quarta-feira, janeiro 08, 2020

Filósofos não podem criticar o PT




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Amauri Nolasco Sanches Junior

Dias desses na rede social do Linkedin, li uma manchete em um site qualquer que um dos membros da rede postou, que o ministro da economia, Paulo Guedes, queria ter acesso à parte de aposentadoria e pensões para pagar o 13º salário da bolsa família. Só comentei que nada diferente do PT e do PSDB, que tiraram de outro lugar o dinheiro para programas sociais. Quantas vezes lemos que o governo tirava da educação ou da saúde para pagar a bolsa família? Quantas vezes lemos e já foi provado, que um dos destinos do dinheiro tirado das estatais eram para esse tipo de programa social? Não estou defendendo o governo Bolsonaro, só estou dizendo que para mim que sempre li jornais, não há novidade nenhuma. O problema é um usuário dizer que comparar o PT com o governo Bolsonaro era uma desonestidade intelectual imensa e era muito pior por eu ser um filósofo. Em um outro momento, a dona da postagem aparece e pergunta em que mundo eu estou. Em um outro momento, disse que não viu nada disso em 38 anos de visão politica.
Lendo isso uma questão me veio na minha cabeça: por eu ser um filósofo e comparar todos os governo de alguma medida, fazem igual? Por eu ser um filósofo, a minha análise é, exatamente, mais ampla e com mais argumentos do que a maioria. Porque o filósofo é um amante da sabedoria e está a procura do objeto do seu amor, como Psique ficou atrás de Eros e nunca lhe encontrou. Cada caminho para achar essa sabedoria é importante, pois, junto com essa sabedoria está a verdade e não é qualquer verdade, e sim, o verdadeiro LOGOS primordial. Então, um filósofo não pode ficar presos em conceitos determinados ou que o senso comum acha ser a verdade (doxa), mas, aquilo que é em essência primordial. Não importa o que está na modinha, não importa se os outros estão dizendo, as análises devem ser analisadas a partir de um ponto além da paixão (o apego aos ídolos), além das análises superficiais. Sempre falo que o filósofo é uma espécie de arqueólogo das ideias, ele não examina a superfície de tudo e sim, vai examinar as camadas mais fundas para encontrar elementos para aquilo ter surgido. Se o filósofo começa a defender uma única posição, ele não é um filósofo e sim, um simples intelectual que só repete do que lê.
Concordo com Nietzsche na questão da verdade e da mentira. Dizia o filósofo alemão, que tanto a verdade e a mentira, são construções que decorrem de uma vida de rebanho e da linguagem que lhe correspondesse. Ou seja, as verdades e as mentiras sempre dependem daquilo que as pessoas acham ser a realidade, os valores que acreditam e levam sempre a uma vida de rebanho e o ser humano acaba sendo escravo de crenças que o alienam a uma verdade maior. Continua dizendo, que o homem de rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho. Assim, a grande maioria tem que seguir o que a maioria segue para ser aceito, ninguém gosta de ser excluído porque nos ensinaram uma realidade que alguns duvidam — aliás, muito poucos vão além das ideologias e as crenças religiosas — e esses, são excluídos da grande massa.
Os filósofos não tem nenhuma visão única que não pode ser mudada, não pode ser repensada ou analisada de forma diferente da maioria. Mesmo o porquê, um ponto de vista é apenas um ponto , mas, existem vários outros pontos de vista que podem também ser colocados. Verdades únicas são sempre perigosas. Verdades únicas construiram tiranos, foi a alienação social da idade media, é a essência de qualquer fanatismo dentro de qualquer sociedade humana. Seja da direita (fascismo e nazismo), seja de esquerda (socialismo/comunista). Por isso mesmo as democracias são democracias, porque existe uma incerteza dentro dela, existem variedades de ideias e posições e sempre o medo dela sofrer uma ruptura. Então, um filósofo dentro da área politica, deve ter bastante cautela cética das análises e sempre jogar outro ponto de vista além que todo mundo fala e expõem e por causa disso, o filósofo incomoda. Incomoda porque sabem que não corresponde a realidade o que dizem ou acreditam saber, mas, insistem porque querem ter razão. Na Grécia, nos tempos clássicos de Sócrates, chamavam ele de “a mosca de Atenas” por ele incomodar como uma mosca que fica nos rodeando. Tanto é, que ele foi condenado por uma condenação tola e vil, só para se livrar de Sócrates e nada adiantou. Seus alunos continuaram seu legado, Atenas caiu na dominação do reino macedônio, e o nome de Sócrates foi legado por toda a história.
A sociedade gosta do “cobertor quentinho” de ser aceito dentro de qualquer manifestação social. Seja virtual ou não, a vaidade impera e não tem como escapar. Como se fossem tribos, os iguais se articulam entre si e compartilham do mesmo pensamento, seja com um ritmo musical especifico, religião específica ou ideologia específica. Mas será mesmo que elas são a visão da verdadeira realidade? É de se pensar e sair da caixinha social.

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