Amauri
Nolasco Sanches Junior
Uma vez, meu pai, perguntou para serve a
filosofia porque estávamos discutindo sobre o governo e ele, que
votou no Bolsonaro, estava defendendo o governo. Eu, como um
filósofo, defendi uma visão mais crítica e muito mais realista de
algumas relações dentro dos ministérios. Mas, tirando as nossas
divergências sobre o governo Bolsonaro, acho que meu pai é um
conservador de verdade. Porque ele não tem ídolos, ele pode gostar
de Beatles, por exemplo, mas, ele pode achar que Lennon era um
drogado filho da puta. Ele pode apoiar o Bolsonaro em algumas coisas
e em outras, pode fazer críticas e achar que ele deveria ser muito
mais radical. Essa visão cética — meu pai não gosta de ler
coisas grandes — mostra que meu pai é um conservador de verdade.
Não é uma pessoa religiosa porque acha que a maioria vai para a
igreja por interesse. Ele apoia a família tradicional, mas, acha que
os gays devem ser respeitados e eles deveriam respeitar também. E
ele sempre disse e fomos educados assim, você não tem direito
nenhum de tocar em uma mulher que não te deu permissão, nem mesmo,
se ela tiver pelada no meio da rua.
Por que eu digo isso? Porque o pessoal
confunde moralismo com conservadorismo, porque uma visão moral é,
completamente, subjetiva a partir de valores que foram construídas
suas ideias éticas. Por outro lado, não podemos dizer que só
podemos obter valores morais no seio familiar, mas também, em
socializações como as religiões. Exato. A diferença de uma pessoa
conservadora e uma pessoa que é moralista é que, a pessoa
conservadora respeita o individualismo e a liberdade democrática em
um respeito multo. A título de exemplo, o modo de pensar do meu pai,
que respeita como as pessoas são e respeitou sempre a liberdade dos
próprios filhos, em escolher a religião ou ideologia — aliás,
meu pai também gosta de alguns pontos da esquerda, mas, vê com
cautela mudanças bruscas — sempre falou que deveríamos estudar
sempre (ele sempre diz que você não tem que ser bom e sim, ótimo),
que você tem que respeitar do mesmo modo que você quer que te
respeitem. Mesmo não sendo religioso, adora dizer que os seres
humanos deveriam seguir o decálogo de Moisés (aliás, dissemos que
são Os Dez Mandamentos, mas, é muito mais do que só dez).
Duas coisas me fizeram escrever sobre o
conservadorismo verdadeiro — não o nutella de fundamentalista
evangélico sunyta (sim, os radicais não são os xiitas e sim, os
sunytas) — são a morte de Róger Scruton e mais uma postagem do
Carlos Bolsonaro que deu polêmica. O grande nome do conservadorismo
britânico era Scruton, que tinha uma crítica feroz a esquerda
mundial. Quando fui ler o último livro dele — em PDF — ele
colocou Nietzsche como um filósofo de esquerda, fechei o livro. Não
houve filósofo mais elitista do que Nietzsche. Esse paralelo que a
esquerda (pelo menos a brasileira) de colocar Nietzsche detector da
liberdade e contra o sistema, é de uma estupidez gritante. Aliás, a
academia em matéria de filosofia, faz uns paralelos que não tem
muito a ver com que os filósofos disseram ou fizeram. Além, claro,
não gostar do socialismo que dizia ser uma ideologia para
ressentidos, como se fosse uma religião. O Scruton não se atentou é
que nem toda mudança é revolucionaria, porque uma hora, culturas e
leis começam a ter regras que não servem mais para determinadas
épocas e o além homem de Nietzsche, é uma teoria não de revolução
e sim, por mudança. Quem conhece história sabe, que sem as mudanças
necessárias, o ser humano estava ainda nas savanas como eram nossos
ancestrais.
Os seres humanos sempre vão apoiar
teorias que colaboram com sua visão de mundo, se um sujeito de
esquerda ler Nietzsche, ele vai olhar para sua filosofia como uma
quebra do sistema. Se um sujeito lê Nietzsche, vai colocar no rol da
meritocracia. Cabe descobrir que Nietzsche achava que o ser humano
tinha matado os melhores valores e se corrompido a valores
ressentidos, valores que os que se magoam por qualquer coisa. Como
ele previu, ficamos uma sociedade niilista que não acredita em nada
além daquilo que é ressentido, pobre e primata. Numa passagem
interessante, Nietzsche dizia que se você olhar muito para o abismo,
o abismo começa olhar para você. Ou seja, você se torna tudo
aquilo que você crítica, porque você começa a imitar aquilo que
lhe limita, você vê no outro o que você não tem coragem de
assumir. Freud dizia isso. Isso até mesmo, é verificável dentro da
própria sociedade. Ai chegamos na linguagem, porque toda a realidade
tem a ver com a linguagem.
