro, a crucificação de Jesus, a quebra da promessa judia como uma promessa única dentro de um contexto universal que levará ao ser humano dentro da espiritualidade plena e a ligação dele com o TODO universal.

Quando ele (Yeshua/jesus) disse para os judeus que acreditavam em seus ensinamentos para segui-lo, ele não estava em pecado porque não estava em erro, mas edificando que os ensinamentos estavam indo num caminho errado. Porque o Divino como uma entidade fora do tempo (onipresente) e fora dos sentimentos e percepções humanas (onisciente), não se pode julgar olho no olho dente por dente, porque existe um livre arbítrio dentro da alma humana que o próprio Divino deixou como prova do seu amor. O mal é só a ignorância humana para com o outrem e o outrem deve respeitar o que se é, pois a cada um cabe o caminho a seguir e o que quer seguir como prova da sua percepção e de seu aprendizado. Erra muito quem quer converter o outro a sua maneira, porque a pedra (petra/kefás) é a verdadeira fé em algo maior que não podemos explicar como algo material e sim algo que nos liga até a criação e a energia ou o ente que criou. Então, conhecer a verdade é esclarecer uma realidade muito maior do que realmente essa realidade se transforma e se identifica como a única realidade que não prende, mas liberta. A verdade (como algo não oculto ou uma promessa a cumprir) deve ser esclarecida para libertar o ser humano e só quando libertar o ser humano, ela vai cumprir a promessa de fato. Se lemos o Sermão da Montanha isso fica claro, então para selar seus ensinamentos, Jesus cumpriu a promessa de que a morte não é o fim e na cruz (em grego xylom “arvore” ou “madeira”) confirmou a quebra do pecado (o erro ou distanciamento) que não há um fim e sim um proposito dentro da vida. O interessante é que o pecado começa numa “arvore” e termina em outra “arvore”, a arvore de vida deu a Adão (homem) o fruto do bem e do mal e assim o ser humano escolheu o mau a seguir como algo que distanciou – que para mim é uma alegoria como o ser humano se distanciou da verdadeira religiosidade pura que também está no novo testamento, quando Jesus disse que só os corações puros vão para o reino dos céus – e a morte de Jesus numa cruz para aproximar de novo de tudo que é espiritual em sua pureza (que o império romano se apropriou e deu o que deu).

Religião (que vem do latim religare) é uma ligação e como ligação deve ligar algo a alguma coisa, porque há um meio de chegar aquilo que não pode ser quebrado, encontrar algo que te liga a aquilo. Religar é se ligar novamente a algo que se desligou e se desligou é porque se quebrou o elo, talvez isso seja a causa da queda, onde as almas se distanciaram do Divino e caíram. Então, quando essa religação nos chama temos que sair para fora do que é preso, porque para nos religar, temos que sair daquilo que nos prende. Igreja vem do grego ekklesia que é a junção de dois radicais ek que é “para fora” e kaleo “chamar”, ou seja, ekklesia é “chamar para fora” porque essa religação tem que ser para fora, aquilo que você leva como uma “boa nova”. A história da ekklesia ou igreja, sempre foi um colocar para dentro e as pessoas esqueceram que interiorizando o Divino, recriamos a ligação e nos religamos o que é verdadeiro. A meditação, a interiorização, o encontro de si mesmo se conhecendo para conhecer Deus e todo o universo, se perdeu porque passamos a nos prender em balelas litúrgicas que nada, absolutamente nada, tem a ver com uma real ligação. E tudo fica fascinação, um encanto que te fecha de ver algo a mais daquilo que realmente é e talvez, pelo simples fato de ser fascinado por algo, esse raciocínio de se interiorizar se perde. Tanto que quando Jesus diz a Pedro que edificava a pedra da sua igreja, poderia ser muito bem, que ele edificava a sua palavra para fora do templo, porque Jesus nunca ficou preso em um só lugar e em uma só comunidade. Mas ele ensinava a quem quisesse ouvi, seja homem ou mulher, velho ou criança, doente ou são.

Religiosidade é o jeito mais seguro para viver uma espiritualidade verdadeira, uma espiritualidade plena em que percebemos o mundo em nossa volta. O religioso se fecha em seu próprio conceito de pensar, a religiosidade faz o sujeito ver varias formas de se chegar até o Divino é a verdadeira ligação acontece. Enquanto, a religião é uma religação com o Divino, com o puro espirito e com a pura sinceridade, a religiosidade entende que essa ligação já acontece e é iludida com o meio religioso que se fecha em seu próprio conceito. Acima demostrei que quando Jesus diz a Pedro Simão que deixaria a primeira pedra e com ele edificaria sua igreja, era que com a sua palavra, seu ensinamento, colocamos para fora tudo que não estava de acordo a sua verdadeira religiosidade. A religiosidade é a compreensão de tudo que é sagrado sem esquecer do mundo e demostrar que o mundo não é separado do espiritual, não somos mal por natureza e sim, somos iludidos com falsas interpretações seja por ignorância – biológica/corporal ou até mesmo espiritual – e pela má intenção de levar algo para si mesmo. Mas mesmo quando isso acontece ele é iludido ou por forças espirituais ignorantes que te arrastam para essa ilusão, ou pelo seu próprio conceito de ser assim porque carrega dentro da sua própria essência o que não é bom, é danoso para o outro, é danoso até mesmo para si. E na maioria das vezes – como demostra o grande ditado popular que uma fruta podre estraga as outras sã no mesmo cesto – essa cultura se impregna com esse tipo de pensamento e se faz com que a maioria se arraste a esses pensamentos que nada tem de religiosidade e sim, de vantagem, de seguir aquilo que não se deve seguir.

Portanto, o espirital não precisa de matéria para ser sentido, não precisa ser o que vimos ou que enxergamos, mas acima de tudo é o que sentimos. A demostração de amor, a demostração de carinho, a demonstração de afeto, já te liga ao Divino porque acima de qualquer religião, somos imagem e semelhança dele em espirito.