Amauri
Nolasco Sanches Junior
Todo
mundo tem uma coisa para idolatrar, seja o dinheiro, seja
personalidades famosas, seja políticos e seja termos da moda. Aqui
no Brasil, temos sempre a mania de importar termos e conceitos dos americanos sem se dar conta, que a nossa cultura é de uma maneira e
a deles é de outra maneira. Os americanos gostam e adotaram muito a
psicologia dentro de várias áreas, para controlar o mercado e
outros setores pelo comportamento. Aqui, muito diferente dos
americanos que estudam e planejam qualquer coisa que vão fazer (por
isso mesmo a psicologia), não se tem o hábito nem de leitura, nem
de planejamento de nada, porque a nossa cultura adotou a prática. Só
que tem um problema, se gosta de termos e se estuda coisas fáceis
que dão prontas as respostas, sem muito fazer pensar. Nosso povo não
gosta de pensar. Gosta de fórmulas mágicas e facilidades
corporativas. Por isso mesmo, a moda dos coaches tenha entrado tão
facilmente dentro do mercado brasileiro, porque a nossa cultura tem
imensa facilidade de incorporar “gurus”.
O
conceito de mindset é uma mudança da sua mente enquanto uma espécie
de mapa do caminho das soluções. O termo tem dois termos em inglês,
o mind que quer dizer mente e set, que quer dizer configuração, ou
seja, o mindset é uma reconfiguração daquilo que achamos que é o
caminho para nossos problemas. Ou, configurar nossa mente para não
sair no pensamento do fracasso, do pensamento que vai dar errado e
tudo mais que o pessoal acha errado. Esse é o problema. Demonstrar
foco naquilo que você está fazendo, é uma coisa e aliás, sempre
temos que focar naquilo que queremos construir durante nossa vida.
Mas, isso não tem só a ver com nossa própria mente, isso tem a ver
com trabalhar no planejamento e isso sim, tem a ver com o risco de
dar errado. Acho que duas coisas poderia resolver esse problema:
ética de seguir um trabalho focado nas leis, até mesmo, contratar
por causa da qualificação e não por causa da sua aparência
física.
Depois, pensar que não existe caminho fácil, isso requer trabalho,
planejamento e estudo. Estudar até mesmo, mudanças de paradigmas de
contratação, estudar as mudanças econômicas, estudar o
liberalismo e outros conceitos que fazem parte do capitalismo de
verdade. Não o que temos no Brasil.
Na
filosofia, o mindset é uma incógnita dentro até mesmo, da
psicologia. Alguns até dizem que são pseudociências e não deveriam
ser espalhadas, porque dão um ar de ciência e não é. Isso me
lembra muito Sócrates. Não o jogador — que também tinha ideias
interessantes — mas o filósofo. Talvez por ser chamado de sábio
pelo Oraculo de Delfos (templo do deus Apolo de Pitiá), Sócrates
tenha adotado seu preceito mais caro que ficava na porta do templo,
“conheça te a ti mesmo, conhecera o universo e os deuses”. Mas,
Sócrates só adotou “conheça te a ti mesmo” como preceito da
sua filosofia. Então, saiu perguntando a todos o que sabiam e chegou
a conclusão que ele mesmo não sabia de nada, que assumir sua
ignorância era a melhor maneira de se conhecer. Concluiu também,
que as pessoas diziam coisas que nem elas sabiam que não sabiam,
repetiam sem ao menos refletir. Porém, Sócrates dizia que as
pessoas eram boas e davam atenção por pura aparência.
Será
mesmo que as pessoas pararam para pensar no conceito do mindset? Será
que poderíamos configurar nossa mente como um aplicativo qualquer de
celular ou de computador? Existem mudanças de comportamento? Talvez.
Mas, dizer que você mudar de posição daquilo que pensava e dizer
que seria uma reconfiguração, acho exagero. Outro filósofo que
entra do debate é Aristóteles, que dizia só poderíamos encontrar
a ética, praticando a ética. Ou seja, você aprende alguma coisa e
prática aquilo, mas, temos que aprender e para aprendemos, temos que
estudar e planejar. Então, ética não seria só um termo que quer
dizer condutas sociais aceitas e acertadas (segundo o ponto de vista
daquela sociedade), mas, a prática dessas condutas em forma de ação.
Assim, podemos dizer, que não basta pensar diferente de modo
corporativo se na prática, esse “pensar diferente” não faz
parte do modo operante de uma sociedade ou do próprio dono da
empresa. Não adianta nada pensar positivo sobre sua empresa (como
tudo vai dar certo) e no entanto, a empresa não contrata pessoas com
deficiência física
que é cadeirante, por causa, que você não quer acessibilizar ela
para trabalhadores com deficiência trabalharem lá. Esse “pensamento
positivo” acaba sendo seletivo, que é um grande mal dentro da
cultura brasileira, porque você quer ganhar e não quer investir. O
princípio primordial do capitalismo é o investimento, se o sujeito
não investir em tudo que é necessário, ele nunca vai ganhar em
produtividade e lucro.
Chegamos
dentro do pensamento socrático de se conhecer, de saber se realmente
você serve para ter uma visão mais ampla, se você quer mesmo
aquilo ou está entrando numa modinha social. A maioria entra na
modinha social. As modinhas sociais são o que a massa adota para ser
aceitos por uma parcela a que quer participar, como ser de esquerda
ou sr de direita, ser religioso ou ser ateu, ser flamengo ou ser
palmeiras, sempre achamos que estamos na verdade. Mas, não estamos.
O conceito que criamos são só sombras de uma outra realidade. Não
vou entrar no mérito metafísico da questão, mas, existem formas de
compreender que aquilo que achamos ser a verdade é apenas um
conceito fabricado daquilo que se aceita como verdade. Linguagem,
pura e simples. Mindset acaba sendo um termo para um conceito que se
pensa ser real, por outro lado, configurações mentais não existem,
porque somos animais com consciência e sabemos a realidade que nos
cerca. Hábitos são mudados conforme o ambiente que se vive e não,
uma nova configuração mental. Ou seja, é apenas um termo para
explicar nada. Uma psicologia vagabunda que só serve para o coach
ganhar dinheiro.
Mas,
cuidado! Não podemos comparar os modernos (ou pós-modernos) coaches
com os sofistas (que Platão adorava implicar). Os sofistas eram
professores pagos para falar sua própria filosofia, os coaches, são
pessoas que já pegam conceitos prontos e começam a dar soluções
prontas. Por exemplo, “16 hábitos para cagar melhor” são ideias
prontas, porque são 16 hábitos para as pessoas cagarem melhor. Já
é uma coisa pronta. Não faz ninguém pensar o porquê ela não está
cagando, ou porque seu intestino não está funcionando. Por outro
lado, vendo tudo isso, vai ficar pior.
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