Aristóteles
colocou a filosofia cono uma ciência — sim, a filosofia é uma
ciência no sentido de conhecimento — teorética, ou seja, a
filosofia é uma ciência que usa a imaginação. Porém, na
filosofia aristotélica, se divide em três formas de pensamento:
primeiro, a filosofia é teorética que tem a ver com a física,
matemática e a filosofia primeira (a metafísica); segundo, a
filosofia é prática que tem a ver com a ética e a politica;
terceiro, a filosofia é poética que tem a ver com a estética e
técnica. Claro, que hoje sabemos que a física
tem a ver com objetos e não é tão teorética assim e que a
tradução de “politikon” não é politica e sim, cidadão.
Aristóteles não se importava muito com o problema o que era a vida
e sim, o problema do ser. Talvez por isso, tenha se preocupado em
questões da ética e questões metafísicas no significado de
ontologia. Na abertura da obra Politica, Aristóteles dizia que o ser
humano era um animal cívico, porque ele é o único animal que tem a
linguagem. Os outros animais têm voz (phoné) e com ela pode
expressar dor e também prazer, mas o ser humano pode expressar a
palavra (léxico) e com ela, pode expressar aquilo que é bom ou mau,
justo e injusto. Mas, o que seria o justo ou o injusto, bom e o mau
dentro de uma sociedade?
O
bem ou o mau, a justiça e a injustiça, depende da construção dos
valores morais da sociedade onde o julgamento está sendo feito. Para
os russos ser homossexual é, talvez, uma ofensa a maioria ou, o
governo interpretou que na cultura russa, não caberia o
homossexualismo. Outros povos enxergam como uma represália, mas, se
fomos analisar num contexto histórico, a Eurásia foi colonizada por
povos tanto nórdicos, quanto os eslavos e assim, foi construída a
cultura da região. No mais, o presidente (leia-se: ditador),
Vladimir Putin, era agente da KGB (Polícia do regime socialista
soviético) e para os socialistas, o homossexualismo é uma
construção burguesa. No mais, os russos são ortodoxos e a
ortodoxia é bem rigorosa e tradicional e o povo, que gosta das
tradições, são contra. Religiões tem a ver ou fanáticos, com
algumas dessas leis, como no mundo islâmico (pelo menos, no mundo
fanático), que matam homossexuais, deficientes e tudo que se mostra
diferente daquilo que se costuma ser normalizado.
O
“bom” em Nietzsche é um sujeito nobre, valoroso, aquilo que na
idade media, se chamou de cavalheiro. Ser gentil sem ser fraco,
ressentido, e que as pessoas te vejam como uma vítima, que ache que
as coisas e as pessoas tem que lhe servir. Por exemplo, que aliás,
era uma grande crítica ao cristianismo de Nietzsche — que chamava
de platonismo para as massas — você escolheu ser cristão porque
quer um mundo justo para você usufruir daquilo que acha que merece.
Mas, você sabe que não vai mudar o mundo que vive e acha que um
outro mundo metafisico vai ser melhor. O ressentimento de ter feito
escolhas erradas e até mesmo, não ter tido as mesmas oportunidades
dos que tem alguma coisa, te fazem pensar que eles não entrarão
nesse mundo. Esse é o bom fraco de Nietzsche, o bom que acha que o
nobre, aquilo que é o real valor da vida (como viver ela em plena
harmonia consigo mesmo) e não negar a vida, para ter essa paz de
espirito só na outra vida.
Sabemos,
porque presumo que meus leitores sejam inteligentes, que os
ensinamentos de Jesus eram, totalmente, espirituais e o cristianismo
é romano e quem construiu foi o imperador Constantino I de Roma.
Portanto, seja católico ou protestante, os desígnios do
cristianismo são estoicos, aristotélicos e platônicos, além,
claro, dos próprios da cultura romana. Todas as imagens são
romanas. A bíblia foi montada pelos romanos. A moral que tanto
defendem os conservadores, é a moral medieval romana. Mas, existe a
mora de Paulo, uma moral dentro da sua cultura, onde os homossexuais
eram chamados de pederasta e era proibido nos países do oriente
médio que seguia religiões monoteístas. Então, quando o Carlos
Bolsonaro — que acha ser conservador — posta uma foto do Thammy
Miranda e o seu filho, ele segue a moral do passado, uma moral de 2
mil anos atrás. Uma moral ressentida por não assumir o que é
verdadeiramente, não que seja homossexual, mas, de fazer aquilo que
quer. Valo lembrar, que até mesmo na idade media, existiam
hipocrisias, padres sendo pedófilos, coroinhas sendo molestados,
homossexuais que se escondia nos corredores dos castelos.
O
mundo não mudou de lá para cá, onde as pessoas nem sabem direito o
que defendem e sabem para entender duas convicções.
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