domingo, janeiro 28, 2024

Por que brasileiro não gosta de filosofia?

 



em um grupo de filosofia: “A religião no Brasil é supervalorizada, mas a filosofia, praticamente inexistente e totalmente ignorada pela maioria.”



Essa pergunta tem muito a ver com a questão do outro texto que eu escrevi e, ao mesmo tempo, tem a ver com algo muito mais profundo. Por que? Porque a religião em si, tem a ver com fundamentações teológicas muito mais profundas do que as besteiras que os pastores de esquina ensinam. Sabemos - como disse em um outro texto - que somos moldados pela tradição católica (na verdade, nós latinos, temos a ver com a cultura greco-romana) e por isso, a religião tende a ser devotada. Temos um protestantismo catolico. Temos um espiritismo catolico. Temos a Umbanda, que tem raízes católicas e espíritas e religiões de matrizes africanas. E mesmo assim, a grande maioria segue sem ao menos, estudar seus fundamentos e origens. 

Resta-nos uma análise muito mais inusitada do que as demais: por que, de um modo geral, não se gosta de raciocinar? Bem, não se gosta de raciocinar no Brasil porque somos uma nação que não tem paciência para o planejamento. Casas caem, pontes racham etc, porque sempre há uma pressa e há um “esquema”. A praga da “vantagem” está no nosso vocabulário institucionalizado por causa de uma propaganda de cigarro dos anos 70: a lei de Gerson. Brasileiro tem que gostar da vantagem, pois, ter vantagem naquilo requer malandragem. Mas, e a ética nesse ínterim? A meu ver, a ética só ficou nos adocicados posts do Linkedin, porque ninguém (empresário ou não) respeita as leis que não concordam. Nosso capitalismo da década de 20 do século passado, mostra como o Brasil está atrasado e quer “pagar uma de moderninho”. Gostaríamos muito de sermos anglo-saxões, mas somos latinos. 

Latino não seria nenhum problema, já que os alunos portugueses leem Descartes desde a quinta-série, ou que, aqui nas américas do lado latino,  Lima (capital do Peru) se teve a primeira universidade da América do Sul. Ou, na França (que tem, sim, raízes latinas) saíram inúmeros filósofos, Espanha, Itália e Portugal, igualmente. A Itália (Roma ficava na região do Lácio) foi palco de um império e depois, a criação de uma igreja (ekklesias que poderíamos traduzir como “comunidade”), mas, com heranças inúmeras do mundo grego, foi palco de inúmeros filósofos (mesmo que nada de original tenha sido feito lá). Mesmo dentro da igreja romana, muitos pensamentos filosóficos eram aproveitados como base dentro da teologia, principalmente, em Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Ora, quando o Brasil foi colonizado, se colonizou com os jesuítas (Companhia de Jesus que foi fundada pelo basco Inácio de Loyola) e que se fundamentava com a cartilha de Santo Tomás de Aquino, ou seja, o Brasil teria condições de se gostar da filosofia. 

Muitas vezes acho (por não ter certeza), que nessa procura da sua identidade (já que nossos ancestrais esperavam ficar ricos para voltarem para a Europa) acabou construindo um pensamento onde a teoria e a intelectualidade não tem vez. Somos uma sociedade mística. Sendo uma sociedade mística construída em ideais ditos cristaos (com enormes ressalvas com a putaria, com as traições e violências inúmeras). Por outro lado, a maioria das religiões (materialistas) tem matriz na mesquinhez e na vantagem, ou seja, eu sou digno de receber alguma coisa só por ser cristão. Frases como “Jesus me deu”, ou “recebi isso por merecer” demonstra a “vantagem” de ser cristão e poder receber algo de Deus. Por outro lado, o medo que puseram ao raciocínio e leitura (além da espiritualidade) demonstra o quanto somos uma sociedade imediatista. 

Tinha amigos que tinham pais e mães portugueses que diziam que ler após comer ou durante a refeição faria mal, ou que se você ler muito ficaria “louco”.  Ou seja, a leitura não é uma coisa boa, é uma coisa que se você fizer em determinado período, lhe causará mal. Isso demonstra a ignorância e a falta de incentivo de uma boa leitura no café da manhã (muitos homens de negócio leem os jornais cedo no café e nunca ficam mal). Sempre discursos são construídos dentro de certos pensamentos e interesses e reforçados em milhares de obras, seja qual veículo for.  Nossa sociedade comprovaria a questão de Kant a resposta o que é o iluminismo, a grande maioria não quer sair da minoridade porque sao acomodados e tendem a serem vitimistas. Como diria Sartre, o inferno sempre é o outro. 

A resposta à questão “por que se supervaloriza a religião e não a filosofia?” Tem muito a ver com nossa capacidade de entender que viemos de uma sociedade escravagista. Para que o pobre precisa estudar? Por outro lado - voltando à questão do medievo do começo do texto - mesmo nessas sociedades escravagistas como a nossa antigamente, foram construídas a partir de um pensamento medievo. Por que os aldeões precisam estudar? Isso de não estudar, alias, vai ser usado muito por pessoas que não querem ou não tem interesse. E também, se tem a imagem do filósofo como um ser inútil e que só vive pensando. Será mesmo? Será que o filósofo não serve para nada? Ou todas as matérias que usamos - inclusive teologia - não foram construídas a partir de filósofos?


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